quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

NOTÍCIAS POPULARES FAZIA UMA FESTA TODAS AS QUARTAS-FEIRAS DE CINZAS

Edward de Souza

Se houve um jornal que deixou saudades em milhares de leitores fiéis, com certeza, este foi o finado Notícias Populares, onde trabalhei na metade dos anos 70. Entre seus furos exclusivos encontram-se manchetes sensacionalistas como: "Cachorro faz mal a moça" “Violada no auditório” ou "Deu a bunda para salvar a vida", sem esquecer as coberturas orgiásticas do carnaval. A quarta-feira de cinzas, como hoje, era um prato cheio para o NP, com fotos picantes de mulheres nuas nos bailes e casas de shows de São Paulo e Rio de Janeiro. Notícias Populares era um jornal divertido. As histórias desse periódico, para quem não se lembra, são inúmeras e fazem parte do folclore jornalístico da cidade de São Paulo, como o caso do “Bebê Diabo”, um menino com chifres e rabo que havia nascido em São Bernardo do Campo e que se transformou numa série de 27 manchetes publicadas seguidamente, recorde no jornalismo brasileiro em se tratando de um só assunto e a maior vendagem em bancas de toda a história. A primeira matéria dessa série do “bebê Diabo”, que se transformou em filmes, documentários e literatura de cordel, fui eu a escrever e assinar o texto, isso no dia 10 de maio de 1975, um sábado. Foi publicada no dia seguinte, domingo. Toda essa história já foi mostrada aqui, nesse blog, que recebeu mais de 800 visitas, a maioria estudantes de jornalismo. Recentemente, uns panacas mal informados lançaram um livro com versão distorcida dos fatos, colocando inclusive o saudoso Waldemar de Paula, que há mais de dois anos estava fora do NP, como editor desse caso, quando na verdade tratava-se de José Lázaro Borges Campos. Além de implementar uma série de inovações na imprensa brasileira, Notícias Populares foi o primeiro jornal a falar a língua do povo. Foi o primeiro periódico a valorizar as manchetes e utilizar textos curtos com fotos grandes e ilustrativas. Isso era constatado na época do carnaval. A cobertura dessa festa popular sempre foi um caso à parte: até os leitores de outras publicações não resistiam às toneladas de fotos picantes tiradas pelos salões de São Paulo, com suas hilárias legendas. Era exatamente nesse período dos festejos de Momo que o jornal estourava em vendas e, na maioria das vezes, para se conseguir um exemplar, os leitores tinham que deixar encomendado nas bancas. Repórteres e editores tinham a incumbência de “trabalhar” as fotos, que faziam a festa dos leitores. Eu adorava pegar as enormes fotos coloridas feitas pelo Tarcísio Leite, o Guaracy e outros fotógrafos que não recordo o nome e “bolar” as legendas, como essas que guardo na lembrança: “Beijou a sogra por engano” “San Chupança”, "de lanterna na mão", “Dona Celu Lite”, “Olívia Nilton João”, “Alisando o pandeiro”, “Limpando a língua com Bombril”, “Folião engole a língua da noiva”, “Sentado a beira do caminho”, “Poupança reduzida”, entre outras. As edições de Carnaval chegaram a vender mais de 200 mil exemplares nessa época de ouro do NP, quando lá estive. Nenhum editor – nenhum jornalista – gosta de ver um jornal morrer. É algo comparável ao que seria, para marinheiros, perder um navio. E isso aconteceu em 2001, quando o NP deixou de circular. Ficou apenas a saudade. As cinzas das quartas-feiras de um tempo distante onde o Carnaval tinha confetes, serpentinas e lança-perfumes.