segunda-feira, 5 de julho de 2010

O APAGÃO QUE TIROU O BRASIL DA COPA

DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010
Após a desclassificação da nossa Seleção Brasileira, correto seria ter postado minha opinião de imediato neste blog. Li, na matéria da amiga jornalista Nivia Andres, comentários cobrando o texto que, só neste domingo, 48 horas depois da derrota do nosso selecionado canarinho frente à Holanda, resolvi escrever. Fiquei triste com a desclassificação do Brasil, menos por mim, mais pela desolação que toma conta de todos. Agora todo analista ou metido a analista é dono da verdade: "Se eu fosse o Dunga, teria convocado esse ou aquele, trocado Fulano"... O mesmo filme que assisto sempre que nossa seleção não vence um mundial. É fácil falar de fora, principalmente depois que passa. Prefiro não escolher culpados em campo, mas acreditar que o momento é de repensar a grande paixão brasileira, hoje entregue a pessoas que não inspiram nenhuma confiança. Chegou a hora de iniciar mudanças profundas, a começar pela classe dirigente, à frente Ricardo Teixeira, homem sem profissão definida que em nenhum instante serve ao futebol, somente serve dele.

A Seleção Brasileira é idolatrada por milhões de torcedores espalhados não só em nosso país, mas em todo mundo, basta ver o noticiário. No Haiti, quatro pessoas morreram depois da derrota frente à Holanda. Duas delas, com camisas da Seleção Brasileira, saltaram na frente de carros e morreram atropeladas. Aeroportos do mundo todo pararam pra ver em telões o jogo Brasil x Holanda. E a grande surpresa. Jogando os melhores 45 minutos desta Copa do Mundo, dominando a Holanda e vencendo o primeiro tempo até com certa facilidade, um inesperado apagão tomou conta dos nossos jogadores na etapa final e decisiva do jogo. Tivesse nosso selecionado forçado o jogo teria decidido a partida ainda no primeiro tempo.

Um jogo se ganha não apenas com os pés, mas também com a cabeça. Não, não estou falando dos dois gols da Holanda na vitória sobre nosso selecionado, despachando-o nas quartas dessa Copa da África do Sul. O Brasil voltou mais cedo do que todos esperavam porque não teve, no jogo, cabeça equilibrada como teve a Holanda, que não se desesperou quando levou o gol de Robinho, ainda aos 9 do primeiro tempo e, sentindo que o time de Dunga partiria para decidir o jogo, usando os contra-ataques, não saiu afoita à procura do empate. Desde o começo do jogo estava fácil perceber que os holandeses usavam uma tática que apelidei de “pipocar”. Não o “pipocar” cujo significado podem os leitores entender como fugir do jogo. Mas o da pipoca, literalmente falando. Ou seja. Os jogadores brasileiros encostavam e os holandeses saltavam longe, como se tivessem recebido faltas violentas.

No segundo tempo, tocando a bola no seu estilo e percebendo o buraco existente na lateral esquerda da zaga brasileira, onde Michel Bastos, nervoso, cometia muitas faltas, os holandeses entraram no jogo. E numa das faltas, cometida pelo lateral brasileiro, que minutos depois receberia cartão amarelo, surgiu o gol de empate da Holanda. O goleiro Júlio César saiu atabalhoado do gol, chocou-se com Felipe Melo e, caprichosamente a bola tocou na cabeça do jogador brasileiro, indo para o fundo das redes. E não tinha nenhum holandês por perto. A tática de deixar irritados os jogadores brasileiros começava a dar certo e a Holanda partiu para cima, sentindo que o momento de desespero da nossa seleção era o ideal para fechar o jogo. Foi assim que, numa bobeada de Juan, jogando a bola para escanteio, quando tinha toda a lateral à sua disposição, aconteceu o segundo gol. O que aconteceu dali para frente foi um apagão e o desespero que nos tirou da Copa.

Deixo claro que aponto as falhas ocorridas nesta derrota do Brasil, mas, como disse no começo deste texto, não pretendo nomear culpados pela derrota. Nem mesmo Felipe Melo pela expulsão. Precipitou-se, quando Robben caiu, depois de uma “pipocada”, do ídolo holandês, que deu um show de cai cai na partida, deixando Neymar, jogador do Santos, com inveja. Como o craque da Holanda retinha a bola entre suas pernas, Felipe Melo, com a intenção de tirá-la para que o jogo continuasse, pisou na coxa do jogador e foi expulso. Essa foto a esquerda distribuída pela France Press mostra com clareza a chuteira de Felipe Melo tocando a bola e a coxa do holandês.
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A derrota para a Holanda doeu, é verdade. E doeu mais porque dessa vez a gente viu que o time sofreu como todo mundo. Não foi nada daquilo de 2006, quando uma seleção apática perdia para a França. Não foi tão traumática como 1982, quando saímos da Copa com o título de campeão moral, pelo futebol maravilhoso exibido pela seleção de Telê Santana, nem tão frio como 1990. A derrota, em Port Elizabeth, aconteceu porque o adversário era bom e soube aproveitar o “apagão” de nossa defesa no início do segundo tempo. Não dá para crucificar o Dunga porque perdemos uma Copa, porque aí teríamos que também fazer o mesmo com Telê Santana, Zagallo, Parreira, Cláudio Coutinho e tantos outros. Resta pensar em 2014. Assim como a Argentina que caiu de quatro frente a Alemanha e outras grandes seleções que saíram mais cedo da Copa, como a Itália, Inglaterra e França.

A título de curiosidade, lembro que escrevemos uma crônica na abertura da Copa do Mundo da África do Sul e apontamos as cinco seleções favoritas ao título. São elas: Espanha, Alemanha, Holanda, Brasil e Argentina. Estas duas últimas saíram nas quartas de final, mas as outras três disputam o título com o Uruguai, agradável surpresa da Copa de 2010. Pena que tem sérios desfalques para encarar a Holanda, para mim favorita para decidir o título, contra Espanha e Alemanha. Bom destacar que a Alemanha cresceu assustadoramente na Copa, goleou a Argentina por 4 x 0, mas tem pela frente a poderosa Espanha, que a derrotou na Copa dos Campeões e ficou com o título.
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*EDWARD DE SOUZA é jornalista e radialista
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RESULTADOS DE SÁBADO, 03-07, PELAS QUARTAS-DE-FINAL DA COPA DO MUNDO DE FUTEBOL DA ÁFRICA DO SUL:
ALEMANHA 4 X ARGENTINA 0
ESPANHA 1 X PARAGUAI 0
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