quinta-feira, 30 de julho de 2009

Como a imprensa de hoje contaria a
história de Chapeuzinho Vermelho

ÉDISON MOTTA

As diferentes versões sobre o que aconteceu e o estado de saúde do piloto Felipe Massa, da Formula 1, que sofreu um acidente no último sábado, fazem lembrar uma brincadeira interessante, que corre na internet. Ela demonstra como os atuais veículos de comunicação contariam a história de Chapeuzinho Vermelho, conforme o ângulo de suas respectivas linhas editoriais.
Seria mais ou menos assim:
JORNAL NACIONAL
(William Bonner): “Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...” (Fátima Bernardes): “... Mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia.”

PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): “... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?”


BRASIL URGENTE
(Datena): “... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.”

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
'
REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto: “Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador”.Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico, mostrando como Chapeuzinho foi devorada, e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador, ligado ao PT, que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.

ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó.

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte.) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: “Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa”.

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu...

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado.

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! Mito ou verdade?

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A mesma história, em versões diferentes

Os nossos amigos e amigas que acompanham este Blog, especialmente os estudantes de jornalismo, já devem ter se perguntado, mais de uma vez, afinal o que é a imparcialidade? Aprendemos desde os primeiros dias nos bancos das faculdades – agora relegadas a um segundo plano para o exercício da profissão – que o jornalista precisa ser imparcial. No mínimo, ouvir os dois lados de uma questão. Mas, como aferir a imparcialidade se o texto que vai preparar será aproveitado ou não conforme a linha editorial do veículo onde trabalha?
Alguma reportagem que enaltecesse algum feito do Partido dos Trabalhadores teria espaço no estadão? Da mesma forma, neste mesmo jornal alguém já viu publicada alguma notícia dando conta da exploração que o sistema financeiro faz das pessoas, especialmente as mais humildes, nas filas dos bancos ou no vexatório sistema de portas giratórias das agências?
A Rede Globo não tem qualquer interesse em investigar os financiamentos concedidos pelo BNDS assim como a Record não abre espaço para a exploração que muitos pastores fazem da fé, especialmente aqueles que chantageiam os fiéis para que vendam suas casas e demais propriedades para comprar um lugar no céu.
Imparcialidade, diriam os experientes mestres do jornalismo, não existe. Com ética e zelo profissional é possível buscar a verdade, ouvindo não apenas dois, mas quantos forem os lados implicados numa questão. Um texto que respeite o leitor haverá sempre de posicioná-lo como principal objetivo do trabalho jornalístico. Assim como não convém subestimar sua inteligência, não é prudente querer induzi-lo a esta ou aquela conclusão.
A busca pela imparcialidade, que sempre esbarra no interesse pelo sensacionalismo deste ou daquele veículo, é antes de tudo a eterna procura do equilíbrio. Qualquer leitor, ouvinte ou telespectador, por mais iletrado que seja, desconfia das informações sensacionais. Talvez por isso, a imprensa padeça, nos dias atuais, da falta de credibilidade de grande parte das pessoas. Que sempre enxergam, por traz do bombardeiro diário de informações que recebem, algum interesse escuso não revelado.
Em parte, a desconfiança não é descabida. Como estamos todos envolvidos no mesmo turbilhão, o ser humano comum é atacado em seu bom senso principalmente pelos meios eletrônicos – rádio e TV. Poucos têm tempo para se aprofundar no assunto e o que foi ao ar passa a ser verdadeiro, mesmo que logo mais à frente seja desmentido. Felizmente, temos hoje a internet. E, nela, espaço para debate e desmistificação de informações que não se sustentam. A imparcialidade, cada vez mais, ficará por conta do próprio leitor. Que, através do garimpo entre as mais diferentes fontes de informação poderá selecionar, gradativamente, os veículos que lhe forem mais confiáveis. Chapeuzinho vermelho e o lobo mau continuarão, indefinidamente, se apresentando, para uns e outros, conforme o gosto do publico alvo a que se destina o veículo de comunicação. Uma lenda que, outrora, esteve restrita a apenas uma única versão.

*Édison Motta, jornalista e publicitário é formado pela primeira turma de comunicação da Universidade Metodista. Foi repórter e redator da Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil; editor-assistente do Estadão; repórter, chefe de reportagem, editor de geral (Sete Cidades) e editor-chefe do Diário do Grande ABC. Conquistou, com Ademir Médici o Prêmio Esso Regional de Jornalismo de 1976 com a série “Grande ABC, a metamorfose da industrialização”. Conquistou também o Prêmio Lions Nacional de Jornalismo e dois prêmios São Bernardo de Jornalismo, esses últimos com a parceria de Ademir Médici, Iara Heger e Alzira Rodrigues. Foi também assessor de comunicação social de dois ministérios: Ciência e Tecnologia e da Cultura. Atualmente dirige sua empresa Thomas Édison Comunicação.

36 comentários:

  1. Olá Édison Motta!
    Essa história do "Chapeuzinho Vermelho" de fato circula faz um tempo na internet. Alguns blogs já publicaram as frases engraçadas dos jornais, cada qual dando sua versão a respeito do caso, mas você e esse blog foram os únicos que souberam tirar proveito disso para nos dar uma aula de jornalismo. Meus cumprimentos pela abordagem desse assunto, visto por muitos como uma simples brincadeira e que, na visão de um profissional como você, mostra como são muitas e diferenciadas as linhas editoriais de nossa Imprensa.
    Bjos,

    Lidiane - São Bernardo - Metodista

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  2. Olá Motta

    Como sempre seus assuntos são palpitantes e didáticos.
    Imparcialidade. Será possível encontrar algum jornalista nos dias de hoje que deixe de lado suas paixões e coloque no papel o acontecimento simples tal como aconteceu? Não se deixaria envolver por cores políticas, religiosas ou esportivas ou simplesmente pela emoção? Naturalmente, existem órgãos especializados em divulgar os segmentos mencionados, mas eu me refiro ao dia-a-dia da imprensa diária quando reportam para os leitores os fatos.
    Você, inteligentemente ao colocar as versões sobre o Lobo e o Chapeuzinho Vermelho, exemplificou muito bem isso.
    Não vou entrar em pormenores para não ferir suscetibilidades. Mas, a grande imprensa sempre teve seus interesses atrelados a determinados grupos. Os jornais das pequenas cidades para poderem sobreviver se ligam ao governo municipal, pois é dali que saem as verbas publicitárias. Aqueles que se atrevem a enfrentar a situação fecham suas portas.
    Entre grandes verbas publicitárias e notícias de impacto social e político, ficam as verbas.
    Dirão alguns, realmente isso acontece em países capitalistas; mas nos poucos países socialistas, dito comunistas, não é diferente. Entre a verdade e os fatos, fica a propaganda do partido.
    Pobre povo!

    J. Morgado

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  3. Olá meu irmão Édison Motta e querido amigo Professor João Paulo de Oliveira.
    O Édison foi feliz ao usar essa engraçada comparação entre manchetes de órgãos de Imprensa do nosso País com a história do Chapeuzinho Vermelho. Pena que o Jornal Notícias Populares foi extinto, do contrário eu acrescentaria a seguinte manchete: "Arrancaram Chapeuzinho Vermelho da barriga do lobo mau".

    Na verdade, essa relação é extensa. Nessa brincadeira existem outros jornais citados, mostrando como cada um interpreta, à sua maneira, uma notícia. Chamamos isso de linha editorial de cada jornal. Eu, por exemplo, em cada jornal que trabalhei, sabia o que poderia ou não publicar. Teve um certo jornal, e não cito o nome por uma questão de ética, que era proibido escrever notícias contra determinada empresa de ônibus.

    Certo dia ocorreu um grave acidente. Um dos õnibus dessa empresa, em alta velocidade, chocou-se contra um caminhão, no centro da cidade. Seis pessoas morreram. Lá fui eu para a redação, escrevi a notícia e selecionei as fotos. Achava que seria impossivel o jornal não destacar isso na primeira página. Ledo engano. O diretor do jornal Não só tirou o nome da empresa, como não publicou foto alguma, para meu desespero. É, desespero, porque eu vivia cada notícia com emoção e queria mostrá-la em sua plenitude. Pedi demissão de vários jornais por causa desses boicotes, cujos interesses financeiros falavam mais alto.

    Nada a ver isso, é bom destacar, com linha editorial de um jornal. Já expliquei acima. Isso era puro interesse financeiro. Ou seja, usando linguagem simples e direta: o jornal recebia uma grana alta por fora para não atacar a empresa de ônibus.

    Ainda usando linguagem direta, linha editorial pode ser observada entre dois grandes jornais de São Paulo. Folha e Estadão. Um de esquerda, outro de direita. Um desanca a bucha no PT, outro defende. Vejam na brincadeira acima, do Chapeuzinho Vermelho e entenderão o que eu quis dizer.

    Mudando de pato pra ganso, meu caro Professor João Paulo. Sua presença nos agrada neste blog. Já disse isso particularmente, por e-mail e aqui neste espaço. Nem sonhe em nos deixar. Quero que continue conosco e brinque como quiser, sei que tem noção de onde pode chegar. Outra coisa. Os blogs da Nivia, do Padre, podem e dever ser citados sempre. A Nivia é uma dos Sete Mosqueteiros, tem um belo blog, vou sempre lá e precisa ser visto por todos que aqui frequentam. É comum eu encontrar no blog da Nivia chamadas principais indicando esse blog para seus leitores. A Nivia já me enviou novo artigo, que será publicado em breve e fará sucesso, como todos os outros que escreveu aqui. Professor, vamos deixar de lado a intriga da oposição, vamos brincar e comentar os assuntos aqui tratados. Em frente.

    Um forte abraço a todos...

    Edward de Souza

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  4. Ôi Édison Motta...
    Lendo as manchetes, morri de rir. Achei engraçadas muitas delas, mas a do Jornal do Sul, Zero Hora, foi demais: "Avó de Chapeuzinho nasceu no RS". Mostra claramente a tendência bairrista daquele jornal gaúcho. Só a Nivia e o Milton Saldanha para nos explicar se é assim mesmo por lá. E quem nasceu no Rio Grande do Sul? A avó, claro, a boazinha da história. Jamais o lobo mau (rsssssssss....)
    Seu texto é excelente e mais uma aula para nós, estudantes de jornalismo. Muito bom...
    Bjos,

    Karina - Campinas - SP.

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  5. Prezada Lidiane:

    Fiquei feliz, logo no começo do dia, com seu comentário. Sabia que a brincadeira das manchetes não tinha nenhuma novidade, de vez que circula há algum tempo na internet. A intenção foi mesmo fazer dela um "gancho" para abordar a questão da imparcialidade.

    É fundamental que o candidato a uma vaga de reporter, em qualquer meio de comunicação, procure se inteirar da linha editorial do veículo. Caso contrário, não terá sucesso por melhor que seja sua apuração dos fatos e do texto que vai apresentar.

    Quando reporter da Folha de S.Paulo, com apenas 20 anos, antes de sair à rua dirigia-me, primeiro, ao arquivo - hoje Banco de Dados. Lá, reunia xerox de diversas matérias relacionadas ao tema de minha pauta. Isso ajudava - e muito ! - até mesmo na elaboração das perguntas que iria fazer mais à frente.

    Caríssimo mestre e irmão Morgado:
    Concordo com você. Não existe imparcialidade nem mesmo na imprensa que, alegando isenção, cobre os fatos do dia a dia. Veja, por exemplo, como o noticiário que vem de Brasilia é muito parecido. Terão todos um mesmo pauteiro?

    Estimado confrade professor João Paulo: sua presença aqui é essencial. Siga os conselhos do Edward: não dê asas à oposição intriguenta e vá em frente. Suas observações são pertinentes, tanto aqui como na TV Sehal.

    Amigo e irmão Edward: Vamos ao Top Blog? Está bombando!

    Grande abraço,

    édison motta
    Santo André, SP

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  6. Olá pessoal...
    Um divertida forma de nos dar uma aula de jornalismo, prezado Édison Motta. Adorei...
    Beijos...

    Priscila - Cásper Líbero - S.Paulo

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  7. Olá Édison Motta e Edward de Souza... Os dois me impressionaram muito hoje. Você, Édison, por saber tirar de uma brincadeira, uma lição sobre o jornalismo sério. O Edward pelo comentário que postou, contando de um órgão de imprensa mancomunado com uma empresa de ônibus. Como pode ser sério um jornal assim? Tenho sangue quente nas veias e faria a mesma coisa que o Edward fez. Pediria demissão também. Não conseguiria trabalhar num jornal assim. Cá entre nós, sou jovem ainda e só escrevo para o nosso jornalzinho interno, aqui da faculdade, mas outros jornais devem ter o rabo preso com coisas graúdas, não?
    Edward, adorei a diagramação (é isso?) dessa página hoje. Gente, cliquem no lobo mau, qualquer um deles e no chapeuzinho vermelho. eles se movimentam graciosamente, viram?
    Bjos...

    Andressa - São Paulo - SP.

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  8. Quando criança eu fui embalado pela história do chapeuzinho vermelho.
    Com o tempo a imaginação do homem foi capaz de tecer infinidades de versões encima desse extraordinário conto infantil.
    Existem algumas versões muito infelizes, por que são uns deboches sexuais, usando a infantilidade desses personagens, e isso me deixou muito triste.
    Achei muito inteligente a maneira pedagógica, que o nosso nobre articulista Édison Motta usou para elucidar algo desconhecido por um mortal “que nem que eu”.
    Hoje eu sou capaz de ler jornais com um certo senso crítico.
    Pois foi graças aos contribuintes desse blog, é que eu adicionei no meu cabedal de conhecimentos, certas artimanhas do mundo jornalístico.

    Padre Euvidio.

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  9. Ôi Édison...
    A Andressa se assustou com o relato do Edward de um jornal ter "rabo preso" com empresa de ônibus. Isso é café pequeno. Foi aqui no blog, se não me engano escrito pelo Milton Saldanha, que nós soubemos dos "arranjos" de Assis Chateaubriand para montar todo aquele império, chegando a ter inclusive 100 jornais espalhados pelo País, com dinheiro do Governo Federal, sob a presidência-ditadura de Vargas. Então, a coisa vêm de longe, amiga Andressa.
    Édison, amei o uso do conto do Chapeuzinho como base para seu artigo. Ficou excelente!!!
    Bjos...

    Thalita - Santos - Unisantos

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  10. Queridas amigas e amigos, meu grande repórter Édison Motta: J. Morgado e Edward de Souza têm toda a razão: não existe imparcialidade, isso é lenda. As empresas pertencem a grupos com interesses, os mais diversos. E alguns profissionais, não a maioria, que fique bem claro, são cooptados ou comprados mesmo. Como? É simples: uma empreiteira, por exemplo, contrata um jornalista famoso para uma palestra e paga 10 mil dólares de cachê. Não foi suborno, o cara ganhou por UMA palestra... Depois, como vocês acham que ele vai tratar em sua coluna essa empresa? O caso que o Edward relatou, do ônibus, todo mundo sabia. Faço apenas uma correção: a caixinha não era de uma única empresa, eram várias, em pool. A Andressa disse que não trabalharia num jornal assim. Então, querida, você não trabalharia em lugar algum, incluindo-se aí também empresas não jornalísticas. Ou você acha que a gente tinha escolha? Eu ficaria aqui até amanhã contando casos. Isso não significa que a gente tinha que colocar a mão na merda. Em caso extremo, como disse o Edward, a gente pegava o chapéu e ia embora. Também passei por isso, principalmente porque quase sempre estive em postos de chefia, tinha que tomar decisões cruciais. Perdi vários empregos para não afrontar minha consciência. O problema é que no seguinte não era diferente. Hoje, há centenas de jornais, rádios, TVs nas mãos de políticos (todos corruptos). Outros tantos nas mãos de "religiões" de péssima reputação. O que sobra é controlado por impérios empresariais. Como pode existir imparcialidade? Num dos jornais onde trabalhei um banqueiro era o avalista da dívida do jornal. Esse banqueiro era também político. O cara era notícia até inaugurando padaria. Voltarei ao assunto.
    Beijos!
    Milton Saldanha

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  11. Alguém acredita em imparcialidade? Alguém acredita que os jornais vão sobreviver - como escravos do sensacionalismo? Manchetes ritombantes para vender? São todos os jornais comprados? Não, não, não. Vêm logo as defesas: Há exceções. Portanto, se há exceções, há uma regra. Podem ser muitas exceções, mas quem em bom estado de juízo - mental e moral - negaria haver uma regra? Toda unanimidade é burra, disse Nelson Rodrigues, e os jornais são unânimes em se degradarem. A história do Chapeuzinho Vermelho ou qualquer outra pode ter mil versões, isso é uma prova de...

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  12. Estimada Thalita: Sim, o Chatô montou seu império com falcatruas. Não deixe de ler "Chatô, o rei do Brasil", do excelente escritor de biografias Fernando Morais. Leia também as memórias do Samuel Wainer, com quem trabalhei, uma longa entrevista dele a três jornalistas. Um dos episódios do livro, contado por ele mesmo: quando ele era repórter de O Cruzeiro foi escalado pelo Chatô para fazer uma entrevista com o então governador paulista Adhemar de Barros. O Adhemar tinha comprado a entrevista. Samuel conta que entrevistou o governador durante um vôo entre SP e Rio. Aí recebeu um presentinho do Chatô, pelo trabalho. Era uma graninha, com a qual o Samuel comprou um apartamento de cobertura na Viera Souto, onde o metro quadrado é um dos mais caros do Brasil. Leia também o livro com as memórias do Walter Clark, que foi o super-poderoso da Rede Globo. Ele diz, com todas as letras, não sou eu falando: todas as TVs e grandes rádios foram montadas com equipamentos de muamba, sob as vistas grossas da ditadura. Tá lá no livro, e o cara sempre foi um homem de confiança do sistema.
    Beijo!
    Milton Saldanha

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  13. Olá Édison, Edward e Milton... Então, nós, jovens estudantes de jornalismo temos que concluir nosso curso, se vale ou não o diploma não sei, e nos sujeitarmos a trabalhar para um corrupto, isso? Seja em que órgão de Imprensa for, será para um ladrão que estaremos trabalhando. E quem trabalha para um ladrão sabendo, desonesto é. Essas coisas tiram um pouco a vontade de continuar. Não fosse o empenho esses anos todo, a dedicação, juro que iria tentar outra profissão. Mas, quem garante que me livraria de um corrupto, qual seja a profissão que escolher? Esse, talvez, o consolo para prosseguir. Gostei do texto, Édison, bem elaborado, com as engraçadíssimas manchetes acima.
    Beijos a todos vcs...

    Cindy - São Caetano - Metodista

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  14. Querida Cindy, até empresas estatais, que deveriam estar a serviço da sociedade, metem a mão em nossos bolsos. É só conferir detalhes nas contas domésticas, aqueles em letras bem reduzidas. A gente nasceu nesse sistema e tem que sobreviver dentro dele. Não há outra escolha. E não poderá ser sustentado pelo papai a vida toda. O que fazer? Trabalhar sim com dignidade, procurando fazer a sua parte da melhor maneira possível. Nenhum de nós, que escrevem aqui nesse blog, ficou rico no jornalismo. Mas todos nós, posso garantir a você, fomos jornalistas honrados. Antes de nos ofender, certamente sem pesar as palavras, lembre-se que existem duas categorias, a dos patrões e a dos empregados. Em ambas, pessoas corruptas e pessoas com integridade moral. Sempre estivemos no último grupo, tenha certeza, e nem sempre isso foi fácil.
    Beijo!
    Milton Saldanha

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  15. Sempre venho ao blog do Edward, me acostumei a ler os bons artigos escritos por esse grupo de amigos jornalistas. Muito engraçado o de hoje, com as manchetes destes jornais. Sério e coerente o artigo do jornalista Édison Motta.

    Meu ramo é medicina. Venho de uma família de médicos. Mas, gostaria de dizer para a Cindy, que infelizmente o mundo hoje vive em torno do vil metal. Vovô, Cindy, era o chamado médico de família. Carregava consigo uma velha maleta para primeiros socorros e foram milhares de vezes que ele saiu de casa de madrugada para socorrer pessoas doentes. Muitas dessas pessoas eram pobres e não tinham condições de pagar ao menos a condução que levava vovô às suas casas. Mas, eram atendidas pelo vovô que se sentia o mais feliz dos homens por ter ajudado na recuperação de um paciente. Papai conta isso sempre.

    Com o tempo, tudo mudou. Onde estão os médicos de família como vovô? Creio que muitas nem ouviram falar que eles existiram. Eram abnegados e cumpriam à risca o juramento que fizeram ao se formar médicos. O que vejo hoje? Médicos que se formam e no mês seguinte estão se juntando a um grupo para participar de um convênio e explorar o povo. Sei que, como futura médica, não deveria estar aqui dando esse tipo de declaração, mas não consigo ficar calada diante deste triste quadro que temos hoje da nossa medicina. Futuramente, não sei, um caos, a continuar assim.

    Nem por isso vou desistir de minha profissão, nem você deve desistir da sua. Estou ainda no quarto ano e tenho em mente que, se não agir como vovô, o que hoje é muito dificil, pelo menos irei lutar para ser justa e cumprir com meu juramento de médica, como fez meu pai que ainda está clinicando sem participar desses convênios que ele sempre condenou.

    Temos que lutar, cada uma em sua profissão, para torná-la melhor e mais justa. Você no ramo de informação, procurando ser correta em seus artigos e combativa quando necessário contra a corrupção que campeia em nosso País. Eu, lutando contra monopólios e me entregando de corpo e alma na luta para salvar vidas. Essa a nossa missão. Que Deus nos ajude a cumpri-las à risca!
    Beijos a todos...

    Liliana Diniz - Santo André - SP.

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  16. Caro Milton Saldanha, eu não quis, de forma alguma, chamá-los de desonestos e nem tenho motivos para isso. No alto de minha imaginação, estava apenas exemplificando o que poderiam pensar de nós (quando eu me formar e estiver exercendo a profissão), trabalhando para um órgão corrupto. E é voz popular o refrão que eu escrevi, mas não com a intenção de atingir alguém. Tentei imaginar que pensariam isso de mim, não que pensam isso de vocês. Confuso, mas creio que entendeu. Claro, sei bem que temos que separar o empresário do empregado, mas que mexeu com minha cabeça, sem dúvida. Se entendeu alguma coisa errada, peço-lhe perdão, como também aos demais jornalistas. Pretendo deixar de lado um pouco meus comentários aqui. Esse não foi o primeiro que fui mal interpretada.
    Liliana, você é simpática e maravilhosa. Que linda suas palavras. Ficaria encantada em ser sua amiga. Moro em São Caetano, você, pela postagem, em Santo André, não? Tem como a gente se comunicar? Se tiver, me avise, tá?
    Beijos,

    Cindy - São Caetano - Metô

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  17. Olá Édison, adorável, engraçado e sério os artigos hoje. Artigos porque foram mais que um. O das manchetes e o seu, analisando o tema imparcialidade. E é isso que eu gostaria de abordar. Pode perceber, Édison, quase todos os jornais levantam a mesma bandeira. Fincam o pé e se declaram imparcial. Pelo visto, só na conversa....
    Outro dia, visitando uma prima no interior, vi na casa dela um jornal. Sabe qual o nome desse periódico? "O Imparcial". Durma com um barulho desses...
    Beijinhos.......

    Gabriela - Cásper Líbero - São Paulo

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  18. Cindy, não pare de escrever e participar. Apenas releia com atenção e reflita sobre seu texto antes de dar o clic e soltar. Coloque-se no lugar do leitor, como ele vai entender seu texto. Isso evita incidentes, como o de hoje. Eu, por exemplo, sou um grande provocador, mas não faço nada no primeiro impulso. Passou, colocamos o Pão de Açucar sobre isso.
    Liliana Diniz: primorosa sua intervenção neste assunto. Também quero ser seu amigo. Parabéns!
    Milton Saldanha

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  19. Prezada Cindy:

    Percebeu como existem armadilhas em nossa própria linguagem? Estou certo de que você não quis ofender ninguém, apenas deixou escapar o espanto com a realidade da nossa profissão. Rogo: por favor, não nos abandone,especialmente neste espaço de comentários. Se vai desmontar logo aqui, o que será então mais tarde, na profissão?

    É isso mesmo o que ocorre no dificil caminho entre a faculdade e a prática diaria numa redação.
    O Milton Saldanha, com muita experiência em cargos de comando, foi feliz ao citar o exemplo de jornalistas que ganham fortunas para fazer palestras. É o que acontece, por exemplo, com os de maior visibilidade na imprensa. Não todos, certamente, mas muitos deles. Alguns têm até blogs indicando o caminho para serem convidados.

    Outros ganham viagens internacionais, polpudos empregos para parentes, etc. Em Brasilia, onde vivi dois anos como assessor de dois ministros, é impressionante o conluio entre imprensa e políticos. Voltei de lá correndo após chutar o balde. E agora muitos fingem desmascarar o Sarney. Há muita coisa entre o Sarney, o poder da República e a imprensa. A começar por centenas de concessões de emissoras de rádio e TVs obtidas, sabe de quem? Do ex-presidente Sarney em troca dos cinco anos de mandato.

    Destacar-se nesta profissão com honestidade e dignidade, acreditem, é o caminho mais dificil. Coisa que esse pequeno grupo de colaboradores do Blog do Edward - posso afiançar - logrou alcançar. Por isso não enriquecemos. Em compensação, estamos vivendo a vida com prazer porque, afinal, desta vida a gente só leva a vida que a gente leva.

    Liliana: sua intervenção foi preciosa. Tenho irmã e um filho médicos. Este último formado pela USP, atualmente tenente-médico da Aeronáutica. Ambos escolheram o juramento de Hipócrates e não se arrependem. Progridem, passo a passo, sem cair no mercantilismo.

    Agradeço, de coração, as generosas manifestações aqui postadas. Elas compõem o universo de prazeres da vida, como me referi antes, que não se compram com dinheiro.

    Enfim, amigos, o debate está no ar e cumprindo rigorosamente o objetivo de alertar, especialmente aos futuros jornalistas, sobre o mito da imparcialidade. Algo que permeia não apenas a imprensa, mas todas as profissões.

    Grande abraço,

    édison motta
    Santo André, SP

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  20. Ana Célia de Freitas.quinta-feira, 30 julho, 2009

    Olá pessoal.
    Belíssimo texto,achei as "manchetes"de cada meio de comunicação muito engraçadas.
    Pessoal,infelizmente há pessoas desonestos em todos os cantos,mas Graças a Deus há excessões.A Cindy certamente não quis ofender ninguém,se mostra uma pessoa digna e ética.
    Parabéns jornalistas vocês são o máximo.
    Ana Célia de Freitas.Franca/SP.

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  21. Olá amigos

    A autoria do texto abaixo é de Paulo Henrique Mondego, encontra na internet no site chamado Canal da Imprensa.
    Leiam e tirem suas conclusões.
    Paz. Muita Paz.
    J. Morgado




    "(...) Terrível liberdade de imprensa, que clama a uns não matarás, a outros não prenderás, não substituirás o teu interesse ao dos mais; não te servirás de autoridade pública para satisfazer as tuas vinganças, não sacrificarás o teu dever ao poder! Incapazes de resistir à evidência dos argumentos positivos sobre que se apóia a necessidade de imprensa, os amigos das trevas se vestem da capa da moral e do sossego público, apontam os abusos desta liberdade, a calúnia, a difamação, as provocações diárias, os axincalhes continuados, que tornam a vida um suplício (...)."

    Já vai alta noite na Província de São Paulo. Um homem, de educação nobre, caminha pela Rua São José em direção a sua casa. Poucos metros dali, quatro alemães o abordam e pedem a publicação de uma correspondência contra um alto-funcionário do governo. O homem nega-se a entregar o material naquela noite. Um dos alemães dispara dois tiros de pistola à queima-roupa. Sua artéria foi atingida. Ele grita em desespero por socorro. Os assassinos fogem temendo ser descobertos. Pouco tempo depois, alguns estudantes levam o corpo moribundo do jornalista Giovanni Baptista Líbero Badaró.

    Ele espera estirado em uma cama sua morte iminente. Levanta-se sobre um dos cotovelos e diz a célebre frase, que mais tarde estaria inscrita em seu féretro: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade." Na noite de 21 de novembro de 1830 morria o liberal Badaró. Morreu porque falou "demais". Morreu porque falou de liberdade de expressão. Morreu porque era contra o autoritarismo de dom Pedro I, que alguns alegam ser o mandante do crime.

    Nascido na Itália em 1798, Líbero Badaró teve uma educação que lhe possibilitou a publicação de algumas obras sobre fisiologia, zoologia e botânica na Europa, antes de chegar ao Rio de Janeiro em 1826. Além de médico, era um jornalista liberal disposto a trazer à tona tudo o que era contra a liberdade de expressão. Foi quando ele conheceu o publicista Evaristo da Veiga, fundador do jornal Aurora Fluminense, de quem teve a inspiração para criar, em 1829, o Observador Constitucional em São Paulo.

    Com uma linha editorial que privilegiava o "liberalismo progressista", e sendo o segundo jornal da província paulistana, o periódico era contra os desmandos e os disparates das autoridades da época, ou seja, o governo. "Badaró usava uma linguagem violenta, pregando suas idéias liberais e atacando até mesmo o próprio imperador Pedro I." Assim, criou-se um clima de tensão política entre o imperador e o povo que se revoltou com a morte de Badaró levando, mais tarde, a abdicação ao trono em 7 de abril de 1831.

    A morte de Líbero Badaró tornou-se um ícone da luta pela liberdade de imprensa. O seu funeral foi marcado por fortes manifestações contra o governo imperial. Quando a República foi proclamada, o povo resgatou a importância de todos estes acontecimentos. A rua em que foi assassinado passou a ter o seu nome. Hoje, um dos maiores prêmios de jornalismo também leva seu nome. Além disso, construíram um monumento para abrigar seus restos mortais. Logo depois, o povo o aclamou como mártir da liberdade. Parafraseando Badaró: Morreu um liberal, mas ressurgiu - ainda mais forte - a liberdade

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  22. Olá Cindy e MIlton, sem problemas. Meu e-mail: lilianamedicina@terra.com.br
    Bjos,

    Liliana

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  23. Estive pensando com os botões de minha batina e resolvi montar um jornal para minha paróquia. Minha intenção é convidar como sócio o Sarney. Certamente irei atrair divisas para esse empreendimento, necessária para o custeio da Santa Igreja. O estoque de vinho nesse inverno anda baixo demais. Ainda por cima andei recebendo a visitas de uns padres de cidades aqui de perto que bebem mais que gambá. Se eu não arrumar um meio de ganhar dinheiro, a paróquia está frita. Quermessas não adiantam mais. As de antigamente ainda ia. O pessoal trazia perús, frangos assados, até tatús, para ser sorteados. Hoje, o máximo que trouxeram foi um porco gripado. Nem perto cheguei, Deus me livre!
    O que acham da idéia? Alguma sugestão para o nome do jornal?
    Deus abençõe a todos!!!

    Padre Euvídio

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  24. Sugestão para o padre Euvídio

    "A VOZ DO PADRE"

    Saramago

    Coimbra

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  25. Padre, porque o senhor não coloca esse nome: Jornal Fé Imparcial. Não ficaria bom?
    Bjos...

    Katiuscha

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  26. Liliana, já enviei um e-mail pra vc, obrigada pela gentileza. Milton e Édison, vou tomar mais cuidado quando escrever, fiquem tranquilos.
    Padre, que tal contratar minha turma aqui da faculdade? Vamos ajudá-lo a fazer um bom jornal. Só me avisar. Sugestão para um nome do jornal? Que tal "A Gruta do Padre"?
    Bjos a todos...

    Cindy - São caetano

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  27. Vixi Maria, entre a “Gruta do Padre”, e a “Trombeta do Padre”, eu prefiro ficar com o “Diário das Pererecas”.
    Padre Euvidio.

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  28. O arguto Padre colocou a verdadeira história do chapeuzinho vermelho no seu admirável blog.quinta-feira, 30 julho, 2009

    .

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  29. Grande Motta e amigos (as) deste blog...
    1 - Se perguntado Lula diria: " não sei de nada, nunca ouvi falar em chapeuzinho vermelho, verde ou lilás". Aliás, outro dia ele afirmou que Sarney não poderia ser comparado ao cidadão comum. Hoje ele falou que não tem nada há ver com a crise do Senado. Alguma diferença entre Lula e Sarney ? Agora (21h25), no Jornal Nacional embrulhou até o estômago a cara de pau do Lula - "Não tenho nada com isso. Não votei no Sarney para presidente do Senado". Santo Deus, pobre Brasil que tem esses caras no comando de importantes instituições e com esmagadora aprovação popular. Esperar o que do futuro ?
    2 -Motta, magnifica sua exposição sobre a imparcialidade no jornalismo. Não sei se agora as faculdades ensinam algo nessa linha. As meninas aqui aqui da Metô e outras podem esclarecer. O certo é que você não ouve em nenhum jornal, rádio ou Tv qualquer crítica sobre a Casas Bahia, maior anunciante da mídia no Brasil. Os bancos, como disse o Motta, também são poupados. No Diário - rádio e jornal - uma porrada de vezes fui veladamente advertido que deveria tomar certo cuidado com notícias envolvendo empresas e políticos. Funciona mais ou menos assim: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo".Eu sempre fui ajuizado.
    Ainda sobre o artigo do Edward de terça-feira (28), sobre a cachaçada, eu pergunto: "Qual a bebida servida na Santa Ceia ? Se for o que estou pensando, está tudo explicado. Padre Euvídeo com a palavra.

    abraços
    Oswaldo Lavrado -SBCampo

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  30. Maravilha, queridos amigos, maravilha.

    Missão cumprida!

    Abração,

    édison motta
    Santo André, SP

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