quarta-feira, 18 de agosto de 2010



Sem ter o que fazer, decidi gravar as memórias do bispo diocesano Dom Jorge Marcos de Oliveira, conhecido como o Bispo dos Operários. Esse religioso os adversários chamavam de o Bispo Vermelho, pela sua atuação em defesa dos operários e dos políticos contrários ao regime militar. Dom Jorge chegou a abrigar, na casa da diocese, fugitivos da polícia política do governo e as celebrações comandadas por ele na Catedral do Carmo, em Santo André, chegavam a lotar por pessoas ávidas de ouvir uma palavra de esperança no respeito aos direitos humanos e à volta ao regime democrático. Desde 1964 – ano em que eclodiu a revolução militar, que o cronista Stanislaw Ponte Preta chamava ironicamente de A Redentora – Dom Jorge começou a se destacar como um religioso contrário às determinações dos novos detentores do poder, que viam, em cada contestador do regime, um subversivo, comunista, adepto da doutrina russa e cubana.
.
No dia 1 de Maio de 1968, em comemoração ao Dia do Trabalho, liderou uma passeata pelo centro de Santo André, que teve a participação de milhares e milhares de pessoas. Um extremista da direita tentou atingi-lo com um tiro de revólver, mas foi impedido por populares, que o agrediram. Essa passeata, pacífica, obteve repercussão nacional e, mesmo com a pressão dos militares, Dom Jorge prosseguiu com a sua luta na defesa de suas ideias de liberdade e respeito ao ser humano. Em suas memórias, Dom Jorge lembra de sua infância no Rio de Janeiro, do seu pioneirismo em deixar a batina e começar a usar roupas comuns e de suas visitas aos morros cariocas, numa época em que só os moradores eram bem recebidos. Sagrou-se bispo muito jovem e, em 1954, instalava a diocese em Santo André, abrangendo todo o seu território. Permaneceu nesse posto até 1975, quando se sentindo adoentado, pediu ao papa para afastá-lo, sendo substituído por Dom Claudio Hummes.

Dom Jorge morreu antes de terminar a gravação de suas memórias. O livro eu consegui terminar com base nas pesquisas de seus arquivos pessoais, que incluíam uma série de poemas, muitos de alta qualidade. O coração o matou e o seu corpo encontra-se sepultado no mausoléu da Catedral do Carmo. O livro, denominado Dom Jorge, o Bispo dos Operários, continua inédito. Para mim, ficou a lembrança de um homem delicado, atencioso e magoado com a situação de miséria em que vivia a maioria do povo brasileiro. 1989 se desenrolou com muita dificuldade e um excesso de bebida alcoólica, a ponto de nem eu mesmo me suportar. Olhava-me no espelho e via a imagem da decadência, da degradação. O rosto acinzentado, como se não tivesse vida, as bochechas inchadas, evidenciando a característica dos alcoólatras. Minha mulher nada dizia, mas eu percebia a sua tristeza, a sua frustração.

Numa manhã de sol, sem dinheiro, decidi ir a pé até a casa de meus pais. Encontrei só a minha mãe – silenciosa, os olhos doces me olhavam como a sentir estar perdendo um filho e que, de acordo com os meus próprios irmãos, ela considerava o mais bonito e o mais inteligente. Beleza e inteligência jogadas praticamente no lixo, sem que ninguém, nem o apelo materno silencioso poderia conter. Nesse dia ela me confessou que, em toda a sua vida de casado com o Caetaninho – era assim, no diminutivo que era chamava meu pai Caetano – ela não iria conseguir preparar o almoço. Mas nada mais disse. Preocupado, sai e comentei com a minha irmã Antonia, residente no mesmo bairro, da minha desconfiança do estado de saúde de minha mãe. Antonia ficou de visitá-la e verificar o que poderia ser feito.

Sem se preocupar com almoço – me contentava com petiscos, como pastéis, coxinhas de frango, pedaços de linguiça na chapa – voltei a me embriagar. Em um dos bares em que estava, já tardezinha, senti uma angústia oprimindo meu coração e comentei com um companheiro ao lado, que também bebericava: Minha mãe acaba de morrer! Ao chegar em casa, minha mulher esperava-me no portão. Havia chorado e, antes mesmo de pronunciar qualquer palavra, eu me adiantei: Já sei. Minha mãe está morta! O velório, na sala da casa, reuniu parentes e vizinhos. O corpo, atendendo a seu desejo, foi levado para Bálsamo e sepultado no cemitério local, junto aos corpos de seus pais e irmãos.

De regresso a Santo André, pensei em parar de beber em respeito à memória materna. Não consegui. Quem também buscou me ajudar, ao saber de minha lamentável situação, foi o administrador de empresas e contabilista Nelson Pinheiro da Cruz, meu conhecido desde a juventude, quando cursava técnico de contabilidade e fazia o serviço militar obrigatório no Tiro de Guerra de Santo André. Nelson, de início me pediu para escrever sobre o cinquentenário de sua empresa, o Grupo Candinho, conglomerado de empresas responsáveis pela prestação de serviços ao comércio e a pequenas indústrias. Em pouco tempo realizei esse trabalho e recebi um bom dinheiro, o suficiente para pagar os bares onde ainda tinha crédito.

Ainda na esperança de me reabilitar, Nelson me procurou em casa e me ofereceu um emprego em sua empresa, com registro na carteira profissional. Era mais uma tentativa. Aceitei e, no escritório em que me instalei, revi o contador Elpídio Dalla, proprietário de um escritório de contabilidade, onde tive o meu segundo emprego. Ao ver Dalla, lembrei um pouco, mas com nitidez, dos tempos em que cheguei a Santo André, com doze anos, vindo de Bálsamo.
___________________________________________
Na próxima quarta-feira, o décimo nono capítulo de "Memória Terminal", do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza/ Nivia Andres).
___________________________________________

29 comentários:

  1. Bom dia amigos (as) deste blog...
    Outro capítulo histórico para ser impresso e guardado como relíquia, principalmente para as jovens estudantes do ABC Paulista. Marqueiz começa este texto falando de um ícone na luta contra a ditadura militar, o bispo diocesano Dom Jorge Marcos de Oliveira, conhecido como o Bispo dos Operários, figura maravilhosa que tive oportunidade de conhecer e entrevistar muitas vezes. Percebam, o homem que começou a luta a favor dos operários do ABC, ao contrário do que muitos pensam, foi esse homem, religioso, bom caráter e corajoso. Foi ameaçado de morte e até perseguido pelos detentores do poder na época, mas seguiu firme lutando a favor dos menos favorecidos pela sorte. Dom Jorge e irmã Maria, (esta Marqueiz não citou em seu texto de hoje), não podem jamais ser esquecidos pelos trabalhadores da Região do ABC Paulista.

    A foto postada em que José Marqueiz está junto com o cantor Roberto Carlos, é apenas uma ilustração ao texto desta quarta-feira, foto histórica cedida pela nossa querida Ilca Marqueiz. O nosso saudoso amigo, jornalista José Marqueiz, não fala sobre ele neste capítulo, mas cita outro nome conhecido, principalmente pelos mais antigos. O famoso e polêmico Sergio Porto. Se preferirem, Stanislaw Ponte Preta. No final, mais problemas relatados por ele sobre o alcoolismo e a morte de sua mãe querida, sepultada na cidade de Bálsamo, onde nasceu. Comentem...

    Um forte abraço a todos...

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  2. Olá Marqueiz


    Bom dia

    Neste capítulo, você vai fundo em suas convicções e no nenhum esforço para largar a bebida. Aliás, o esforço ia até o próximo bar.
    O Bispo deve estar se revirando na tumba, pois os indivíduos que ele defendeu e até homiziou nada fizeram para diminuir a pobreza. Ao contrário, tornaram-se corruptos e enriqueceram a custa do erário público.
    Graças a jornalistas como você, os escândalos se sucederam! Houve punições? Acho que não!
    De onde você se encontra, provavelmente já deve ter percebido que o problema não está nas doutrinas políticas e sim no homem em si.
    Depois de um período de “hibernação” no além, você deve estar olhando para nós e sorrindo. Sorrindo com condescendência de nossa ignorância.

    Um abraço

    Paz. Muita Paz.

    J. Morgado

    ResponderExcluir
  3. Bom dia Edward, você tem razão, quando disse em seu comentário, que o capítulo de hoje interessa de perto a nós, estudantes da região. Eu nada sabia sobre o Bispo Dom Jorge Marcos e sua luta contra a ditadura militar. O Bispo Claudio Hummes ouvi falar muito. Mais um fato histórico relatado pelo José Marqueiz, pelo menos para mim, desconhecido. O Sr. J. Morgado, em seu comentário acima, certamente está se referindo ao Lula e companhia, não aos operários, pobres coitados, que devem sim, respeitar a memória deste Bispo que lutou para que todos eles tivessem um padrão de vida melhor, esmagados que estavam pela ditadura militar. Continua maravilhosa essa série.

    Beijos

    Tatiana - Metodista - SBC

    ResponderExcluir
  4. Eu conheci um pouco da história do Bispo Dom Jorge e toda a sua luta contra a ditadura, quando estive no Parque João Ramalho, em Santo André. Não sei se você conhece, Edward, mas funciona no Parque João Ramalho um núcleo, com um importante trabalho comunitário. Uma creche, igreja, salão para festas, campo de futebol para a garotada, enfim, um local para lazer dos moradores daquele bairro, e o nome de Dom Jorge Marcos de Oliveira foi dado a esse centro, numa homenagem ao Bispo. Como tenho uma amiga que auxilia aquele centro, estive lá com ela faz algum tempo e conheci um pouco sobre a vida desse religioso. Agora, depois de ler esse capítulo de José Marqueiz, passei a conhecer mais sobre ele e seu trabalho, digno de aplausos. Adoro ler a série escrita pelo José Marqueiz, nos ajuda conhecer um pouco mais sobre a história do nosso ABC.

    Beijos, parabéns por esta publicação.

    Larissa - Santo André - SP.

    ResponderExcluir
  5. Logo pela manhã vim ao blog para acompanhar mais esse capítulo do José Marqueiz. Como a postagem demorou um pouco, só agora pude voltar, Edward. Percebi que o jornalista, neste capítulo, volta a falar sobre o alcoolismo e a luta que travava contra o vício. Mas, penso que não devemos entrar apenas nesta questão, como já aconteceu em outras edições, mas sim no trabalho grandioso que José Marqueiz exerceu como profissional de Imprensa, trazendo neste espaço fatos até então pouco conhecidos, como a atuação deste Bispo, Dom Jorge Marcos, e sua batalha contra a ditadura, além do apoio que deu aos trabalhadores, arriscando sua vida. E o nosso presidente que se vangloria de ser o ícone deste, digamos, levante dos trabalhadores contra a ditadura? Não deveria prestar uma homenagem ao religioso? Seu nome é lembrado apenas num pequeno núcleo de Santo André, segundo li no comentário da Larissa. Pouco para quem fez tanto pelo povo, concordam?

    Beijos,

    Giovanna - Franca - SP.

    ResponderExcluir
  6. Oi Giovanna, concordo com vc e mais ainda. Creio que compete também aos vereadores, de Santo André e até de São Bernardo, que vivem dando nomes para ruas e avenidas, homenagearem o Bispo Dom Jorge Marcos por tudo que ele fez para os trabalhadores e pela luta travada contra a ditadura. Infelizmente ninguém fala sobre ele, tanto nas escolas como nas faculdades, tanto que eu também desconhecia sua história. E fiquei curiosa para saber mais sobre ele, alertada pelo texto do jornalista José Marqueiz. Dom Jorge, pelo visto, é mais um herói no anonimato, cujo nome e trabalho em benefício dos menos favorecidos, foi resgatado neste capítulo importante escrito pelo José Marqueiz.

    Beijos a todos,

    Carol - Metodista - São Bernardo do Campo

    ResponderExcluir
  7. Carol e Giovanna, bom que se faça justiça aos vereadores de Santo André. Lembraram sim do "Bispo Vermelho", como era conhecido pela sua luta contra a ditadura e José Marqueiz explicou isso em seu texto. Eu conheci Dom Jorge, um carioca nomeado Bispo de Santo André num dos períodos mais turbulentos de nossa história, época da ditadura militar. Eu o conheci bem no final dos anos 60 e fiz algumas entrevistas com ele, escritas para o Diário do Grande ABC. Podem verificar na lista telefônica, no caso a Carol e outras jovens do ABC que frequentam este blog, porque a Giovanna mora na Terra do meu querido amigo Edward de Souza e não teria acesso a ela. Na Vila Guiomar, em Santo André, tem uma via importante que se chama Avenida Dom Jorge Marcos de Oliveira, em homenagem ao Bispo que deixou seu nome marcado na região.

    Neste capítulo de hoje lembrei-de de quando Marqueiz trabalhou no escritório Candinho, na Monte Casseros, em Santo André, bem no centro e três quadras acima da estação ferroviária. Eu passava sempre por lá para bater um papinho com ele. Além do Marqueiz, me encontrava quase sempre com o Claudinho Polesi, fotógrafo e amigo inseparável do Marqueiz. Aliás, algum amigo da nossa época poderia me dizer onde anda o Claudinho Polesi? Quem sabe até o Edward, porque o Claudinho trabalhou com ele na Gazeta Esportiva, tinham uma página de esportes, edição nacional, para o Brasil todo, alguém aqui sabia?

    Um abraço a vocês, parabéns pelo blog e pela por esta série de José Marqueiz, Edward.

    Flávio Fonseca - Jornalista

    ResponderExcluir
  8. Melhor assim Flávio, pelo menos os vereadores de Santo André lembraram-se de homenagear o Bispo Dom Jorge. Se dependesse do nosso presidente, isso não aconteceria nunca. Só olha para seu umbigo. Agora está olhando um pouco para o da Dilma, depende dela para continuar no poder. E do voto dos menos avisados também. Gostaria de conhecer um pouco sobre vida deste Bispo de Santo André. José Marqueiz relata que conseguiu terminar seu livro, onde poderia encontrá-lo? Seria mais um livro que José Marqueiz escreveu, Edward e Ilca?

    Beijos,

    Gabriela - Cásper Líbero - SP.

    ResponderExcluir
  9. Olá pessoal, seria bom explicar aqui que o Bispo Dom Claudio Hummes, que substituiu Dom Jorge Marcos em Santo André, tem uma história fascinante e deu sequência ao mesmo trabalho de seu antecessor junto aos trabalhadores e na luta contra a ditadura. Como a história faz parte de minha vida, deixo um pouco sobre o currículo de Dom Claudio, que pode ser encontrado em livros (tem vários editados) e até na internet. A ordenação episcopal de Dom Claudio Hummes, como Bispo da diocese de Santo André, deu-se a 25 de maio de 1975, e como cardeal arcebispo da Cidade de São Paulo foi a 21 de fevereiro de 2001. Dom Claudio Hummes é considerado progressista em questões sociais, mas conservador em relação à doutrina da Igreja. Defensor dos direitos dos trabalhadores, foi uma voz de contestação ao regime militar brasileiro.

    Em 2002, Hummes foi o orientador dos exercícios espirituais (retiro) que o Papa João Paulo II e a Cúria Romana participaram em fevereiro. Foi um dos quatro cardeais eleitores brasileiros do Conclave de 2005, tendo sido considerado papabile pela imprensa mundial. Em 31 de outubro de 2006, Dom Cláudio Hummes foi nomeado, pelo Papa Bento XVI, prefeito da Congregação do Clero, alto cargo da Santa Sé, responsável por quatrocentos mil padres em todo o mundo. Pode até ser que nos próximos capítulos José Marqueiz fale sobre Dom Claudio e eu tenha me antecipado, mas achei que seria oportuno mostrar a importância que Dom Claudio teve à frente dos cargos que ocupou em sua vida religiosa, destacando que começou seu trabalho na cidade de Santo André, onde ficou anos no comando da igreja daquela cidade.

    Importante acompanhar esta série de José Marqueiz.

    ABÇS

    Birola - Votuporanga - SP.

    ResponderExcluir
  10. Quando comecei a estudar, Edward, um professor dizia sempre que o ABC era um verdadeiro estopim, prestes a explodir. Hoje tenho a impressão que Lula, pela sua omissão, conseguiu apagar as chamas que se espalhavam nessa região vizinha e também as esperanças de milhares de trabalhadores que saiam às ruas gritando por melhorias e pela dignidade de trabalho. Neste relato de José Marqueiz e nos comentários pude constatar que a igreja, com seus bispos, Dom Jorge e Dom Claudio, acenderam os primeiros estopins na região, uma luta que começou nos anos 60 e não no final dos anos 70, com Lula e seus comandados. Nosso presidente conseguiu seu objetivo, com suas greves e com toda a baderna que aprontou no ABC e agora colhe os louros de sua conquista, viajando o mundo todo, usando ternos Armani, tomando bons uísques importados, ajudando seu filho a ficar cada dia mais rico e com um patrimônio que, se for declarado, certamente assustará muitos reis do petróleo. Uns se dedicam com amor por uma causa, caso dos bispos, outros pela sede do poder.

    Bjos,

    Andressa - Cásper Líbero - SP

    ResponderExcluir
  11. Olá, Flávio, o Claudinho (Polesi) mora na Rua Carijós, passava em casa quase todos os dias para saber do Marqueiz, na fase crítica não tinha coragem de entrar, falava comigo no portão e saia chorando. Quanto a pergunta da Gabriela, o livro Dom Jorge não foi publicado, apesar das tentativas da Irmã Maria.

    ResponderExcluir
  12. Boa tarde amigo escritor e jornalista, Edward de Souza, grande responsável pela divulgação de serie Memória Terminal, do amigo e grande escritor José Marqueiz.

    Queridos leitores. Lembro bem dessas histórias do Dom Jorge Marcos de Oliveira, que foi o Primeiro Bispo Diocesano de Santo André, que abrange todo o Grande ABC. Dom Jorge era conhecido como Bispo Vermelho, porque foi contra o golpe militar de 1964 e também protegia os operários que faziam greves, protestos e passeatas.

    A passeata de Primeiro Maio de 68 ficou famosa. Além dos operários, participaram jovens estudantes e nós, no inicio da carreira jornalística.Como bem diz o Marqueiz ao intitular a biografia dele: Dom Jorge, o Bispo dos Operários, que mais tarde, quando já havia deixado a Diocese para Dom Cláudio Hummes, ficou conhecido também como Bispo das Crianças, por causa de um Lar Abrigo que ele criou para crianças abandonadas.

    Mas, Dom Jorge, além de todos esses méritos tinha outra face, que o Marqueiz também cita neste capítulo: era excelente poeta e grande cronista. Nunca publicou um livro, suas obras (poesias) eram esparsas e publicadas nos versos de santos e santas; revistas e jornais; escritos em papel comum e até mesmo em guardanapos. Várias crônicas suas foram publicadas no Diário do Grande ABC. Era literato e foi um dos fundadores da Academia de Letras da Grande São Paulo. Foi o primeiro ocupante da Cadeira 21, que tem como patrono o romancista e também cronista, José Lins do Rego, escolhido por Dom Jorge.

    Até 2004, quando depois de muita insistência concordei em fazer parte dessa Academia de Letras, que tem sua sede em São Caetano Sul, escolhi a Cadeira 21, que estava vaga desde a morte de Dom Jorge. Na ocasião eu teria que fazer um trabalho literário sobre o patrono José Lins do Rego, para o discurso no dia da posse a ser publicado na revista oficial da Academia, a Tamizes. O ocupante anterior da Cadeira seria citado em poucas linhas. Mas, claro que fiz também um grande trabalho sobre D. Jorge, que apresentei como palestra no Museu de Santo André e depois publiquei em comemoração ao aniversário da Diocese na Revista Raízes, da Fundação Pró-Memória de São Caetano
    do Sul.

    No dia da posse compareceram além dos acadêmicos, muitos colegas de jornalismo e literatura, amigos e parentes, e claro, o Marqueiz estava presente. Utilizei muitas de suas informações para os meus trabalhos sobre Dom Jorge. Nesse dia também lancei o meu primeiro livro individual de contos, Tramas & dramas da vida urbana. E um desses contos, "Obediente Criatura", que está na página 53, dediquei ao jornalista e escritor José Marqueiz, amigo e companheiro de longa data. Agora, depois de seis anos, vou alancar a segunda edição ampliada desse livro, na XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no estande da União Brasileira de Escritores (UBE).

    Obrigado Edward, pela divulgação, que já li num dos comentários da chamada para este capítulo de Memória Terminal.

    Saudações, Hildebrando Pafundi - escritor e jornalista.

    ResponderExcluir
  13. Aproveito para deixar meu abraço para a Ilca, que só agora vi, deixou um comentário informando sobre o amigo Claudio Polesi. Realmente, Ilca, foi uma pena não ter sido publicado este livro de Dom Jorge.

    Saudações - Hildebrando Pafundi

    ResponderExcluir
  14. Não deixo de ler nenhum capítulo desta série escrita pelo jornalista José Marqueiz. Além do seu texto extraordinário, trazendo fatos históricos desconhecidos por muitos de nós, caso deste narrado por ele hoje, engrandece os comentários, que ajudam ainda mais a ilustrar essa série imperdível. O Birola e o escritor Hildebrando Pafundi colaboraram com outras importantes informações, isso é ótimo. Só uma não foi fornecida aqui no blog e eu pediria a intervenção da Ilca mais uma vez, visto que o Edward, em seu comentário de abertura, não esclareceu minha dúvida. Onde foi tirada esta foto do José Marqueiz com Roberto Carlos, Ilca? Teria sido uma entrevista? Mas estavam bem vestidos, o José Marqueiz, se não estiver enganada, até com um smoking.........

    Beijos a todos!

    Tânia Regina - Ribeirão Preto - SP

    ResponderExcluir
  15. Eu também queria ter feito essa mesma pergunta, Tânia, mas acabei me esquecendo. Uma bela foto esta do José Marqueiz com Roberto Carlos. E que "estica" estavam os dois, não? Quem sabe a Ilca mais uma vez nos ajuda e conta onde esse aconteceu esse encontro.

    Bjos,

    Tatiana - SBC

    ResponderExcluir
  16. Querido amigo Edward de Souza, o mesmo erro cometido com a não publicação das memórias do Bispo Dom Jorge Marcos não pode acontecer com as de José Marqueiz. Você que teve essa brilhante ideia de publicar as memórias deste grande e saudoso amigo jornalista, contando com a ajuda imprescindível da Ilca, deve tomar a iniciativa e publicar esse livro, sugiro até com o nome adotado pelo blog, "Memória Terminal". Embora não tenha comentado sempre, não perdi um só dos capítiulos apresentados neste blog. E digo mais. Muitos outros amigos e amigas jornalistas, sempre que a quarta-feira chega, entram no blog a espera desta série. E reclamam que apanham e não sabem entrar nos comentários. Ainda vou conseguir ensinar isso a todos eles, verás.

    Edward, enviei um e-mail agora para você, lhe passando meus telefones, vamos ver se vai se lembrar desta sua amiga que gosta muito de você e me ligar, tá bom? Meus cumprimentos por este brilhante trabalho.

    Beijos da amiga Daniela Rangel - Jornalista - São Paulo

    ResponderExcluir
  17. Eu aprendo muito acompanhando esta série do José Marqueiz. Hoje, mais uma lição sobre o movimento encabeçado pelo Bispo Dom Jorge e Dom Claudio Hummes contra a ditadura, no ABC. Todas as minhas amigas seguem o blog, principalmente às quartas-feiras, quando da postagem desta série. E a sua amiga Daniela tem razão, Edward, essas memórias de José Marqueiz precisam mesmo ser editadas, vai ser um grande sucesso, com certeza.

    Beijinhos

    Talita - Unisantos - Santos - SP.

    ResponderExcluir
  18. Retribuo o beijo do querido Pafundi. Meninas, a foto foi tirada numa festa de debutantes em Santo André, o Marqueiz fez a cobertura para a coluna social, talvez alguem da "velha guarda" se lembre, se não me engano, o colunista titular era o Serafim Vicente.

    ResponderExcluir
  19. Daniela, que surpresa, minha amiga!
    Daqui a pouco estou lhe telefonando. Acabo de chegar e está um frio de doer aqui em Franca, chega a cortar. Estou muito feliz que tenha deixado seu comentário aqui no blog e seus telefones, cujo e-mail acabo de receber. Quanto a edição deste livro com as memórias do José Marqueiz, está sim nos planos, vamos ver com a Ilca o que acha, se ela concordar, já tem uma editora pretendo publicar e adianto até o nome. A RG Editores de São Paulo, cujo proprietário, o Dutra, já se colocou a disposição para este trabalho. Essa mesma resposta deixo para a Talita, que fez a mesma indagação.

    Amigo Hildebrando Pafundi, grato pelo comentário e não é favor nenhum divulgar o relançamento deste seu livro "Tramas & Dramas da Vida Urbana", mas sim uma obrigação. São poucos os velhos e bons amigos e eles precisam ser conservados. Traíras existem muitos e estes precisamos afastar do nosso convívio. Amanhã neste blog publico, com sua foto recente e também a estampa do livro, um relato sobre seu trabalho e como será o relançamento nesta sexta-feira na Bienal do Livro, em São Paulo.

    Abraços, Pafundi, Daniela e amigos e amigas que nos enchem de alegria com suas participações. Mais de 250 visitas já foram registradas hoje nesta postagem de mais um capítulo de José Marqueiz, sinal que está agradando essa publicação.

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  20. Ainda em tempo, agora que acabo de ler o comentário da Ilca. Não sou da Jovem Guarda, Ilca, mas da velha guarda e não sabia desta foto do Marqueiz nem de sua presença nesta festa das debutantes, mas recordo-me com saudades do amigo Serafim Vicente, cuja morte trágica, ao cair de um cavalo em sua fazenda, abalou a Região do ABC Paulista. Seu velório foi na Câmara Municipal de Santo André, onde Serafim foi vereador e Presidente. Eu estive presente ao velório e ao sepultamento de Serafim Vicente, com quem estive três dias antes deste triste acontecimento.

    Obrigado, minha amiga, pelos esclarecimentos.

    Beijos,

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  21. Bem que tentei me conectar o dia todo, mas tem dias que neste mundo da internet, nada dá certo. Aprecio muito essa série que José Marqueiz escreveu e sei que posso ler depois, em postagens anteriores, mas gosto de participar no dia e ler todos os comentários. Já ouvi falar muito de Dom Claudio Hummes, mas desconhecia sua luta contra a ditadura. Na época de Dom Jorge Marcos, eu morava no Rio de Janeiro, era ainda menino. Mudei-me para Botucatu em 1990 e não saí mais daqui. A parte final deste capítulo de hoje sensibilizou-me, quando o jornalista fala sobre o alcoolismo e a morte da mãe. Sinto-me recompensado pela luta até conseguir acessar o blog, vale a pena ler esta série.

    Um abraço a todos!

    Miguel Falamansa - Botucatu - SP.

    ResponderExcluir
  22. Fiz uma pesquisa na internet Edward, e não tem um só blog, pelo menos não encontrei, que publica algum texto em série como esse seu. Tenho a impressão que vc é pioneiro neste tipo de postagem e vai ficar na história. Melhor, uma série com qualidade e escrita por um prêmio Esso de jornalismo. O relato de José Marqueiz neste capítulo de hoje é realmente para se copiar e guardar. Fiz isso. Parte de nossa história durante o triste período da ditadura militar. Não vivi nesse tempo, mas procurei ler tudo que podia a respeito. Parabéns pela iniciativa em publicar a série.

    Bj

    Anna Claudia - Uberaba - MG

    ResponderExcluir
  23. Eu admiro muito o jornalista José Marqueiz, mesmo sabendo que está hoje em outro plano. Em todos os capítulos que li, e não perdi nenhum, mesmo botando o rosto pra bater e reconhecendo seu problema de alcoolismo, sempre trouxe fatos interessantes de sua vida como profissional, este de hoje, um deles. E encontrava amigos que lhe abriam as portas e lhe davam empregos, até mesmo num escritório de contabilidade, por pior que sua situação se apresentasse. Não o conheci, gostaria muito, mas creio, bom caráter e um grande profissional. Não fosse isso, não teria muitos amigos e nem tantas portas abertas.

    Beijos a todos!

    Daniela - Rio de Janeiro

    ResponderExcluir
  24. Uma grande coincidência, Edward. Antes de ler mais esse capítulo do José Marqueiz, a primeira coisa que vi, claro, foi a foto do jornalista a rigor com o cantor Roberto Carlos. Depois de ler os comentários, encontrei a explicação, dada pela Ilca. Tratava-se de uma festa de debutantes que, não saberia o que é, não fosse minha mãe, semana passada, me contar tudo sobre esse evento. Mamãe foi debutante (rssssss), nos anos 70 e o que chamavam de paraninfo, foi, segundo me contou, o ex-governador Laudo Natel. Toda a garota que completava 15 anos na época participava desta festa, que significava a entrada da jovem na sociedade. Eu achei engraçada a história que me contou, procurei na internet e quase nada tem sobre isso, até que li o comentário da Ilca. No caso, ela não disse, o Roberto Carlos era o paraninfo das felizardas. Vou chamar a mamãe para ler o texto e os comentários, ela vai gostar........ Adoro ler essa série!

    Beijinhos

    Priscila - Metodista - SBC

    ResponderExcluir
  25. José Marqueiz era um privilegiado. Tinha talento e amigos. Não soube cuidar do bem maior que era o seu corpo, mas deixou-nos, como presente, essa série que emociona. Não perco um só capítulo.

    Martinha - SBC

    ResponderExcluir
  26. Prezado amigo e jornalista Edward de Souza, meus parabéns mais uma vez pela excelente série de “Memória Terminal”.
    Confesso-lhe que não sei se amo ou detesto o personagem da vida real na personalidade do Marqueiz.
    Apesar de tudo ele nos deixa um inexorável legado como o vicio não deve e nem pode dominar o homem.
    Esses relatos servem de alguma forma para o aprendizado de alguém que como ele era escravo do vicio.
    Continuo na expectativa do próximo capitulo, e com a certeza que em cada um deles serei mais uma vez surpreendido com o testamento nu e cru da realidade vivida por ele.

    Valentim Miron Franca SP.

    ResponderExcluir
  27. Minhas queridas ovelhinhas desgarradas da casa de Israel.
    O álcool é uma droga perigosa e que gera dependência química igual a qualquer outro alucinógeno.
    Vejam só os relatos desse nosso amigo desencarnado que em Memória terminal deixou.
    Eu também tenho uma pequenina parcela de culpa, pois eu fico contando nos dedos a hora de começar a missa só para degustar o vinho que eu afanei da adega do bispo, e que foram doados pela cúria diocesana de Roma.
    Se comportem crianças.
    Padre Euvideo.

    ResponderExcluir
  28. Bom dia!
    É o primeiro comentário que faço sobre essa série escrita pelo jornalista José Marqueiz. Como passei a frequentar faz pouco tempo este blog, não havia acompanhado os capítulos anteriores, por esta razão resolvi procurar e ler desde o primeiro texto até chegar neste, postado ontem, e cheguei a conclusão que o jornalista, laureado com o prêmio de jornalismo mais cobiçado do País, enfim descarregou suas conquistas e frustrações ao escrever suas memórias. Em momento algum relatou um só ato de violência praticado por ele sob efeito de bebida alcoólica, o que mostra ter sido durante toda a sua vida um homem pacífico que descobriu, tardiamente, o mal que praticou contra si, ao beber em demasia.

    A conquista do Esso, quando ainda tinha 25 anos, conforme conta nos primeiros capítulos, ao invés de beneficiá-lo acabou por prejudicar sua carreira. Inexperiente, não soube aproveitar o brilho dos holofotes e se projetar definitivamente, firmando-se num grande órgão de imprensa em busca de outros prêmios em sua carreira, que certamente viriam, pelo seu talento indiscutível constatado nesta série que escreveu.

    Parabenizo o jornalista Edward de Souza e equipe deste blog pela publicação de "Memória Terminal", cuja sequência promete.

    Michelle - Florianópolis - SC

    ResponderExcluir
  29. Boa tarde, amigos e amigas!

    Não pude deixar o meu comentário ontem, por problemas de conexão da internet. Li o capítulo assim que foi publicado porém, como tenho o hábito de meditar um pouquinho acerca do que foi escrito para, depois, comentar, quando voltei, meu 3G não funcionou. Agora, resta dizer que sempre fico muito triste ao ler as memórias de José Marqueiz, percebendo a dor que ele sentiu ao ver-se prisioneiro da dependência alcoólica. Porém, todas as dificuldades que enfrentou, ao longo de sua enfermidade não lhe tiraram o brilho e o talento para escrever, tanto que colocou no papel, como catarse, toda a sua vida e obra que, aos poucos, vamos conhecendo e admirando.

    Um abraço a todos!

    ResponderExcluir