sábado, 24 de janeiro de 2009

SONHO QUE SE TRANSFORMA EM PESADELO

Edward de Souza

O combate ao trabalho infantil no Brasil não é tarefa fácil, pois o fenômeno faz parte da nossa cultura, que nos ensina desde pequenos que é melhor trabalhar que vagabundear. Cultura que desconsidera o círculo vicioso e perverso gerado pelo trabalho infantil: a criança que trabalha certamente tem seu desempenho escolar comprometido, torna-se um adulto com pouca qualificação profissional, não consegue ascender socialmente e insere seus filhos precocemente no trabalho.
Há um bom tempo, nos deparamos com a exploração de crianças e adolescentes no mundo do esporte e, principalmente, no futebol. Nos muitos centros de treinamento, em nosso País, encontramos crianças que, a partir dos 9 anos, foram retiradas de suas famílias em nome de um sonho, que acaba se transformando em pesadelo. São milhares de meninos que partem de casa, com a autorização dos pais, o que é compreensível, já que o futebol é tido como uma das poucas formas de ascensão social para pessoas pobres. Nesse percurso, vários direitos são violados: convivência familiar, frequência à escola, assistência médica, segurança e profissionalização, para citar o mínimo. Além de todas estas violações, muitos desses garotos são condenados a morar em verdadeiras pocilgas - alojamentos destinados aos atletas - onde dormem em beliches apertados, quartos com pouca ou nenhuma ventilação, banheiros mal lavados e as roupas mal cuidadas. Na maioria dos casos, a ociosidade também é uma constante, a falta de contato com a família é premente e há o risco de serem vítimas de pedofilia. Também é comum que os adolescentes se tornem reféns de empresários, que pagam as parcas despesas de transporte, cartão telefônico, itens de higiene pessoal e, às vezes, um picolé, mas vislumbram ganhos polpudos, caso a estrela da sorte brilhe para esse jovem apadrinhado.
Queremos denunciar essa prática perversa, pois uma legião de jovens é traficada entre municípios, estados e até países. Após vários meses de dedicação e esforços intensos, muitos meninos voltam para casa frustrados, derrotados, sem escolaridade, sem uma profissionalização!
O sonho acabou. O que fazer com o tempo perdido? Qual acompanhamento é dado a esse jovem? E a sua família? Como lidar com tamanha frustração? Temos o dever e a responsabilidade de exigir a implantação de políticas públicas de esporte, às quais todos os jovens brasileiros tenham acesso e possam usufruir dos benefícios que a prática esportiva oferece ao desenvolvimento físico, psicológico e social do ser humano.
ESSA É A MATÉRIA PRINCIPAL DO BLOG DO MASINI DESTE SÁBADO. ACESSE: http://www.nossanoite.com.br/divadomasini/

5 comentários:

  1. Prezado amigo Edward de Souza,

    Parabéns pela coragem e pelo texto brilhante sobre o trabalho escravo deste sábado. Por isso, penso que os jornais tendem a desaparecer. A mídia eletrônica hoje produz textos e matérias que deixam longe os grandes jornais. Estão estagnados, sem nada que possa aproveitar, sem criatividade. Há tempos leio os noticiários pela Internet. O hábito de ler jornais perdi faz tempo, de tanta mediocridade e falta de talento em nossas redações. Aqueles bons tempos em que trabalhávamos juntos, lembra-se, fazíamos jornal com amor, com profissionalismo. As redações dos nossos jornais de hoje estão repletas de jovens com a mente vazia. Os bons profissionais, desprezados, correm para os blogs e produzem maravilha.
    Isso, meu amigo, mostre seu talento. P A R A B É N S.
    Bjos...
    Sônia Prado - São Paulo - SP

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  2. Excelente tema abordado por este jornalista! O combate ao trabalho infantil no Brasil pode-se dizer que não funciona, pois sempre vemos reportagens, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil de crianças trabalhando em carvoarias, lavouras de cana, café e outras para dar um ganho a mais para a família no fim de cada semana . Ora, se nestes locais que trabalham muita gente os casos ficam omissos, imaginem com os casos citados na matéria sobre as crianças ludibriadas pelos chamados empresários da bola, que enganam também as famílias de origem pobre! Penso que é igual ao tráfico de mulheres para a Europa, ludibriam as jovens com promessas de empregos e altos salários e depois as mesmas sofrem conseqüências gravíssimas para poderem retornar ao nosso país! Parabéns ao jornalista Edward de Souza pelas matérias e por quase 5.000 visitas em seu blog em menos de um mês!

    Estevam C.. Figueiredo (Ituiutaba MG)

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  3. O problema maior nesse País é saber distinguir o que é trabalho escravo e o que não é. Digo isso porque, tempos atrás, aqui em Franca, a Globo fez um estardalhaço danado, acusando as empresas de calçados de serem responsáveis pela contratação de crianças para trabalhar na produção. Sensacionalismo danoso, que custou caro para a imagem da cidade e tirou das crianças pobres, que estudavam num período
    do dia e para não bater perna e entrar no caminho das drogas, completavam seu tempo aprendendo o ofício de sapateiro, ajudando seus familiares. Fica dificil saber o que é ou não trabalho escravo. Não para nós, que lutamos para encaminhar nossas crianças, mas para os donos da verdade, que acham que todos os pais tem dinheiro para dar luxo e conforto para seus filhos.

    Urias - Franca

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  4. Podem perceber uma coisa. Todas as vezes que surgem denúncias de trabalho escravo no Brasil, tem americanos no meio. Assim acontece com o meio ambiente. Eles se metem em tudo aqui no Brasil, mas não olham sua própria casa.

    Fátima - Jundiaí - SP.

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  5. Parabéns pelo blog.
    A nossa luta tem que ser esta, contra a exploração da criança em todos os seguimentos, seja trabalho, violência, exploração sexual entre outras.
    Deus me deu a sorte de trabalhar no projeto pioneiro da luta contra o trabalho infantil, foi através do Programa DESAFIO, que a OIT criou o PET que hoje esta em todo o Brasil.
    Se quiser conhecer um pouco de nosso trabalho, visite o nosso blog – fmijprogramadesafio.blogspot.com
    Um abraço e vamos continuar com esta luta.

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