segunda-feira, 7 de março de 2011


Jarbas era um homem sério. Compenetrado em suas atividades profissionais. Orgulhava-se de jamais ter perdido dia de trabalho. E de se dedicar com afinco. Um funcionário exemplar, como dizia o chefe.
Muitas vezes dobrava o expediente. Horas extras que complementavam o orçamento. Nada faltava em casa. Atendia todas as vontades da mulher. E dos filhos, fascinados com as novidades do mundo virtual. Viciados em vasculhar os meandros da internet.

Naquela manhã de segunda-feira acordou preocupado. Passara a noite de domingo acompanhando, pela televisão, o desfile das escolas de samba. Encantara-se com o espetáculo. Carros alegóricos, fantasias, alegria. E os aplausos do público. Lembrou-se, ainda, dos antigos bailes. Quando jovem, pisara em alguns salões. Pulava-se ao som de marchinhas. Sozinho ou acompanhado. Pouco importava. Valia a folia. Bem comportada, apesar das brincadeiras de lançar perfume. Prática proibida. Ficaram as drogas.
.
Durante o café, na conversa com a mulher, lastimou-se.
- Pois é, meu bem, o chefe não deu trégua. Diz que preciso executar um serviço especial. Tenho de terminar ainda hoje. Resultado: vou entrar noite adentro. Ele é crente, detesta este período. Diz que folga somente no sétimo dia, quando Deus descansou.
A mulher apenas balançou a cabeça. Não chegava a ser um drama. A recompensa vinha no final do mês. Salário mais gordo.

Despediu-se com um beijo. Durante a tarde ligou duas vezes para informar que estava envolvido com números. Todas as operações a fim de deixar os balanços concluídos. Trabalheira dos diabos. Concentração total.

A noite chegou e as estrelas cobriram o céu de beleza. A mulher preparou um prato especial para o marido. Deixou no micro ondas. Quando chegasse bastava aquecer. Os filhos foram para o escritório, entretidos com a navegação.
.
Súbito, um deles gritou:
- Mãe, corre aqui.
Assustada, ela se apressa:
- O que foi?
Desapontados, os garotos indicam:
- Veja o que achamos. Olha. Transmissão ao vivo. Papai na folia. Fantasiado de Madonna. Num baile gay.
___________________________________________
*Guido Fidelis é advogado e jornalista, dedica-se às letras.
___________________________________________
Nesta Terça-feira o jornalista e radialista Oswaldo Lavrado escreve um fato real, ocorrido num carnaval dos anos 70, no ABC Paulista, quando estava em ação a equipe esportiva dos "Craques do Rádio", da Diário, transmitindo os bailes carnavalescos dos clubes da região. Lavrado cobria o carnaval da GM, de São Caetano. A folia corria solta, até que... "Pegou fogo no salão". Na quarta-feira de cinzas, conforme anunciado, o quinto capítulo da série "O dia em que gravei o Jornal Nacional". Acompanhe!
___________________________________________

22 comentários:

  1. Bom dia, amigos e amigas...
    Interrompi meu passeio, muita chuva e frio, nada agradável para se curtir um rancho. Ficar fechado, melhor em casa. Lembrei-me que na semana passada, eu e o amigo escritor, jornalista Guido Fidelis, trocávamos e-mails e contos feitos de improviso. Recebi alguns, entre eles esse com o título: “Segunda de carnaval”. Curto, satírico e cômico. Mesmo percebendo que diminuiu sensivelmente a frequência de leitores e leitoras ao blog, decidi postar este conto do Guido Fidelis. Os que acessarem, com certeza vão ser premiados com a leitura.

    Guido Fidelis, além de ser autor de mais de 30 obras, entre literatura, obras jurídicas, históricas e, ainda, na área da comunicação social, gosta de divulgar a cultura e incentivar o hábito de leitura. Fez andanças por centenas de escolas com a finalidade de conversar e conscientizar os alunos sobre a importância do conhecimento humano, da leitura. Também incentivou dezenas de autores, apresentando-os a editoras. Tudo isso é feito com amor, sem outros interesses, mesmo porque, livro no Brasil, não permite a nenhum autor viver de direitos autorais, muito escassos, pois as tiragens são limitadas, ao contrário de outros países mais desenvolvidos.

    Mas o sonho, no modo de vida do Guido, é a essência da alma, a luz do futuro, a realidade que se abre. E vale mais um sorriso, uma flor, o encanto da natureza, a prosa com um amigo, a fraternidade que muitos milhões no bolso. Eis aí o retrato de um ser ao mesmo tempo jurássico, por cultivar o hábito de sentir o pulsar do livro numa época em que se busca apenas o enriquecimento rápido, nem sempre honesto e a inquietação do intelectual, preocupado com problemas como educação, saúde, segurança.

    Um forte abraço!

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  2. Edward,


    Excelente texto !
    Muito bom , leve e divertido...
    Coisas do carnaval , ...Rsrs


    Desejo um Dia de Paz.

    ResponderExcluir
  3. Sempre bom ler os contos escritos pelo Guido Fidelis. Esse, engraçadíssimo. Perceberam a ironia do autor quando escreve: "Valia a folia. Bem comportada, apesar das brincadeiras de lançar perfume. Prática proibida. Ficaram as drogas". Pois é...

    Bjs

    Vanessa - Campinas - SP

    ResponderExcluir
  4. Segunda de carnaval. Mistura de tranquilidade e agitação.A vida palpita. E vamos nós adiante, com sonhos,projetos e muita alegria. Agradeço os amigos leitores, são eles a fonte, mo motivo de incentivo para prosseguir na jornada e na vontade de mostrar a alma dos seres em sua essência, boa ou má. Serpentinas, confetes, a folia continua.

    Abracíssimos
    Guido Fidelis

    ResponderExcluir
  5. Boa essa, Guido, depois de velho o Jarbas resolveu "soltar as frangas". E logo fantasiado de Madonna. Fico imaginando a cena quando chegou em casa depois da folia (kkkkkkk...).

    Valeu!

    Juninho - SAMPA

    ResponderExcluir
  6. Final inesperado e engraçado Guido. O ruim para o Jarbas foi estar num baile Gay. Vestido de Madonna, nos dias de hoje, até que poderia passar batido (rsrsrsrsrsrsrsrs). Gostei!

    Esse, para mim, é o carnaval dos sonhos, literalmente falando... Debaixo dos cobertores.

    Bjus

    Gabriela - São Paulo - SP

    ResponderExcluir
  7. Assim que li o conto do amigo Guido Fidelis, lembrei-me de um caso ocorrido com dois comerciantes de Santo André, cujos nomes, evidentemente, não citarei. Eram e são ainda meus bons amigos. Os dois, casados, resolveram certo dia passar o carnaval na Bahia. Eram casados recentemente e planejaram um jeito de enganar as distintas esposas. Assim, num churrasco entre famílias, eu estava presente, contaram que iriam pescar no Mato Grosso e, na maior cara de pau, convidaram-me para participar. Sabiam que eu iria recusar, precisava trabalhar no carnaval, fazendo cobertura para rádio e jornal.

    Computadores naquela época, nem em sonhos, mas a Tv já se aventurava a cobrir, além dos desfiles nos sambódromos, bailes de carnaval, com as velhas e gostosas marchinhas sendo executadas. E os dois sairam para a "pescaria", para surpresa das respectivas esposas, carregando malas. Só não ficaram ainda mais desconfiadas porque carregaram muitas bermudas e camisetas, alegando que o calor no Mato grosso era de arrasar.

    Depois de quatro dias de folia, voltaram, mas não se esqueceram de passar no Ceasa e comprar peixes congelados. Cada um para sua casa, todos com peixes. Um deles caiu do cavalo de cara, quando a esposa, fitando um exemplar "pescado" exclamou: "onde vocês foram pescar os peixes já saem do rio com o carimbo do SIF (Serviço de Inspeção Federal). E o outro de cara entrou no pau de macarrão, assim que abriu a porta. A esposa havia assistido o desfile pela TV e viu os dois se esbaldando no Clube Português, um dos grandes clubes de Salvador.

    Relações estremecidas por um bom tempo, confessaram o "crime" e tudo continuou bem entre eles. Nunca mais foram pescar (sic), nem mesmo em barranca de rio. E nesta época de carnaval, pelo menos enquanto eu estava lá, ficavam quietinhos em casa, ou quando saiam a passeio, sempre com as esposas os acompanhando.

    Um abraço!

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  9. Rsrsrsrsrsrsrsrs... Comecei a rir depois de ler o conto do Guido e continuei aqui, lendo seu "causo", Edward. O Jarbas se revelou num baile gay e seus amigos, não rodaram a baiana, Edward?

    Divertido o blog nesta segunda de carnaval.

    Beijos,

    Tânia Regina - Ribeirão Preto - SP

    ResponderExcluir
  10. Tânia, o Jarbas não se revelou, pelo jeito teve uma recaída (rsssss). Azar o dele ter sido flagrado pelos filhos. E fantasiado de Madonna não tem como se desculpar. Não deve ter nem provado a comida que estava no micro ondas (rsssss). Engraçado esse conto do Guido.

    Carol - Metodista - SBC

    ResponderExcluir
  11. Faz tempo que não leio um conto seu, Guido Fidelis. Mesmo sensibilizado com a sina do Jarbas, pobre coitado, não teve como não dar boas risadas ao final do texto. E uma indireta bem no estômago, Guido, observado pela Vanessa, atenta ao seu relato. Proibiram o lança-perfumes, dos meus bons tempos de carnaval, com certeza dos nossos tempos, mas cocaína, LSD, maconha, ópio, crack, sem problemas, tudo liberado.

    Abraços

    Miguel Falamansa - Botucatu - SP.

    ResponderExcluir
  12. OIê, amigos (as)...
    Curto e grosso, porém divertido, o artigo do jornalista/escritor Guido Fidelis. Como sempre, a imaginação fertil e humorada de quem nasce para escrever bem, muito bem.
    No entanto, o cara poderia ter se disfarçado melhor ou, então, não sabia que a net, hoje, é mais traira do que a TV. E foi logo travestido de Madona em um baile gay. Qual desculpa apresentou em casa, aos filhos e a mulher ? sé é que para um mico desse tamanho existe desculpa.
    Valeu, Guido Fidelis.

    Abraços
    Oswaldo Lavrado SBCampo

    ResponderExcluir
  13. Guido, molecada dedo-duro essa! Ficassem quietos, sem chamar a mamãe, teriam uma mesada gorda todo o mês do "papi-madonna" (rsrsrsrsrsrsrs). Legal, bem divertido!

    Bom dia e meio de carnaval, nosso Brasil começa a trabalhar a semana que vem.

    Andressa - São Paulo - SP

    ResponderExcluir
  14. Edward, essa história dos seus amigos e a pescaria na Bahia é de doer! Carimbo do S.F.I. nos peixes foi demais. Escreva um conto sobre isso, vai nos matar de rir, mesmo tendo adiantado o final.

    Bjos,

    Andressa - São Paulo

    ResponderExcluir
  15. Essa deve ter sido a primeira vez que a Madonna foi recepcionado com um pau de macarrão quando chegou em casa. Gostei, Guido, divertido.

    Priscila - Metodista - SBC

    ResponderExcluir
  16. Tivesse o Jarbas ao menos se fantasiado de Jesus (namorado brasileiro da Madonna, teria preservado sua masculinidade perante a família. Ao contrário, não existe negativa de autoria que o ajude. Engraçado o conto, Guido Fidelis, adorei!

    Anna Claudia - Uberaba - MG

    ResponderExcluir
  17. Gostei da criatividade, Guido. Vestido de Madonna num baile gay foi demais. Certamente "mamado". A cachaça faz coisas no carnaval... Nem a pessoa que apronta acredita se contar a ela mais tarde. Muito bom!

    ABÇS

    Birola - Votuporanga

    ResponderExcluir
  18. Aproveitando minha passagem pelo blog, onde postei a chamada para a crônica de Oswaldo Lavrado, que será apresentada nesta terça-feira de carnaval, deixo um alô para a Andressa. Vou seguir seu conselho e escrever um conto sobre estes dois amigos no carnaval da Bahia e os peixes carimbados pelo SIF, certo? Você só vai ler no carnaval do ano que vem, este já era, pode ser? Ou quem sabe posso publicá-lo na proxima edição "O conto brasileiro Hoje". Se isso acontecer, lhe mando um livro de presente.

    Outro detalhe sempre sutil deixado pelo Guido que ninguém notou. Ou se notou, não se manifestou. O patrão do Jarbas "vira-casaca" guardava o sábado. Pelo menos entendi isso, afinal, este é o sétimo dia correto. Uma semana não pode começar na segunda-feira. Então, a primeira feira é o domingo, o sétimo, sábado. O que tem isso? é que acabei lembrando outro fato engraçado.

    Um falecido tio, anos atrás, havia saido da igreja num sábado. De cara encontrou com um vendedor de queijos produzidos na Serra da Canastra, em Minas, quem conhece sabe que esse produto é de uma qualidade excepcional, compro sempre. Não podia adquirir o queijo na frente dos "irmãos", a religião dele não permite comprar, vender, trabalhar e nem fazer seus empregados trabalharem. Folga geral no sábado. Ele não teve dúvidas. Aproximou-se e cochichou em meu ouvidos: "compre dois e pague, amanhã vou buscar em sua casa". Enfiou a Bíblia debaixo dos braços, entrou no carro e se mandou. Mesmo rindo da cena, comprei, domingo ele apareceu para buscar. Não desobedeceu o sábado, eu sim.

    Chega de histórias. Estou surpreso com o número de visitas e de comentários. Não esperava isso numa segunda de carnaval. O conto do Guido fez milagre.

    Abraços...

    Edward de Souza

    ResponderExcluir
  19. Ainda bem que nosso cantinho favorito está em plena atividade. Em São Bernardo hoje, um horror, gente! Frio, chuva, garôa, tudo ao mesmo tempo. Viajar neste carnaval, impossível, chovendo pra todos os lados, pistas perigosas e escorregadias. Ver as escolas de samba pela TV, que o Edward chamou em seu artigo anterior de pasteurizadas, acaba dando sono. A diversão, por sinal agradável, foi ler o conto do Guido e as histórias que o Edward conta nos comentários e esperar a crônica de Oswaldo Lavrado amanhã. Falar no Edward, de uns tempos para cá ele anda criando histórias até de um sábado. Com a corda toda, deve ser a chuva e o frio que o animou tanto assim.

    Guido Fidelis, você sempre escrevia contos para o blog, não pode parar, sempre uma leitura gostosa, como essa do Jarbas que transformou-se do dia para a noite em Madonna. Adorei!

    Bjos a todos!

    Tatiana - SBC - SP

    ResponderExcluir
  20. Amigos do blog de ouro,boa noite.
    Edward já estava-mos com saudades dos contos do "Guido sempre Fidelis".Este de hoje foi muito bem bolado.
    Abraços Guido Fidelis e parabéns pela historinha.Edward pegou carona e tambem deixou alguma graça para a gênte.È por isso que o "nosso" blog é um verdadeiro campeão de audiência. Abraços a todos

    (linda e agitada a praia hoje)

    Uma ótima semana aos amigos participantes.

    Admir Morgado
    Praia Grande SP

    ResponderExcluir
  21. Muito bom mesmo!Muito gostoso de ler,parabéns!

    ResponderExcluir