segunda-feira, 20 de abril de 2009

AS HISTÓRIAS DAS REDAÇÕES DE JORNAIS

Milton Saldanha
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INÉDITO
Capítulo XXV
*
A vingança do Cabral
*
A Última Hora, fundada e dirigida por Samuel Wainer, formava uma rede nacional. Com o mesmo título, logo em azul, identidade visual e seções, até onde lembro era editada no Rio, São Paulo, Recife, Porto Alegre. Depois do golpe de 64 foi fechada e mais tarde reaberta em São Paulo. Em Porto Alegre resultou na atual Zero Hora. Fui repórter da Última Hora, nesta segunda fase, trabalhando com o Samuel Wainer, nome lendário e polêmico do jornalismo brasileiro, que colecionava tanto amigos como inimigos. Só que nessa segunda fase ele não era mais dono do jornal e sim empregado do Frias, do grupo Folha de S.Paulo, que havia adquirido o título. Naquela redação convivi diariamente com nomes notáveis: Plinio Marcos, Antonio Contente, Lourenço Diaféria, e um vasto time de antigos jornalistas com muita estrada e quilometragem percorrida. Eu estava naquela fase de transição, um bom repórter, mas ainda meio foca. Já estava no jornal quando o Samuel Wainer assumiu a direção. Lembro-me que o Otávio Frias chegou com ele na imensa e ruidosa redação, bateu palmas pedindo silêncio: “O bom filho a casa torna”, disse Frias, anunciando o novo diretor. Ali me aproximei de alguns veteranos, quase tietagem, em busca das suas histórias e experiências. Um deles era Cabral, que fumava cigarro com piteira e gostava de vestir coloridas camisas de seda. Cabral, diziam, foi uma lenda do jornalismo policial. Não sei se era verdade, mas contavam que chegou a localizar bandido em morro antes da polícia. Denunciava e ficava no local esperando a prisão para cobrir como furo. Dele contavam também o seguinte episódio:
Mulherengo, Cabral gostava de cortejar moças bonitas com belos jantares, em restaurantes sofisticados. Não tomava o cuidado de checar antes os preços, mesmo ganhando mal como todo mundo naquela época. E foi assim que levou mais uma para jantar, com direito a entrada, camarão, vinho italiano, sobremesa. Quando pediu a conta levou um susto. O preço era um absurdo, consumia boa parte do salário que ganhava num mês inteiro de trabalho. Para não dar vexame agüentou no osso. Pagou com cheque, furioso, e se retirou com sua convidada. Nos dias seguintes aquilo ficou martelando na cabeça de Cabral. Estava realmente revoltado com o absurdo da conta. “Isso não vai ficar assim”, pensou, e teve uma idéia. Chamou um contínuo da redação, prometeu-lhe uma caixinha, e pediu que fosse ao restaurante para fazer reserva de jantar para quatro pessoas. Mandava até um cheque como sinal, por garantia, e pediu ao rapaz que voltasse com a nota fiscal.
Dia seguinte, quase duas horas antes do horário previsto na reserva, requisitou uma Kombi da frota do jornal e saiu. Mandou que o motorista seguisse para os baixos de viadutos da Zona Oeste onde precariamente se abrigavam grupos de mendigos. Chegou e anunciou: “estou convidando três de vocês que queiram fazer o melhor jantar das suas vidas. É só embarcar, é tudo por minha conta”. O grupo se formou em torno da Kombi, todos queriam ir. Cabral então selecionou os três privilegiados, procurando entre eles os mais feios, esfarrapados e mal-cheirosos. O restaurante, naquele horário, já tinha bom movimento e a mesa de Cabral estava prontinha, com cartão de “reservada”. Quando ele entrou com seus convidados foi um choque geral. Silêncio. Garfos e facas pousaram silenciosos nas mesas. Olhares incrédulos de todos os lados. Cabral acomodou-se com os mendigos e pediu o cardápio para os pedidos. O dono, ou gerente, surgiu do nada: “O que o senhor está fazendo? Não pode ficar aqui com essas pessoas. Vou chamar a polícia”. E Cabral: “Isso, chama a polícia, é isso que eu quero, escândalo. Vou chamar também meus colegas dos jornais. Discriminação racial e social é crime. Estes senhores são meus convidados, cidadãos como qualquer brasileiro, e parte do jantar já está até paga, está aqui a nota fiscal”.
Nesse meio tempo, vendo a encrenca armada, e não agüentando o odor que se espalhou pelo recinto, mais da metade dos clientes já se retirava, uns rindo, outros furiosos. O gerente capitulou. Mandou servir, postando-se de braços cruzados e cara amarrada a alguns metros da mesa. O jantar foi uma cena dantesca, de bocas abertas desdentadas mastigando vorazes, líquidos e babas escorrendo pelos cantos dos lábios, mãos imundas avançando sobre copos e travessas cintilantes. Os garçons ficaram num grupo à distância, alguns usando lenço para tampar o nariz, outros de costas para a mesa, repugnados. E Cabral recostado na cadeira, fumando com sua piteira, sorrindo, feliz.
Quando terminaram, fartos, e sozinhos na casa, o gerente se aproximou. “Senhor Cabral, pelo amor de Deus, nunca mais faça isso de novo. O senhor pode nos arruinar. Só hoje perdi vários clientes. Mas a conta está certa, o senhor não precisa pagar mais nada. Volte quando quiser, traga sua noiva, será convidado da casa”.
“Jamais – replicou Cabral – vocês me roubaram descaradamente da outra vez e agora dei o troco. Estamos quites. Agora fique tranqüilo, nunca mais pisarei nesta casa”.
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*Milton Saldanha, 63 anos, gaúcho, torcedor do Inter, começou no jornalismo aos 17 anos, em Santa Maria (RS). Trabalhou na grande imprensa de Porto Alegre e de São Paulo. Foi da Folha da Manhã (RS), Diário do Grande ABC, Agência Estado, Estadão e JT, Rede Globo, Rádio Jovem Pan, Última Hora (com Samuel Wainer), entre vários outros veículos. Foi também assessor de imprensa da Ford, do IPT e do Conselho Regional de Economia. Tem um livro publicado, "As 3 Vidas de Jaime Arôxa"; participou de uma antologia de escritores gaúchos; um livro pronto e ainda inédito, "Periferia da História", onde conta de memória 45 anos da recente história do Brasil sob um ângulo totalmente inédito; trabalha num livro sobre Reforma Agrária. Pouco antes de se aposentar fundou o jornal Dance - http://www.jornaldance.com.br/
– que já tem um filhote regional em Campinas, e que neste 2009 completa 15 anos.
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NR: Prezados amigos e amigas. Com pouco mais de três meses, o sucesso deste blog pode ser constatado pelo número de visitas (mais de 22 mil) e de comentários, chegando próximo a 50 em determinados artigos, como esses dois últimos escritos pelos jornalistas J. Morgado e Oswaldo Lavrado. Nossa intenção era deixar livre os comentários para que todos pudessem ler e interagir. No entanto, caso excessos cometidos continuem, seremos obrigados a monitorar os comentários. Recebi vários e-mails de pessoas reclamando e sentindo-se ofendidas. Algumas não entendendo a brincadeira que criamos ao nomear Francisco Heitor como “coordenador” do blog. Heitor, na verdade, nunca teve a intenção de ofender ninguém e acompanhamos todas as suas intervenções, mas sim de brincar com alguns erros cometidos pelos participantes do blog. Fica suspensa sua função, pelo fato de ter sido mal entendido. Quanto ao padre, ou a pessoa que se faz passar por ele, não conhecemos. Pedimos paciência entre todos, afinal, também acompanhei suas participações no blog e nada vi que pudesse ofender ou prejudicar ninguém. Vamos tentar deixar livre, por 48 horas, os comentários. Caso abusos persistam, iremos monitorá-los e só publicaremos os que estejam de acordo com a seriedade e respeito necessários para a continuidade desse blog. Grato!
Edward de Souza
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25 comentários:

  1. Olá Milton


    Essa você tirou do bolso do colete. Fantástica! Hilariante! Inteligente! O Cabral, usando sua capacidade criativa e na medida certa soube dar o troco. No houve ai vingança. O que aconteceu foi uma reação natural (para cada ação,uma reação).
    Seu relato, nos faz imaginar a cena: um restaurante de luxo com a mesa posta, seus talheres, copos para água, vinho, água em uma taça para lavar os dedos (será que os pobres mendigos beberam a água),entrada a moda espanhola; melão com presunto, lagosta, etc. Os garçons vestindo Summer ou smoking, boquiabertos com a cena inusitada. E os cavalheiros e as madames? Horrorizados, por verem ali uma realidade que tentam fugir no seu dia a dia.
    Obrigado Saldanha. Diverti-me muito ao ler essa história.

    J. Morgado

    Mongaguá - SP

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  2. Ôi, Milton,
    Estamos de folga na faculdade e com um belo sol aqui em nossas praias. Esse caso do Cabral, que vc conta hoje aqui no blog é realmente muito engraçado. Sabe de uma coisa? Tem certos lugares que merecem uma visita desse pessoal da pesada que o repórter levou. Aqui em Santos mesmo. Frescura demais, mal atendimento e preços exorbitantes para um prato comum, que fica sofisticado quando é pronunciado em francês. Legal essa!!!
    Ahhh... O Edward postou uma nota muito bravo. Com razão. Está tão legal esse blog, para que exageros, né?

    Bjos,

    Thalita - Santos

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  3. Olá Milton,
    Além de ter me divertido com esse caso do Cabral hoje, fiquei encantada com a capa da Última Hora postada em sua matéria. É do seu arquivo, Milton? Ou é do Edward? Uma edição histórica, trazendo o suicídio de Getúlio Vargas. Um exemplar desses deve valer ouro para colecionadores, certamente.
    O blog continua 10.

    Lidiane - Metodista(de folga)- S. Bernardo do Campo

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  4. Prezado Jornalista!
    Eu recordo com saudade do Jornal Última Hora, na Rua do Gasômetro (me corrija se estiver errado), no Braz. Nessa época meu pai tinha um bar na esquina, onde jornalistas, inclusive Samuel Wainer, frequentava. O bar se chamava "Bar Gavião", não sei se é do seu tempo. Meu pai é falecido, faz uns 20 anos. Sempre nos finais de tarde vários repórteres do jornal iam ao bar do meu pai, sentavam-se para conversar e tomar aperitivos. Acho que depois que fechavam o jornal, não tenho certeza. O movimento no bar era intenso por causa do jornal. Políticos famosos da época também, quando saiam do jornal passavam no bar. Eu era menino e ajudava a atende-los. Tenho em meus guardados fotos no bar com Jânio Quadros, Adhemar de Barros, Plinio Salgado, Carvalho Pinto, Laudo Natel e outros. Bons tempos! Eu me lembro do Cabral, que chamavam de Cabralzinho. Outros repórteres policiais famosos que também iam ao bar que eu me lembro eram o Orlando Cruscuolo, o Pantera (acho que era fotógrafo do Diário da Noite, não tenho certeza), Waldemar de Paula, Inajar de Souza, Paladino e outros. Essa história que você contou sobre o Cabral é ótima, bem divertida. Sou cru em informática, mas estou com meu filho do lado. Vou ditando e ele vai escrevendo para mim.
    Abraços, senhor Milton!

    Thomáz G. Medeiros - São Paulo - SP.

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  5. Lidiane
    Quem edita o blog é o Edward de Souza. Ele coloca as imagens, que ajudam a estimualar a leitura. Não sei de onde ele tirou essa capinha, mas seria legal que ele mesmo desse a dica. Foi a histórica edição da UH, como a gente dizia, no dia mais trágico que o Brasil já viveu em toda sua História. No meu livro de memórias dedico um capítulo ao 24 de agosto de 1954. Se o Edward topar coloco aqui no blog. Veja, eu era um garoto, e aquilo marcou tanto que nunca esqueci, a ponto de lembrar até hoje com detalhes daquele dia. A UH era o único jornal que apoiava Vargas. Aliás, foi criada com financiamento do Banco do Brasil com esse objetivo. O financiamento virou escândalo, deu CPI no Congresso, editoriais e matérias nos jornais adversários, foi um banzé danado. E, como sempre, acabou tudo em pizza. No golpe de 1964 o dono da UH, jornalista Samuel Wainer, com quem cheguei a trabalhar, como já contei, se asilou numa embaixada e depois foi morar em Paris, como refugiado político. Voltou, foi detido, prestou depoimentos, liberado e voltou ao trabalho, como conto neste texto. Quando a UH (já do grupo Folha) fechou, ele foi trabalhar na Editora Três, onde agora eu era um dos fundadores e editor de texto da revista Motor 3. (Caramba, esqueci dela no meu currículo). Aí voltei a trabalhar novamente perto do Samuel, que dirigia a revista Senhor, onde assinei uma matéria de capa com o presidente da Volkswagen, editada por ele e pelo Múcio Fonseca. O Samuel morreu poucos anos depois. O Múcio também. Existe um livro que recomendo a todos os jornalistas, e aos estudantes, em que Samuel Wainer conta toda sua vida, a história da UH, os bastidores do poder e a corrupção. Confessa a própria corrupção, é impressionante. Agora, desculpem, não lembro do título, li há muitos anos, mas vou procurar nas minhas abarrotadas estantes e depois passo.
    Abraço fraterno,
    Milton Saldanha

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  6. Caro Thomáz Medeiros
    Caramba, que belo material você tem. Essas fotos são valiosas. Não conheci nada disso que você conta, porque fui de outra fase da UH, quando a redação já era no prédio da Folha de S.Paulo. Nesse período que você relata certamente eu estava no Rio Grande do Sul. Mas muita gente da primeira fase estava lá novamente, como o Cabral, e foi uma tremenda experiência estar com eles.
    Obrigado, abraço grande,
    Milton Saldanha

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  7. Amigo Milton Saldanha e prezada Lidiane!
    Sempre tive a mania de guardar coisas antigas. Muitas se perderam. Quando trabalhei no Jornal Notícias Populares, encontrei numa gaveta de uma velha mesa encostada, um logotipo azul do Jornal Última Hora, feito em madeira, que certamente era colocado sobre a mesa de algum editor, ou, quem sabe, até na mesa de Samuel Wainer. Nunca consegui saber a quem pertencia. Coloquei no bolso de minha jaqueta de couro e levei pra casa. Está aqui, comigo. Só não sei dizer como é que esse logotipo de madeira foi parar na redação da NP, nem sei sobre a procedência daquela mesa. Como o Milton disse que a Folha comprou a Última hora, acredito que muitos pertences devem ter sido levados para o Grupo de Frias. E muitos acabaram abandonados por lá. Nessa época eu guardei muitos jornais que tenho comigo. Algumas edições históricas que conservo, como da Revista Cruzeiro, Realidade e outras. Tenho o Jornal Última Hora que mostra a conquista da Copa do Mundo de 58. A Gazeta Esportiva também. Além de mais de 50 exemplares de Notícias Populares. Muitos dei ou perdi. Bem mais adiante, no começo dos anos 80, todas as revistas que mostravam a morte de Tancredo Neves comprei e guardei. Assim vai se criando um acervo de velharias que acabam sendo útil. A morte de Getúlio nada tem a ver com o texto do Milton de hoje, mas foi para mostrar o jornal e sua capa histórica, uma vez que ele é citado no começo da matéria. E já que o Milton está disposto a relatar aqui no blog o trágico suicídio de Getúlio em 1954, estou desde já esperando o texto para ser publicado. Um trabalho que certamente chamará a atenção de todas as estudantes de jornalismo que frequentam esse blog.
    Abraços a todos!

    Edward de Souza

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  8. Muito engraçado esse caso do repórter Cabral, Milton. Até nisso os repórteres daquela época tinham criatividade, né? Também adorei ver essa capa do Jornal Última Hora sobre a morte de Getúlio. Uma relíquia, que agora sei, pertence as "velharias do Edward". Edward, se vc precisar de uma secretária para te ajudar a colocar os arquivos em ordem, me chama, tá? Adoro ver e ler coisas antigas. Mesmo sendo alérgica a poeira. Tem muita poeira aí em seu sótão, Edward? (rssssssssssssss....).
    Beijinhos

    Andressa (Medicina) - Santo André - SP.

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  9. Ôie
    Uma vez eu disse aqui nesse blog que fico curiosa pra saber qual será a matéria do dia. Nunca se sabe, mas todas acabam agradando em cheio e a gente não aguenta, tem que comentar. Essa de hoje foi engraçada demais. Só de imaginar aquela gente tapando as narinas e correndo pra fora do restaurante é hilariante. Sem nenhum menosprezo aos pobre mendigos, viu gente!!! Bom demássssssss, Milton!

    Bjos,

    Fernanda - Rio de Janeiro

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  10. Edward . O relato do amigo Milton Saldanha hoje está demais.
    O ditado diz "a vingança é um prato que se come frio" mas o esperto e inteligênte Cabral, mudou radicalmente o ditado e sua vingança contra o restaurante fino, foi com prato quente mesmo, e bem acompanhado com os mendigos ávidos por uma bôa refeição.
    Hilaria mesmo a história, e é por isso que acompanho seu blog, para aprender e me divertir.
    Quanto a manchete do Jornal Ultima Hóra, lembro-me muito bem dáquele dia.Foi muito triste o acontecimento, pois eu então com nóve anos, fui dispensado da aula, juntamente com os demais alunos,e
    ficamos sem aulas por mais três dias,respeitando o Luto oficial que foi decretado.
    Parabéns ao amigo Milton saldanha pelo exelênte artigo.
    Abraços Edward e sucesso sempre.
    Admir Morgado
    Praia Grande SP

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  11. Só vc mesmo, Milton!!!
    Essa foi de cair da cadeira de tanto rir. Será que o Cabral deixou alguma gorjetinha pros garçons? Olha, li todos os comentários. Seria ótimo vc escrever, mesmo não tendo vivido àqueles tempos, essa história do Getúlio Vargas. Meu pai tem um livro aqui em casa do tamanho de uma Bíblia, bem antigo, folhas já amareladas, escrito pela Alzira Vargas, sobre o pai Getúlio. Li boa parte dele, tempos atrás. Sabe Milton, até hoje existe dúvida: Getúlio se matou ou foi assassinado?

    Beijos....

    Vanessa - Franca -SP.

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  12. Olá Milton
    O troco dado pelo Cabral foi digno de mestre. Só tem uma coisa, acho. Que culpa tinha o dono do restaurante em cobrar caro a conta quando o repórter foi lá com a namorada? Nenhuma, o Cabral deveria ter perguntado quanto custa, assim não seria escalpelado. Ainda por cima, uísque importado, caviar, camarões, champagne francesa, fica caro mesmo. Já tentou entrar no Fasano? Não sei suas posses, mas não tente. Vai sair com uma tremenda dor de barriga. Não pela comida, mas pelo preço. Arrancam o couro mesmo. Também, quem vai lá. artistas, políticos e banqueiros do bicho. Estes dois últimos ganham diheiro fácil, não ligam pra conta.

    Alberto Diniz Conrado - Guarulhos -São Paulo

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  13. Ôi, gente!!!
    Fico imaginando a cena e pensando. Pior para o dono do restaurante seria o Cabral tirar fotos e estampar no outro dia na Ùltima Hora: "pobres adoram comer no restaurante fulano de tal". Aí sim a freguesia dele iria pro espaço (rsssssss). Muito engraçado esse caso.

    Liliana Marques (jornalismo) - Belo Horizonte

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  14. O.Lavrado
    Pois é, caro Miltom, os artigos ou relatos aqui postados, desnudam, com humor e emoção, histórias quase sepultas do jornalismo e seus personagens. O "chapéu" do Cabralzinho no ganâncioso gerente do restaurante comprova a prespicácia do reporter que deu o troco na medida exata. Alías, lembro bem do Última Hora, que meu saudoso pai trazia todos os dias debaixo do braço após seu expediente de trabalho na Texaco, em São Caetano. Isso no começo da década de 50 e eu, então com 9 anos, esperava o "velho" deixar o jornal de lado para degustá-lo. Um slogan do jornal, à época: Última Hora, um jornal vibrante, uma arma do povo". Foi um dos primeiros passos que impulsionaram meu interese pelo jornalismo.
    Parabéns pelo artigo.
    Oswaldo Lavrado - SBCampo

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  15. Olá Milton.....
    Engraçadíssima essa história do Cabral com os mendigos no restaurante. Outra coisa que me deixou fascinada foi a capa desse jornal, Última Hora. Acabo de imprimir (será que o Edward vai achar ruim?), para mostrar na quarta-feira às minhas amigas aqui da faculdade. Muitas foram viajar nesse feriadão prolongado e por certo não entraram hoje no blog. Sou mais uma apaixonada por coisas antigas que trazem um pouco da nossa história.

    Beijinhos e obrigada!!!

    Andréa - Metodista - S.B. do Campo

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  16. Olá Milton,
    Eu estava lendo agora essa história engraçada do cabral e surgiu uma dúvida. Quem sabe vc ou o Edward possam me ajudar. Pouco tempo atrás, na Cásper Líbero, onde estudo jornalismo (3º ano), soube que a Última Hora era um jornal estilo Notícias Populares, diziam que se espremecesse saia sangue. A capa que ilustra seu artigo de hoje não mostra isso. Tem mais. Disse um professor, não me recordo qual deles, que o Grupo Folhas comprou a Última Hora para transformá-la em jornal sensacionalista. Foi isso mesmo? Ou será que entendi tudo errado? Se foi, e a Notícias Populares? Ficaram os dois juntos? Ou se fundiram?

    Bjos....

    Viviana J. Faria Lima

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  17. Deliciei com a matéria de hoje.

    Restaurante é coisa de rico e de mulher preguiçosa.

    Padre Euvidio.

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  18. Ôi Milton e Edward,
    Depois de ler essa história engraçada do Cabral, posso dar um recadinho para a Andréa? É que estou enviando e-mails pra ela e todos estão voltando. Queria que a Andréa fizesse uma cópia dessa foto de capa da Última Hora pra mim, já que ela vai levar pra nossa turma na faculdade. Minha impressora está com problemas. Obrigada e não fiquem bravos comigo porisso, tá?
    Beijinhos pra todos vocês e bom feriado!

    Martinha (Metodista) SBC

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  19. Esses pobres mendigos devem ter ficado meses a fio contando para os outros que comeram num restaurante chic de São Paulo. E ficaram esperando a volta do Cabral, com certeza. Só vc, Milton, pra contar esses casos engraçados. Juntando vc, o Édison Motta, Oswaldo Lavrado, J. Morgado e o Edward, escreveriam juntos duas Bíblias, só de histórias engraçadas.
    Bom feriado pra todos!!!

    Maria Paula - Franca - SP.

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  20. Eu vi uma pergunta de uma jovem estudante aqui no blog, penso que a Viviana, sobre a Última Hora e Notícias Populares. Se não estiver errado, essa Última Hora, depois de adquirida pela Folha, passou sim, a ser um jornal sanguinário. Acabou Última Hora, entrou Notícias Populares. Eu era jovem ainda, não tenho certeza dessa minha afirmação. Deixo para os amigos jornalistas.
    Essa história de hoje do Cabral foi bem engraçada, Milton. Mas ficou bem cara, não? Na primeira Cabral foi roubado; na segunda pagou para os mendigos. Mas deve ter ficado feliz ao ver a cara do gerente do restaurante, sem dúvida.

    Arthur Matosinho - Bauru - SP.

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  21. Prezados irmãos!
    Não pretendo criar nenhuma polêmica nesse blog. Li com atenção o texto
    do Sr. Edward, jornalista. Gostaria apenas de analisar o outro lado desse
    caso contado no blog de hoje pelo Sr. Saldanha. O Cabral, personagem
    desse caso, fez exatamente o que Cristo mandou, quando esteve na Terra.
    Repartir o que tem e dar aos pobres. Esse Cabral, com certeza hoje deve
    estar num cantinho especial do céu, ao lado de Cristo e dos mendigos que
    ele ajudou, matando a fome desses pobres miseráveis. O Cabral, amigo
    do Sr. Saldanha tinha um bom coração. Escolheu os pobres mais fedidos
    nos baixos dos viadutos para lhes oferecer um laudo jantar num restaurante
    sofisticado. Abençoado será por Deus por essa atitude cristã. Mais abençoado
    ainda porque pagou a conta e jornalista daquela época, que eu conheci bem,
    costumava ser caloteiro, tanto que o Sr. Saldanha destacou em seu texto que
    ele, o Cabral, ganhava tão pouco, que no dia que convidou a namorada para
    jantar, gastou um terço ou mais do seu salário. Isso não deve ser analisado
    aqui agora. Valeu a atitude do Cabral. Que Deus o recompense e que os jornalistas
    de hoje, que ganham melhor, façam a mesma coisa. Convidem mendigos para
    jantar, se não encontra nenhum, sugiro que chamem padres famintos como eu.
    A Paz de Deus, prezados irmãos.
    Padre Euvidio.

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  22. Queridas amigas e amigos
    São tantos os comentários, tão ricos e variados, que não poderei personalisar respostas desta vez. Desculpem. Vou dar uma resposta geral sobre tudo, para ficar mais objetivo. Mas, antes, obrigado a todos por me honrarem com suas generosas palavras. Vamos por partes, como dizia o velho e bom esquartejador de velhinhas: primeiro, sobre o Getúlio. Ainda criança conheci ao vivo o baixinho, de uma simpatia imensa. Foi em São Borja, RS, em 1953, um anos antes do suicidio. O Getúlio era atacado duramente por toda a imprensa, controlada pelo grande capital. Fez um trambique com o Banco do Brasil, entregou a grana para o Samuel Wainer, e este montou a Última Hora, que virou rede nacional, como já contei, com redações e oficinas próprias nos vários estados. A UH tinha duas metas: defender o governo e ser um jornal popular, de vasta circulação. Conseguiu alcançar as duas. Mas jamais foi como o Notícias Populares. Refiro-me ao estilo do jornalismo. A UH era popular de outra maneira, e atingia também fortemente a classe média. O Samuel Wainer nunca teve bom texto, pelo contrário, escrevia mal. Nem teve um brilho especial como repórter. Compensava isso com extrema ousadia, arrojo, cara de pau. Nesse aspecto sim foi um bom repórter. O que decidiu sua vida e carreira foi a sorte de cair nas graças do Getúlio. Se quiserem, numa crônica, conto como isso aconteceu, é uma tremenda história. Ele era um assalariado, jamais poderia montar um jornal daquele porte. Mas Getúlio conseguiu o "milagre". Mesmo sendo um jornalista medíocre, o Samuel tinha uma imensa qualidade: sabia escolher os profissionais. Montou uma fantástica equipe, que ganhava muito bem. O diagramador, para bolar um jornal bonito e diferente dos outros, ele trouxe de Buenos Aires. Os colunistas e repórteres eram todos de primeira, roubados dos concorrentes por melhores salários. E foi assim que ele assinou como autor de uma verdadeira revolução na imprensa brasileira, a primeira grande virada, que deixou uma escola jornalistica seguida até hoje. A UH inovou em tudo, foi um jornal extraordinário. Tudo que veio depois, de moderno, foi no rastro da UH. Era um jornal popular, com certeza, mas não era escandoloso nem divertido como foram o NP e O Dia, do Rio. Teve, por exemplo, cadernos culturais. Deu grandes reportagens, no estilo revista. Teve colunistas incríveis, que as pessoas liam todos os dias. E vendia barbaridade, como se diz lá na minha terra. Quando o Samuel assumiu lá na segunda fase, onde trabalhei, ele tentou reviver aquele tipo de jornalismo dos anos 50. Esqueceu que o mundo e o Brasil tinham mudado. E que agora existia a TV. Tentou fazer quase na metade dos anos 70 um jornalismo que já estava superado. Já estava velho, com a frustração de ser empregado no jornal que fundou e do qual um dia foi dono. Ali percebi que ele havia parado no tempo. É claro que não deu certo, o jornal não decolou. Existia, em paralelo, do mesmo Grupo Folha, o NP, campeão absoluto de vendas em bancas. Nossa UH da segunda fase era um jornal de menor tiragem, não vendia sequer a metado do que vendia o NP. E, como é óbvio, acabou fechando pela segunda vez.
    Quando quiserem, e se quiserem, conto mais.
    Beijos,
    Milton Saldanha

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  23. Prezado Milton Saldanha!
    Quero ser sincero. Seu comentário acima foi melhor que a história do Cabral. Tenho por hábito ler todos os dias esse blog. Não tive tempo, o dia foi corrido, mesmo sendo aposentado e nesses primeiros minutos da madrugada vim ler o texto do dia. Diferente e engraçado, resolvi deixar um comentário, quando vi que tinha uma explicação sua, dada a leitores, presumo. Resolvi ler. Encantei-me com seu relato sobre Samuel Wainer, Última Hora, NP e Getúlio Vargas. Sou professor de história, como eu disse, aposentado, tenho mais de 70 anos e vivi a parte final do Governo Getúlio. Li, muitas e muitas vezes a Última Hora e também a NP. Esse seu relato tem riquezas de detalhes e desnuda um mito, quando o senhor diz que Samuel Wainer não sabia escrever, coisa que, confesso-lhe, desconhecia. Muitos outros detalhes chamaram minha atenção, por essa razão gostaria de incentivá-lo a escrever sim, um bom artigo sobre isso, ou até uma série, envolvendo Última Hora, Samuel Wainer e Getúlio Vargas. Já que me entusiasmei, vou lhe confessar que comecei a entrar nesse blog e passei a ler por causa da minha filha, estudante de jornalismo que todos os dias participa e me conta, entusiasmada, sobre artigos postados aqui e comentários que fez ou leu. Certamente um relato desse porte vai movimentar os estudantes, sequiosos de conhecer fatos e jornais que marcaram nossa história. Faça isso e esse velho leitor e sua jovem filha estará lhe acompanhando e, com certeza, dezenas e dezenas de outras pessoas.

    Paulo G. Murtinho - São Paulo

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  24. Obrigado professor Paulo Murtinho!
    O senhor me estimulou e sensibilizou. Vou seguir seu conselho, com imenso prazer, caso nosso querido amigo Edward de Souza me permita tal abuso. Vou mandar primeiro o texto que já tenho pronto, contando como foi o dia da morte do Getúlio. O que conto vocês não vão encontrar em nenhum livro da história oficial. É a visão do garoto que eu era e das pessoas comuns, anônimas. Meu livro é todo assim, razão do seu título "Periferia da História". Conto os detalhes que a história despreza, e que são extremamente interessantes. Com pinceladas também do oficial para que se entena o contexto político da época.
    Abraço fraterno,
    Milton Saldanha

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  25. Viviana J. Faria Limaterça-feira, 21 abril, 2009

    Bom dia, Milton,
    Quero lhe agradecer pela resposta que deu à minha pergunta sobre Os Jornais Última Hora e Notícias Populares. Agora sei que Última Hora era um jornal popular, mas longe de ser semelhante ao NP. Sei ainda que não houve nenhuma fusão, cada qual seguiu seu rumo. E outros detalhes fornecidos em sua resposta que acabaram com minhas dúvidas. Obrigada, de coração!!!

    Viviana J. Faria Lima

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