quinta-feira, 23 de abril de 2009

AS HISTÓRIAS DAS REDAÇÕES DE JORNAIS

Capítulo inédito do livro “Periferia da História”

Milton Saldanha

24 de agosto de 1954

Este foi um dia impossível de esquecer. Eu estava no segundo ano primário do Colégio São José, no bairro do Fragata, em Pelotas (RS). Era um colégio de freiras rudes, que tratavam as crianças aos tapas. Fui colocado lá, oh azar, porque era a escola mais próxima de casa. Quando levei a primeira porrada da freira contei em casa. Não recordo se o pai ou mãe, mas um deles foi lá, chamou a freira e avisou: “nunca mais ouse tocar no meu filho. Se acontecer de novo eu venho aqui e... Não completou a frase, se retirou deixando implícita uma grave ameaça. Blefe, claro. Foi minha alforria naquele inferno. Todo mundo continuou apanhando em classe, menos eu. Na manhã ensolarada do dia 24 de agosto de 1954 mal tínhamos abertos nossos cadernos, o relógio nem marcava 9 horas, e a madre abriu a porta, interrompendo a classe. Nem entrou, falou dali mesmo, só com a cabeça para dentro da sala: “As aulas estão suspensas por três dias. O presidente da República acabou de se matar”.
Oba! Festejaram todos, já curtindo aquela vadiagem inesperada. Gostei também do anúncio da folga, mas ao mesmo tempo senti um choque. O fato de ter visto Getúlio Vargas de pertinho, deslumbrado, um ano antes; o afago dele no meu irmão Rubem Mauro; talvez até a admiração dos meus pais pelo velhinho, um populista que soube se tornar amado pelos pobres, tudo isso naquele momento me fazia um pouco diferente dos demais. Pesou também na minha frágil cabeça infantil a frase seca, dura mesmo da madre – “... acaba de se matar!” Se para um adulto isso sempre tem um impacto, imaginem então numa pessoa que recém completara 9 anos.
Jamais aconteceu, em toda História brasileira, uma comoção como aquela. E certamente nem voltará a acontecer, porque não existem mais condições para a cristalização de uma liderança personalista como foi a do Getúlio, capaz de reunir em torno da sua imagem uma massa humana tão ampla. Não há comparação possível, exceto, talvez, com a morte de Evita Perón, na Argentina. O desaparecimento de Tancredo Neves, por exemplo, apesar de toda poderosa máquina de informação que existe hoje, não representou um terço, se tanto, do trauma popular que foi o fim de Vargas. Sobretudo porque as lideranças, as situações e circunstâncias de cada episódio envolvem aspectos impossíveis de comparar. O Brasil literalmente parou de Norte a Sul, de Leste a Oeste, naquele 24 de agosto. Todas as rádios suspenderam imediatamente suas programações, nem comerciais iam ao ar, e passaram a tocar só música clássica, sóbria. A cada cinco ou dez minutos era lida no ar, com forte emoção, a Carta Testamento. Ecoavam as frases, fragmentos, que as pessoas começavam a destacar e a fixar mais, pelo gosto pessoal e sensibilidade de cada um, naquele contexto todo. “Fiz uma revolução e venci” -- “não me acusam, caluniam” – “as aves de rapina” – “o povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém” – “dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”. Era de arrepiar, mesmo quando já se tinha ouvido aquilo uma centena de vezes. E cada vez que ouviam outra vez as pessoas caiam em pranto. Foi a única vez, em toda minha vida, que vi meu pai chorar. Em pé, apoiado na porta da cozinha, rosto enfiado no braço, exatamente como choram as crianças, ele deixou fluir sua dor. Nas ruas, vizinhos que antes mal se falavam, ou mesmo desconhecidos passando, se abraçavam em lágrimas, compartilhando da mesma solidariedade, como se o povo todo fosse uma única e grande família. As notícias chegavam pelo rádio principalmente do Rio de Janeiro e Porto Alegre. Multidões enfurecidas quebravam e incendiavam símbolos locais do imperialismo e da oposição, como vitrines de empresas estrangeiras, jornais, rádios. A rádio Farroupilha, então a mais famosa e de maior potência no Rio Grande do Sul, dos Diários Associados, foi incendiada. Um locutor saltou de uma janela do primeiro andar e fraturou a coluna. O quebra-quebra foi muito grande. O Exército, também surpreendido e paralisado pelos fatos, com seus subalternos traumatizados como o resto do povo, demorou a sair às ruas para recompor a ordem. No Rio, chegaram a usar tanques de guerra, dando tiros nas avenidas com balas de festim, de efeito moral (não explodem, só fazem barulho), para assustar e conter as multidões enfurecidas. O Exército emitia comunicados pedindo que as pessoas ficassem em suas casas e mantivessem a ordem, informando que os distúrbios não seriam tolerados.
Desnecessário falar sobre a massa humana que se concentrou nas imediações do Palácio do Catete, então sede do governo federal, para os funerais. Milhares de pessoas, em fila, circularam em torno do ataúde aberto, com o corpo embalsamado e coberto de flores. Desnecessário também falar dos discursos, ora inflamados, ora em tom de total desolação, que se ouviam das tribunas parlamentares ou em qualquer esquina, de alguém improvisado em orador sobre um caixote. Naquele dia o Brasil não teve governo, não teve qualquer tipo de negócio, a mínima atividade em qualquer setor. Bancos e postos de gasolina fechados. Quem não foi para as ruas para algum tipo de protesto, numa explosão espontânea, sem qualquer tipo de organização, se recolheu em casa, ao pé do rádio, sob forte emoção. Foi o dia mais triste e sofrido que este país já conheceu. Quando a noite chegou, nenhuma remota buzina de carro, nenhuma voz humana, o silêncio na cidade era absoluto e total, como se ali não existisse qualquer tipo de vida. Os opositores a Getúlio, que também não eram poucos, sumiram. Ninguém ousaria se manifestar naquela situação. Lembro-me apenas de uma vizinha, mais louca do que corajosa, falando alto na rua contra Getúlio. Sorte dela que nosso bairro era muito pacato.
No dia seguinte havia bandeiras brasileiras a meio mastro em toda parte. Os veículos, inclusive ônibus e caminhões, circulavam com panos pretos amarrados aos retrovisores, em sinal de luto. Mais do que luto pela morte trágica de um presidente, aquilo era um posicionamento político. Foi quando vi meu pai assumir uma atitude extremamente ousada para sua condição de capitão do Exército, em plena ativa e com uma carreira a completar. Fixou meio metro de arame grosso na ponta do capô do seu sólido Chevrolet de quatro portas e ali instalou uma bandeira preta. Entrava e saia do quartel com aquela marca do seu protesto tremulando. Com certeza afrontando oficiais de vocação golpista, entre eles seus superiores. O luto oficial não passou de uma semana, mas um mês depois os veículos ainda rodavam com aquelas tarjas pretas.
Getúlio se matou com um tiro no coração, por volta das 8 horas da manhã, vestido de pijama, sentado em sua cama. Tinha sido uma noite tensa, no Catete, com reuniões de ministros e assessores. Na prática, ele já estava deposto pelos generais. Sua morte abortou o golpe militar, que voltou a ser tentado em novembro de 1955 e esmagado pelo legalista general Teixeira Lott, ministro da Guerra. Voltou a ser tentado em 1961, na renúncia do Jânio Quadros, mas frustrado pela fortíssima resistência gaúcha, sob a liderança de Leonel Brizola, com apoio do III Exército. Finalmente, em 1964, os golpistas novamente tentaram e desta vez venceram, instalando a ditadura, para infelicidade do Brasil. Com uma única bala, e o sacrifício da própria vida, Getúlio Vargas tinha feito seu derradeiro gesto político, permitindo que o Brasil, bem ou mal, tivesse dez anos de sobrevida em sua combalida democracia.
_____________________________________________________________
*Milton Saldanha, 63 anos, gaúcho, torcedor do Inter, começou no jornalismo aos 17 anos, em Santa Maria (RS). Trabalhou na grande imprensa de Porto Alegre e de São Paulo. Foi da Folha da Manhã (RS), Diário do Grande ABC, Agência Estado, Estadão e JT, Rede Globo, Rádio Jovem Pan, Última Hora (com Samuel Wainer), entre vários outros veículos. Foi também assessor de imprensa da Ford, do IPT e do Conselho Regional de Economia. Tem um livro publicado, "As 3 Vidas de Jaime Arôxa"; participou de uma antologia de escritores gaúchos; um livro pronto e ainda inédito, "Periferia da História", onde conta de memória 45 anos da recente história do Brasil sob um ângulo totalmente inédito; trabalha num livro sobre Reforma Agrária. Pouco antes de se aposentar fundou o jornal Dance - http://www.jornaldance.com.br/ – que já tem um filhote regional em Campinas, e que neste 2009 completa 15 anos.

____________________________________________________________

26 comentários:

  1. Parabéns, Milton, pela excelente aula de história com um toque pessoal de quem viveu aqueles momentos trágicos do Pais. Eu era bebê, com apenas um ano, mas minha infância foi repleta de reflexos da morte do Getúlio. Por onde andava, em qualquer cidade, sempre havia - como existe até hoje - uma rua ou avenida Getúlio Vargas.
    É preciso o relato que você faz, no final, sobre a evolução do golpe, tentado inicialmente contra Getúlio - adredemente incentivado por Carlos Lacerda e sua "banda de música" da UDN. Tive um tio, já falecido, tenente da Marinha. Conversamos muito sobre o golpe de 64 e o relato que ele me fez, em particular, confere exatamente com sua descrição.
    Getúlio foi polêmico.Deu um golpe com as elites e, no poder, foi visto por várias gerações como o "pai dos pobres" devido, principalmente, à Constituição das Leis do Trabalho que garante, até hoje, os principais direitos dos trabalhadores como férias, jornada de oito horas e 13º salário.

    Abração,

    édison motta
    Santo André, SP

    ResponderExcluir
  2. Bom dia, Sr. Milton:
    Getúlio Vargas é um brasileiro que merece as homenagens de todos nós. Foi uma longa tragédia esse verdadeiro assassinato. Ele se suicidou para defender a sua honra. Falsos amigos, traidores natos, aproveitadores, políticos inescrupulosos, tudo isso fez com que ele, naquela trágica manhã de 24 de agosto, conseguisse reverter o quadro político dos que o apedrejavam, dos que o xingavam, daqueles que o atazanavam e que passaram a ficar com a expressão tristonha, a ficar arrependidos e até mesmo a chorar. Entre eles o famigerado Carlos Lacerda. Getúlio era o pai dos pobres e merece ser lembrado sempre. Parabéns pelo artigo!

    Geraldo Magela - Recife

    ResponderExcluir
  3. Meu avô contava que o Getulio foi um grande presidente, apesar da baixa estatura. Criou o salário minimo, o salário ferias, o voto feminino, a Assembleia Nacional Constituinte, que instituiu a Contituição de 1934, o Ministerio da Saude e da Educação, dentre muitas outras leis trabalhistas.
    Há versões que dizem que Getulio não se suicidou, mas foi morto, apesar da carta que deixou.
    Mas sem dúvida, foi o presidente mais amado e popular do Brasil, como nunca dantes e depois, na história deste pais. Merece ser lembrado com todas as honras de estadista, pelo que fez em prol dos mais pobres.
    Aplaudindo de pé essa belissima página do Milton Saldanha e editada em primeira mão aqui no blog. Privilégio nosso.
    Sucesso pra seu livro, Milton.
    Isildinha- Osasco.

    ResponderExcluir
  4. Ôi, Milton,
    Desculpe-me pelas perguntas, mas sobre Getúlio, o que sei foi apenas o que aprendi na escola. Creio que não só eu, mas muitas de minhas amigas. São poucas as que procuram saber sobre a vida desse nosso Presidente, posso dizer amado e odiado. E não é fácil se encontrar um bom livro que fale sobre ele, a não ser os bem antigos e são raros. É o seguinte: Porque ainda hoje muita gente acredita que Getúlio foi assasssinado? Porque o seu guarda-costas, creio ser o Gregório, foi preso acusado de mandante do crime? Mesmo acuado e perseguido, Getúlio tinha o Poder nas mãos e o apoio popular, porque então se matar? Sabe, Milton, mesmo com todas as provas do suicídio, essas perguntas vão estar sempre sendo feitas e a dúvida irá persistir, acredite!

    Bjos,

    Ana Caroline - R. Preto

    ResponderExcluir
  5. Bom dia, senhores!
    Pegando carona no comentário da Ana Caroline, também sempre achei muito estranho esse assassinato de Getúlio, cujo relato conheço apenas pelos livros que já li, um deles de sua filha, a Alzira Vargas. Esse livro tenho comigo e se chama: "Getúlio, meu pai". Se não me engano, nessa foto do blog que ilustra o artigo do jornalista Saldanha, é a Alzira Vargas, ainda jovem, que está na beira do caixão vendo o corpo do pai. Teve um grande beneficiado com a morte de Getúlio e a história pouco fala dele, mas quando citado, é de maneira pejorativa. Falo de Café Filho, que assumiu a presidência assim que Getúlio se matou, ou foi morto, aí mora minha dúvida. Lembram-se de pouco tempo atrás, uma bombástica revelação da ex-vedete Virgínia Lane, que, segundo consta, teria sido amante de Getúlio Vargas, em entrevista ao jornalista Roberto Canázio, da Rádio Globo? Ela afirmou que estava na cama com o então presidente quando quatro homens mascarados o assassinaram. O suicídio teria sido balela. Sumiram com essa ex-vedete, depois dessas declarações. Digo sempre, onde há fumaça....

    Carlos Borges Sampaio - Petrópolis - Rio

    ResponderExcluir
  6. Marco Antonio Garciaquinta-feira, 23 abril, 2009

    Olá pessoal:
    Se a morte de Getúlio tivesse ocorrido nos dias de hoje, iriam chamar o Badan Palhares e seus métodos infalíveis. Badan questionaria o suicídio, com certeza, dependendo, claro, de quem o estivesse pagando para fazer o serviço. Pensem bem: experimentem segurar um revólver com a mão direita (mas tirem as balas, pelo amor de Deus) e apontar para o coração. Como ninguém deve ter uma arma em casa, só os ladrões, então, apontem uma caneta mesmo, contra o coração, segurando com a mão direita. Difícil, viram? Precisa ter sorte (sorte?) para atingir o alvo. O projétil sairia para o lado, na direção do pulmão, possivelmente. Atingir em cheio o coração pra matar, impossível. Badan, repito, fosse hoje a morte de Getúlio, sairia glorificado.
    Tem maracutaia na morte de Getúlio, isso tem.
    Abração.........

    Marco Antonio Garcia - Poços de Caldas

    ResponderExcluir
  7. Ôi Milton,
    Pelo que li sobre o governo de Getúlio, é preciso analisar dois lados, vejamos: Houve a ditadura e uma tortura cruel dos opositores ao governo (comunistas principalmente). Houve uma censura absurda e falta da liberdade de expressão, sim também. Esse é o ponto negativo de Vargas. Agora ele também tem seu lado positivo, assim como a maioria dos governantes do mundo, tem um lado bom e um ruim. Getúlio foi a principal figura na luta contra os resquícios de 30 anos de política café com leite, que contribuiu e muito para estagnar o país, pois houve muito pouco investimento em indústria durante esses anos, e podemos até dizer que o interior do país vivia uma ditadura velada, com o poder dos coronéis, voto de cabresto, etc. Getúlio foi nesse aspecto positivo, pois proporcionou ao Brasil participar da Revolução Industrial, há muito iniciada em outros países. Já em seu segundo governo, realmente temos que admitir que tomou medidas tipicamente populistas para conquistar o apoio do povo, como o aumento em 100 por cento do salário mínimo, o que lá não foi má idéia, mas ainda assim populista. O grande erro de seu governo foi não conseguir aliar crescimento a democracia, e é justamente isso que gera essa ambiguidade nos anos em que governou.

    Bjos,

    Karina - Campinas

    ResponderExcluir
  8. Queridas amigas e amigos
    Sei que voltarei aqui para comentar, mas vamos começar. É normal, e até bom, que tudo se torne cercado de dúvidas. Foi feita perícia, sim. Getúlio se matou segurando o revólver com as duas mãos. No palácio, no auge de uma crise político-militar, só estavam pessoas de estrita confiança. O presidente, como eu disse no texto, na prática já estava deposto. Para seus inimigos era melhor vivo, e desmoralizado, do que herói mártir, como aconteceu. Tanto que o suicídio abortou o golpe, tiveram que empossar o vice Café Filho, numa crise que não acabou durante mais de um ano. Logo, quem teria interesse em matar Getúlio naquele momento? Não há sentido. Além disso, a Carta Testamento, com um texto de uma beleza impressionante, não poderia ter sido produzida por um suposto assassino, carregando aquela intensa emoção. Aí é ficção demais, concordam. Mais: Tancredo Neves, que era o ministro da Justiça, entrou no quarto assim que ouviu o estampido. Getúlio arfava, vivo, e praticamente morreu em seus braços. O Tancredo seria incapaz de matar uma mosca. Getúlio já tinha a Carta Testamento pronta bem antes, não escreveu na noite da crise. Imaginava, portanto, o suicídio como saída política porque percebia o golpe chegando. Não aceitaria ir preso para o Galeão, como explico adiante. Alguém falou, com lógica, que ele tinha apoio popular. Tinha. Mas não tinha apoio dos generais e principalmente coronéis, estes últimos os reais autores da tentativa de golpe. O povo desarmado não segura governo. Sobre o Gregório Fortunato, pivô de toda a crise: Gregório era um homem tosco, quase analfabeto. Não passava de um cão de guarda do Getúlio. Virou chefe da guarda pessoal do presidente e só fez merda. A pior, e fatal, foi a de seguir com arapongas o Carlos Lacerda. O major Rubens Vaz, que fazia a segurança pessoal do Lacerda, percebeu os caras, reagiu puxando o revólver, deu tiroteio e o major morreu. Foi na rua Toneleros, em Copacabana, quase em frente ao prédio onde Lacerda morava. Lacerda "levou" um tiro no pé. Isso sim não batia, pelo ângulo da bala. Supõe-se que tenha se acidentado com o próprio revólver, na hora do pânico. Mas faturou o tiro politicamente, claro. A morte do major foi o estopim de toda a crise. A Aeronáutica exigiu a cabeça do Gregório, Getúlio entregou, ele foi preso na base do Galeão, que recebeu o apelido de "República do Galeão", porque naquele momento era um poder paralelo no país. Essa, em resumo, e bota resumo nisso, foi a história.
    Beijos,
    Milton Saldanha

    ResponderExcluir
  9. Olá Milton,
    Um artigo gostoso. A gente começa ler e não para. Diferenciado dos demais sobre Getúlio. Li os comentários, inclusive esse seu e estou de pleno acordo. Não tem porque achar que Getúlio foi morto. Suicidou-se, ficou claro. Lembro-me, lendo suas explicações, que Getúlio, depois que Lacerda recebeu um tiro no pé, declarou a seguinte frase: "Lacerda foi atingido com um tiro no pé, mas eu com dois tiros nas costas". Certamente se referindo a traidores que tentavam destitui-lo do poder. Outra coisa que me lembro é que Gregório foi assassinado na cela onde estava preso, não foi? Os motivos não foram esclarecidos. E ninguém vai procurar esclarece-los agora, depois de 55 anos da morte de Getúlio.
    Muito bom mesmo esse blog, seu artigo maravilhoso e esse debate sadio, parabéns.

    Daniela M Ferraz - São Paulo - SP.

    ResponderExcluir
  10. Ué, Milton,
    Acabei de ler o seu artigo e gostei demais. No entanto, o Edward colocou uma chamada ontem com outros pormenores que não li em seu artigo hoje. Pera aí um pouco que vou lá copiar o que ele escreveu e vou colocar aqui pra você ver........ Pronto, leia o que ele escreveu: "Não deixem de acompanhar, no blog desta quinta-feira, o dia em que o então garotinho Milton Saldanha esteve - totalmente deslumbrado - a um metro do presidente Getúlio Vargas, na pequena São Borja (RS) de 1953. Um ano depois Getúlio Vargas se mataria, no Catete. Não percam! (Edward de Souza)". O que virou esse caso, Milton? Puxe a orelha do Edward, deve ter pulado esse capítulo, no mínimo. Mas, valeu o de hoje. Sensacional.

    Bjos,

    Martinha (Metodista) SBC

    ResponderExcluir
  11. Prezada Karina e demais jovens
    Para se entender Getúlio, é preciso aceitar que existiram dois "Getúlios". O primeiro foi o da Revolução de 1930, que radicalizou em 37, com o Estado Novo, um golpe dentro do golpe, como foi o Ato 5 em 1968. O primeiro Getúlio foi ditador durante 15 anos. Nessa fase criou todas as bases para a industrialização do Brasil, mais tarde implementada por JK. O Brasil tinha uma economia só rural. O principal foi a criação da Siderúrgica de Volta Redonda, seguida do sistema hidrelétrico. Sem essas duas pernas não poderia existir indústria. Como em qualquer ditadura, mataram, torturaram, violaram direitos. A imprensa foi censurada, e o governo criou um departamento de propaganda, o DIP, inspirado no nazismo. Ao mesmo tempo, a exemplo do que fez Perón na Argentina, o populismo trabalhou para conquistar as massas. Getúlio foi o criador do chamado trabalhismo, uma ideologia não revolucionária e sim reformista, de concessões aos assalariados mas sem violentar os interesses do capital. O ditador foi derrubado no segundo semestre de 45, quando as tropas brasileiras voltaram da Itália, da luta contra o nazismo. Getúlio ficou isolado em sua fazenda, em São Borja, até 1950. Aí surgiu o segundo Getúlio, candidato numa eleição democrática, pelo voto direto. Ganhou estourado. Agora não tinha os plenos poderes de antes, eram outros tempos. Mas enfrentou crise o tempo todo, principalmente quando tentou um grande aumento do salário mínimo, com o Jango (João Goulart) ministro do Trabalho. Os coronéis soltaram um manifesto famoso contra o governo. Exigiram a demissão do Jango, Getúlio cedeu, senão cairia. Haja crise! Havia corrupção, claro, mas consta que pessoalmente Getúlio não roubou, ou roubou pouco. Ele não tinha uma atração especial pelo dinheiro e sim pelo poder e pela glória. Foi amante da Virginia Lane, é verdade, que vi dançando na TV com as pernas de fora. Tinha belas coxas. Há muitas histórias, centenas, sobre ele. É fascinante conhecer essa figura, gostando ou não dele.
    Beijos!
    Milton Saldanha

    ResponderExcluir
  12. Olá, amigos e amigas
    Excelente, mais um vez, o artigo do Milton Saldanha, agora sobre Getúlio Vargas. Didático, esclarecedor e, igualmente, polêmico.
    È preciso lembrar sempre que Vargas foi, antes de tudo, um ditador. Porém, todas opiniões devem ser respeitadas. À época, os meios de comunicação eram precários e tendenciosos. O caudilho gaúcho, autêntico estadista, era idolatrado na mesma proporção que execrado. Isso diz tudo, já que a ditadura, para quem ama a liberddade, é abominável. Deu no que deu, independente de como o homem morreu.
    Abraços.
    Oswaldo Lavrado - SBCampo.

    ResponderExcluir
  13. Martinha
    A decisão de não soltar o capítulo, realmente anunciado, foi minha. Não culpe o Edward. Reli e achei que não seria interessante no blog, foi uma coisa da minha infância, muito pessoal, sem nenhum contexto politico. Conto o dia em que estive a um metro do Getúlio. Mas falo antes de São Borja, em 1953, coisas da minha familia, porque meu livro é de memórias. Achei que no blog, descolado do resto, ficaria sem graça. Mas se você quiser, e também outras pessoas, mando por e-mail, com todo prazer. Obrigado,
    beijo!
    Milton Saldanha

    ResponderExcluir
  14. Olha gente um homem rico e poderoso, andava com a mulher que tinha as mais belas pernas da época, é muito fácil descobrir por que ele suicidou. É porque ele ficou impotente sexual! Coitadinho não tinha Viagra na época. Eu acho que ele deveria ter um apetite danado. Convenhamos, aquela Virginia Lane era feia pra caramba!

    Padre euvidio

    ResponderExcluir
  15. Pronto, arrumaram agora um padre tarado nesse blog. Puttzzzzzzzz.... Só faltava ele dizer aqui que rezou a missa de sétimo dia do Getúlio Vargas.

    Caio - Diadema

    ResponderExcluir
  16. Ôi, Milton....
    Uma coisa vc pode ter certeza. Se eu não for a primeira, vou chegar entre elas, no lançamento de seu livro. Adorei essa pequena mostra. Sobre Getúlio, além do que li e estudei, nunca me esqueço do meu avô, que morava no Rio, na época do Getúlio. Ele havia acabado de se casar quando Getúlio morreu. Sempre nos contava o que o Milton descreveu. O desespero e a comoção que tomou conta da população. Vovô dizia que dificil foi controlar minha avó, que chorava e soluçava sem parar. Meus avós moravam no Flamengo, bem perto do Palácio do Catete. Só a vovó está viva e forte, graças a Deus, mas não mora mais no Rio, está com uma tia em Peruibe. Vovô se foi faz algum tempo.
    Beijinhos e me avise quando sair o livro, tá? Vou buscá-lo e quero autografado.

    Thalita - Santos

    ResponderExcluir
  17. Ôi, Milton Saldanha

    Estava lendo seu artigo sobre Getúlio Vargas para a minha mãe e ela se emocionou. Pede para lhe perguntar se o seu livro já está nas livrarias. Quer um. O brasileiro não preserva sua memória e sobra para nós, mais jovens. Tenho 19 anos e não me lembro de ter lido nada nos últimos tempos sobre Getúlio, a não ser o que superficialmente se aprende na escola. Tudo cai no esquecimento muito depressa. Uma pena!
    Beijos a todos deste blog. Gostamos muito do seu artigo, viu Milton? Aguardo mais informações sobre o livro.

    Priscila (eu) Rita de Cássia (minha mãe). Sorocaba - SP.

    ResponderExcluir
  18. Boa tarde, Milton Saldanha!
    Estou me tornando íntimo desse blog. Um velho professor de história aposentado que gosta de ler bons artigos como esses que você apresenta nessa série. Gostaria de fazer um pequeno comentário, sobre Getúlio, se me permitir. O brasileiro de maior influência sobre o século, até diante do tempo em que exerceu o poder, foi Getúlio Vargas, assim como o brasileiro de maior impacto na história nacional no século passado foi Dom Pedro II, que ficou quase cinquenta anos como imperador.Todo julgamento da história é misto. É raro a história fazer julgamentos completamente positivos ou completamente negativos. Getúlio deixou um herança que, como toda herança política, é ambígua. Podem-se ver pontos positivos, assim como podem-se ver falhas incríveis. É evidente, por exemplo, que ele foi o responsável por toda essa onda populista que se gerou no Brasil dos anos quarenta para cá. Igualmente, é inegável que ele tinha uma inclinação autoritária bastante pronunciada. Getúlio se beneficiou da inclinação autoritária que havia na sociedade e no regime político para permanecer longo tempo no poder. Mas é também inegável que, durante o governo de Getúlio Vargas, o Brasil alcançou metas importantes, sobretudo em matéria industrial. Pela primeira vez, teve-se a noção de planejar a economia brasileira no sentido da industrialização do país. Getúlio foi, sobretudo, um grande burocrata; um homem com um pronunciado gosto da administração, o que, aliás, é uma característica bem rara em políticos brasileiros. O fato é que os políticos brasileiros têm horror à administração. Getúlio tinha o gosto pela administração, se bem que este gosto fosse bastante burocrático, fosse muito pouco inovador.
    Prezado Milton, já me alonguei. Olha, um conselho deste velho admirador. lance seu livro sim, certamente fará sucesso.
    Obrigado por me aturar!

    Paulo G. Murtinho - São Paulo - SP.

    ResponderExcluir
  19. Priscila e Rita
    Eu também fico emocionado, ao ler seu comentário. Meu livro na verdade está sendo todo reescrito. Ainda não foi editado. Quando fiz, a intenção era só para consumo de familiares e amigos lá citados, com seus nomes reais. A intenção era deixar um testemunho modesto para filhos e netos, porque minha vida foi rica, repleta de episódios, desde a infância. Sem querer, sem que eu tenha planejado isso, a coisa foi crescendo, e entrando cada vez mais a história do Brasil, tema que me apaixona. Então eu preciso agora cortar coisas demasiadamente domésticas, que só interessariam ao público restrito, e pensar num leitor distanciado, interessado não na minha vida, mas nos fatos dos quais fui testemunha e/ou protagonista. Espero algum dia achar editor, o que duvido, ou jogarei tudo num blog para não se perder num fundo de gaveta.
    Obrigado, beijos,
    Milton Saldanha

    ResponderExcluir
  20. Boa tarde.....
    Gosto muito de ler histórias do nosso passado, principalmente escritas assim, com detalhes pessoais, Milton. Fiquei fã desse blog e estou aprendendo muito aqui. Pedir para que eu comente algo sobre Getúlio, não saberia, a não ser o pouco que aprendi na escola. Quero cumprimentá-lo e pedir que continue resgatando nossa memória, nos ensinando e tornando os blogs sadios como esse. Li também o comentário do Professor Paulo, como você, uma verdadeira "Bíblia" de conhecimento. Obrigada!

    Cecília K. Perdigão - Goiânia

    ResponderExcluir
  21. Olá Milton

    Um abraço

    Desculpe não ter postado meu comentário mais cedo. Minha máquina teve que sofrer um reparo, e só agora está em condições de “escrever por mal traçadas linhas”.
    Como sempre você fez um relato jornalístico da história contemporânea. Os historiadores de plantão, provavelmente ainda buscarão muitas “vírgulas” para questionar esta ou aquela passagem de um episódio muito importante relativo ao nosso recém passado político.
    Getúlio, foi adorado e odiado, como já foi dito em comentários acima, aliás, muito inteligentes.
    Acabou com uma oligarquia infame, não deixou o comunismo ganhar corpo em nosso país e disciplinou o empresariado ganancioso.
    Suicidou-se! Mais tarde, as mesmas forças ocultas que assediaram Getúlio, se ocuparam de Jânio Quadros. Só que este não se matou, preferiu renunciar.
    Excelente Saldanha. É isso que nossa mocidade precisa. Conhecer a nossa história para que possam dela participar. Não é assim meu amigo Motta?

    J. Morgado

    Mongaguá - SP

    ResponderExcluir
  22. O Brasil é um país que sempre andou na contra mão do progresso. Os países mais ricos do planeta foram justamente os que industrializaram antes do século vinte. Eu conheço pouca da história do Getulio. O pouco que eu sei é que ele tomou dos empresários americanos uma siderúrgica depois de montada e produzindo a todo vapor aqui no Brasil. O mesmo aconteceu com a Petrobras recentemente, o caso do gás com os bolivianos. Acredito que os benefícios que o Getulio deixou para a nação, são maiores do que os prejuízos.

    Valentim Miron- Franca- SP.

    ResponderExcluir
  23. Ana Célia de Freitas.quinta-feira, 23 abril, 2009

    Boa noite crianças...
    Belíssimo relato, uma aula de História, a melhor que já tive, detalhes interessantes, adoro saber coisas do passado,e graças á vocês estamos nos deliciando com essas histórias tão importante e interessante do nosso querido País.
    Beijosssssssssssss.
    Ana Célia de Freitas. Franca/SP.

    ResponderExcluir
  24. Queridas e queridos
    Agradeço a todos pelas intervenções inteligentes e ricas. Desculpem eu voltar tantas vezes aqui, mas como autor não tem jeito, têm que me aturar. Um obrigado em especial ao professor Paulo Murtinho e ao J. Morgado. Do Morgado discordo na questão do Jânio, mas deixa pra lá, senão vira um banzé danado aqui. Com o professor Paulo concordo em tudo, e vejo que compartilhamos da mesma visão sobre Pedro II, que seria um grande assunto para a gente a aprofundar neste blog. O Pedro II foi uma figura incrível, e de uma cultura sem similar. Além de extremamente honesto e simples, odiava as pompas do poder. Acabei de ler um livro sobre a vida dele, fantástico! O Getúlio, Gegê, como dizia o povo, carinhosamente, conseguiu a proeza de encarnar o bem e o mal, cada coisa num momento. Será sempre impossível tentar interpretá-lo dentro de uma única e simplista visão.
    Beijos,
    Milton Saldanha

    ResponderExcluir
  25. Olá pessoal....
    Venho para aprender com vocês. Bom artigo. Bom não, excelente artigo do Milton Saldanha. Depois os comentários altíssimos, de nível, mostrando que nem tudo está perdido na internet, apesar de algumas brincadeiras. O professor Paulo Murtinho (isso!?) também é um poço de sabedoria. Parabéns a todos! Fico feliz em participar de um grupo como esse.

    Gabriela Martins - Joinville

    ResponderExcluir
  26. Muito bom artigo, Sr. Milton Saldanha. Aceite meus cumprimentos.

    Renata Cardoso - Fortaleza

    ResponderExcluir