quarta-feira, 7 de abril de 2010

Olá, amigos(as)!

Problemas técnicos nos impediram de postar a matéria de hoje, só agora resolvidos. Para conceder tempo igual a todos os colaboradores, decidimos publicar um belo texto de uma de nossas maiores poetisas, Cecília Meirelles. Amanhã, leiam o quarto capítulo da Série RELEMBRANÇAS II - RÁDIO: PAIXÃO, ROMANTISMO & REALIDADE, de Garcia Netto e na sexta-feira, nova intervenção de J. Morgado!


A ARTE DE SER FELIZ

"Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

Cecília Meirelles

9 comentários:

  1. Olá Amigos

    Um pouco mais dessa maravilhosa escritora

    Paz. Muita Paz.

    J. Morgado

    “(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."

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  2. Olá, amigos e amigas!

    Infelizmente, não foi possível publicarmos o texto selecionado para hoje, por problemas técnicos no blog, agora já solucionados.

    Para não prejudicar o autor, que ficaria com menos tempo de "capa", resolvemos postar um belo texto de uma das nossas maiores poetisas e escritoras - Cecília Meirelles, que nos brinda com uma receita de felicidade. Realmente, ser feliz é uma arte, o dom de apreciar pequenas coisas ou acontecimentos e nos alegrarmos com isso. Saber viver, eu diria...

    Amanhã, logo cedinho, o quarto capítulo da Série RELEMBRANÇAS II - RÁDIO: PAIXÃO, ROMANTISMO & REALIDADE, de Garcia Netto e, na sexta-feira, nova crônica de J. Morgado!

    Um abraço a todos!

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  3. Nivia. Parece, todo mundo entrou na sua. Não serei diferente.
    Só um pedacinho de ternura minha que a Cecilia mandou:

    Há três donzelas sentadas
    na verde,imensa campina.
    O arroio que passa perto,
    com palavra cristalina,
    ri-se para Policena,
    beija os dedos de Umbelina;
    diante da terceira, chora,
    porque é Bárbara Eliodora,

    Córrego,tu por que sofres,
    diante daquela menina?
    Semelha o cisne, entre as águas;
    na relva, é igual a bonina;
    a seus olhos de princesa
    o campo em festa se inclina:
    vê-la é ver a própria Flora,
    pois é Bárbara Eliodora!

    Um abraço meu. gn

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  4. Já que é assim...
    "...Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo."
    Clarice

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  5. Cecília Meirelles é maravilhosa, vejam só:

    "4º Motivo Da Rosa

    Não te aflijas com a pétala que voa:
    também é ser, deixar de ser assim.
    Rosas verá, só de cinzas franzidas,
    mortas, intactas pelo teu jardim.
    Eu deixo aroma até nos meus espinhos
    ao longe, o vento vai falando de mim.
    E por perder-me é que vão me lembrando,
    por desfolhar-me é que não tenho fim."

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  6. Que maravilha, gente! Poemas, todo mundo inspirado, uma grandiosa disputa pelo mais belo.
    Parabéns a todos! E que momento lindo deste blog.
    Beijos!
    Milton Saldanha

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  7. Depois de ler esse texto, é certo que eu olharei para fora da minha janela com outros olhos.

    P.E.

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