Oswaldo Lavrado
***
***
A dura vida de radialista
____***____
Os aeroportos brasileiros viviam dias de caos nos meados dos anos 80, com dezenas de vôos domésticos e internacionais atrasados. Um grande problema para nós, profissionais de rádio, que cobríamos nessa época o Campeonato Brasileiro da Série B. O Santo André tinha jogo marcado para Belo Horizonte num domingo, contra o América mineiro e só restava a nós duas opções, ir com o carro da rádio ou enfrentar a viagem de ônibus. Preocupados com os golpes de vista do nosso famoso “Lampião”, motorista que sempre nos acompanhou em transmissões de futebol, numa tarde de sábado, embarcamos (eu e o Edward) em um ônibus da Viação Cometa, saindo da rodoviária do Tietê, rumo a Belo Horizonte, para a transmissão desse jogo de futebol.
As mais de 6 horas de viagem foram relativamente tranqüilas, mesmo o trajeto sendo pela rodovia Fernão Dias, conhecida por seus inúmeros acidentes, de pista única e repleta de curvas que deixava qualquer um com o coração na mão. Imaginem com o glorioso “Lampião” ao volante. Certamente iríamos pagar todos os nossos pecados. Atualmente remodelada, a Fernão Dias tem grande trecho, principalmente na parte paulista, com duas pistas o que proporciona uma viagem menos perigosa.
Chegamos a Belo Horizonte por volta das 20h, desembarcamos nossa "tralha" e esperamos diminuir um pouco o burburinho da rodoviária proporcionado pelo embarque e desembarque de passageiros. Com as malas e o equipamento da rádio subimos por uma da escada em caracol e quando chegamos ao topo fomos advertidos por um segurança: "olha, tomem cuidado que aqui está cheiro de trombadinhas e vocês correm sério risco de assalto". Era verdade, na praça ao lado da rodoviária notamos algumas rodinhas de garotos e adultos em atitudes suspeitas. Escolados com viagens pra todo lado e, principalmente pelo Centro de São Paulo onde pululam trombadinhas, trombadões e marginais de todos os tipos, entramos no primeiro táxi livre na rodoviária. “Por favor, nos leve para um hotel longe daqui", disse eu ao motorista. Conhecedor profundo do emaranhado horizontal da capital mineira, o taxista nos conduziu, sem nenhum contratempo, ao Savassi, bairro de classe média alta e onde, à época, parecia ser o point noturno de BH.
Alojamo-nos num hotel quatro para cinco estrelas, onde não foi preciso usar o expediente de Bauru (ver a tabela de preços da diária), já que nesse dia nossa carteira dispunha de recursos suficientes para as despesas de hospedagens e outras. “Mais tarde nos instalamos em uma mesinha na calçada de uma lanchonete freqüentada pela “nata” de Belo Horizonte”, situada na longa e quase interminável Avenida Antonio Carlos, onde passamos algumas horas saboreando os deliciosos petiscos mineiros, entre eles o caldinho de feijão com torresmo e, sem excessos, retornamos ao hotel. Então aconteceu um fato engraçado. O Edward cismou que estava com problemas de coluna. O apartamento no hotel onde estávamos era luxuoso, acarpetado e até com sala de visitas. Não deu outra. Sem pensar duas vezes o Edward resolveu que sua cama seria dispensada, dormiria no chão, sobre o grosso tapete do quarto. E no chão passou a noite. Eu pensava com meus botões, pagar uma fortuna para ter maior conforto em hotel de luxo e o cara dorme no chão... Cada louco com sua mania!
Domingo, tipo meio dia, estávamos no campo do América, também conhecido como “Coelho de BH”, já que o Atlético é o Galo e o Cruzeiro a Raposa. Procurei o administrador do estádio e perguntei onde ficavam as cabines de rádio. Educadamente e no melhor estilo mineiro o homem me apontou a direção, porém sem sair do banquinho em que estava sentado. Agradeci dei um grito para o Edward que me seguiu carregando as malas e a parafernália da rádio. Resmungou, mas subiu um lance de escadas até onde estavam as cabines. Como de praxe, procurei entre os diversos boxes existentes a indicação (etiqueta) da Telemig (Telefônica de Minas Gerais) que indicava nossa linha. Não achei, nem a nossa, nem a da Rádio ABC de Santo André, que também iria transmitir o jogo.
Voltei ao administrador e coloquei o problema: "olha, moço, esta semana não esteve aqui nenhum funcionário da Telemig para instalar linhas de rádio", disse o homem. Pedi para usar o telefone do estádio (à época não existia celular) e liguei para a central da telefônica mineira. Após uma espera de pelo menos uns 30 minutos, uma voz feminina sentenciou: “moço, as linhas de transmissão da Rádio Diário e da Rádio ABC estão no Mineirão".
“Como é?", disse eu já estressado. Para encurtar a história: A Telemig, por engano, instalou nossas linhas no Mineirão onde no mesmo dia e horário jogariam Atlético e Portuguesa. Entenderam, sei lá como, que todas as rádios de São Paulo iriam trabalhar no principal estádio de Belo Horizonte. Implorei para que a jovem resolvesse nosso problema. "Vou ver o que posso fazer", disse ela. Enfim, conseguiu localizar no Mineirão dois funcionários da empresa e os enviou ao estádio do América. Os rapazes, não muito solícitos, montaram nossas linhas (Diário e da ABC) e entramos no ar por volta das 16h30 (o jogo começaria às 17h). Concluímos nosso trabalho, mas foi um sufoco uma vez que a jornada esportiva da rádio começava às 13h. Ao deixar o estádio, já noite, fui à sala do administrador para agradecer a acolhida. Ainda sentado no mesmo banquinho, sem levantar e nem me olhar, o homem estendeu a mão e balbuciou: "Voltem sempre, vocês são gente boa".Tomamos o rumo da rodoviária escura e imunda de BH e encaramos mais de 6 horas de viagem de retorno a São Paulo, rezando para que a greve da aviação tivesse fim. Pouco ou quase nada foi dito entre eu e o Edward na viagem de volta. Nem o resultado do jogo (1 a 0 para o Santo André) foi motivo para um bom e descontraído papo.
As mais de 6 horas de viagem foram relativamente tranqüilas, mesmo o trajeto sendo pela rodovia Fernão Dias, conhecida por seus inúmeros acidentes, de pista única e repleta de curvas que deixava qualquer um com o coração na mão. Imaginem com o glorioso “Lampião” ao volante. Certamente iríamos pagar todos os nossos pecados. Atualmente remodelada, a Fernão Dias tem grande trecho, principalmente na parte paulista, com duas pistas o que proporciona uma viagem menos perigosa.
Chegamos a Belo Horizonte por volta das 20h, desembarcamos nossa "tralha" e esperamos diminuir um pouco o burburinho da rodoviária proporcionado pelo embarque e desembarque de passageiros. Com as malas e o equipamento da rádio subimos por uma da escada em caracol e quando chegamos ao topo fomos advertidos por um segurança: "olha, tomem cuidado que aqui está cheiro de trombadinhas e vocês correm sério risco de assalto". Era verdade, na praça ao lado da rodoviária notamos algumas rodinhas de garotos e adultos em atitudes suspeitas. Escolados com viagens pra todo lado e, principalmente pelo Centro de São Paulo onde pululam trombadinhas, trombadões e marginais de todos os tipos, entramos no primeiro táxi livre na rodoviária. “Por favor, nos leve para um hotel longe daqui", disse eu ao motorista. Conhecedor profundo do emaranhado horizontal da capital mineira, o taxista nos conduziu, sem nenhum contratempo, ao Savassi, bairro de classe média alta e onde, à época, parecia ser o point noturno de BH.
Alojamo-nos num hotel quatro para cinco estrelas, onde não foi preciso usar o expediente de Bauru (ver a tabela de preços da diária), já que nesse dia nossa carteira dispunha de recursos suficientes para as despesas de hospedagens e outras. “Mais tarde nos instalamos em uma mesinha na calçada de uma lanchonete freqüentada pela “nata” de Belo Horizonte”, situada na longa e quase interminável Avenida Antonio Carlos, onde passamos algumas horas saboreando os deliciosos petiscos mineiros, entre eles o caldinho de feijão com torresmo e, sem excessos, retornamos ao hotel. Então aconteceu um fato engraçado. O Edward cismou que estava com problemas de coluna. O apartamento no hotel onde estávamos era luxuoso, acarpetado e até com sala de visitas. Não deu outra. Sem pensar duas vezes o Edward resolveu que sua cama seria dispensada, dormiria no chão, sobre o grosso tapete do quarto. E no chão passou a noite. Eu pensava com meus botões, pagar uma fortuna para ter maior conforto em hotel de luxo e o cara dorme no chão... Cada louco com sua mania!
Domingo, tipo meio dia, estávamos no campo do América, também conhecido como “Coelho de BH”, já que o Atlético é o Galo e o Cruzeiro a Raposa. Procurei o administrador do estádio e perguntei onde ficavam as cabines de rádio. Educadamente e no melhor estilo mineiro o homem me apontou a direção, porém sem sair do banquinho em que estava sentado. Agradeci dei um grito para o Edward que me seguiu carregando as malas e a parafernália da rádio. Resmungou, mas subiu um lance de escadas até onde estavam as cabines. Como de praxe, procurei entre os diversos boxes existentes a indicação (etiqueta) da Telemig (Telefônica de Minas Gerais) que indicava nossa linha. Não achei, nem a nossa, nem a da Rádio ABC de Santo André, que também iria transmitir o jogo.
Voltei ao administrador e coloquei o problema: "olha, moço, esta semana não esteve aqui nenhum funcionário da Telemig para instalar linhas de rádio", disse o homem. Pedi para usar o telefone do estádio (à época não existia celular) e liguei para a central da telefônica mineira. Após uma espera de pelo menos uns 30 minutos, uma voz feminina sentenciou: “moço, as linhas de transmissão da Rádio Diário e da Rádio ABC estão no Mineirão".
“Como é?", disse eu já estressado. Para encurtar a história: A Telemig, por engano, instalou nossas linhas no Mineirão onde no mesmo dia e horário jogariam Atlético e Portuguesa. Entenderam, sei lá como, que todas as rádios de São Paulo iriam trabalhar no principal estádio de Belo Horizonte. Implorei para que a jovem resolvesse nosso problema. "Vou ver o que posso fazer", disse ela. Enfim, conseguiu localizar no Mineirão dois funcionários da empresa e os enviou ao estádio do América. Os rapazes, não muito solícitos, montaram nossas linhas (Diário e da ABC) e entramos no ar por volta das 16h30 (o jogo começaria às 17h). Concluímos nosso trabalho, mas foi um sufoco uma vez que a jornada esportiva da rádio começava às 13h. Ao deixar o estádio, já noite, fui à sala do administrador para agradecer a acolhida. Ainda sentado no mesmo banquinho, sem levantar e nem me olhar, o homem estendeu a mão e balbuciou: "Voltem sempre, vocês são gente boa".Tomamos o rumo da rodoviária escura e imunda de BH e encaramos mais de 6 horas de viagem de retorno a São Paulo, rezando para que a greve da aviação tivesse fim. Pouco ou quase nada foi dito entre eu e o Edward na viagem de volta. Nem o resultado do jogo (1 a 0 para o Santo André) foi motivo para um bom e descontraído papo.
_______________________________________________________________________
*Oswaldo Lavrado - jornalista e radialista - trabalhou no Diário do Grande ABC, rádio e jornal, e comandou a equipe de esportes da Rádio Diário. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
*Oswaldo Lavrado - jornalista e radialista - trabalhou no Diário do Grande ABC, rádio e jornal, e comandou a equipe de esportes da Rádio Diário. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
_______________________________________________________________________