domingo, 1 de março de 2009

NESTE DOMINGO: O SOBE E DESCE DA BOLSA

Trabalho em um lugar de grande assédio público. Circulam por ali talvez uns cinco milhares de pessoas por dia. Portanto, é natural que eu veja de tudo. Todos os tipos da flora e fauna humana, todas as tribos. Gente de todo jeito. Gente de todo tipo. Descolados, tatuados, carecas, caretas, gays, lésbicas, odiantes. simpatizantes, intelectuais, intelectualóides, idiotas, mauricinhos, patricinhas, sertanejos, jagunços, etc. Até gente normal passa por ali. E de tanto passar gente de diferentes espécies, a gente acaba nem tomando nota mais. Nem observa tamanha diversidade. Já virou normal. Mas, certas coisas às vezes ainda acabam nos chamando a atenção. Uma delas, por exemplo, é a incidência de certos tipos de roupas e de determinados objetos de marcas específicas. Ultimamente tenho notado algumas marcas estampadas nas camisetas dos jovens. Tenho visto que eles preferem uma ou outra marca, ou melhor, grife, para se dizerem cult, ou in com a moda, ou melhor, com as tendências. Então, acabo percebendo uma predominância de certos tipos de tênis e agasalhos esportivos, por exemplo. São aquelas marcas bastante difundidas mundo afora. Outro dia presenciei dois adolescentes comentando sobre o tênis que um garoto estava usando. Um disse ao outro que “o cara não tava com nada, aquele tênis que ele usava era um modelo de 2003”. E eu que nem sabia disso. Achava que esse negócio de modelo só servia mesmo era pro mercado de automóveis e pra safra de vinho. Mais curioso ainda, talvez, seja a quantidade de falsificações dessas marcas famosas. Eu mesmo, em verdade, não consigo distinguir o falso do verdadeiro.
Uma amiga, que também trabalha no mesmo local que eu, nunca se engana. É impressionante sua capacidade avaliadora do que é verdadeiro e falso. Só de bater o olho já sabe se o produto é autêntico ou não. Ela tem um apurado faro pra coisa. Coisas que ela diz serem falsas, eu posso jurar que seriam verdadeiras. Mas mulher é mulher. Elas têm essa capacidade aguçada. Não só por serem consumidoras ao extremo, como por sempre se apegarem a detalhes que passam despercebidos a qualquer um. Querem um exemplo? Outro dia passou por nós uma mulher de cerca de quarenta e poucos anos – daquelas que no passado denominaríamos de madame e hoje são as chamadas perua.
Carregava, na minha modesta e humilde opinião, uma vistosa bolsa Louis Vuiton. Daquelas características, na suas tradicionais cores marrom e creme, cheia da logomarca LV em toda sua superfície. Carregava a bolsa com toda a pompa exigida, entrelaçada em seu braço, de forma a ficar visível a todos que a olhassem. E a tal perua subia e descia a escada rolante, como que querendo se mostrar pra todo mundo. Compunha ainda seu visual uns enormes óculos escuros – isso porque o ambiente é fechado, sem luz do sol – quase a esconder toda a face. Só se viam os óculos. Nada de rosto. E ainda como se não bastasse, o que também chamava a atenção era o par de brincos, que fariam inveja aos balangandans da nossa querida Carmem Miranda.
Mas, voltando ao alvo das nossas atenções, minha e de minha amiga, como disse, a bolsa prá mim era uma autêntica Louis Vuiton. Já minha amiga, na sua apurada e aguçada observação jurava de pé junto que não era. Era sim uma cópia, um genérico chinês, daqueles ainda muito do mal feito. Uma verdadeira e autêntica cópia Luiz Vitão.
Eu, cá com meus botões, pensei, como podia minha amiga ter tanta convicção? Mas, acabei aquiescendo da opinião dela. Nada melhor que uma mulher pra conhecer dessas coisas do universo feminino. Agora, se a bolsa era um Luiz Vitão e não uma Louis Vuiton, pra mim pouco ou nada importava. Certo que até parecia um pouco alegoria de desfile de escola de samba, mesmo na quaresma. Digamos uma roupa mais adequada ao baile do Monte Líbano vestida por Clóvis Bornay. Mas e daí. Cada um é cada um, e com bolsa falsa ou não a moça estava se achando...
Por falar de bolsa que sobe e desce, acabei é de lembrar-me da minha vizinha: uma simpática senhora de seus sessenta e poucos anos, Dona Alice. Essa não é perua, não. Lembrei dela porque, com tanto movimento oscilatório da bolsa de valores, da Bovespa, nesse sobe e desce, mais desce que sobe, dos últimos dias, a Dona Alice, entrou em pânico. Ela, que a uns seis meses atrás, de tanto ouvir que a bolsa estava batendo recordes diários de valorização, resolveu tirar todo o dinheiro do seu marido, Seo Abelardo, da poupança e entrar também nessa onda. Detalhe, sem Seo Abelardo saber. Alias, como sempre o marido é o ultimo a saber. Aí está a confirmação do velho ditado. Dona Alice, me vendo chegar em casa, correu ao meu encontro pra exatamente me pedir um conselho sobre o que fazer com sua aplicação. Francamente, não gosto de dar conselhos. Não gosto de me meter na vida de ninguém. Primeiro que, se conselho fosse bom não se dava... Vendia-se. Segundo, que não consigo nem resolver os meus problemas, quanto mais resolver os dos outros. E terceiro, especialmente nesse caso da Dona Alice, não gosto de me meter em assuntos de marido e mulher. Mas o desespero da Dona Alice com as últimas quedas da bolsa era tanto, que não me eximi de lhe dar alguns palpites.
Primeira questão: Dona Alice me perguntou se devia tirar o dinheiro da aplicação em ações. Eu lhe respondi, usando a grande filosofia do meu amigo Marquinho do Sul de Minas, quase da mesma cidade do marido da Dona Alice, Bambuí. Segundo Marquinho, o que é mesmo um peido pra quem já tá cagado? Desculpem-me, prezadas madames e peruas de plantão, mas o meu amigo Marquinho é assim mesmo: desbocado e direto. Então, inspirado nesse profundo pensamento do Marquinho, recomendei a Dona Alice que deixasse o dinheiro lá mesmo, pois a tendência agora seria de retomada da valorização.
Segunda questão: Dona Alice estava aflita, pois não tinha falado pro marido que tinha sacado o dinheiro todo da poupança de toda uma vida e colocado naquela aplicação que, por ora, se mostrava de alto risco, quase virando farelo de soja.
Pois bem. Recomendei a Dona Alice que se mantivesse quieta sobre o assunto. E se por acaso, o linguarudo do gerente do banco onde eles mantêm a conta, batesse com a língua nos dentes e contasse tudinho pro Seo Abelardo, ela poderia dizer que havia transferido todo o dinheiro pra uma conta na Suíça, e que havia comprado tudo em queijo. Como Seo Abelardo, como bom mineiro da terra do meu amigo Marquinho, é um grande apreciador de queijos, acho que ele não ficaria muito zangado não. Afinal, se ele gosta de queijo de Minas, não vai gostar de queijo Suíço?
Finalmente, para tranquilizar Dona Alice, disse a ela que, se essa desculpa não pegasse, ela poderia dizer ao Seo Abelardo que havia gasto o dinheiro comprando bolsas Louis Vuiton e que, infelizmente, com a ajuda da pericia técnica, acabou descobrindo que, na verdade, era Luiz Vitão. Então, para não serem presos, ela e o marido, acabou jogando tudo no lixão da prefeitura. Afinal, como diz meu amigo Marquinho... O que é um p...

José Luiz Batista da Fonseca é natural de São Paulo, formado em direito e farmácia, empresário, escritor e colaborador do site www.vivasp.com. Escreve aos domingos neste espaço.