segunda-feira, 3 de agosto de 2009

HISTÓRIAS DE FADAS OU DE PIZZAS?

NIVIA ANDRES
Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula. Partilham com estes o fato de serem uma narrativa curta, transmitida oralmente, onde o herói ou heroína tem de superar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal. Por característica, envolvem algum tipo de magia, metamorfose ou encantamento, e apesar do nome, animais que falam e se comportam como gente são muito mais comuns neles do que as fadas propriamente ditas. Entre exemplos famosos temos Rapunzel, Branca de Neve e os Sete Anões, O Gato de Botas, João e Maria, Cinderela e a Bela e a Fera.
Decididamente, as histórias contadas hoje, no Brasil, nada têm de contos de fadas. Mesmo as maiores malvadezas e atrocidades cometidas por Lobo Mau, Rainha Malvada, Bicho Papão, Cuca, Capitão Gancho, Mula-sem-cabeça, madrastas enciumadas, bruxas, magos, lobisomens, monstros e centenas de outros afins não chegam aos pés das barbaridades que se cometem nesse país de fantasia às avessas, com uma grande novidade na estrutura da narrativa – no epílogo, desaparece o tradicional ... E foram felizes para sempre, substituído por... E tudo acabou em pizza! São os contos de ogros! (pedindo perdão a Shrek, é claro, um gentil, bondoso e digno representante da classe, que não se enquadra nos requisitos de perversidade necessários; e, óbvio, rogando duplas escusas aos pizzaiolos, esses profissionais tão talentosos, que entraram de gaiatos na história, já que o delicioso produto que oferecem transformou-se em palavra maldita no dicionário de politiquês, ora ostentando significado extra de investigação ou apuração de denúncias de irregularidades administrativas, corrupção etc. sem levar, devido a manobras políticas, ao julgamento ou punição dos implicados.
Se há uma característica que vêm marcando o processo de desenvolvimento da civilização desde o seu início é a idéia de que, para existir, a sociedade depende da integração do homem com seu meio. Essa ênfase de pertença social é decorrente dos vários elementos que ameaçavam constantemente a integridade dos grupos humanos no passado, tais como guerras, pestes e invasões estrangeiras. A necessidade de coesão social fomentou a criação de narrativas que gradativamente ajudaram a cristalizar um sistema de idéias sobre a expectativa da sociedade em relação ao papel do indivíduo. Nesse sistema, o "outro" é aquele que, deliberadamente ou não, se encontra isolado do convívio com seus semelhantes, ou não compartilha dos mesmos costumes e regramentos éticos e morais. Por isso, deve sofrer penalidades ou ser eliminado. Esse é o indivíduo nocivo à sociedade, o pilantra, o malfeitor. Em todas essas histórias ditas de fadas havia a intenção de se transmitir determinados valores ou padrões a serem respeitados pela comunidade ou incorporados pelo comportamento de cada indivíduo. É por esta razão que até hoje se vê o conto de fadas mais como um instrumento pedagógico de potencial educativo e disciplinador, utilizado como exemplo a ser incorporado ao comportamento social de cada indivíduo. E então, a título de curiosidade, se reescrevêssemos os tradicionais contos de fadas, num estilo bem brasileiro, incorporando anti-heróis tupiniquins, de relevantes malfeitorias, quem seriam eles? Renan poderia ser o Bicho Papão; Inácio daria um ótimo Capitão Gancho; Dilma, com certeza, encarnaria perfeitamente a Cuca, o jacaré-fêmea do Sítio do Pica-pau Amarelo; Zé Dirceu convenceria como Lobo Mau de rara eficiência; Maluf seria um autêntico Dick Vigarista; Zé Sarney interpretaria o Mancha Negra com louvor; Edmar do Castelo incorporaria majestosamente um dos Irmãos Metralhas, o 171!
Que magnífico livro daria, sob o título “Contos de ogros brasileiros”, seguramente um clássico para as futuras gerações obterem exemplos sólidos de como não ser e não fazer, para o bem de todos e felicidade geral da nação!
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008. Blog da jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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