
Fiquei surpreso e sem entender bem o que tinha eu a ver com a coisa, uma vez que era apenas um neófito repórter esportivo. "Sim, Dr. Fausto, onde entro na parada, não estou entendendo?", indaguei. Sem levantar os olhos dos convites que estavam sobre sua mesa, o diretor, respondeu: " vamos eu e você", sentenciou. Meio atônito e sem discutir a ordem perguntei que dia era o programa. "A gravação é hoje às 19h e vai ao ar esta noite, às 23h30 ", emendou o chefão e completou: "chamei o José Louzeiro, chefe da redação, para não passar por cima de sua autoridade, certo?" Nada mais foi dito nem perguntado. Fiquei satisfeito, porém apreensivo, com tantos "cobras" no Diário especializados em assuntos polêmicos como Édíson Motta, Aleksandar Jovanovic, Ademir Medici, Hermano Pini Filho e Otto Diringer, além do próprio Zé Louzeiro e outros, o chefão foi logo me escolher. Enfim...

A tônica do programa, em rede nacional era a política, os políticos e a situação da época no Brasil. O regime militar estava em plena vigência. Os entrevistados eram Murilo Macedo, ministro do Trabalho, Tito Costa, prefeito de São Bernardo, e Luiz Inácio da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que não havia, ainda, colocado o apêndice "Lula" agregado oficialmente ao nome.
Botei terno e gravata, apetrechos que sempre abominei, peguei minha Brasília bege e lá fui para a TV Record, então instalada na Avenida Miruna, próximo ao aeroporto de Congonhas.
O misticismo que eu carregava sobre a suntuosidade de um estúdio de televisão foi água abaixo assim que entrei no prédio. Não havia estacionamento para "sapos ", como era meu caso. Encontrei o Fausto e o Tito Costa na porta daquele enorme galpão, que mais parecia uma fábrica em ruínas ou depósito de bebidas abandonado. Passamos por uma meia dúzia de seguranças, que revistaram até as cuecas, e chegamos a um corredor que terminava em pequeno palco.


Voltamos para casa a tempo de ver a gravação, exibida por volta da meia noite. No dia seguinte lá estava eu na redação do Diário, bem cedo como de costume, para minhas matérias esportivas e o Fausto Polesi cuidando do editorial do jornal para aquele dia. O assunto, quase que obviamente, foi o "Diálogo Nacional".
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Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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