O verdadeiro vigarista é aquele que usa a inteligência diretamente em contato com a vítima, segundo dizem os primitivos passadores do "conto do paco", "conto do milionário", "conto do violino" e outros mais. Eles se consideram atores, embora na maior parte dos casos mal pagos. A grande alegria dos vigaristas é ver suas façanhas contadas e admiradas pelos que eles chamam de otários. Os malandros dizem que conto bom é o que desperta a cobiça das vítimas, transformando-as também em vigaristas, assim, não podem recorrer à polícia. "O conto do violino", um dos mais antigos, foi um dos primeiros a explorar este aspecto.
GOLPE MILIONÁRIO – Um dos golpes mais famosos aplicados no Brasil e que até hoje é contado como verdadeira aula de malandragem, ocorreu em uma grande loja de São Paulo. Na manhã de um sábado, um homem elegante entrou em uma concessionária no centro da cidade e pediu para experimentar um "Mustang", o carro mais caro em exibição naquela loja. Saiu em companhia de um funcionário da concessionária, voltou, gostou do carro e acertou os detalhes para a compra, entregando um cheque de alto valor ao gerente da loja. Assim que o homem elegante saiu com o carro, raspou o veículo em um poste, bem em frente a loja. Juntou gente e o homem, diante da multidão e dos funcionários da loja que acorreram curiosos, ofereceu o carro pela metade do preço que havia pago, a quem quisesse comprar. Os funcionários imediatamente comunicaram o fato ao gerente. Verificando o que ocorria, o gerente rapidamente telefonou a um distrito policial. Tinha ele quase certeza de que se tratava de um vigarista e que seu cheque não tinha fundos. Solicitou que o homem ficasse preso até segunda-feira, uma vez que todos os bancos estavam fechados. O homem protestou, dizendo que só estava vendendo o carro por superstição. Afirmou aos policiais que o levavam para o distrito que seu cheque tinha fundos, que estava de viagem marcada para o exterior e não poderia esperar. Apresentou inclusive um telegrama de seu sócio, com carimbo de uma cidade do exterior, falando de um negócio de milhares de cruzeiros. Junto ao telegrama seguia uma passagem de avião. Prometeu que acionaria a empresa no valor do negócio perdido se fosse preso. Mas, nada adiantou. O homem foi conduzido para o xadrez, onde deveria aguardar a segunda-feira, dia que seria apresentado seu cheque. O gerente não tinha dúvidas. Aquilo era conversa mole e o cheque não tinha fundos ou era roubado. Na segunda-feira, quando os bancos abriram, o cheque foi apresentado: tinha fundos. O homem recebeu uma pequena fortuna de indenização.
CONTO ENGRAÇADO – Na década de 70 eram muitos os contos engraçados, alguns com criatividade, como esse que apresento. Um senhor entra numa elegante barbearia acompanhado por um garoto com uniforme escolar. Após cortar o cabelo, fazer a barba, manicure e engraxar os sapatos, o homem coloca o garoto na cadeira do barbeiro para também cortar o cabelo e avisa que vai tomar um café. Após terminar o corte e recomendar que sentasse para esperar a volta de seu pai, o barbeiro foi informado pelo garoto que nem conhecia aquele homem, ele apenas o havia parado na rua e perguntado se não queria cortar o cabelo de graça...
AMANHÃ NESTE BLOG - Você vai conhecer o criativo "conto do cleptomaníaco, o cruel "conto do pau de arara" e o "conto da guitarra", entre outros. Nesta série você vai ficar sabendo que no Brasil, até uma coruja foi vendida como papagaio para um português. Não deixe de acompanhar, nesta quarta-feira, o terceiro capítulo da série "contos do vigário" que fez enorme sucesso na década de 70.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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