DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011
Os velhos e bons filósofos já ensinavam e os novos e não tão bons também. Uma boa e ponderada conversa resolve qualquer pendenga, por mais acirrada que seja e acalma o mais feroz dos homens. Foi exatamente isso que aconteceu num ensolarado domingo do começo da década de 1990, quando a equipe de esportes da Rádio Diário do Grande ABC se preparava para transmitir um jogo entre Santo André e São Paulo, pelo Campeonato Paulista, no Estádio Bruno Daniel, em Santo André.
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Como não poderia ser diferente o Brunão (foto), recebia grande público e praticamente todas as emissoras de rádio de São Paulo estavam lá, afinal o Tricolor do Morumbi era o líder do Paulistão e estava no ABC com todos os seus titulares, entre eles o goleiro Zetti, Muller e Raí. O técnico era o consagrado Telê Santana. A Imprensa, tanto rádio como TV, sempre chega ao local do jogo muito antes dos torcedores e também das equipes. Isso igualmente acontece com o pessoal da Federação Paulista de Futebol (FPF) que cuida da fiscalização e outros preparativos.
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Por volta das 11h30, a equipe da Rádio Diário do Grande ABC já estava a postos com o narrador Edward de Souza, o comentarista Oswaldo Lavrado, o repórter Sidney Lima e faltava um repórter, Valmir Fracarolli, um gordinho bonachão, competente, que residia na Vila Ema, em São Paulo, quase divisa com São Caetano. O time da Diário entraria no Ar às 13h, como era de praxe. As 12h chega o repórter retardatário, um tanto esbaforido e apressado, pois estava bem atrasado para minha apreensão e desespero, já que eu era o comandante da equipe. Da cabine, vimos o Valmir em campo, porém sem o jaleco da FPF que identifica os integrantes da Imprensa autorizados a trabalhar. Pior, discutia acirradamente com um fiscal da Federação. Em determinado momento, a pinimba parou e, minutos depois, Valmir estava ao nosso lado na cabine.
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Não muito amistoso resmunguei: “Ei, cara, teu lugar é lá embaixo, não aqui. Já estamos atrasados". Meio sem jeito o repórter tentava justificar: “sai de casa com muita pressa e esqueci a credencial. Sem ela o chefe dos fiscais não me deixa trabalhar". Respondi, sem esperar outras desculpas: "não podemos trabalhar só com um repórter num jogo desta importância. Vai lá, fala com o homem, tasque-lhe um beijo, prometa uma viagem a Paris, um churrasco depois do jogo, mas arrume um jeito de trabalhar no campo". A coisa estava pegando fogo entre eu e o Valmir. Faltavam uns 40 minutos para a rádio entrar no Ar. Vendo que nossa discussão não renderia nada o Edward entrou na história e decretou: "deixa comigo que vou dar um jeito". Pegou o Valmir pelo braço e determinou: "vamos embora" e sumiram cabines abaixo. Logo apareceram na boca do túnel do campo.
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Ofegante, Edward (foto) chegou a cabine, peito estufado, olhou para mim

Meses depois Dácio passou a fiscalizar as portarias dos estádios de São
Paulo. Morumbi (foto), Pacaembu, Canindé, Parque Antarctica e algumas vezes aparecia no ABC, no Bruno José Daniel, em Santo André e Baetão, em São Bernardo do Campo, o Primeiro de Maio ainda não estava autorizado a mandar grandes jogos. O Edward apresentou-me ao Dácio uma tarde no Morumbi. No entanto, como não foi dito ao fiscal da FPF que eu era um sujeito legal, continuo sendo para ele um cara grosseiro, ignorante e imbecil. Edward e Dácio tornaram-se grandes amigos e se abraçavam sempre que se encontravam. O fiscal não exigia de nenhum de nós as credenciais, só dizia sorrindo: “vão entrando, sejam bem vindos”.

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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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