sexta-feira, 4 de junho de 2010

SÁBADO, 5 DE JUNHO DE 2010

NÍVEL CULTURAL: INSTRUÍ-VOS!


Alguns estudiosos da Doutrina Espírita acham que as obras codificadas por Allan Kardec, ou seja, o Pentateuco é erudito demais para o nível cultural existente em nosso País. Será? Ao traduzirem essas obras para um linguajar mais simples e ao alcance da população em geral, não corremos o risco de ver deturpado o sentido de tudo o que ali está inserido?

Temos exemplos históricos de documentos que relatam os ensinamentos de Jesus que foram alterados após a tradução do grego para o latim e que se chamou “Vulgata”. A partir daí, com a desculpa ou sem ela, foram introduzidos muitos dogmas criados no interior de conventos e palácios episcopais e até dentro de castelos de nobres ligados a igreja. Jerônimo, ao cumprir determinação superior, o fez contra sua vontade. Muitos evangelhos, chamados apócrifos foram descartados. Não se discute aqui, a análise feita por esse frade quanto à escolha dos quatro evangelistas para comporem o Novo Testamento, mas sim, a evolução intelectual da época. É certo que poucos tinham acesso aos pergaminhos e isso só veio a acontecer quando Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o Alemão.

“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensino; instruí-vos, eis o segundo”. Esta frase está inserida no Livro dos Médiuns, no Capítulo XXXI, item IX. Essa tradução foi feita por Eliseu Rigonatti, da quarta edição francesa; edição especial da Editora LUMEN-SP em 1966.

Significativa a palavra instruí-vos. Acredito que ela seja de suma importância para que as pessoas possam entender as mensagens cristãs.

Nas décadas anteriores a 1980 (mais ou menos), ou melhor, vamos nos ater na década de 40 e 50. Os garotos de então, ao terminar o primário eram obrigados a frequentar um curso de admissão para serem aceitos no ginásio (hoje da 5ª a 8ª série). O curso era administrado durante as férias escolares entre dezembro e fevereiro. O exame era rigoroso (escrito e oral). Se o aluno conseguisse passar pelas provas, iniciaria em março o curso almejado. As matérias: Português, Latim, Francês, História Geral e do Brasil, Geografia geral e do Brasil, matemática, Trabalhos Manuais, Desenho, etc. Isso no primeiro ano. No segundo era acrescentado o Inglês e Álgebra (e todas suas consequências). Alguns anos antes do término da década de 30, se não me falha a memória, havia também o Grego.

A seguir, vinham os cursos colegiais - Científico, Clássico e outros equivalentes, mas também técnicos – Química industrial, Técnico de Contabilidade, Agrimensura...

Terminado esse ciclo de aprendizado os agora adolescentes estavam prontos para prestarem exames para ingressarem nas faculdades. Não existiam cursinhos, pois não havia necessidade. O ensino do primário ao colegial era forte e disciplinador.

Nos dias de hoje, lamentamos quando vemos os resultados das provas que são apresentadas na internet. Um rapaz ou uma moça, frequentando uma faculdade, não sabe responder quem foi Marechal Deodoro – pergunta feita a uma professora na cidade que leva o nome do Proclamador da República, no Estado de Alagoas, por um repórter da TV Bandeirantes, no dia 15 de novembro.

O problema não é isolado é uma “virose” que se espalhou por todo o Brasil. No antigo ginásio, muitos garotos terminavam o curso recitando Camões entre outros poetas clássicos. A História Antiga e a do Brasil estavam na “ponta da língua” dos ginasianos. Acredito que não é necessário me alongar mais, os resultados ai estão para quem quiser ver e ouvir.

Com esse exemplo pudemos verificar que, ao baixar a categoria de ensino, tivemos enormes prejuízos na evolução intelectual de nossa juventude. É evidente que as exceções existem. Quando as pessoas podem pagar bons colégios (tradicionais e caros) terão uma boa educação cultural, mas, mesmo assim, há ainda os problemas de causa e efeito de cada indivíduo.

Acredito que com esse ligeiro passeio pelo passado, possa eu continuar a indagar sobre minhas dúvidas a respeito de uma tradução mais simples para as OBRAS DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA.

A partir da introdução do Espiritismo no Brasil, em 17 de setembro de 1865 – Salvador, BA – por Luis Olímpio Teles de Meneses (vide História do Espiritismo no Brasil, na Internet), sempre houve quem discordasse disso ou daquilo. O misticismo e o sincretismo religioso e o lançamento dos Quatro Evangelhos por Edmond Roustaing, entre outros acontecimentos, ocasionaram dissidências graves na então nascente Doutrina Espírita no Brasil.

Vejamos um pequeno trecho do Livro dos Espíritos, traduzido por José Herculano Pires (Editora Lumem/1966): “V – PLURARIDADE DOS MUNDOS – item 55. Todos os globos que circulam no espaço são habitados? – Sim, e o homem terreno está bem longe de ser, como acredita, o primeiro em inteligência, bondade e perfeição. Há, entretanto, homens que se julgam espíritos fortes e imaginam que só este pequeno globo tem o privilégio de ser habitado por seres racionais. Orgulho e vaidade! Crêem que Deus criou o universo somente para eles...”.

Qual a dificuldade de se entender essa linguagem que nada tem de erudita? O assunto pode ser um pouco complicado para as cabecinhas menos afeitas a esse tipo de revelação (ainda hoje há pessoas que não acreditam ter o homem chegado à Lua). Com palavras eruditas ou não, as obras que se seguiram e continuam a ser publicadas, enriquecendo a cultura espírita, não são suficientes para esclarecer os espíritas e aqueles que estão se iniciando na Doutrina? Será que a dificuldade não está na vontade de querer ler?

Escrevendo esta matéria tenho em minha frente um exemplar de o Livro dos Espíritos, traduzido por Renata Barboza Fernandes e Simone T. N. da Silva editado pela Petit/1999. Lendo a página 41 lá se encontra “PRINCÍPIOS BÁSICOS”, ou seja, o antigo “PROLEGÔMENOS”. Esta última palavra é exatamente o que diz a frase com dois vocábulos (princípios básicos). Inserido no Dicionário Aurélio Prolegômenos está assim definido: {Do Gr prolegómena, ‘coisas que se dizem antes’.} substantivo masculino plural; 1. Exposição preliminar dos princípios gerais de uma ciência ou arte. 2. Introdução geral de uma obra; 3. Prefácio longo.

Muito bem, mudou-se o subtítulo. Acredito que os tradutores consultaram o dicionário para fazer a alteração de uma palavra já tradicional. Uma atitude que eu e todos aqueles que gostam de ler e escrever o faz com frequência.

Emmanuel e André Luiz entre outros, através de Francisco Cândido Xavier, ditaram tantas obras para quê? Não seria para propagar e elucidar o que está inserido na Codificação? Sendo eles Espíritos inteligentes e lúcidos por que não usaram de uma linguagem mais simples? Aliás, lembro-me de uma frase dita por Emmanuel a Chico, que é mais ou menos isto: “o dia que você perceber que meus ensinamentos ou ditados estão em desacordo com Kardec, deixe-me”. A frase não é exatamente essa, palavra por palavra, mas o sentido é o mesmo. Então, quem somos nós para alterar qualquer obra do Pentateuco?

O indivíduo só se torna espírita verdadeiramente se conseguir entender o “Código Universal” e, a partir daí, começar a se esforçar para arrancar de seu âmago as ervas daninhas que ele mesmo plantou. E para isso o “INSTRUÍ-VOS” é absolutamente necessário.

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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista: jgarcelan@uol.com.br

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