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OSWALDO LAVRADO
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Começo dos anos 90 e a Rádio Diário do Grande ABC acompanhava os jogos do Santos no Brasileirão. Como os times aqui do ABC - Santo André, São Bernardo e São Caetano - estavam sem atividades, a equipe de esportes da Rádio Diário transmitia as partidas do “Peixe” em qualquer lugar do Brasil. Um belo domingo de fevereiro de 1991, o Santos enfrentaria o Fluminense, no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Trocamos o conforto da viagem de 45 minutos de avião entre São Paulo e Rio e embarcamos de carro encarando seis horas de viagem pela Via Dutra num já rodado Gol do Diário. Aboletados na lata de sardinhas, eu, o Edward, o Maurício Muniz (operador de som) e o motorista preferido da equipe, José Moraes, o "Lampião". A viagem foi tranquila, apesar dos vacilos do Lampião, cuja visão e golpe de vista ao volante deixavam qualquer um com o coração na mão, especialmente em longos percursos. Batemos no campo do Fluminense por volta das 13h e nos dirigimos à cabine de imprensa, onde deveria estar à nossa disposição uma linha telefônica para a devida transmissão do jogo. Deveria, mas não estava. Era o começo de mais um drama.
No estádio havia uma equipe da Telerj - Telefônica do Rio de Janeiro - para dar assistência às rádios. Não encontrando nossa linha, me dirigi a um funcionário da Telerj solicitando ajuda para entrar em contato com nossa rádio, no ABC. O rapaz, demonstrando não estar muito disposto a resolver nosso problema, consultou uma lista e decretou: "acho que vocês não vão transmitir nada aqui. Acontece que são muitas emissoras de rádio de várias localidades do Brasil e não há linha para todas. Algumas foram cortadas e a Rádio Diário é uma delas". Fiquei lívido com a explicação do rapaz da Telerj. Fui ao chefe dele e mostrei um documento comprovando que a Diário havia reservado a linha com antecedência e alguém da Telerj teria que dar uma solução. Sem transmissão nossos empregos estavam a perigo, principalmente o meu, então chefe da equipe de esportes da rádio. Acompanhando o Santos, a Diário tinha alcançado excelente audiência em toda a Grande São Paulo. Por essa razão, nosso compromisso era enorme com a direção da empresa, patrocinadores e principalmente o ouvinte. A credibilidade da rádio e nosso emprego estavam em jogo.
Enquanto eu espinafrava o cara da Telerj, o Edward desceu das cabines e foi para lanchonete do estádio pra não ver a discussão entre eu e o rapaz da Telerj. Em pé, encostado no balcão da lanchonete, saboreando uma cerveja, estava o ator e diretor global Hugo Carvana, torcedor fanático do Fluminense. Nem saberia explicar direito o que aconteceu, mas Edward e Carvana ficaram amigos, uma amizade que nasceu em segundos. Eu percebia da cabine de rádio, enquanto brigava pela linha com a Telerj, que ambos conversavam como velhos conhecidos.
Preocupado com a transmissão e também comigo que estava a ponto de explodir com o rapaz da Telerj, Edward expôs o drama ao paciente Hugo Carvana - mais tarde soubemos, o ator tinha um cargo na direção do Fluminense. Carvana se propôs a dar uma mão, mas não sabia como. Afinal se todas as linhas existentes no estádio estavam ocupadas pelas inúmeras emissoras, o que fazer?
Então, se fez a luz. O Edward, assessorado pelo Hugo Carvana, foram procurar o chefe da Telerj e, os três, solucionaram a pendenga. O diálogo que os dois "atores" tiveram com o homem da telefônica carioca foi mágico." Veja ai o que o senhor pode fazer. O rapaz (Lavrado) está nervoso porque a gente pode ser demitido se esta transmissão não sair. Dá uma forcinha", implorou o Edward, enquanto o Carvana dava um tapinha nas costas do funcionário da Telerj e ao mesmo tempo atendia uma jovem linda, cabelos longos e bronzeada, que estava em busca de autógrafos.
Muito mais pela presença do Hugo Carvana do que pela súplica do Edward, o chefe da telefônica carioca respondeu: "vamos ver, vamos ver". O tempo passava rápido e se aproximava a hora da rádio entrar no ar. Alguns minutos depois o homem sobe para as cabines e berra:" Sêo Lavrado, pode tentar contato com sua rádio no ABC, a linha está liberada".
O expediente que o chefe da Telerj utilizou para arrumar uma linha não vai ao caso e nem importa. Transmitimos o jogo, cumprimos nosso trabalho, agradecemos Hugo Carvana, o mais recente amigo do Edward e nosso também, que continuava encostado no balcão do boteco de madeira do estádio tomando sua Antarctica e retornamos a São Paulo, não sem antes passar por outros sufocos no caminho de volta, nas mãos do nosso querido motorista “Lampião”. Mas essa parte fica para outra oportunidade.
No estádio havia uma equipe da Telerj - Telefônica do Rio de Janeiro - para dar assistência às rádios. Não encontrando nossa linha, me dirigi a um funcionário da Telerj solicitando ajuda para entrar em contato com nossa rádio, no ABC. O rapaz, demonstrando não estar muito disposto a resolver nosso problema, consultou uma lista e decretou: "acho que vocês não vão transmitir nada aqui. Acontece que são muitas emissoras de rádio de várias localidades do Brasil e não há linha para todas. Algumas foram cortadas e a Rádio Diário é uma delas". Fiquei lívido com a explicação do rapaz da Telerj. Fui ao chefe dele e mostrei um documento comprovando que a Diário havia reservado a linha com antecedência e alguém da Telerj teria que dar uma solução. Sem transmissão nossos empregos estavam a perigo, principalmente o meu, então chefe da equipe de esportes da rádio. Acompanhando o Santos, a Diário tinha alcançado excelente audiência em toda a Grande São Paulo. Por essa razão, nosso compromisso era enorme com a direção da empresa, patrocinadores e principalmente o ouvinte. A credibilidade da rádio e nosso emprego estavam em jogo.
Enquanto eu espinafrava o cara da Telerj, o Edward desceu das cabines e foi para lanchonete do estádio pra não ver a discussão entre eu e o rapaz da Telerj. Em pé, encostado no balcão da lanchonete, saboreando uma cerveja, estava o ator e diretor global Hugo Carvana, torcedor fanático do Fluminense. Nem saberia explicar direito o que aconteceu, mas Edward e Carvana ficaram amigos, uma amizade que nasceu em segundos. Eu percebia da cabine de rádio, enquanto brigava pela linha com a Telerj, que ambos conversavam como velhos conhecidos.
Preocupado com a transmissão e também comigo que estava a ponto de explodir com o rapaz da Telerj, Edward expôs o drama ao paciente Hugo Carvana - mais tarde soubemos, o ator tinha um cargo na direção do Fluminense. Carvana se propôs a dar uma mão, mas não sabia como. Afinal se todas as linhas existentes no estádio estavam ocupadas pelas inúmeras emissoras, o que fazer?
Então, se fez a luz. O Edward, assessorado pelo Hugo Carvana, foram procurar o chefe da Telerj e, os três, solucionaram a pendenga. O diálogo que os dois "atores" tiveram com o homem da telefônica carioca foi mágico." Veja ai o que o senhor pode fazer. O rapaz (Lavrado) está nervoso porque a gente pode ser demitido se esta transmissão não sair. Dá uma forcinha", implorou o Edward, enquanto o Carvana dava um tapinha nas costas do funcionário da Telerj e ao mesmo tempo atendia uma jovem linda, cabelos longos e bronzeada, que estava em busca de autógrafos.
Muito mais pela presença do Hugo Carvana do que pela súplica do Edward, o chefe da telefônica carioca respondeu: "vamos ver, vamos ver". O tempo passava rápido e se aproximava a hora da rádio entrar no ar. Alguns minutos depois o homem sobe para as cabines e berra:" Sêo Lavrado, pode tentar contato com sua rádio no ABC, a linha está liberada".
O expediente que o chefe da Telerj utilizou para arrumar uma linha não vai ao caso e nem importa. Transmitimos o jogo, cumprimos nosso trabalho, agradecemos Hugo Carvana, o mais recente amigo do Edward e nosso também, que continuava encostado no balcão do boteco de madeira do estádio tomando sua Antarctica e retornamos a São Paulo, não sem antes passar por outros sufocos no caminho de volta, nas mãos do nosso querido motorista “Lampião”. Mas essa parte fica para outra oportunidade.
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*Oswaldo Lavrado - jornalista e radialista - trabalhou no Diário do Grande ABC, rádio e jornal, e comandou a equipe de esportes da Rádio Diário. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
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