.
.
.
O seu objetivo mais era político, direcionado e a maior parte das páginas
continha ataques aos representantes do Partido dos Trabalhadores, a sigla partidária, que conquistaria o apoio de outras, responsável pela eleição e reeleição do ex-metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva, com quem cheguei a beber muitas doses de cachaça em bares próximos ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, instalado em São Bernardo.
.
.
.
A Ilha Comprida atrai pela extensão de sua orla e pela facilidade de
acesso, melhorada com a construção de uma ponte sobre o rio que separa as duas cidades. Cidades, sim, porque a Ilha conseguiu a sua emancipação e tem o seu próprio prefeito, seus vereadores, com seus assessores e funcionários burocráticos. Tanto eu gostei dessas duas localidades que recentemente, num dia, diante da gravidade da minha situação, conversei com a Ilca sobre a minha morte que, eu pressentia, me rondava persuasiva. Ela, com seu otimismo de sempre, passou a mão pela minha cabeça lisa, de cabelos raspados, e com ternura na voz, disse que iríamos ainda viver muitos anos juntos em uma casa tranquila em Iguape, com quintal com árvores e área suficiente para abrigar quantos cachorros e gatos eu quisesse. E mais, todas às tardes, nós pegaríamos o carro e rumaríamos para a Ilha Comprida, onde poderíamos passear, descalços, pelas areias da praia. Essa visão futura da minha velhice me deu um certo alento, me confortava e me devolvia as forças para enfrentar a doença e alimentar a esperança de uma vida longa e com saúde, ao lado da Ilca.
. .
Desentendimentos com o Maciel provocaram a minha saída dos jornais por ele editados. Voltei a ficar desempregado, mas, desta vez, por pouco tempo. Indicado por Ademir Medici, uma missionária me procurou e propôs escrever um livro sobre o problema dos índios Macuxis, que viviam em uma ampla reserva em Roraima, extremo norte do país, em constantes conflitos com os fazendeiros, garimpeiros e os seus respectivos jagunços. Ofereceu-me um bom dinheiro, caso eu aceitasse ir até a região, de avião, e entrevistar os indígenas, em sua aldeia, e relatar tudo em um livro. O pedido tinha o aval de dom Aldo Mongiano, arcebispo daquele estado nortista. Aceitei e foi uma das experiências mais dolorosas de minha vida.
. .
Tinha decidido parar de fumar havia poucas semanas e planejava,
também, deixar o vício do álcool. Diziam que era mais fácil se livrar do fumo do que do álcool. Eu, no entanto, não sentia muito a falta do tabaco, embora minha mulher tenha relatado, tempos depois, que eu virara uma “pilha de nervos”, me irritava com qualquer coisa e não cessava com reclamações, uma mais esdrúxula que a outra.
. .
. .
Tinha decidido parar de fumar havia poucas semanas e planejava,
.
.
Sobre esse tema, dom Aldo Mongiano me entregou artigo, escrito por ele,
publicado no Jornal do Brasil, onde questionava, em certo trecho: "em Roraima, se diz que, sem as terras indígenas, o Estado se torna inviável. Essa afirmação não tem fundamento. Deverão os índios ser sacrificados para salvar a sociedade roraimense? Se pensarmos no atual sistema sócio-econômico do Brasil, mesmo ocupando as terras dos índios com muitas ou poucas riquezas naturais, não serão resolvidos os problemas da sociedade branca, nem em nível nacional nem regional, pois os bens produzidos serão sempre encaminhados para a minoria rica".

.
.
No dia seguinte ao encontro com o arcebispo, viajei em uma ca
minhonete até a aldeia dos Macuxis, denominada Maloca Santa Cruz, localizada no pé de uma montanha. Essa maloca se destaca como o principal núcleo da reserva indígena Raposa-Serra do Sol, onde viviam na década de 90 do século passado mais de 25 mil índios. Eles ocupavam quase 54 mil hectares, área geograficamente localizada no município de Normandia, na fronteira do Brasil com a República Cooperativa da Guiana, ex-possessão do governo britânico.
.
No dia seguinte ao encontro com o arcebispo, viajei em uma ca
.
___________________________________________
Na próxima quarta-feira, o vigésimo capítulo de "Memória Terminal", do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50.
(Edward de Souza/ Nivia Andres).
___________________________________________
___________________________________________