Segundo ensina o dicionário, chuchu, do francês antilhano chou-chou, é uma trepadeira cucurbitácea, de nome científico Sechium edule, de fruto verde e comestível. Na linguagem popular, pessoa muito bonita, graciosa; muito querida, ou que é a favorita, a mais mimada.
Vocês devem estar achando que estou louca ao falar de chuchu em plena época de Páscoa, afinal, até prova em contrário, chocolates são feitos com cacau...
Pois bem, explico. O Chuchu a que me refiro não era um legume. Era um digno representante da família Leporidae cujos membros são popularmente conhecidos como coelhos! No mais, confere com o dicionário, era lindo, fofinho, gracioso, elegante e transformou-se em favorito, no mais mimado...
Nossa história com o Chuchu começou quando minha irmã Nina ganhou aquele coelhinho branco de seus amigos e o trouxe para o apartamento. Na época, morávamos em Santa Maria, para estudar.
Logo nos primeiros dias de convivência nos apaixonamos por ele. E também tivemos prejuízos avantajados. Mesas, cadeiras, vassouras, sapatos foram solenemente roídos pelo láparo esfomeado que, nas horas de solidão, era o rei do pedaço. Nada escapava de seus dentões serrilhados...Não pensem que o deixávamos à míngua. Comia à farta, uma feira inteira por dia...
Seguidamente havia um conselho da tribo, para discutir o banimento do Chuchu, por prejuízo mobiliário e econômico, mas o danadinho sempre ganhou todas as questões, somente advogando com o olhar pidão...Resistir, quem havia de?
Assim, em pouco tempo, tornou-se o rei do apartamento 44, altos do Cine Glória, nossa feliz morada na cidade universitária...Por algum tempo, o reino dele era a área de serviço; depois, tomou de assalto a casa inteira, quando adquiriu comportamento de gente, respeitando o código de conduta estabelecido: Não roer, não lamber, não mastigar roupas, móveis e utensílios, não fazer xixi no sofá nem nos cantinhos. Comportar-se com um bom menino, obediente e educado. Um gentle rabbit!
Quando chegávamos da aula, Chuchu nos esperava na porta, confortavelmente instalado nos peleguinhos de lustrar. Daí, pulava no meu colo, no sofá, para assistir televisão, olhar fixo e interessado. Adorava o Programa da Xuxa (que assistia sozinho, diga-se de passagem, batendo a patinha ao ritmo do ilariê...desconfio que suspeitava ser parente da moça!) e as novelas, principalmente a das oito. Creio até que suspirava, nos momentos mais emocionantes dos folhetins televisivos...Nos intervalos, fazia o seu show e merecia aplausos – como a sala era ampla, dividida em dois ambientes, Chuchu descia do sofá, engatava uma primeira, ganhava velocidade e deslizava até encontrar a parede, batendo a cabecinha, de propósito...Voltava vendo estrelas, com cara de malandro. Se deixássemos, repetia a façanha, até cansar. Depois, dormia, invariavelmente, no nosso colo. Acordado, como guri obediente, seguia a dormir em sua casinha.
Nossa vida com Chuchu fluiu agradável, por vários meses. Quando chegaram as férias, afastamos a possibilidade de levá-lo para Santiago, pois a mãe não o aceitaria. Tinha cachorro, gato e caturrita (que assobiava o hino nacional inteiro!) na casa...
Então, a Nina confabulou com um colega que tinha sítio e acertou a permanência do Chuchu na temporada de férias. Despedidas chorosas... mas, fazer o quê? Foi-se o Chuchu, rumo à serra, com mochila e peleguinho...
Ao retornarmos à Santa Maria, rapidamente minha irmã foi ter com o tal amigo, para combinar o resgate do Chuchu. Voltou desconsolada e furiosa. O Chuchu, lindo e fofo, havia virado refeição, segundo o depoimento do gajo assassino. Até hoje não sabemos se o Chuchu, de fato, virou comida ou fugiu (que de bobo não tinha nada...) mas o resto, podem acreditar, é tudo verdade!
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*Nivia Andres é jornalista e licenciada em Letras. Suas opiniões e vivências estão no Blog Interface Ativa! Para conhecer, acesse http://niviaandres.blogspot.com/
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