
O Brasil ficava em silêncio quando os clarins anunciavam a potente e límpida voz do gaúcho Herón Domingues na apresentação do Repórter Esso.

No domingo, às 12h, uma voz era ouvida em todo o país: “quando os ponteiros do relógio se encontram no meio do dia, o Brasil se encontra com o Rei da Voz, Francisco Alves”. Sua morte em acidente ocorreu na via Dutra, altura de Pindamonhangaba, num sábado, 27 de setembro de 1952. O Rio de Janeiro ficou de luto e o Brasil chorou, em convulsão. Eu estava lá.
Os lares brasileiros viviam grandes emoções todas as noites com a radionovela “O direito de nascer”, em que o par romântico, artistas Nélio Pinheiro e Ísis de Oliveira arrancava suspiros dos ouvintes ainda não conhecedores do processo televisivo. Durante o forte sucesso que viveram seus intérpretes, viajamos todo o Brasil, Ísis, Nélio, o violonista Cezar Moreno e eu, fazendo apresentação de espetáculos, em finais de semana.

No Rio, o primeiro concurso de que participei para locutor foi na Rádio Clube do Brasil, depois Radio Mundial, atual Globo que, adquirida por Alziro Zarur, fundador da Legião da Boa Vontade, transformou-se em emissora da LBV. Fui reprovado. Havia naquela época a expressão: “sua fala é muito paulista” e a minha estava assim qualificada. Era membro da banca julgadora uma explosão de voz bonita dos microfones nacionais, locutor dos mais conceituados, mais tarde conhecido e famoso como apresentador de show e Rei das Mulatas, - lindas - de quem me tornei amigo: Oswaldo Sargentelli. Meu trajeto incluiu trabalhar com Chico Anísio na Radio Mayrink Veiga, ele então somente redator de humorismo para um programa de auditório do Trio de Osso: Lamartin

e Babo, Yara Salles e Heber de Bôscoli. Já naquele momento, Chico muito jovem, tinha nível intelectual e inteligência invejáveis indicando seu sucesso que haveria de chegar à estrutura do rádio brasileiro. A Mayrink pertencia ao empresário Antenor Mayrink Veiga, responsável por inúmeros sucessos desde 1926. Passou, posteriormente, ao domínio de Leonel Brizola, polêmico político que ali, ao microfone, concitou a atenção brasileira propondo o movimento de criação do Grupo dos 11. Embora se atribuísse ao deputado Miguel Leuzzi, diretor da Rede Piratininga de Rádio; a propriedade verdadeira da emissora, comentava-se: era Brizola o dono. A legislação e segurança nacional, sempre, na área da radiodifusão, determinaram posturas irretorquíveis.

Os personagens aqui citados, em sua quase totalidade, me deram a honra de relação bastante estreita. Se me permitem, farei referência a um deles: Anísio Silva me impôs ouvi-lo longas noites no Largo do Machado, em frente ao Restaurante Café Lamas, sentados na mureta do lago ali existente, sempre acompanhado do ritmo de sua caixa de fósforos. Eram suas canções que venderam depois, mais de dez milhões de exemplares. “Alguém me disse”, toquei-a em meu programa na emissora Continental pela primeira vez - inédita - muito mal gravada em acetato, de um arremedo de estúdio do edifício Dark, próximo ao Largo da Carioca... (continua)
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