Para quem está em casa estatelado na poltrona ouvindo o jogo de seu time preferido pelo rádio, ou assistindo pela televisão, nem de longe imagina os momentos de angústia que passa o narrador esportivo em determinado momento. Para o atleta que faz o gol, o momento é divino, repleto de glória e prazer, mas para o locutor é a hora do perigo. Afinal, que ameaça poderia oferecer um gol, momento mais aguardado para quem está no estádio?
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Quando o gol é para o time da casa, a torcida vibra e o berro do locutor se
perde no burburinho do grito da galera. Porém, quando acontece o contrário (gol do adversário), o bicho pega, pois a torcida da casa silencia e o vozeirão do narrador (todos têm vozeirão) se espalha pelo estádio, impulsionado pela arquitetura e acústica da praça esportiva. Foram muitos os casos em que foi preciso fazer malabarismo para não ser atingido por pedras, chinelos, garrafas, copinhos plásticos, pilhas e até guarda-chuvas em alguns estádios, atirados por torcedores irritados com o brado de gol inimigo ecoado por um narrador mais afoito e de grito mais estridente.
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No começo do segundo tempo, no entanto, o Santo André empatou e o
grito de gol proveniente das cabines foi o suficiente para que dezenas de torcedores em frente se virassem e passassem a ofender os homens de imprensa que estavam logo acima. O jogo seguiu, com a torcida perdendo a paciência com seu time, que não conseguia, por mediocridade, vencer o também limitado adversário. Em seguida o Santo André fez 2 a 1 e aí o mundo veio abaixo, com os torcedores postados em frente as cabines atirando tudo que havia em mãos sobre os narradores ainda na metade do grito de gol que o fôlego permite. Eram tantos os objetos, principalmente pedras (parte do estádio estava em construção), que obrigou todos os jornalistas instalados nas cabines a procurar abrigo. Teve radialista que largou microfone, maleta de transmissão e escuta e caiu fora. A polícia interveio, mas a balburdia foi tanta que houve a necessidade de o árbitro paralisar o jogo. Felizmente ninguém se feriu seriamente.
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Uma das situações mais complicadas que a equipe de esportes da Rádio
Diário do Grande ABC viveu foi no Pacaembu, em jogo do Corinthians com o São Caetano. As cabines reservadas às rádios do Interior ficam localizadas a esquerda de quem entra pelos portões principais do Pacaembu. Têm visão privilegiada para o gramado, mas fica em espaço onde circulam normalmente os torcedores das arquibancadas. O Corinthians não vinha bem das pernas naquele Paulistão e a Fiel estava meio ressabiada.
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No reservado à imprensa do Interior, no Pacaembu, existe apenas um
a porta e, naquele momento, não havia como fugir. Quem estava fora não entrava e quem estava dentro apanhava indiscriminadamente. Para acabar com a "farra" dos corintianos a polícia teve que intervir com rigor, entrando pelas janelas (espaço usado pelos locutores e comentaristas para verem o jogo). A dramática situação durou pelo menos uns bons 20 minutos, mas ninguém se feriu com gravidade, porém foi mais assunto, claro, que o próprio jogo.
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* Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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