
Durante dois anos vivi razoavelmente e chegava a ajudar nas despesas de
casa. Mas nada de economizar. Gastava o que tinha, sem pensar que, talvez, futuramente, fosse precisar de dinheiro para qualquer emergência, como tratar de uma doença. Gastei, sim, para extirpar a hemorróida. Como não tinha plano de saúde, contribui com o que tinha para a execução da cirurgia pelo médico Paulo César Ribeiro, um dos mais conceituados proctologistas brasileiros da época. A operação foi com raios laser e quase nada senti. No dia seguinte, havia recebido alta do hospital e retornado para casa, à espera da primeira evacuação – essa, sim, dolorida, tanto que a recomendação é colocar, na hora, um pedaço do pano nos lábios e evitar o atrito dos dentes.

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Desempregado, e sem querer tornar-me repetitivo, Fausto Polesi
reapareceu novamente e me indicou para assessor de mais um candidato a prefeito de São Caetano. Como sempre, me apresentei e, surpresa: o candidato a vice era Moacyr Rodrigues – o que tinha sido candidato em 1992 e, mais tarde, tornara-se vereador, depois de candidatura frustrada para deputado estadual. Desenvolvi um bom trabalho de comunicação, mas não foi possível vencer de novo aquele que se tornara um monstro sagrado no município: Luiz Tortorello, o candidato a prefeito de novo.
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Nesse ínterim, ano de 1997, minha mulher adquiriu a nossa casa,
financiada pela Caixa Econômica Federal. E, quatro meses depois, no dia de seu aniversário, parei com a bebida alcoólica, da mesma forma com que tinha parado de fumar. Apenas disse: a partir de hoje, não bebo mais. E o que mais me levou a tomar essa decisão foi um comentário do doutor Paulo Ribeiro. Numa tarde, quando ele fazia o exame pós-operatório da hemorróida, eu lhe perguntara se eu poderia morrer se continuasse bebendo. Ele, secamente, não sei se com ironia, me respondeu: Eu não iria morrer por causa da bebida; iria viver, mas só que paralítico. Explicava: o álcool já estava afetando o meu sistema nervoso e, não demoraria muito, atingiria braços, pernas. Como já havia conhecido uma pessoa que ficara paralítica em consequência do excesso de bebida, fiquei temeroso de ser vítima do mesmo mal. No início, ninguém acreditou. Só eu. Por isso mesmo, é que mantive a decisão. E como ficou comprovado que o alcoolismo é uma doença, nunca disse ser um ex-alcoólatra. Sou um alcoólatra. E quando posso tomo uns copos de cerveja.
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Procuro passar as horas de ócio lendo, escrevendo ou tentando me
familiarizar com a tecnologia do computador. Dia desses, entrei na internet e, apenas como curiosidade, quis saber se meu nome estaria incluído naquele universo de informações. E, para minha surpresa, lá estava, e, logo no primeiro item, figurava a minha conquista do Prêmio Esso de Jornalismo. Prossegui com a pesquisa e um outro item me chamou a atenção: a venda de um exemplar da revista Planeta, de abril de 1976, com uma reportagem minha sobre a lenda da cidade submersa, que fiz no rio Urubu, interior do Amazonas, em companhia da Ilca. A reportagem fora escrita para o Jornal do Brasil, do qual eu era correspondente, mas o editor Juarez Bahia julgou melhor não publicá-la e liberou o texto, vendido em seguida para a Editora Três, após contato com o escritor Ignácio de Loyola Brandão, então redator-chefe da revista.
.A abertura da reportagem: “o fantástico, o absurdo e o real se confundem
com inscrições estranhas, indícios da existência de povos pré-históricos, cidades submersas e navios naufragados, envolvendo lendas e superstições de índios e caboclos. Tudo isso está em uma pequena área do rio Urubu, pequeno afluente do rio Amazonas, distante 260 quilômetros de Manaus e onde se encontra acampado o arqueólogo Roldão Pires Brandão, presidente da Associação Brasileira de Arqueologia e Pesquisa”.
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Acompanhe na próxima quarta-feira, o vigésimo terceiro capítulo de "Memória Terminal", do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza).
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