Tivemos uma história política tumultuada, sobressaltada, onde os ditadores civis e militares marcaram a fogo nossa memória e nos deram uma espécie de anestesia coletiva da qual vez ou outra acordamos. Ao contrário dos americanos que hasteiam orgulhosamente sua bandeira na porta, nós brasileiros somos meio encabulados nessa área de mostrar um patriotismo explícito. Não cultivamos o amor nem a exposição dos nossos símbolos. Isso somente muda na Copa quando bandeiras, escudos, chapéus e roupas se enfeitam com as cores da pátria e ninguém é capaz de censurar nem estranhar esse súbito amor pela nação que se desenrola de quatro em quatro anos em meio a foguetes e charanga.
O dia 15 de novembro ficou marcado na história como o dia da
proclamação da República. Só aos poucos a população tomou conhecimento de que a parada militar, ocorrida pela manhã, no ano de 1889, conduzira à mudança de regime. Logo após o dia 15 de novembro, o regime lutava para consolidar-se. Dois grupos adquiriram especial importância: os militares e os republicanos históricos, sendo os últimos, representantes da burguesia cafeeira.
Já se disse que a seleção é a pátria de chuteiras tal a importância que o
futebol alcança em nosso país. Detentores de cinco títulos mundiais temos realmente de nos orgulhar de nossa performance em campo que vem desafiando os anos sempre com uma nova safra de craques que vão substituindo e demolindo os mitos antigos. Da seleção de 70 à seleção de hoje, praticamente não sentimos falta de quem já se foi, de quem perdeu o jogo da vida, pois há sempre uma nova geração para segurar a chama.

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Chegamos ao estágio Collor quando tivemos de recorrer à Justiça par
a reintegrar o país no seu caminho, para livrar a corrupção que corria desenfreada da Casa de Dinda para o Alvorada passando pelos porões das Alagoas. Mas nem isso desacelerou nosso passo. Lula que veio como o cavaleiro da esperança, o Prestes que fez a revolução pelo voto não demorou a envolver-se nas malhas do mensalão, o maior escândalo político de nossa história. Não adianta argumentar que Lula passou incólume pelo episódio. O partido que ele criou, os homens que ele escolheu, a República que ele comandava sai enlameada daquele episódio que igualmente não foi o final.
Os nossos ditadores militares acreditavam - ou faziam a gente acreditar -
que estavam salvando a República das garras satânicas do comunismo. E por isso criaram Atos Institucionais dignos da melhor ditadura, mas todos santificados pelo selo republicano que recebeu inclusive o endosso do Congresso. Era republicano Getúlio Vargas com seu Estado Novo e nem por isso podemos eximi-lo dos pecados mais graves contra a nossa democracia.
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*Edward de Souza é jornalista e radialista
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