
J. MORGADO
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O homem vem deturpando os ensinamentos de Jesus através dos tempos para conseguir atingir seus objetivos escusos. Buscam traduzir literalmente aquilo que interessa para confundir a cabeça dos ingênuos e com isso amealhar fortunas em proveito próprio.
Mas, seria ele totalmente culpado? A ingenuidade, aliada ao materialismo exacerbado das pessoas, mais a ignorância, facilitam os golpistas tipo vigaristas religiosos a aplicarem o golpe do dízimo bíblico.
Lembro-me da passagem bíblica onde Moisés ao retirar-se por longo tempo para receber os Dez Mandamentos, teve sua liderança contestada por “malandros da época”.
Cascateiros souberam dar adequadamente o que o povo estava querendo e com isso, enriquecer. Circo, pão e, provavelmente, licenciosidade. Construíram um bezerro de ouro e arrancou tudo o que podiam dos incautos nômades. O novo objeto de adoração, o bezerro de ouro, satisfazia a ânsia de desejos imediatos daquela população. Não escutavam a voz da razão. Apenas se divertiam e esqueceram o objetivo maior. A farra acabou, quando a “voz da justiça” se fez novamente presente, no caso, Moisés.
Quando residia em Batatais, tive a oportunidade de presenciar dois casos. Nove horas da noite, passeava com meu cão e quando passava defronte a um desses templos improvisados escutei a voz tonitruante do pregador ameaçando os poucos freqüentadores com as labaredas do inferno se não contribuíssem com o tal dízimo. E dizia mais: que os habitantes daquela cidade eram muquiranas. Foi ainda em Batatais, que presenciei o achaque puro e simples. Depois de acabar o tal de culto, os capangas ficavam em pontos estratégicos na saída e até nas esquinas, exigindo o pagamento do dízimo. O tom de voz era ameaçador! Sabiam exatamente quem não havia contribuído.
Em todos os tempos, sempre houve os aproveitadores da fé alheia. Palácios e feudos enormes foram feitos em nome da fé. Nada contra qualquer religião. Vigaristas travestidos de religiosos aplicando o “golpe do dízimo”. Ateus pregando o céu e mostrando um inferno que eles mesmos não acreditavam.
Em 1517 d.C. Martinho Lutero, um sacerdote da Igreja Católica, revoltou-se contra as tais de indulgências. As indulgências não passavam, na verdade de um “conto da fé”. O pecador pagava pelo perdão de seus pecados e o confessor o perdoava, recebendo sua paga.
Conta-se que alguns nobres, depois de pagarem “polpudos honorários”, mandavam seus sequazes esperarem o vigário na estrada e roubarem o dinheiro pago, levando-o de volta.
Quero afirmar e frisar que as religiões em si são benéficas a humanidade. Infelizmente, não são anjos que as dirigem, e sim homens. Homens que estão ou não sujeitos as tentações que o materialismo oferece. Vira e mexe uma imagem de santo qualquer derrama lágrimas ou sangue em alguma capela ou em uma casa. Milhares de fieis acorrem para o local, pedindo ou exigindo milagres. Mesmo com a fraude descoberta, pois se trata de mais um “conto da fé”, os ingênuos continuam a circular em torno do "milagroso santo". Não conseguem entender que o segredo para sair de seus problemas existenciais ou financeiros está em seu esforço pessoal e não no “quebra galho”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico: jgacelan@uol.com.br
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