sexta-feira, 10 de julho de 2009

EM QUE GASTAMOS O NOSSO FUTURO

Foto: J. Morgado - Especial para este blog
J. MORGADO
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Deus não é um gênio
dos contos da carochinha
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Mais uma vez, um título estranho para o que pretendo abordar nas próximas linhas. “Em que gastamos o nosso futuro”. É evidente que “pisaremos” no improvável, no provável ou simplesmente no hipotético. Ao reencarnarmos, e isso se dá em situações as mais diversas, pois recomeçaremos uma caminhada interrompida no pretérito. Podemos nascer com boa ou má saúde, ricos ou pobres, aleijados ou não, enfim, uma forma de vida carnal que escolhemos na Pátria Espiritual para resgatarmos nossos erros do passado e assim evoluir. Vez ou outra, nossos Irmãos Maiores, devido ao nosso estado, planejam compulsoriamente o nosso reencarne, uma vez que não conseguimos nos concatenar devido ao estado consciencial em que nos encontramos.
A vivência neste mundo é para que, através do amor, possamos lapidar as imperfeições morais que carregamos. Assim, reencarnamos no meio familiar ou entre aqueles que nos foram afins ou em que vivemos juntos ou próximos no passado. O ódio, o rancor, o egoísmo e tantos outros males morais deverão ser vencidos; os vícios materiais, que muitas vezes nos levaram a desencarnes prematuros, deverão ser extirpados (o fumo, o álcool, entre outros tóxicos). Chegamos, enfim, no ponto em que escreveremos sobre “Em que gastamos nosso Futuro”. Para ilustrar este artigo vamos abordar o livro psicografado por Yvonne A. Pereira, em 1954, “Memórias de um Suicida”, um best-seller da literatura espírita, publicação FEB/1955. A história teria sido ditada pelo espírito de Camilo Castelo Branco, o famoso escritor português que viveu entre os anos de 1825 e 1890. Esse personagem, que tinha uma vida desregrada, desencarnou praticando o suicídio porque ficou cego ao contrair uma doença (a biografia completa do escritor poderá ser encontrada na internet). Na apresentação feita pela própria Médium ela dá o nome do autor – Camilo Cândido Botelho, “contrariando (conforme suas próprias palavras), todavia, seus próprios desejos de ser mencionado com a verdadeira identidade.” Depois de passar por sofrimentos indescritíveis durante muitos anos, o escritor é socorrido e se dedica a sua recuperação e estudos até que um dia resolve finalmente reencarnar. A programação seria a de passar pelo mesmo transe e vencer a prova, expiando sua provação até o fim de sua vida carnal, naturalmente com estoicismo.
Assim se dá com todos nós. Ignorando o “Estatuto do Universo” ensinado por Jesus e esclarecido pela Doutrina Espírita 1857 anos após, a humanidade continua a gastar o seu futuro, programada por eles mesmos, e desencarnam antes do que deveria. Aí escutamos nos velórios: “coitado, tão bom e Deus o levou tão cedo” ou “porque Deus não levou fulano de tal que é tão ruim”.
A gula, o ódio, o rancor, a vingança, o ciúme, a falta de caridade (fora da caridade não há salvação), o egoísmo, a luxúria, etc., males morais de que somos possuídos. A falta de amor e de respeito para com próximo, não nos levará ao “céu” ou equivalente como é denominado por inúmeras religiões. Cada item violado do “Estatuto” é imediatamente inserido no perispírito que por sua vez se vê afetado no órgão equivalente no corpo mais denso, que é a nossa carne. Por exemplo, se levarmos uma vida desregrada e totalmente imprópria a nossa existência. Devemos seguir a sabedoria popular e os conselhos médicos: “comer para viver e não viver para comer”. O fígado, o coração, os rins, o pâncreas, órgãos vitais de nosso organismo, além de outros, são também feridos por doenças incuráveis e degenerativas que nos causam aborrecimentos e dores.
“Diga-me com quem andas e te direi quem és”. Outro dito popular bastante interessante. Uma pessoa viciada em vícios materiais como o álcool e o fumo e ainda acostumada a dizer palavrões, agressiva, mal humorada, etc., sempre terá como companhia espíritos neuróticos e possuídos de uma infinidade de mazelas. Esses espíritos se aproveitam das emanações negativas que são produzidas por nossos irmãos desavisados para se alimentarem e satisfazerem sua “fome de prazer”.
Uma boa parte da sociedade de hoje, consumista e devoradora dos prazeres carnais, egoísta, nem mesmo imagina que a vida tem sua continuidade após o desencarne. Culpam Deus por não os atenderem em seus pedidos feitos de forma mecânica, pensando, provavelmente, ser Deus um gênio dos contos da carochinha, que basta esfregar uma candeia mágica ou invocá-lo com uma fórmula mística e, assim, ter seus desejos atendidos. No caso, a maioria desses desejos é para que suas doenças adquiridas por incúria sejam curadas de imediato. Se as pessoas se dispusessem a raciocinar com lógica, notariam que suas mazelas foram adquiridas ao longo da vida e que Nosso Pai nada teve com isso, pois no momento do prazer, do crime e de tantas outras desvirtudes, ele nem mesmo pensou em qualquer divindade.
Ao programarmos nossa reencarnação para resgatarmos um pouco do muito que devemos nos impomos um objetivo, que é o de fazer o bem, aplicando o amor onde outrora semeamos o ódio, a miséria, a morte prematura, a fome ou simplesmente nos prejudicamos em sujar nosso sagrado corpo, templo de nosso Espírito.
No momento em que escrevia este artigo o noticiário da TV mostrava dois acidentes automobilísticos com vítimas fatais. As vítimas todas de uma mesma família, provavelmente deveriam desencarnar dessa forma. Mas os causadores da tragédia, ao que pareciam embriagados e praticando excesso de velocidade, não seriam necessariamente os “algozes” desse desastre. Abusaram do álcool e ultrapassaram os limites de velocidade usando seu livre-arbítrio e, continuando nesse ritmo, desencarnarão mais cedo, gastando assim seu futuro num ato ou atos impensados.
O fumo e o álcool levam milhões de pessoas ao desencarne prematuro todos os anos. Cirroses, câncer e outras doenças causadas por esses vícios têm levado muitas pessoas ao sepulcro antes do planejado e seus espíritos a sofrerem nos umbrais conscienciais criados pelo remorso ou o “mea-culpa”. Tornou-se comum nos últimos tempos o abandono de crianças recém nascidas, atiradas no lixo, em rios, deixadas em calçadas, etc. Os médicos explicam que, em alguns casos se dão em razão da Depressão Pós-Parto que leva até a uma Psicose puerperal, estado em a mulher perde completamente o senso de responsabilidade e pode fazer qualquer coisa com os recém-nascidos. Mas, a maioria é viciada em drogas e não deseja criar uma criança que “nasceu por acaso”. A droga e a vida desregrada encurtarão sua vida programada para um período maior, uma oportunidade que lhe foi dada para resgate de erros do passado e conseqüente evolução.
Encerrando este artigo, transcrevemos aqui o item 647 do Livro dos Espíritos – DIVISÃO DA LEI NATURAL – “Toda a lei de Deus está contida no ensinamento de amor ao próximo ensinado por Jesus? – Certamente esse ensinamento contém todos os deveres dos homens entre si; mas é preciso vos mostrar sua aplicação, senão deixareis de cumpri-lo como fazeis até hoje; aliás, a lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e esse ensinamento é apenas uma parte da lei. Os homens necessitam de regras precisas. Os ensinamentos gerais e indefinidos, por serem muito vagos, possibilitam diversas interpretações” – Petit Editora/ edição/2006.
“Por mais numerosos que sejam os meandros do rio, ele termina por desembocar no mar” – provérbio chinês.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
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