ANJOS PERDENDO A INOCÊNCIA
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Apenas para registrar um caso tenebroso, um delegado de polícia da Região do ABC Paulista, cujo nome fica preservado por motivos óbvios, revelou, em certa ocasião, o caso de um pai que mantinha relações sexuais há algum tempo com o filho de 13 anos e exigiu que o menino "aliciasse" um executivo de banco, de 45 anos de idade e casado. O objetivo era, consumada a transa, extorquir o executivo sob ameaça de denunciá-lo à polícia ou ao Conselho Tutelar. E assim foi. O garoto, boa aparência, se insinuou ao homem que acabou atraído e tendo relações sexuais com o menor. Autor do plano, adrede preparado e em combinação com o garoto, o pai flagrou o executivo transando com o menino na própria casa. A tática funcionou. Ameaçado de denúncia, o executivo não teve alternativa a não ser calar a boca dos denunciantes com certa quantia em dinheiro, cujo valor aumentava com o passar do tempo. Certo dia, revoltado com os estupros praticados pelo pai e após ter levado uma surra por ter recusado uma transa com o genitor, o adolescente foi procurar o executivo e propôs uma aliança para denunciar o pai. Assim foi feito. Ambos foram à delegacia, cujo plantonista era o delegado nosso amigo, que ouviu do menor e do executivo toda a confusa e inusitada história. O delegado mandou chamar o pai do rapaz, que tentou negar as acusações, mas diante das testemunhas, acabou confessando a trama engendrada por ele e foi preso na hora. O executivo foi apenas denunciado e liberado para responder o processo em liberdade, uma vez que o delegado entendeu ter sido ele vítima de uma trama diabólica de um degenerado, no caso o pai do menor de 13 anos, que gastou uma "grana preta" com advogados, não conseguiu safar-se da condenação e perdeu de vez o filho.
Essa história, contada pelo delegado há alguns anos, sugere que quando o bandido está dentro de casa não há fechadura que evite o crime. No caso da pedofilia, os ataques em sua imensa maioria acontecem no mais absoluto sigilo, entre atacante e atacado, e geralmente fica confinado ao espaço familiar. Isso acontece há anos nas capitais, pequenas cidades, no agreste, na periferia, nos templos religiosos, nos abrigos para menores, nas escolas, favelas, cortiços, chácaras, sítios, fazendas, casas de praia e luxuosas mansões. A luta do Governo contra a pedofilia parece não estar tendo resultado, e os anjos continuam perdendo sua inocência e infância para atender aos desejos patológicos dos mais velhos. Denunciar um ente querido - filho, pai, mãe, irmão, padrasto, avô, tio ou primo - requer muito mais que coragem; é necessário possuir espírito de renúncia e é aí que o bicho pega.
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*OSWALDO LAVRADO é jornalista e radialista na Região do ABC Paulista.
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