sexta-feira, 31 de julho de 2009

NO BRASIL, QUEM TEM UM OLHO É REI

OS INTOCÁVEIS
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J. MORGADO
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O filme e a série "Os Intocáveis”, nos mostram os anos 30 nos Estados Unidos, mais precisamente em Chicago, o crime organizado combatido por policiais incorruptíveis. Eu disse o filme. Não sei se a ficção corresponde à verdade. Essa mesma violência foi combatida em Nova Iorque e em muitos outros locais daquele país com o tão propalado plano “Tolerância Zero”. Os resultados foram ótimos. A criminalidade baixou consideravelmente! Este pequeno arrazoado poderia ser entendido assim: lá vem o J. Morgado falando de tolerância zero outra vez. Não meus amigos. Pretendo inverter a situação. Os intocáveis a que me vou referir não são policiais. Vou falar do governo de nosso país que deveria ser incorruptível.
Nesta tão sofrida Nação, “quem tem um olho é majestade”. Refiro-me a riquezas astronômicas aliadas aos mandatos eletivos, que começam com o de presidente, passam pelo congresso e terminam com o de vereador. Depois, vêm os nomeados (parentes, amigos, etc.). E as “eminências pardas”? Estes são aqueles que “governam” por trás dos mandatários. Sempre há um! Ficam na obscuridade, mas, são os que se locupletam com o erário público e negociatas. Usam os “laranjas” e alguns nem se importam com isso. Confiam que nunca serão descobertos ou no tal “jeitinho brasileiro” ou corrompendo e sendo corrompidos por funcionários públicos e até mesmo por altos funcionários de empresas privadas nacionais e estrangeiras. Os eleitos gozam de fórum privilegiado se pegos com a mão na massa. Os ministros só podem ser julgados pelo Supremo (salvo engano) e os outros contam com a morosidade e os meandros da justiça. Os advogados...? Caríssimos! São pagos pelo que foi “desviado”! Surpreendente, se não fosse trágico.
Nas cadeias, os bandidos e rufiões de todos os naipes. Afinal cadeia não foi feita para os criminosos de colarinho branco. E quando acontece um caso, o indivíduo goza de todas as regalias que o dinheiro pode conseguir. Fala-se muito em policiais corruptos, no entanto tem-se notícia que os presídios destinados a esses profissionais vivem lotados. Sinal que as corporações lutam para que o mal seja debelado ou pelo menos diminuído, mesmo com o pouco caso que as autoridades eleitas fazem da segurança pública neste país. Novelas como o caso do banqueiro Dantas se arrastam. Será que isso aconteceria em um país de primeiro mundo? Fortunas conseguidas de maneira “misteriosa”, não são declaradas no imposto de renda! Coitado do assalariado que fizer isso!
E os “trens da alegria”? Uma prática proibida, mas que os “nobres” parlamentares e o governo sempre acham uma maneira de driblar através de concursos fajutos ou outras manobras infames. Os “cabos eleitorais” precisam ser resguardados.
E agora, surpreendam-se aqueles que ainda não viram os noticiários nos jornais escritos e televisivos. Viramos “lixão” do mundo! Em vários portos brasileiros, toneladas de lixo adicionado em contêineres vindos da Inglaterra. E pasmem! Segundo as últimas notícias um brasileiro radicado no Reino Unido está por traz dessa estupidez. Acostumados a enviar a podridão doméstica para a África e outros locais de terceiro mundo, estão fazendo o mesmo com o Brasil.
Poderia aqui ir escrevendo, escrevendo... Seriam muitas laudas para se mencionar apenas uma parte do que esses “intocáveis” fizeram e continuam a fazer e, provavelmente, ainda continuarão a fazer por muito tempo. Assim, meus amigos, aqui no Brasil o governo não nomeou policiais com carta branca para acabar com o crime organizado. Afinal, os Intocáveis são eles!
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Como a imprensa de hoje contaria a
história de Chapeuzinho Vermelho

ÉDISON MOTTA

As diferentes versões sobre o que aconteceu e o estado de saúde do piloto Felipe Massa, da Formula 1, que sofreu um acidente no último sábado, fazem lembrar uma brincadeira interessante, que corre na internet. Ela demonstra como os atuais veículos de comunicação contariam a história de Chapeuzinho Vermelho, conforme o ângulo de suas respectivas linhas editoriais.
Seria mais ou menos assim:
JORNAL NACIONAL
(William Bonner): “Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...” (Fátima Bernardes): “... Mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia.”

PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): “... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?”


BRASIL URGENTE
(Datena): “... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.”

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
'
REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto: “Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador”.Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico, mostrando como Chapeuzinho foi devorada, e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador, ligado ao PT, que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.

ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó.

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte.) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: “Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa”.

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu...

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado.

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! Mito ou verdade?

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A mesma história, em versões diferentes

Os nossos amigos e amigas que acompanham este Blog, especialmente os estudantes de jornalismo, já devem ter se perguntado, mais de uma vez, afinal o que é a imparcialidade? Aprendemos desde os primeiros dias nos bancos das faculdades – agora relegadas a um segundo plano para o exercício da profissão – que o jornalista precisa ser imparcial. No mínimo, ouvir os dois lados de uma questão. Mas, como aferir a imparcialidade se o texto que vai preparar será aproveitado ou não conforme a linha editorial do veículo onde trabalha?
Alguma reportagem que enaltecesse algum feito do Partido dos Trabalhadores teria espaço no estadão? Da mesma forma, neste mesmo jornal alguém já viu publicada alguma notícia dando conta da exploração que o sistema financeiro faz das pessoas, especialmente as mais humildes, nas filas dos bancos ou no vexatório sistema de portas giratórias das agências?
A Rede Globo não tem qualquer interesse em investigar os financiamentos concedidos pelo BNDS assim como a Record não abre espaço para a exploração que muitos pastores fazem da fé, especialmente aqueles que chantageiam os fiéis para que vendam suas casas e demais propriedades para comprar um lugar no céu.
Imparcialidade, diriam os experientes mestres do jornalismo, não existe. Com ética e zelo profissional é possível buscar a verdade, ouvindo não apenas dois, mas quantos forem os lados implicados numa questão. Um texto que respeite o leitor haverá sempre de posicioná-lo como principal objetivo do trabalho jornalístico. Assim como não convém subestimar sua inteligência, não é prudente querer induzi-lo a esta ou aquela conclusão.
A busca pela imparcialidade, que sempre esbarra no interesse pelo sensacionalismo deste ou daquele veículo, é antes de tudo a eterna procura do equilíbrio. Qualquer leitor, ouvinte ou telespectador, por mais iletrado que seja, desconfia das informações sensacionais. Talvez por isso, a imprensa padeça, nos dias atuais, da falta de credibilidade de grande parte das pessoas. Que sempre enxergam, por traz do bombardeiro diário de informações que recebem, algum interesse escuso não revelado.
Em parte, a desconfiança não é descabida. Como estamos todos envolvidos no mesmo turbilhão, o ser humano comum é atacado em seu bom senso principalmente pelos meios eletrônicos – rádio e TV. Poucos têm tempo para se aprofundar no assunto e o que foi ao ar passa a ser verdadeiro, mesmo que logo mais à frente seja desmentido. Felizmente, temos hoje a internet. E, nela, espaço para debate e desmistificação de informações que não se sustentam. A imparcialidade, cada vez mais, ficará por conta do próprio leitor. Que, através do garimpo entre as mais diferentes fontes de informação poderá selecionar, gradativamente, os veículos que lhe forem mais confiáveis. Chapeuzinho vermelho e o lobo mau continuarão, indefinidamente, se apresentando, para uns e outros, conforme o gosto do publico alvo a que se destina o veículo de comunicação. Uma lenda que, outrora, esteve restrita a apenas uma única versão.

*Édison Motta, jornalista e publicitário é formado pela primeira turma de comunicação da Universidade Metodista. Foi repórter e redator da Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil; editor-assistente do Estadão; repórter, chefe de reportagem, editor de geral (Sete Cidades) e editor-chefe do Diário do Grande ABC. Conquistou, com Ademir Médici o Prêmio Esso Regional de Jornalismo de 1976 com a série “Grande ABC, a metamorfose da industrialização”. Conquistou também o Prêmio Lions Nacional de Jornalismo e dois prêmios São Bernardo de Jornalismo, esses últimos com a parceria de Ademir Médici, Iara Heger e Alzira Rodrigues. Foi também assessor de comunicação social de dois ministérios: Ciência e Tecnologia e da Cultura. Atualmente dirige sua empresa Thomas Édison Comunicação.

terça-feira, 28 de julho de 2009

DEZ MILHÕES DE ALCOÓLATRAS NO BRASIL

EDWARD DE SOUZA

Muita gente queda-se atônita ante o problema dos tóxicos e do álcool, indagando que misteriosas forças teriam conduzido uma pessoa a trilhar os caminhos do vício. A resposta é complexa, porém não dificil de ser formulada. Vários segmentos da sociedade acusam os toxicômanos e os alcoólatras como responsáveis pela “onda” de violência que assola o País, buscando em pesquisas de acidentes de trânsito, homicídios, latrocínios e desavenças encontrar as causas que preocupam psicólogos, sociólogos, médicos, moralistas, filósofos e religiosos.
Segundo alguns registros arqueológicos, os primeiros indícios do consumo de álcool pelo ser humano datam de mais de oito mil anos. No primeiro momento, as bebidas eram produzidas apenas pela fermentação e, por isso, tinham um baixo teor alcoólico. Com o desenvolvimento do processo de destilação, começaram a surgir as primeiras bebidas mais fortes e mais perigosas. Com a revolução industrial, a bebida passou a ser produzida em série, o que aumentou consideravelmente o número de consumidores e, por consequência, os problemas sociais causados pelo abuso no consumo do álcool. O alcoolismo não é mais uma doença, é um flagelo. Só no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Alcoolismo, existem aproximadamente 10 milhões de alcoólatras, número que prejudica progressivamente a força de trabalho e a produtividade nacional. Cerca de 5 por cento dos trabalhadores são alcoólatras, tornando improdutiva metade de suas cargas horárias. Ônus ingrato para a Nação, fardo inútil para as empresas e indústrias.
Médicos do trabalho que participam ativamente de palestras de combate ao tóxico e ao alcoolismo, afirmam que o trabalhador brasileiro carente foi obrigado a trocar o café da manhã com pão, leite e manteiga pelo consumo puro e simples de cachaça, para poder, até, levantar-se da cama e caminhar. Essa triste realidade foi verificada também nas indústrias de calçados de Franca e nas montadoras na Região do ABC Paulista. Um grande empresário de Franca afirma amargamente: - Estamos vivendo uma nova era, a do alcoolismo por necessidades energéticas.
Na verdade, as hospitalizações por complicações do alcoolismo são de custo milionário. O dinheiro captado pelos cofres públicos do movimento setorial das bebidas alcoólicas não paga o custo social do alcoolismo, nem as contas das hospitalizações, desnecessárias numa época economicamente recessiva. De acordo com um médico do trabalho que eu ouvi na semana passada e que preferiu não se identificar, a explicação para o fenômeno passa pelo problema do desemprego em massa, que ocorre atualmente em grandes indústrias de calçados de Franca e nas montadoras do ABC Paulista, cruza a política salarial, finalizando no baixo consumo patológico atual de proteína animal e vegetal. Certo é que o Brasil não possui estrutura econômico-hospitalar para suportar as complicações médicas que advirão do recrudescimento do alcoolismo em virtude da decadência progressiva do poder aquisitivo. As hospitalizações por complicações do alcoolismo são de altíssimo custo, repetitivas para o mesmo indivíduo, já que o consumo de álcool continua, na maioria das vezes, após a alta médica. Muitas dessas internações são de evolução fatal e de prognósticos sombrios. Na grande maioria dos casos a volta ao trabalho é simplesmente impossível. Se alguma coisa não for feita urgentemente, em breve o Brasil poderá se transformar em um País de alcoólatras. Para se ter uma idéia, nos Estados Unidos é a terceira doença que mais mata, só perdendo para o câncer e para as doenças do coração. O alcoolismo é irreversível, progressivo e de fins fatais. As estatísticas no Brasil indicam que para cada 42 viciados em álcool há um viciado em outras drogas também. A escalada do alcoolismo no Brasil é grande, aumentam as filas nos hospitais, a produção do País é atingida, as despesas com os doentes crescem e, por tudo isso, é preciso que se dê largos passos, urgentemente, em busca de solução para o problema.
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*Edward de Souza nasceu em Franca, é Jornalista e radialista. Trabalhou nos jornais, Correio Metropolitano, Diário do Grande ABC e O Repórter, da Região do ABC Paulista. Em São Paulo, na Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Gazeta Esportiva, sucursal de “O Globo”, Diário Popular e Notícias Populares, entre outros. Atuou na Rádio Difusora de Franca, Difusora de Catanduva, Brasiliense de Ribeirão Preto, Rádio Emissora ABC e Clube de Santo André; também nas rádios Excelsior, Jovem Pan, Record, Globo – CBN e TV Globo de São Paulo. Medalha João Ramalho, principal comenda do município de São Bernardo do Campo, outorgada pela Câmara Municipal daquela cidade pelos relevantes serviços jornalísticos prestados à região. Troféu PMzito, entregue pelo alto comando da Polícia Militar de Santo André por ter se destacado como o melhor repórter policial do ABC nos anos 70. Prêmio Sanyo de Rádio nos anos 80, como o melhor narrador esportivo do ABC Paulista. Menção Honrosa entregue em 2007 pela Câmara Municipal de Franca e outra pelo Rotary Clube Norte pela atuação brilhante na radiofonia da cidade. Participou da antologia O Conto Brasileiro Hoje, 7°, 8º, 9º e 10º edições, com os contos “Um Visitante Especial”, “Sonhos Dourados” “A Lua de Mel” e “O Sacristão”, além de diversas outras antologias de contos e ensaios. Assina atualmente uma coluna no Jornal Comércio da Franca, um dos mais tradicionais do interior de São Paulo.
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Desconheço o autor dessas pérolas. Se não me engano, certa vez li com a assinatura do amigo radialista Helio Rodrigues, hoje na Rádio Difusora de Franca. Mas, por certo, algumas outras frases vão sempre surgindo, eu mesmo acabo de acrescentar três novas e a gozação com os francanos continua. Para ocupar esta tarde no blog, resolvi postar essas pérolas imperdíveis, com o título:
SER FRANCANO É ASSIM...
1- Chama os amigos de Fiii (E Aí Fiii???);
2- Utiliza o 'im' no final das palavras (e ai Fiii, baunzim???)
3- Tem, ou conhece alguém que tem, um rancho;
4- Tem que explicar para as pessoas de outras cidades o que é um rancho;
5- As maiores baladas de sua cidade são num cirquinho;
6- Orgulha-se em dizer que Franca não tem só sapato... Tem mulher bonita, Gian e Giovanni, Rio Negro e Solimões, Canário e Passarinho e a sede do Magazine Luiza;

7- Conhece algum sapateiro desempregado;
8- Já foi a um jogo de basquete e torceu pra caramba comendo o "amendoim do Jubileu";
9- Já está enjoado da avenida Champagnat; menos do "Picanha na Tábua";
10- Já comeu rodizio de pizza no "Cascata";
11- Já foi num dos shows do Rod Hanna e não volta mais;

12- Sabe o que significa "pau de gozo";
13- Acha o pessoal de Ribeirão Preto um saco;
14- Já deu um presente da Dime Store para alguém;
15- Mora fora mas adora voltar pra terrinha e contar as coisas de outras cidades;
16 - Não vai aos jogos da Francana porque sabe que ela vai perder;
18- Passa o carnaval em cidades minúsculas;
19- Cursa ou conhece alguém que cursa Direito;
20- Sabe que a cidade tem um aeroporto com uma pista maior que a de Ribeirão Preto;
21- Não se preocupa com sequestros;
22- Fica feliz quando chega uma boate na cidade;

23- Tem que explicar para as pessoas de outra cidade o que é um curtume;
24- Compra blusa nova para ir a Expoagro;
25- Sabe o que é pinga no bambu;
26- Para saber as horas pergunta "quantas horas" e não "que horas são";
27- Já passou um final de semana num posto de gasolina;
28- Já comeu lanche no "Brutu's" ou no "Barba";
29- Morre de raiva quando vai para outra cidade e lhe perguntam se é mineiro;
31- Já pagou motel com desconto;
32- Sempre vai para Porto Seguro na semana do saco cheio e encontra vários amigos;
33 - Já ouviu falar na Gerarda Preta; Paulinho Chinelo, Geraldo Pelotão, Maria Capotinha, Toinzinho dá um pulinho, Valte da Viola (é Valte mesmo) e na Luzia.
34- Votou no PT, mas diz que nunca votou ou não vota mais;
35- Quase todo fim de semana vê um carro tombado dentro de um córrego;
36- Conheceu ou já ouviu falar do "Sossego"... Ave Maria, essa é demais... E não me perguntem quem era o "Sossego". Respondo só se for para homens.
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EDWARD DE SOUZA
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SAIBAM EM COMENTÁRIOS, QUEM ERA O "SOSSEGO", QUE ATÉ HOJE É LEMBRADO PELOS FRANCANOS. EDWARD DE SOUZA REVELA SUA IDENTIDADE.

domingo, 26 de julho de 2009

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO NESTE MUNDO

GANIDOS DE UM CÃO CHAMARAM A ATENÇÃO
DE DOIS GAROTOS QUE VOLTAVAM DA ESCOLA.
VALENTE, UM DELES APOIOU-SE NUMA MOITA
DE CAPIM ENQUANTO SEU COLEGA, AGARRADO
NA MOCHILA ESCOLAR, ESTENDIA
SUA MÃO AO CACHORRINHO AFLITO.
CONFIANTE, O CÃO ESTENDEU SUA PATA ESQUERDA
E FOI RETIRADO SÃO E SALVO DO RIO.
ANTES DE SEGUIR SEUS HERÓIS DESCONHECIDOS,
UMA ÚLTIMA OLHADA PARA AS ÁGUAS QUE QUASE
O TRAGARAM.

DOIS PEQUENOS HERÓIS
*
EDWARD DE SOUZA

Recebi, há alguns dias, e-mail de um amigo com quatro fotos e apenas algumas frases que diziam: “Edward, preste atenção na coragem desses dois meninos. Arriscaram a vida, quando voltavam da escola, para salvar um pequeno cãozinho”. Fiquei sensibilizado ao perceber que esses meninos não têm mais que dez anos de idade. Muitos, como esses dois, estão armados com pedras e estilingues matando pássaros ou então praticando atos de vandalismo na escola. Antes de publicar essas fotos no blog eu precisava de mais informações. Obrigatoriamente dar crédito às fotos. Retornei o e-mail fazendo algumas perguntas, mas o amigo nada sabia. Nem a cidade, muito menos o nome dos garotos ou do fotógrafo. Corri durante alguns dias a internet e nada encontrei a respeito desse caso. Nenhuma publicação. Mas, essas fotos teriam que ser mostradas. O exemplo desses dois garotos não podia ficar escondido. Foi então que resolvi publicá-las. Deixo em aberto o espaço para que o autor dessas fotos se identifique, assim daremos o devido crédito a ele como também poderemos obter mais dados sobre esses dois garotos extraordinários.
Neste mundo onde vivemos, no qual as pessoas cada vez mais valem pelos cifrões que têm, ou aparentam ter, e com tantas outras tentando tirar proveito das situações para se dar bem, não pude deixar de admirar e aplaudir a atitude heróica desses dois garotos que eu gostaria imensamente de conhecer e abraçar. Arriscaram a vida para salvar um pequeno cão desconhecido. Essa a impressão que se tem ao ver com calma essas fotos. O ato heróico desses dois garotos me fez pensar que, afinal, nem tudo está perdido nesse mundão de Deus. Ainda é possível ter algumas esperanças sobre o nosso futuro. Uma boa semana a todos vocês!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

J. MORGADO FAZ ANIVERSÁRIO NESTA SEXTA


ESPIRITISMO, SOCIEDADE E HIPOCRISIA

J. MORGADO


Para que possamos falar sobre esse tema, é necessário voltarmos a um passado muito remoto, ou seja, quando o homem ainda na sua inocente ignorância, não conhecia esse mal da civilização que é a hipocrisia. É Verdade que o orgulho, o egoísmo, a inveja, etc. se instalaram provavelmente desde o início do “homo sapiens” devido principalmente a luta do dia-a-dia pelo alimento, procriação, etc. Na medida em que o homem ia se desenvolvendo e se civilizando, formando os primeiros grupos, tribos, vilas, cidades e assim por diante, a hipocrisia foi se inserindo na moral de tal forma que o homem que detinha o poder de uma determinada comunidade usava escravos para provarem seus alimentos antes que ele os digerisse. A História é rica em fatos dessa natureza. Assim, o ser humano, pensando em se defender do semelhante, não hesitou em usar desse mal moral com assiduidade em todas as atividades em que se faz presente.
Há 2000 anos, Jesus pregou uma moral que mudaria completamente as mentalidades da sociedade de então. O amor pregado pelo Mestre que ultrapassava os limites familiares, ou seja, toda a humanidade era uma coisa estranha vindos de um judeu que julgavam ser o Messias tão esperado para livrá-los do jugo Romano. E, naturalmente, como mandava a tradição judaica, esse enviado de Deus viria com a força dos Exércitos e expulsaria os invasores para bem longe, transformando a nação numa poderosa potência.
Durante mais de trezentos anos os cristãos foram perseguidos e sacrificados, mas não deixavam de fazer prosélitos até que, graças a sua fé e constância, transformaram Roma em uma nação Cristã. Constantino I foi o primeiro imperador cristão. Nessas alturas dos acontecimentos, surgiu com toda a sua pompa a Igreja Cristã que só se chamaria Católica durante o Concílio de Trento realizado entre os anos de 1545 e 1563, subordinada a autoridade Papal. Tudo isso em razão da Reforma provocada por Martinho Lutero em 1517 e da proliferação das Igrejas protestantes criadas a partir de então.
A partir dos ensinamentos de Jesus, os valores morais lentamente começaram a mudar, tanto que seus ensinamentos se espalharam rapidamente por toda a Região, chegando a Europa. Mas, as guerras não deixaram de existir, a ganância não diminuiu, o egoísmo, o orgulho, o preconceito, a vaidade, a falta de escrúpulo, a luxúria, etc. não deixaram de permanecer apesar das verdades Evangélicas pregadas pelo Mestre e reconhecidas mesmo por aqueles que não eram cristãos.
Muitas advertências foram feitas durante todos esses séculos por pessoas possuidoras de espíritos adiantados, ou seja, missionários que aqui vieram para dar continuidade ao trabalho de Jesus. Templos religiosos foram erigidos por toda a parte e frequentados por Governantes, nobres, plebeus, etc. Conheciam de certa forma a moral pregada pelo Mestre, principalmente os 10 Mandamentos, o “Amar o Próximo com a Ti Mesmo” “Amar vossos Inimigos”, etc.
Mas, era entrar e sair. Ao entrar, oravam mecanicamente como se estivessem fazendo um grande sacrifício e ao sair montavam em seus cavalos e partiam para a guerra ou tramas que geralmente eram a conquista de outros territórios e o domínio de outros povos. A plebe, nome dado ao populacho da época não era diferente. Apesar de espezinhados, discriminados, explorados não agiam de outro modo ressalvadas as devidas proporções.
E assim continuou por séculos e séculos. A Revolução Francesa abriu uma questão de liberdade e Igualdade para ser discutida por todos os povos. Mas a hipocrisia falava e fala mais alto quando se trata de salvar interesses nacionais e principalmente particulares.
O orgulho e o egoísmo, que consideramos males morais terríveis, se colocam na ala de frente juntamente com a hipocrisia que, acredito eu, será a última a ser extirpado da raça humana. Esse defeito moral está presente em todos os momentos de nossas vidas. Em nossos lares, no trabalho, ou seja, em qualquer lugar que nos colocamos vinte e quatro horas por dia, inclusive nos Centros Espíritas, pelos seus seguidores.
Vejamos o que diz o Dicionário Aurélio sobre a definição da palavra Hipocrisia. [do grego hipokrisia] – Substantivo feminino 1 – Afetação de uma virtude, dum sentimento louvável que não se tem. 2 – Impostura, fingimento, simulação, falsidade. 3 – Falsa devoção.
Pois bem, a partir do advento da Codificação Espírita, a Moral Cristã ficou clara como um copo de água límpida. Em seus primeiros momentos espalhou-se pela Europa, graças à divulgação do Pentateuco e, em seguida, através dos seguidores e propagadores da Doutrina como Leon Denis e tantos outros. Com todas essas verdades, ou seja, esse código de moral, a hipocrisia continuou a campear com toda a sua energia. Mais guerras – Cuba, Primeira Guerra Mundial e tantas outras. E tudo isso em nome de Deus proferido de uma maneira totalmente hipócrita. Mas isso não se limita ao Mundo Ocidental. Está em toda a parte. Em qualquer lugar do Planeta. Mas, é na individualidade das pessoas que esse terrível mal está inserido de forma quase indelével. Eu disse quase porque nós espíritas acreditamos que não há nada que não possa ser mudado, através das reencarnações, e dia virá em que toda a humanidade poderá olhar francamente um nos olhos dos outros de maneira franca e sincera, sem usar de subterfúgios para driblar uma situação qualquer. Até quando sonhamos, usamos da hipocrisia para tentar inverter situações que tornem favoráveis os nossos desejos.
No romance psicografado por Divaldo Pereira Franco e ditado pelo espírito de Victor Hugo, “Párias em Redenção” – FEB – 3ª. Edição há um trecho que diz o seguinte: “Quando os homens se reconhecerem fracos e interdependentes uns dos outros; quando as nobres expressões da honestidade moral dirigirem os impulsos; quando os desejos grosseiros forem submetidos à reflexão e à competente disciplina; quando as máximas do Cristo se espraiarem além do Livro da Boa Nova para se incorporarem ao livro dos humanos de cada criatura; quando o amor deixar de ser uma utopia e for exercitado pelos indivíduos, a felicidade reinará sobre as vidas na Terra e o Reino dos Céus, estabelecido desde então, se alongará indefinidamente”.
Evidentemente não foram poucos os homens que tentaram destruir as Religiões da face da Terra. Entre os séculos 19 e 20 tivemos uma série de filósofos e pensadores materialistas que lançaram uma série de idéias, como o positivismo, o niilismo, etc., e esses movimentos conseguiram se infiltrar na sociedade e, o meio espírita não foi exceção.
Mas foi em meio dessa torrente de idéias materialistas que surgiu a Terceira Revelação, refazendo o Cristianismo na sua pureza. Foi como “água fria na fervura”. O despertar para uma Nova Era se fez presente. E, não tenham dúvidas, o mundo progredirá incessantemente com os homens ou apesar deles e a hipocrisia se afogará em meio ao amor que, então, trará a felicidade eterna.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

"ASSISTIMOS A UM MUNDO EM EXTINÇÃO"
NIVIA ANDRES
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A Caverna

A Caverna, do festejado escritor português José Saramago, é uma história de gente simples: um oleiro, um guarda, duas mulheres e um cão muito humano. Esses personagens circulam pelo Centro, um prédio de cinquenta andares onde os moradores usam crachá, são vigiados por câmeras de vídeo e não podem abrir as janelas de casa. Monumento do consumo, o Centro possui um shopping center com lojas, cinemas e teatros, um bingo, um cassino, jardins suspensos, um hospital e até uma muralha da china, tudo asséptico e sufocante, como convém a um símbolo da modernidade. É no Centro que trabalha o guarda Marçal. É para o Centro que seu sogro, o oleiro Cipriano, vendia a louça ordinária de barro que fabricava artesanalmente na aldeota em que vivia - agora, os clientes do Centro preferem pratos e jarros de plástico. Filho e neto de oleiros, sem outros ofícios na vida, Cipriano perde a razão de viver. E a convite do genro, muda-se para o Centro, essa verdadeira gruta onde milhares de pessoas se divertem, comem e trabalham sem verem a luz do sol e lua. Enquanto isso embaixo dos diversos subsolos de estacionamentos e frigoríficos, os funcionários do Centro descobrem uma estranha caverna. Driblando a vigilância, Cipriano consegue entrar lá dentro. O que descobre é aterrador. O oleiro, a filha e o genro retornam à aldeia: são salvos pela lucidez num mundo que se sustenta por sua própria cegueira.
Dois espaços físicos desiguais e opostos. Uma pequena olaria, um centro comercial gigantesco. De um lado a simplicidade, do outro a ostentação - um mundo em rápido processo de extinção, outro que cresce e se multiplica como um jogo de espelhos onde não parece haver limites para a ilusão enganosa. Este romance fala de um modo de viver que vai sendo cada vez menos o nosso e cujas consequências sobre a mentalidade humana são cada vez mais visíveis e ameaçadoras. Todos os dias se extinguem espécies animais e vegetais, todos os dias há profissões que se tornam inúteis, idiomas que deixam de ser falados, tradições que perdem sentido, sentimentos que se subvertem.
Uma família de oleiros compreende que deixou de ser necessária ao mundo. Como uma serpente que despe a pele para poder crescer noutra que mais adiante se há-de tornar pequena, o centro comercial diz à olaria: «Morre, já não preciso de ti». Em A Caverna José Saramago tematiza o processo acelerado de desumanização que estamos vivendo. Com os dois romances anteriores -Ensaio Sobre a Cegueira (1995) e Todos os Nomes (1998) – A Caverna forma um tríptico em que o autor deixou inscrita a sua visão do mundo atual, da sociedade humana tal como a vivemos. Não mudaremos de vida se não mudarmos a vida, eis a questão. A propósito da trilogia, Saramago comentou que têm, de fato, uma identidade própria. “Em primeiro lugar, do ponto de vista formal, são alegorias. Depois, têm todos um estilo mais sóbrio, mais direto, menos expansivo, menos "barroco". E, por último, de uma maneira mais ou menos metafórica, eles são o que chamo a diferença entre a estátua e a pedra. Diria que ao contemplarmos a estátua, não estamos a pensar na pedra que está para além da superfície trabalhada pelo escultor. Agora, já não é a estátua que me interessa, mas a pedra que a faz. (...) Estes três últimos livros são tentativas de ir além da superfície, ver o que está lá dentro e, provavelmente, perder-me no seu interior... O que me preocupa neste momento é saber: que diabo de gente somos nós?"
Para Saramago, "a literatura sempre tem algo importante para dizer num mundo como o atual, onde o ser humano é a coisa mais descartável que há". "Perdemos o sentido do protesto, o sentido crítico, parece que vivemos no melhor dos mundos possíveis", disse. "Vivemos rodeados de inseguranças: insegurança na sociedade, no trabalho, na vida diária", acrescentou. A Caverna não é um manifesto político nem ideológico, mas um romance", disse Saramago, acrescentando que a obra apenas pretende que pensemos para onde vamos. Saramago assegurou ainda que "a globalização econômica é uma nova forma de totalitarismo e que a democracia é um ponto de partida e não de chegada". Em sua opinião, quando os cidadãos creem que a têm, é quando começam a perdê-la. "Assistimos a um mundo em extinção. O único lugar seguro são os shoppings que, curiosamente, não têm janelas. E um lugar sem janelas é uma caverna". O texto completo de A Caverna pode ser encontrado na internet, no endereço:
http://www.esnips.com/doc/a0611a51-6294-415b-913c-ccd990631016/José-Saramago---A-caverna-(rev), assim como outros títulos de Saramago: Todos os Nomes, Terra do Pecado, O Homem Duplicado, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, O Conto da Ilha Desconhecida, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Memorial do Convento, Manual de Pintura e Caligrafia, Levantando do Chão, História do Cerco de Lisboa, Folhas Políticas e A Jangada de Pedra. Leitura boa e gratuita. Aproveitem!
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008.

Acesse o blog da jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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terça-feira, 21 de julho de 2009

"O HOMEM É ESCRAVO DE SI MESMO"
VIDA MODERNA

Você sabia que há 24 anos o brasileiro trabalhava apenas 42 horas por semana e hoje esse número atinge cerca de 51 horas de jornada de trabalho semanais? Atualmente 82% dos brasileiros nos centros urbanos admitem que o nível de ansiedade subiu nos últimos anos e com ele os índices de stress e de cansaço físico e mental. A vida moderna mostra indícios jamais vistos antes em toda história da humanidade. Cada vez mais as pessoas vão ocupando seu dia somente com tarefas e afazeres e esquecem o lazer. O tempo está se reduzindo tanto que nem sempre é possível fazer o que se gosta ou ainda, o pouco que se precisa. Em uma sociedade extremamente capitalista o Homem está se tornando cada vez mais o alvo de seus próprios interesses e de suas ambições. As pessoas sem perceberem estão se tornando escravas de si mesma. Vivemos num mundo acelerado, com inversão de valores muito feroz e uma mudança de conceitos, sobretudo morais, contundente. As culturas se misturam, os velhos sótãos se abrem para um mundo claro e nu. A dor impera e a cada dia que passa ela vai tomando conta da Terra. Guerra, desavença, etnia, politicagem, picaretagem e assim vai. Para piorar tudo, ainda assistimos um sujeito ganhar um Big Brother e se tornar autoridade para opinar sobre tudo. Até sobre física quântica se quiser. Juntando isso tudo, imagine o que uma criança de 10 anos acrescenta em seu começo de vida?
Não há ídolos, não há privacidade, não há respeito e a água está acabando. As drogas estão mais fortes e a demanda por elas é cada vez mais clara. Nossa reação beira a indiferença.
Um passado não tão distante as pessoas viviam em chácaras, fazendas, sítios, distantes da correria, mas onde a qualidade de vida é incomparavelmente superior a de hoje. A paz e o sossego encontrados antigamente nesses lugares, que nos proporcionam um contato direto com a natureza, os rios, o vento suave que entra pela janela, o pôr-do-sol único, perderam espaço para os computadores, os celulares, o escritório, as obrigações com entregas, com prazos, a falta de tempo, o note-book, enfim... Hoje o mesmo Homem que tanto lutou e ainda luta pela modernização da sociedade olha para trás com a vontade de voltar o tempo, de recomeçar, de resgatar o que foi perdido: aquela vidinha pacata, mansa, mas muito mais prazerosa de se viver. O refúgio de muitos hoje em dia é o isolamento total, a fim de buscar o equilíbrio da mente e do corpo. Uma tentativa muitas vezes frustrante de reencontrar tudo aquilo que há tempos foi deixado para trás, e tudo isso pela tão sonhada "vida moderna" que nos circunda. Mas é preciso muito mais do que saudade de tudo isso, pois o passado não volta mais. O tempo não pára para que possamos reconstruir a história. A realidade é uma só: cada um é dono de si mesmo. E por isso, depende só de você mudar seu presente para que seu futuro seja tão bom quão foi o passado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

LITERATURA & MEMÓRIA. E JORNALISMO...

ADEMIR MEDICI
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Início dos anos 1970. O “Jornal da Tarde”, na sua fase pioneira, de tanto sucesso entre os estudantes de Jornalismo, principalmente, publicava uma reportagem especial de página dupla com o título “A crônica está morrendo”. Falava dos grandes jornalistas que se especializaram na área, acentuando a importância de Otto Lara Rezende, Rubem Braga, Vinicius de Morais, etc. E analisava a questão da objetividade da mídia impressa, a tal de imparcialidade da notícia, o “lead” importado da imprensa americana, das celebres questões que deveriam estar acomodadas e reunidas no primeiro e/ou segundo parágrafos de qualquer notícia: quem, quando, como, onde e porque.
Na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero aprendíamos estas coisas. A fórmula da pirâmide numa reportagem especial, das informações básicas das primeiras linhas de um texto e a narrativa do fato nas laudas seguintes. Devíamos, em especial no chamado jornalismo informativo, evitar a alternativa da pirâmide invertida, isto é, deixar para o final, a informação mais importante, tal e qual as novelas de antigamente e de todo o sempre. Ensinava-se: “O leitor moderno tem pressa, não tem tempo a perder”.
Numa reportagem especial, quando muito, poderíamos utilizar a regra da pirâmide mista: o “lead” na cabeça e a história contada a seguir. O jornalismo dividia-se em três: informativo, interpretativo e opinativo, este último reservado, no mais das vezes, ao editorial, que encerrava a opinião do próprio jornal. Estes ensinamentos provocavam grandes debates em sala de aula: nós, alunos, discutindo e duvidando da isenção do profissional que elabora uma notícia, por mais simples que seja; os mestres pregando a objetividade.
Vários dos colegas de classe já estavam na labuta das redações. Um deles era setorista do JT no Corinthians e havia brigado com a direção do clube por ter pegado muito no pé de um time que não ganhava um campeonato de importância desde o IV Centenário de São Paulo. Vibrávamos com as suas histórias, narradas aqui e ali pelos corredores da Gazeta. Às segundas-feiras os alunos ligados ao futebol assistiam às aulas até às 9 da noite. Depois subiam dois andares para acompanhar nos estúdios o programa semanal esportivo que analisava a rodada anterior. Ali, sim, se fazia jornalismo, e não na faculdade... Era o que mais se falava. Outra polêmica era provocada pelo Vicente Leporace, com o seu programa “O Trabuco”, da Rádio Bandeirantes. Era ética a ação do radialista, de recorrer basicamente ao noticiário dos jornais para fazer os seus ácidos comentários matinais? Não era muito cômoda esta prática do “gilete press”? Por que a rádio não investia mais na sua própria equipe de repórteres?, sem ter que recorrer sempre aos jornais e abrindo mais espaço a uma mão-de-obra faminta para mostrar a sua força.
Tínhamos os professores literatos. Um deles, do tipo “show”, vivia apregoando as virtudes de um Machado de Assis. Eu adorava o professor de Literatura Brasileira, José Geraldo Vieira, o “Vieirinha”, já velhinho, cabeços brancos. Ele nem completava o número de minutos de cada aula. Chegava, dava o seu recado, mergulhava em reminiscências deliciosas e despedia-se meia hora depois – deixando uma vontade na vida da gente: que a semana passasse depressa para podermos ouvir novamente as suas histórias.
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JOSÉ GERALDO VIEIRA (1897-1977). Obras referenciais: “A ladeira da memória”, “A quadragésima porta”, “Território humano”, “A túnica e os dados”, “Terreno Baldio”.
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Num dos trabalhos em equipe levamos o autor Emil Farah à sala de aula. Ele havia terminado de escrever o livro “O país dos coitadinhos”, e foi muito bom ouvi-lo durante toda uma aula. Politicamente, havia algumas disputas naqueles tempos de ditadura militar e censura: a briga do pessoal da noite com o da manhã pelo conquista do diretório acadêmico. A turma da noite bolou a chapa “Corujão”, cheia de bossa e cartazes, que ganhou a parada e dominou o diretório.
Outra briga era com a direção da escola. Dizia-se: “só tem cara do TFP no comando”. Havia uma unanimidade: a faculdade de jornalismo só serve mesmo para a obtenção do “canudo” – e com ele o registro de jornalista profissional no MTPS, obrigatório ao exercício da profissão desde 1969. Todos concordavam: jornalismo a gente aprende é na redação de um jornal.
Lembro de um desentendimento que tive com o tal professor do “Machado de Assis”. Suas observações num trabalho qualquer não me convenceram. Discuti o assunto, na redação do Diário do Grande ABC, com o secretário, José Louzeiro, um ídolo pra nós todos pela sua formação de repórter e escritor. E o Louzeiro, ranzinza e tudo o mais – só do lado externo do coração – ficou do lado da gente, rabiscando algumas linhas no próprio trabalho e lascando o malho no professor. Este nem respondeu. Dizíamos: “Como é que um professor de faculdade de jornalismo vem dar aula sem nunca ter pisado numa redação de jornal”?
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JOSÉ LOUZEIRO. Maranhense. Mora atualmente no Rio de Janeiro. Obras referenciais: “Lúcio Flávio, passageiro da agonia”, “Aracelli, meu amor”, “Biografia de Elza Soares”.
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Devorávamos as reportagens do JT, de tantos ídolos. E agora estávamos diante daquele material especial sobre a crônica, que estava morrendo. Estava?
Lourenço Diaféria era leitura obrigatória no “Folhão”. Houve aquele caso em que ele peitou as Forças Armadas dizendo que o sargento que salvara uma criança no zoológico de Brasília dos ataques de uma ariranha – que lhe custou a própria vida – era muito mais herói que o próprio Duque de Caxias. A censura caiu matando e pelo menos um dia a “Folha” deixou em branco o espaço do cronista censurado na última página do caderno de variedades.
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Paro por aqui. O relato prossegue. Não é novo. Usei-o numa palestra sobre literatura alguns anos atrás. A íntegra do trabalho está reunida em livro. Lembrei-me dele nesta segunda-feira quando o nosso editor, Edward de Souza, pediu socorro para alguns textos nesta semana em seu Blog.
Já havia lembrado do texto quando alunas da minha “Cásper Líbero” se manifestaram nesse mesmo Blog sobre seu cotidiano de acadêmicas. E achei que seria justo passar a ela alguns dos pensamentos que a gente tinha numa geração ou duas anteriores a delas. Hoje entendo que algumas certezas do tempo de estudante são questionáveis. Acho que o professor que defendia o Machado de Assis – Ciro Nepomuceno – estava certo. Penso que deveria ter levado mais a sério o curso de Jornalismo, que é importante – defendo-o hoje, assim como o diploma profissional. Mas, enfim, aí está a narrativa de um repórter que volta à juventude. Pelo menos serve de calhau ao blog que nos une.
PS – Não deixem de ler José Geraldo Vieira, em especial “A Ladeira da Memória”.
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*Ademir Medici é jornalista e escritor, formado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalha na imprensa do Grande ABC desde 1968 e especializou-se na área de resgate e reconstituição da memória. Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Possui um acervo de 32 livros escritos, sendo 24 publicados e oito inéditos. Ademir também ganhou, em 1976, o Prêmio Esso de Jornalismo, em parceria com o jornalista Édison Motta, pela série “Grande ABC: A metamorfose da industrialização”. Atua no jornal Diário do Grande ABC desde 1972. Foi repórter especial, editor de Cidades e Política e secretário de Redação. Atualmente é responsável pela coluna Memória, uma das mais lidas do jornal e do quadro "MEMÓRIA", no programa "ABCD Maior em Revista".
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domingo, 19 de julho de 2009

BARRA DOS GARÇAS, A BOCA DO SERTÃO

UMA PESCARIA FRACASSADA
PARTE FINAL

J. MORGADO

Bem amigos (as), no final do capítulo de ontem já estávamos em Aragarças, às margens do ainda tímido Rio Araguaia. Iniciava-se alí a segunda parte de nossa aventura. Barra do Garças, na época, era uma cidade em ebulição. Pequenos municípios e lugarejos num raio de centenas de quilômetros dependiam daquela que poderia se chamar “boca do sertão”.
Não gostei quando o amigo dos meus companheiros ficou surpreso com nossa presença. Notava-se pela expressão de seu rosto que ele havia exagerado na dose, ou seja, nos barcos prometidos, na condução para chegar até o local, etc. De qualquer forma, ele nos atendeu com presteza. Hospedou-nos em sua casa e desapareceu por algum tempo!
Horas depois disse que estava tudo arrumado. No dia seguinte, com uma camionete emprestada, depois de providenciarmos combustível e alimentos, entre outros itens, iniciamos a viagem. Cerca de 150 ou 170 quilômetros nos separavam da barranca do rio Corrente, na região de Nova Xavantina. Engolimos um bocado de pó. Quatro ou cinco horas de viagem e lá estávamos. Passamos por algumas fazendas em formação. Gaúchos, paranaenses e mineiros. A derribada do cerrado para o plantio de arroz e soja começava. Os mineiros se contentavam com a criação extensiva de gado bovino. O rio Corrente que não consta na maioria dos mapas, é um afluente do rio Pindaíba que por sua vez desemboca no das Mortes. Na barranca do rio, dois barcos, um em péssimas condições e o outro em condições ruins. O tal amigo disse que apesar do aspecto, as embarcações davam para viajar. Olhamos um para o outro e, mudamente resolvemos arriscar! Só os fanáticos caçadores e pescadores para se expor a perigos imprevisíveis como esse!
A paisagem e a beleza do rio nos enfeitiçaram. O amigo da onça ali nos deixou com a promessa de voltar uma semana depois. Acampamos. Partiríamos no dia seguinte. Ali mesmo, pegamos alguns pacus, pequenos na verdade, mas que deram um ótimo jantar. Pela manhã, o motor foi engatado no melhor dos barcos. O outro seguiria corrente abaixo com o controle de varejões. A correnteza era razoavelmente forte, as águas transparentes e o fundo do rio pedregoso. Na volta, o barco seria rebocado. Eu segui com o italiano, que pilotava o barco. Apesar de meus avisos, o companheiro insistia em manter uma velocidade acima do que a situação permitia. De quando em quando, fazíamos uma parada para esperar o outro barco. A carga estava dividida. Barraca e toda uma parafernália para o mínimo de conforto. A viagem ia bem até que o apressado do piloteiro, com sua incompetência e desatenção aprontou!
O pequeno rio era cheio de curvas. Corrente forte (daí seu nome), apresentava muitas galhadas e paus avançando das margens. E foi numa dessas curvas que uma dessas galhadas nos surpreendeu! O barco bateu feio! O canal se apresentava violento! Praticamente quase toda a água descia por um estreito de pouco mais de seis ou sete metros. O piloteiro (o italiano) caiu e ficou na parte rasa. Eu, não tive a mesma sorte. O barco afundou! Agarrei-me a galhada! Queria sair nadando, mas estava por demais vestido, coisa que sempre evitava quando embarcado. Porém havia parado algum tempo antes a fim de caçar um mutum que havia piado. A caça seria o jantar daquele dia. Botas, cinturão com cartuchos, entre outras coisas, atrapalhavam meus movimentos! Domênico, já na margem direita, buscava uma forma de me socorrer! Foi ai que encontrou um cipó salvador! Lançou-o, uma, duas vezes. Na terceira consegui agarrá-lo, saindo daquela situação desagradável. O outro barco com os outros dois companheiros chegaram logo em seguida. Juntos, com cordas e muito esforço, conseguimos içar o barco afundado. Comestíveis, material de pesca, meu óculos entre outros itens ali ficaram. Ainda bem que tínhamos dividido o material. Assim, o combustível e mantimentos tinham sido preservados, O café? Foi pro fundo daquela “linda” correnteza.
Não podíamos mais prosseguir viagem. O motor precisava ser desmontado. Era necessário secar suas peças. Coisa de alguns dias. Restou-nos escolher uma barranca alta logo abaixo e ali acampar. Sem material de pesca e com poucos cartuchos intactos de munição que teriam de ser gastos parcimoniosamente ali ficamos jogando truco, esperando que o motor estivesse em condições de nos levar de volta.
Uma manhã, um lindo espetáculo se nos deparou. Uma subida de cacharas (pintados) tomava todo o leito do rio. Os peixes pareciam ter o mesmo tamanho (cerca de 40 a 50 centímetros). As águas límpidas e rasas daquela corrente eram como uma tela de cinema passando um filme sobre belezas naturais. Uma fisga de quatro dentes de aço tinha sido salva. E foi com ela que fisgamos um bom número de peixes. O cardápio enriquecia-se com aquela pescaria tão oportuna.
Finalmente, o motor voltou a funcionar. Desmontado o acampamento e carregado os barcos, começamos a subir o rio. Foi um sacrifício insano. O rio muito baixo dificultava a ação do motor. Da partida até a chegada ao nosso destino inicial, 39 pinos se quebraram. Cada vez que um pino se quebrava tínhamos que descer e segurar o barco para a troca. Era perigoso! Apesar de um rio de águas claras e correntosas, podia se avistar vez ou outra, as perigosas e venenosas arraias.
Finalmente chegamos! E agora? Cadê o tal amigo? Acampamos. Em lugar não muito distante, na vinda, encontramos uma fazenda. O Oswaldo e o Lúcio saíram em busca de ajuda. Horas depois, voltaram com uma camionete dirigida por um dos fazendeiros. Alegria! Tralha embarcada, e lá fomos nós para a fazenda. Ao chegarmos, fomos atendidos por uma senhora bastante gentil. A casa, toda de madeira, era bem típica de quem está começando uma fazenda. Fogão à lenha, amplos cômodos. Gaúchos que estavam se estabelecendo. A mulher, prontamente nos serviu um café em canequinhas de ágata. Eu, cara de pau, há uma semana sem tomar café (o nosso se perdeu no naufrágio), corri em direção a minha mochila e de lá peguei minha caneca de ¼ de litro. Com olhos de peixe-morto, roguei à cabocla: ”por favor, encha minha caneca”.
Acampamos ali e, no dia seguinte, retornamos a Barra do Garças de carona, graças a boa vontade daquela gente boa. Ao chegarmos a Barra, nos dirigimos até a casa do tal amigo. Adivinhem o que estava acontecendo? O cara estava internado no hospital com um ataque de malária! Nós o visitamos, agradecemos e nos despedimos. A volta se deu por outras estradas, passando por Goiânia, capital daquele lindo Estado. Lindas paisagens, a balsa sobre o rio Claro, etc. Não há fotos desta aventura. A máquina, uma Olympus, ficou danificada ao mergulhar junto com o barco. Restaram as lembranças de uma aventura e de pessoas que conhecemos nessa pescaria desastrada!
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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sábado, 18 de julho de 2009

UMA PESCARIA FRACASSADA
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Primeira parte
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J. MORGADO

Truco! Seis! Ladrão dos meus tentos! Esse jogo de cartas tão a gosto do pessoal do interior e nas barrancas dos rios, durante as pescarias, já durava mais de cinco dias dentro de uma tenda armada na barranca do Rio Corrente, afluente do Rio das Mortes. A cidadezinha mais próxima era Nova Xavantina, em Mato Grosso. Um acidente poucos dias antes, fizera com que a pescaria virasse um torneio de truco entre quatro amigos. Isso aconteceu em julho de 1973. Dois meses antes, eu havia sido procurado pelos outros três aventureiros, um italiano de nome Domênico, o Osvaldo e o Lúcio, todos moradores em Santo André-SP. Eu era bastante conhecido por causa da minha coluna semanal sobre pesca esportiva publicada na Seção de Turismo do Diário do Grande ABC. Frequentemente pescadores da região me procuravam para participar de suas excursões piscatórias. Aceitei o convite e a sugestão de que o destino seria o Rio Corrente. Esclareceram que no Município de Barra do Garças (MT), havia um amigo (deles) que tinha se prontificado a arrumar as embarcações. O motor de popa e o veículo, uma Variant do ano, eram dos meus novos amigos. Acertado os detalhes sobre data e demais “salamaleques”, faltava apenas traçar o roteiro para a viagem. E isso caberia a mim. Assim, no início do sétimo mês daquele ano, logo de madrugada, saímos de São Bernardo do Campo, rumo a mais uma aventura.
Rodovias Anhanguera, Washington Luiz, Brigadeiro Faria Lima, passando por Jaboticabal, Barretos até o Rio Grande, divisa entre São Paulo e Minas Gerais, foi o trecho inicial percorrido. A seguir, pela BR-050, Uberaba e Uberlândia. A partir daí, o cerrado com toda a sua exuberância, intocável, com sua fauna, riachos cristalinos e rios caudalosos. Mas, esperem um pouco... Isso foi em 1973. Tudo acabou! Cana, soja, etc. O cerrado? O cerrado... Sumiu! Ficaram os rios, acho eu!
Do entroncamento – Uberlândia – Brasília – Ituiutaba – seguimos em direção a esta última cidade e fomos adiante até alcançarmos a divisa com o Estado de Goiás, onde o Rio Paranaíba, mais abaixo, encontra-se com o Rio Grande, formando o majestoso Rio Paraná, despejando suas águas de mais de 500 metros de largura em um canal que não passa dos 80. Águas turbulentas e profundas. Outra maravilha da natureza desaparecida em nome da evolução ou da ganância...
Desde o entroncamento, a estrada era de terra e assim prosseguiria até o destino final. O cerrado, com sua flora típica, árvores retorcidas e floridas e animais silvestres encantavam-nos. O pescador amador é antes de tudo um amante da natureza e se aborrece quando tudo isso desaparece. No caminho, boiadas com seus boiadeiros. O berrante à frente. Quem viajava por essas estradas sabia com algumas horas de antecedência, que no caminho encontraria uma boiada. O “maleteiro”, um peão com sua animália carregando malas e engradados, se adiantavam algumas horas. Era o cozinheiro. No local destinado, geralmente a beira de um rio ou riacho, a bóia fumegante.
Depois de mais de 900 quilômetros percorridos, “arranchamos” em uma fazenda entre os municípios de Cachoeira Alta e Caçu, em Goiás. O dono da fazenda era meu amigo e lá ia eu ter vez outra passar alguns dias. Era época em que as perdizes, jaós e inhambus começavam a cantar. Seu canto era para atrair as fêmeas para o acasalamento. Suas “vozes” soavam de maneira como que nostálgica ou melancólica. Que saudade!
Pela manhã, partíamos. Centenas de quilômetros nos separavam do objetivo. Muitas alegrias e surpresas nos aguardavam durante o percurso. Os postos de gasolina em que abastecíamos a nossa Variant eram movidos a manivela. Sim, a manivela, não havia energia elétrica nessas estradas do sertão. A Variant estava pesada, além dos quatro marmanjos, toda a bagagem e mais um motor de popa. A conversa entre nós girava em torno de caçadas e pescarias. A cada animal silvestre que surgia na estrada era um frenesi. Veados, tamanduás, tatus, irararas, lagartos, etc. eram uma constante. Infelizmente, tudo acabou! E os culpados não foram os caçadores. A soja, a cana e sei mais lá o que, tomou conta de tudo. O cerrado, pobre cerrado... O bicho homem comeu! Os bandos de araras vermelhas, azuis... Maritacas, periquitos, papagaios, tucanos, coloriam o espaço a nossa frente! Procurávamos evitar que outro veículo passasse a nossa frente, se bem que eram poucos. O pó era terrível. Quando isso acontecia, as janelas eram fechadas senão teríamos que cuspir barro. Passamos por vários lugarejos com nomes interessantes. Lembro-me de termos feito refeições em Piranhas. Um pequeno município de Goiás. Caiapônia, entre outros lugares na região, começava a se desenvolver. Viajávamos entre as duas grandes bacias hidrográficas, a Platina e a Amazônica. Ora encontrávamos rios correndo para o sul, ora para o norte.
Enfim, chegamos a Aragarças, as margens do ainda tímido Rio Araguaia. Essa cidade foi outrora (se não estou enganado 1957/58), palco de uma rebelião militar, que como tudo aqui no Brasil, acabou em pizza. Do outro lado, Barra do Garças, município mato-grossense. Local onde estabelecemos contato com o tal amigo. Mas, essa segunda parte de nossa aventura eu conto amanhã, domingo, aqui no blog do Edward de Souza, prometo...
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

HISTÓRIAS DE UM AMIGO QUE NOS DEIXOU

OSWALDO LAVRADO
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Rubens Fenili, o Rubão, da Folha de São Paulo
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No dia de ontem, quinta-feira (16), ao abrir a página 2 do caderno "Setecidades" do Diário do Grande ABC, como faço todos os dias, para acompanhar a saborosa coluna Memória do nosso Ademir Medici, levei um susto. Mesmo antes de bater os olhos na manchete da página deparo com três fotos de rostos por demais conhecidos. Acima, o título: "Rubens Fenili, mas podem me chamar de Rubão...”
Rubens Fenili morreu no último dia 9, feriado paulista. Competente fotógrafo profissional, requisitado e respeitado em todos os espaços, Rubão, apesar do aumentativo, era magro, fininho e não passava de 1,70 de altura. Uma figura impar, amante do rock e do Corinthians. Prestou relevantes serviços à Câmara Municipal de São Bernardo e mais ainda ao jornal Folha de São Paulo. Culto, irreverente e polêmico, Rubão tinha acesso livre em todas as camadas sociais aqui no Grande ABC. Conheci o italiano, sua origem, lá pelo começo dos anos 70 quando ingressei na Imprensa. À época ele já era macaco velho nos labirintos da profissão onde a maioria dos focas, como era meu caso, tropeçava e batia cabeça. Talvez por temperamentos próximos ficamos amigos em curto espaço de tempo.
No começo dos anos 70, deixei o Diário do Grande ABC, em Santo André, e fui para a Rádio Diário, do mesmo grupo do jornal, em São Bernardo. O contato com Fenili não sofreu solução de continuidade porque o fotógrafo da Folha de São Paulo tinha entre seus melhores amigos Rolando Marques, editor de jornalismo da rádio e citado neste blog inúmeras vezes. Rubão teve em um episódio da minha vida significativa importância para que tudo acabasse da melhor maneira possível. Em 1976, um fim de tarde de sábado, voltava da sede do clube Fundação, em São Caetano, onde passei o dia batendo um barulhento truco de parceiro com o prefeito Walter Braido (falecido em novembro passado), contra seus assessores Mariano Gutierrez (também falecido em 2008) e Antonio José Dal’anese, que seria prefeito de São Caetano nas décadas 80/90.
Na direção de meu Opala amarelo, quatro portas, câmbio no volante e ano 74, subia a rampa do viaduto dos Autonomistas, sobre a estrada de ferro que divide o Centro de São Caetano e o Bairro Fundação, quando tive um pequeno entrevero com o motorista de uma Rural Willis. Não houve batida entre os veículos, porém o rapaz da Rural decidiu não deixar barato o que entendeu ser uma provocação. Já na Rua Conselheiro Antonio Prado, que margeia a estrada de ferro, o cidadão resolveu fechar a passagem, forçando minha parada. Quando desceu percebi que se tratava de um policial militar, pois estava fardado. Fiquei no meu Opala esperando. Furioso, o PM chegou até onde eu estava e, irado, passou a me agredir. Colocou o corpo para dentro do meu carro e arrancou as chaves do contato. Defendi-me como podia até o instante em que um soco do celerado acertou em cheio meu supercílio esquerdo que sangrou. Fiquei possesso e empurrei a porta na tentativa de prensar o agressor contra a Rural dele, mas o cara esquivou-se, foi até seu carro e voltou de revólver em punho. Desesperado, tentei ligar meu Opala para cair fora dali, mesmo que tivesse que passar sobre o brutamontes, mas a chave não estava no contato; o PM havia tirado um pouco antes. Fechei a porta e o rapaz batia com o cabo da arma no pára-brisa. Algumas pessoas que assistiam a patética (ou dramática) cena tentavam acalmar o policial, mas eram por ele ameaçadas com a arma. Então chegou um carro de polícia. Dois agentes desceram do fusquinha vermelho e preto, cores da época, e foram direto ao meu agressor, agora mais calmo. Conversaram e determinaram que eu os acompanhasse até a delegacia, cerca de uns 500 metros do local. Um deles pediu meus documentos e mostrei a carteira de Imprensa. Mesmo com minha camisa suja de sangue e transtornado ouvi o PM murmurar ao agressor: "Sujou, o cara é jornalista e tá cheio de gente ai a favor dele". Fomos para o 1º DP, na Avenida Goiás. Fiquei numa sala e o PM em outra com o delegado de plantão daquele sábado, Luiz Marinaro. O policial de sobrenome Cabrera contou sua versão. Após um belo chá de cadeira, a autoridade me chamou e determinou: “O senhor pode ir embora", e devolvendo meus documentos, acrescentou: "deixa tudo isso pra lá". Pedi para telefonar, mas o delegado não permitiu. Peguei os documentos e a chave do carro e parei no primeiro orelhão que encontrei. Liguei para a Rádio Diário e o Rolando Marques atendeu: "Onde você está "?, perguntou. Nervoso, respondi: "Estou em São Caetano. Fui agredido por um policial, coagido por um delegado e estou com o rosto sangrando". Rolando sugeriu que eu fosse ao PS de São Caetano e lá aguardasse. Meia hora depois ele, Rolando, apareceu no Pronto-Socorro acompanhado do Rubens Fenili, o Rubão. Fiz exame de corpo de delito e voltamos à delegacia. Já era noite, tipo 20h, e o delegado havia terminado seu plantão. Fomos então ao 1º Batalhão da PM, em São Bernardo, responsável pelo destacamento de São Caetano, onde fiz um boletim de ocorrência. O coronel Oswaldo Machado, que nos atendeu, disse que iria precisar de testemunhas para confirmar onde eu estava, o que fazia, se eu era gente boa e blá, blá, blá. Arrolei o prefeito de São Caetano, Walter Braido e meus companheiros de mesa de truco. Era minha intenção envolver o parcial delegado de São Caetano na denúncia e acabei conseguindo já que, fiquei sabendo depois, o Braido não ia com a cara do majorengo, que também morava em São Caetano.
Dias depois, recebi, na rádio, um telefonema do PM Cabrera ameaçando: “Olha, se você não retirar esse BO que está no comando algo de ruim pode lhe acontecer. Sei onde você mora em São Caetano e que é casado e tem uma filha. Sei também de seus pais que residem na Vila Gerty". Fiquei preocupado e, agora entra novamente o Rubão da Folha na história. Por sua sugestão voltamos ao comando da PM em São Bernardo. Contei o que estava ocorrendo e fui aconselhado a encerrar o caso, as ameaças seriam esquecidas e seria melhor para todos. Inconformado e não aceitando a sugestão, Rubão deu um murro na mesa de um sargento e berrou: "Ninguém vai afinar e muito menos abafar o caso. O Lavrado foi agredido, humilhado e está sendo ameaçado; a coisa não pode ficar assim". Um graduado berrou: "Cala a boca, pois pode sobrar também para o senhor". Enfurecido, o fotógrafo da Folha respondeu: ”Acompanho o caso desde o começo e não estou aqui para barganhar; se for preciso mobilizo agora mesmo toda a imprensa de São Paulo e a gente vê no que vai dar". Exigiu ainda que durante o processo administrativo uma viatura da PM ficasse defronte a casa onde eu morava, como velada proteção à minha família, no que foi feito. O processo prosseguiu, o policial foi punido de acordo com os padrões militares, o comando da PM enviou-me um ofício e outro à Rádio Diário comunicando das providências tomadas. Nunca mais vi o PM Cabrera e nem o delegado empombado que, segundo o prefeito Walter Braido havia me informado, foi cantar em outra freguesia. Rubão faleceu agora em 9 de julho, 15 anos depois, no mesmo dia da morte do nosso outro amigo-irmão Rolando Marques. O corpo de Fenili foi cremado no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo, ao som de rock, porque ele era fã número um de Elvis Presley e coberto por uma bandeira do Corinthians. Até seus últimos dias morou na Rua Martini, travessa da Avenida Caminho do Mar, em Rudge Ramos, São Bernardo. Descanse em paz, Rubão.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista. Trabalhou no Diário do Grande ABC - rádio e jornal - e dirigiu por 10 anos a equipe de esportes da Rádio Diário. Recebeu a Medalha João Ramalho, segunda condecoração em importância concedida pela Câmara de São Bernardo, por organizar, junto com a equipe de esportes da Rádio Diário do Grande ABC, duas edições da Copa Infantil de Futebol, que reuniu cerca de 1.7 mil jovens entre 7 e 14 anos.
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Foto: Rivaldo Gomes/DGABC (2004)
COLUNA MEMÓRIA
DIÁRIO DO GRANDE ABC
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ADEMIR MEDICI
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Uma pena que as gerações passem e os nossos valores sejam esquecidos. Mas quem conheceu Rubens Fenili (foto), o Rubão da Câmara e da Folha, terá conhecido um jornalista e repórter fotográfico que não conseguia separar o seu trabalho profissional do humano. Até por isso Rubão foi um excelente companheiro jornalista.
Fixemos um período: anos 1980. O Grande ABC talvez vivesse a sua década mais rica em termos de imprensa, com o nosso Diário e várias sucursais e correspondentes dos grandes jornais brasileiros. Rubens Fenili fazia o seu trabalho de fotógrafo da Câmara de São Bernardo, cobrindo as sessões solenes e mil cerimônias oficiais, mas a figura de repórter fuçador era vivida como correspondente do Grupo Folha, que envolvia não apenas a Folha de S. Paulo como os jornais Notícias Populares e Folha da Tarde.
Na cobertura do cotidiano, Rubão transformava-se em líder de todos nós, dividindo gostosamente as suas descobertas na cobertura policial e numa atividade que fervia, a sindical. Memória publicou uma foto de Lula e seus companheiros de diretoria numa grande mesa do DOPS, à espera de audiência. Ao fundo, os jornalistas Roberto Baraldi (do Diário) e Rubão, o "italianinho" ferrarista, olhos atentos, sorriso desbocado: "O que será desses sindicalistas?", parecia indagar Rubão.
Margarete Acosta (ex-Diário) agora estava em O Globo; Edison Motta no Jornal do Brasil, Edward de Souza no sistema Globo - Excelsior de Rádio, Hildebrando Pafundi no Estadão, José Roberto Marques na Rádio Bandeirantes e Rubão ligando a todos para passar a última. O jornalismo do Grande ABC devia mais uma a ele, que jamais guardou um furo para si. Feliz dia em que o ex-vereador Américo de Morais repassou à Memória um conjunto de fotos de um velho Carnaval de Rua em São Bernardo. "Foi o Rubão quem tirou" - disse-me Morais. Mas, onde estaria Rubão? Aposentado, deixara a Rua Martini em Rudge Ramos e morava agora - com sua Matilde, é claro - no bairro Jordanópolis. Foi um belo reencontro. Rivaldo Gomes tirou fotos do colega mais velho Rubão. E, tempos depois, ano passado mais precisamente, Rubão ligou para falar dos seus discos e dos seus ídolos. "Você quer meus discos?" A oferta rendeu uma bela gravação de TV, que perpetua a imagem e as tiradas do querido Rubão.
Rubens Fenili - "mas podem me chamar de Rubão" - estava adoentado. Partiu ao som de Elvis Presley há uma semana. "Ele era corintiano fanático", confidenciou Matilde aos funcionários do crematório de Vila Alpina. E o Hino do Timão foi tocado três vezes naquele dia, mesclando com as canções de Elvis. No dia seguinte Rubão completaria 70 anos.
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