quarta-feira, 8 de julho de 2009

NO BRASIL PREVALECE A LEI DE GERSON

J. MORGADO
TOLERÂNCIA ZERO
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Muito se tem falado sobre a tal “tolerância zero”. Será que os habitantes das grandes metrópoles brasileiras sabem o que é isso? Possivelmente por ouvir dizer, assistir ou então ler os noticiários, ou pelas mais diferentes versões. Na verdade, as pessoas assimilam um pouco aqui, ou pouco ali e saem a ditar cátedra sobre o assunto.
Pelo nível cultural e respeito às leis, o povo brasileiro aguentaria o regime de segurança pública que foi aplicado nos Estados Unidos, mais particularmente na Cidade de Nova Iorque? Acredito que não! Naquela metrópole, o índice de criminalidade caiu drasticamente durante o governo de Rudolph Giuliani, nascido em 1944, na cidade onde se tornou prefeito. Segundo informações obtidas da própria mídia, o número de homicídios caiu em 61% e o índice de criminalidade em geral, 44 %. Uma queda fantástica em se considerando a violência que imperava naquela grande Metrópole. Giuliani foi prefeito de Nova Iorque entre 1992 e 2002 e enfrentou, como maior desafio, diminuir à violência. Chegam a mais de dois milhões o número de encarcerados naquele país. É provável que seja a nação com o maior número de criminosos presos no mundo. Há cadeia para todo o mundo. O crime ali, seja ele pequeno ou grande, não é tolerado.
Não vou questionar aqui se essa política é correta ou não. O problema é, seria possível aplicá-la no Brasil? Mais precisamente nas grandes Metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Vitória, etc.?
Será que estamos prontos a deixar de falar ao celular ou ao volante de um carro? Ou deixar de estacionar em guias rebaixadas e locais destinados a deficientes físicos? Mais ainda, deixaríamos de exceder a velocidade limite nas estradas e ruas, transgressões essas que estão enquadradas na “tolerância zero”? Será que não andaríamos na contra mão, quando montados em nossas bicicletas, ou circulando nas calçadas? E ainda, não cederíamos aos apelos lacrimejantes de nossos filhos menores para dirigirem nossos automóveis? Quantos acidentes acontecem por essa razão! E a punição? Será que apreenderíamos a impor certos limites a nossos filhos e encaminhá-los a uma orientação sadia? Muitos criminosos se originam de famílias desestruturadas e de outras que não sabem dizer não.
Dia destes, uma senhora foi surpreendida e obrigada a parar na estrada quando dirigia há mais de 170 quilômetros horários. E como agravante uma criança no banco da frente. Arguida pelo policial, respondeu: – mas hoje é domingo! – O fato saiu em um noticiário na TV.
Mesmo sendo proibido em muitas cidades, principalmente nas litorâneas, as madames e os marmanjos insistem em circular com seus cães pelas ruas, deixando-os fazer “caquinha” nas calçadas e circulando pela praia. Ao serem abordados, gritam, fazem escândalo, e dizem; – vão caçar bandidos e nos deixem em paz! Será que essas pessoas ignoram que naquele momento eles estão contribuindo para a proliferação de doenças? Vai além. Adquirimos objetos de contrabando, desobedecemos às leis que foram feitas para proteger a sociedade num todo, sempre alegando nosso direito individual. "Cessa tudo que a antiga Musa canta // Que outro valor mais alto se alevanta” (Luiz de Camões).
Enquanto estava escrevendo esta crônica, a TV anunciava outro homicídio no trânsito. Um cidadão da baixada fluminense, ao reclamar para um motorista de ônibus que havia parado em cima da faixa, foi violentamente agredido pelo infrator, vindo a falecer. Questiúnculas idiotas no trânsito, entre vizinhos, nos bares, em toda parte, começam geralmente com pequenas infrações. O efeito dominó é violento! Daí, a aplicação da Tolerância Zero, nos Estados Unidos. Muitos dirão que a polícia é ruim, que a culpa é do governo, da Justiça, do Congresso, etc. Para haver corrupção, há necessidade de duas partes; o corruptor e o corrompido, uma prática comum neste tão sofrido Brasil.
A corrupção existe nos Estados Unidos. Afinal ser humano é ser humano. Só que lá o indivíduo sabe o risco que corre se for descoberto. Pedidos de desculpas, renúncias e prisão. E aqui? Continua prevalecendo a tal “lei de Gerson" e o “jeitinho brasileiro", infelizmente!
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
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