


Frieza, indiferença, descaso, distância, são palavras escritas com gelo. Cristalizam. Fazem parte de um vocabulário muito usado, não só com palavras, mas pelo olhar. Um olhar soturno, acinzentado, cor de treva. Se observarmos as pessoas, na rua, a maioria caminha rápido, passos largos, em aflição; não olham para os lados, não têm tempo, vão perder o ônibus, vão chegar atrasados ao trabalho, têm um compromisso, precisam correr... Olhos mortos, sem expressão, fixos apenas em medir a distância que as separa de seu destino, que é o mesmo, todos os dias.

Nessas idas e vindas de dura e sistemática repetição deixamos de perceber o espetáculo diário que a vida nos oferece – abdicamos de nossa sensibilidade e nos refugiamos no tédio ou na queixa da mesquinhez e da crueldade do cotidiano que nada nos dá, só tira.
Precisamos refletir e aceitar o desafio que se impõe se quisermos reaprender a viver. Precisamos aprender a viver com arte, a viver dentro da arte. Da arte de amar. Precisamos descobrir novos caminhos, diminuir o ritmo, apreciar as cores o dia, sentir a brisa batendo, leve, no nosso rosto, desfrutar o canto dos pássaros, sentir novos aromas, sorrir e perceber o outro que está ao nosso lado.

Este é o desafio de cada um - o do ampliar altura e largura da alma, enriquecendo o espírito porque a vida, muitas vezes trágica e sofrida, também pode ser engraçada, doce e divertida e, sempre, compartilhada! Aceitando o desafio, podemos voltar a cuidar do nosso EU, reencontrando aquele que nos espera para reconstruirmos o NÓS.
Na verdade, o que impede a aproximação é o medo. O medo da indiferença. O medo da frieza que vemos nos olhos dos outros, esquecendo que é a mesma que veem em nosso olhar. É o medo da dor, daquela dor que varre o mundo, que sacode a terra, que desfia os ventos, que nos invade, que nos divide, que nos diminui, que nos encerra...

Palavras escritas com gelo podem ser transformadas, sim, em palavras escritas com fogo. Olhar de gelo também pode ser aquecido por generosidade, brandura, amor. Às vezes, o gelo no olhar e na palavra é pura falta de exercício.
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008. Blog da Nivia Andres:http://niviaandres.blogspot.com/
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