
RÁDIO - PAIXÃO,
ROMANTISMO & REALIDADE (4)
ROMANTISMO & REALIDADE (4)

Na semana que passou, durante os comentários ao capítulo III, um assunto parece ter mexido com o interesse daqueles que valorizam nosso espaço. Muitos, mais jovens, com a curiosidade de conhecer, outros com a vontade de relembrar e aclarar pontos palpitantes de ocorrências que marcaram a época.

Não vejo necessidade de maiores detalhes sobre o discutido crime ocorrido em 1952, haja vista a riqueza de informação existente na internet mostrando, foco da larga controvérsia, falso testemunho, interesse em ocultar nomes evidentes na política e na sociedade.

Acompanhei o caso pela emissora Continental em alternância com Newton de Souza, repórter que comigo dividia o setor de polícia. Tivemos relacionamento com o delegado Hermes Machado, encarregado do caso Sacopã, de maneira direta, na delegacia de Vigilância e Captura. Era chefe de Polícia do Distrito Federal, na ocasião, o general Moraes Âncora que deixou o cargo logo após o atentado contra Lacerda, na Rua Toneleros, em solidariedade a Vargas, antes de sua morte, no Catete. Âncora e Góis Monteiro foram dos poucos militares leais a Vargas até o momento final. Eu estava lá.



Participando na última semana de um programa de entrevistas no canal 9, de Franca, a Nova TV, o tradicional radialista Valdes Rodrigues, ainda ativo no rádio, emprestando brilho e seriedade também à televisão, inquiriu-me sobre o chamado tortuoso caso do fechamento de emissoras na década de 70, pelos militares.
Tendo vivido no palco das cenas de tal espetáculo, na época intitulada perempção, uma das peremptas me tinha como seu diretor em seu momento finito. Era a tradicional emissora da novela por onde passou com sucesso Ariovaldo Pires, (1934) se não sabem quem foi eu lhes digo: “Capitão Furtado”: Rádio São Paulo S/A, PRA5. Ouço tantas acusações ao chamado governo militar, não quero aqui discutir a opinião de ninguém, no entanto, me inclina supor necessária análise para aplaudir ou apupar. Não penso que tenha sido tortuoso e tampouco artimanha dos militares no poder, como soer propala-se, toda maldade ser-lhe debitada. Os serviços de radiodifusão no Brasil até dezembro de 1962, tinham como gestores, pelo poder concedente, o Departamento dos Correios por sua vez, subalterno do Ministério de Viação e Obras Públicas. Naquele ano o Presidente da República, João Goulart, sancionou a Lei n° 4.117, criando o Conselho Nacional de Telecomunicações, com as disciplinas definidas para o setor.
Em fevereiro de 1967 foi criado o Ministério das Comunicações, órgão que passou a gerir o sistema, no país. No campo radiodifusão, o novo organismo administra desde licitações das concessões de emissoras de rádio e televisão, até o seu funcionamento, em obediência à legislação existente. No mesmo mês de fevereiro, o Decreto n° 236/67 foi editado para complementar a Lei 4.117, ocorrendo várias alterações, entre elas, como rezam os artigos abaixo:
Art. 67. A perempção da concessão ou autorização será declarada pelo Presidente da República, precedendo parecer do Conselho Nacional de Telecomunicações, se a concessionária ou permissionária decair do direito à renovação.
Parágrafo único. O direito à renovação decorre do cumprimento pela empresa, de seu contrato de concessão ou permissão, das exigências legais e regulamentares, bem como das finalidades educacionais, culturais e morais a que se obrigou, e de persistirem a possibilidade técnica e o interesse público em sua existência.
Art. 69. A declaração da perempção ou da caducidade, quando viciada por ilegalidade, abuso do poder ou pela desconformidade com os fins ou motivos alegados, titulará o prejudicado a postular reparação do seu direito perante o Judiciário.
Ao ser estabelecido o decreto, entre outras medidas, havia objetivo de diminuir o poder das redes, limitando o número de emissoras para cada grupo, o que não ocorreu dentro do prazo concedido. Os prazos contratados de concessões e permissões eram de dez anos, quando se deveria buscar a renovação dentro da adequação já imposta pelo decreto. Além do prazo fixado de dois anos para o ajustamento, muitas emissoras só foram peremptas depois de cinco anos (1973). Continua...
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros (Garcia Netto), 81, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, recentemente lançada. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. A Série Relembranças II será editada em capítulos semanais, às quintas-feiras - uma revisita do profissional de memória privilegiada, à história do Rádio Brasileiro, que se confunde com a sua própria história.
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros (Garcia Netto), 81, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, recentemente lançada. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. A Série Relembranças II será editada em capítulos semanais, às quintas-feiras - uma revisita do profissional de memória privilegiada, à história do Rádio Brasileiro, que se confunde com a sua própria história.
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