domingo, 3 de outubro de 2010

SÁBADO, 2 DE OUTUBRO DE 2010


Na esteira do momento, quando o cidadão é a caça e o caçador é o franco atirador, o assunto remete ao caldeirão que "fabrica" ídolos em uma terra onde a visão da maioria não se esforça para ir além do que exige a lei do menor esforço. Nem sempre os grandes ídolos são exatamente como desejamos. Isso em todos os setores do cotidiano. Proliferam nas telinhas brasileiras, cuja função precípua é proporcionar lazer, cultura e informação, programas de maior audiência e lucratividade, que fabricam pérolas, comovem e levam às lágrimas considerável camada da população; programas que deixariam corados de vergonha o mais simples cidadão de um lugarejo pouco mais evoluído.
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Pululam agora gaiolas de gosto duvidoso e qualidade deteriorada tipo Hipertensão (Globo), Buzão (Band), Fazenda (Record) e, já, já, o execrável BBB que, pelo sucesso e audiência, sugere claramente os motivos de aparecer no Brasil aproveitadores, muitos deles atingindo picos da fama, fortuna e Poder. Todos com forte apelo e grande chamariz da massa alienada ao populismo inútil, produzem ídolos calcados na ignorância e ausência absoluta de cultura da comunidade. Os participantes dessas excrescências, escolhidos a rigor pela aparência física e não pelo conteúdo, ganham visibilidade que camufla inteiramente a falta de inteligência e reforça a possibilidade de ganhar dinheiro sem a necessidade de qualquer esforço mental, ausente nas cabeças ocas da manada integrante do picadeiro e adrede fantasiada pelo apresentador.
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Homens e mulheres mostrando o corpo até onde a censura permite ou, em alguns casos, um pouco mais, têm a força de máquina que hipnotiza o telespectador um tanto distante da leitura e da informação. Entre os produtos destes falsos líderes, incluem-se novelas, esportes, (especialmente o futebol) e balcões da música, argolada ao besteirol nacional que funciona como usina produtora em série de ídolos, cuja maioria de desfaz como castelos de areia ou pirâmides de cartas e que o povo brasileiro, até por uma questão de cultura, idolatra e eterniza.
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A corrente se estica ao campo político onde, salvo raras exceções, emergem vigaristas oriundos de safra capenga e que são inseridos no cenário como verdadeiro Adônis forjado nos salões dos horrores para acalentar um povo carente de visões mais concretas. Igual ao participante do reality, o jogador de bola, o mocinho da novela, o cantor (gerado no palco de show mambembe), o político, mesmo sendo um pandego e desaculturado, acaba tornando-se ídolo e líder de certa platéia que perdoa, finge não enxergar e ignora as consequências das estrepolias e fanfarronices do astro enfeitado de estadista. É aí que mora o perigo.
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As sandices passam ao largo da percepção da patuléia, mais interessada no esvoaçar do pano circense tremulando pela ventania do que na realidade que empobrece a carteira e deixa à míngua a despensa familiar. Assim, com os olhos ofuscados pelo brilho do ídolo e o coração superando a razão, o povo crente na ilusão elege o bam bam bam do imaginário reality show que se transforma no palhaço das repetidas pilhérias transformando o palco em picadeiro que, na suntuosidade da arena, não exibe a decadência que torna o inocente espaço em circo dos horrores.
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Nesse contexto, um País que carece de seriedade e competência, nunca deixará de ser terceiro-mundista, mesmo ignorando onde estão situados os de segundo mundo. A cultura tupiniquim tem guindado a picos inimagináveis ídolos inexpressivos que somente desaparecem quando se transformam em cacos. O Brasil registra casos semelhantes que cicatrizaram nossa história, cujo ônus estamos pagando e o qual, possivelmente, nossos descendentes irão quitar. Com as instituições, outrora livres, insubordinadas e independentes, agora submissas, as liberdades constitucionais e democráticas poderão naufragar ao menor chocalho provocado por ondas um pouco mais forte.
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Às vésperas de eleições nacionais, a reflexão acerca do tema é extremamente oportuna, pois se não mudarmos o que somos intimamente, continuaremos a passar a mão na cabeça de nossos ídolos e, por consequência, nos tornaremos vítimas de seus escândalos. Um ídolo e um grande líder não podem ser forjados em picadeiros nem alavancados por galhofas, sob risco do porvir ser negro e irreversível.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista e radialista radicado na Região do Grande ABC.
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