

UM SONHO NATALINO
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Não sei como, me vi em uma pequenina cidade do interior. Dessas que vistas do alto de uma encosta mais parecem presépios. Vi-me sentado a beira de um chafariz. Um grupo de garotos jogava bolinhas de gude, outro de mão na mula e alguns simplesmente conversavam.
Matronas e jovens mulheres se aproximavam do chafariz com vasilhas apropriadas para levar água. Não me viam! Aqui e ali pessoas conversavam na porta da barbearia, do botequim, do armazém... Uma rotina em vilas e cidades interioranas.

Parado no meio da praça levou o bambu-bengala até a boca e dele começou a extrair uma estranha melodia. Os garotos pararam o que estavam fazendo e foram se achegando junto ao velho. Os adultos olhavam curiosos.
O ancião continuava a tocar a música e se movimentava dando os primeiros passos para a saída da pequena vila. Os meninos e meninas começaram a segui-lo em fila indiana.

A marcha continuava em direção a floresta que circundava a região. Alguns habitantes, curiosos, seguiam de longe aquela estranha procissão.
Minutos depois, o velho alcançou a mata densa e nela se internou e as crianças atrás, seguindo-o!
Os curiosos que de longe observavam, perceberam que à medida que cada criança colocava os pés na mata, desaparecia! E assim aconteceu com todo aquele estranho cortejo.
Os adultos estarrecidos entraram esbaforidos na floresta a procura daquele grupo desaparecido. Nada encontraram! Desapareceram como f

Impropérios começaram a serem proferidos pelos habitantes do lugar que dias antes, haviam maltratado aquele ancião.
Havia meses que o velho Leon frequentava a Vila. Não fazia mal a ninguém. Aproximou-se das crianças e em volta do chafariz contava-lhes histórias. Os guris o adoravam.
Certo dia, um morador levantou dúvidas quanto à moral do anoso. Envenenados pela má língua, prestaram queixa ao delegado. Este prendeu o contador de histórias e o submeteu a um rigoroso interrogatório. Nada conseguiram a não ser o nome que ele forneceu: Leon! Libertaram-no e o expulsaram da cidade.
Agora ele aparecera e se vingara levando os meninos para a floresta. Era véspera de Natal!

Cada morador, ao voltar para casa depois de intensas buscas, triste, completamente desconsolado, começou a orar junto aos presépios. Foi quando notaram que o menino Jesus que deveria estar na manjedoura havia desaparecido! Isso acontecera em todos os presépios, inclusive o da capela local. Um desespero geral tomou conta daquele povo religioso e místico. Nessa noite, reuniram-se todos na capela e uníssonos pediram perdão e um milagre!


Os meninos nada souberam responder o que lhes foi perguntado. Disseram que acompanharam o velho, entraram na mata e dela saíram diretamente para a capela. O tempo? Ninguém soube explicar o que houvera entre o entrar na mata e o entrar na capela!

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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail: jgarcelan@uol.com.br
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