
Os repetidos desastres ocorridos nos últimos tempos em várias localidades brasileiras e em diversas partes do mundo merecem, muito mais que lamentações, reflexões objetivas. O que está acontecendo com os deslizamentos de morros no Rio de Janeiro é reprise, em maior escala, do registrado no ano passado, que desnuda a insensatez dos governos e o desdém da população. A quota do desastre carioca, que supera 600 mortes, não é mais simples advertência, é fato. Alguém, em outros tempos, já preconizava: “a natureza não se vinga, retoma o que é seu". Faz sentido.

Para nós aqui do ABC fica claro que acidentes do tipo emergentes estão prestes a acontecer, já que é grande o número de moradias (barracos e alvenaria) ao redor dos morros e a beira das represas Billings e Guarapiranga, que margeiam toda a região e parte da Zona Sul capital paulista. O entorno desses mananciais está loteado por gente humilde que, premida pela necessidade, construiu residência em áreas de risco e, mesmo alertados pelo óbvio, insiste em permanecer no local. Em Mauá, também aqui no Grande ABC, há menos de um mês, o movimento de terra provocou a morte de várias pessoas, entre elas crianças e idosos. Pela topografia, o Rio de Janeiro e cidades semelhantes são o alvo preferido de catástrofes anunciadas. Nesse quesito, o ABC está incluído.
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Aliás, e a propósito, parte do povo carioca parece mesmo ter pouco se comovido com a dantesca cena que enluta e abala o Brasil, pois durante o caos, estava na Gávea, festejando, ao som de bateria de escola de samba, a chegada de Ronaldinho Gaúcho ao Flamengo. Uma heresia.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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