quarta-feira, 16 de março de 2011

TERÇA-FEIRA, 15 DE MARÇO DE 2011

O assunto estaria batido e distante do contexto não fosse a maneira repetitiva, enfática, descabida, desonesta e hipócrita com que a TV brasileira catequiza grande parte do povo. A maioria das emissoras agrega competência, técnica, valores profissionais, equipamento e material que as insere entre as melhores do mundo, sem contestação. Todas, abertas ou fechadas, cada uma a sua maneira, quando se dispõe a realizar algo relevante são altamente eficazes e úteis à sociedade, porém não é assim que funciona.
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A TV Globo, por exemplo, espalha constantemente em sua programação, textos que tentam induzir a população a acreditar que a empresa contribui com ações sociais e de cidadania e empurra, goela abaixo do povo, aberrações como o tal de BBB, que está em sua 11ª edição, e programas igualmente indigestos como as indefectíveis, nojentas, pegajosas e imorais novelas. Basta verificar com alguma atenção os jornais informativos da emissora carioca e notar que ela não noticia assunto que possa desnudar os escambos do Poder Central. A programação, de modo geral, gira em torno das próprias atrações globais com artistas da casa. Consta que no nefasto BBB a Globo fatura sobre o pobre telespectador que paga para ser ludibriado.
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Um bando de alienígenas, acobertados pela mídia impressa, desfila em ambiente reservado e repleto de câmeras, inutilidade, ignorância, insinuações da estupidez de nível rasteiro, onde as práticas libidinosas deixariam corados Zéfiros, Pedro Malasartes ou um Calígula. O nível intelectual e cultural dos participantes (se algum deles tiver) fica camuflado e envolto na luxuria da mixórdia e do sexo sugerido como prática natural que alavanca audiência. Mostra, efetivamente, propósito de argolar incautos idiotas que aceitam e até endossam a embromação que enfeita um tipo de reality digno de pocilgas. Um exemplo. Acompanhei pelos jornais e revistas, neste último BBB, que a tal de Ariadna, travesti assumida, não teve tanta sorte na primeira semana. Antes de sair, revelou aos colegas de confinamento: "eu tenho orgulho de ser a primeira transexual do BBB”. Pois é...
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As novelas, cujos autores parecem ser orientados a produzir as pencas folhetins que remetem excelentes atores e atrizes à promiscuidade, com insinuações de sexo escancarado, consumo de drogas e delitos execrados pela sociedade ordeira e que cultiva os bons costumes. Os roteiros, por sua vez, projetam fatos inverossímeis, falsos, contraditórios e igualmente danosos a cidadania. Nenhum mocinho é recompensado e nenhum vilão é condenado. Todos passam incólumes as infrações das leis ou nas ações mais solidárias. Isso coloca em um mesmo cesto ídolos e fãs.

Provavelmente, sem generalizar, o público que leva essas aberrações aos picos do Ibope é o mesmo, com certeza, que elege políticos inescrupulosos, popularescos, apoiados por uma súcia de mal letrados que sente prazer histérico em ser ludibriada. São adeptos do quanto pior, melhor. Se não bastasse, os programas policiais infestam a telinha e não contribuem, ao contrário, com o lazer, entretenimento ou cultura da população. Os números das pesquisas podem ser manipulados, mas refletem a qualidade do produto e o nível de quem consome. No mercado é assim que funciona. A Globo, por exemplo, e no caso, se ufana de inserir na tela, por auto-valorização, que os seus programas contribuem decisivamente para a prática da cidadania. Quem ousa contestar ?

Certamente os sinos não dobram para a hipocrisia, desserviço, engodo e massificação da televisão brasileira e muito menos aos que aplaudem e fortalecem, por inocência ou conluio, as mazelas televisivas, calcadas em BBBs, Fazendas ou realitys similares, igualmente escabrosos e inúteis à cultura racional. Ao contrário de lazer ou distração, esse tipo de programa, até prova diferenciada, é danoso e lesa incautos. Pobre de uma Nação cujo povo não distingue diferença entre a tênue claridade do candeeiro e o clarão da luz do saber.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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