quinta-feira, 25 de junho de 2009

CASSARAM O DIPLOMA DOS JORNALISTAS

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APRENDENDO A DIFICIL ARTE
DE FAZER SOPA COM LETRINHAS
Foi um golpe na imprensa brasileira a decisão do STF que torna opcional o diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Num momento em que a imprensa se vê invadida por segmentos totalmente estranhos à categoria, essa liberação além de danosa é perigosa e preconceituosa. O ministro Gilmar Mendes fez graça e por cima comparou a função de jornalista com a de cozinheiro. Nada contra, toda profissão deve ser respeitada, desde que seja exercida com dignidade. Eu jamais me atreveria a entrar na alçada de um mestre da cozinha, nem ele na minha, a não ser dentro de casa onde, acredito, ele escreva lá os conceitos dele assim como eu, escondidinho, faço minhas acanhadas incursões pelo fascinante mundo da culinária. De modo que, se o ministro da mais alta Corte quis ofender um ou outro lado, quebrou a cara, deu com os burros n´água. Ainda é cedo para sabermos que efeito terá a decisão do STF contra a exigência do diploma para o exercício do jornalismo. Somente o tempo nos permitirá conferir o resultado, mas certamente essa decisão vai concorrer para o aviltamento salarial e a invasão do mercado por qualquer um que seja alfabetizado. Não que o jornalismo seja algo tão mágico, mas, como toda profissão, exige técnica e treinamento que só uma universidade pode oferecer. Vamos estender essa baderna à medicina, engenharia, advocacia e outros setores? Acompanhem o texto de Nivia Andres sobre esse assunto. Com direito a uma deliciosa receita, afinal, jornalistas e cozinheiros estão juntos numa mesma panela.
(Edward de Souza)
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Vou virar chef de cuisine
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NIVIA ANDRES
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Como todo mundo já sabe, o diploma de jornalista foi desclassificado pelo STF. Ninguém precisa mais de diploma para exercer essa profissão. Os preclaros juízes togados da corte superior decidiram, por goleada (9x1) que, a partir de agora, todo mundo pode ser jornalista. Não, não pensem que sou radical! Há excelentes profissionais sem diploma que têm texto apuradíssimo, abordagens preciosas e conhecimento vasto, tanto que dispensaram os bancos acadêmicos e nem por isso são menos admirados. Inclusive eu lhes rendo todas as loas pelo brilhantismo, argúcia, engenhosidade, perspicácia e sutileza, além, é óbvio, da integridade e do comportamento ético com que se movem quando se trata, especificamente, do texto jornalístico. Notem bem, não estou sendo irônica nem sarcástica. É o que penso.
Além do mais, acredito piamente que quem não tem competência não se estabelece e talento é fundamental, abre portas e janelas. Mas no caso da nossa profissão, só talento não basta, há que ter conhecimento - saber técnico. E não venham me dizer que jornalismo não é ciência. É, sim, faz parte da ciência da comunicação. Para dominá-la, é preciso muito estudo, muita vontade e bastante talento, além de uma porção avantajada de força de vontade e capacidade de superar obstáculos, principalmente os advindos das dificuldades econômicas, porque raramente os profissionais do jornalismo são bem remunerados - muitas vezes têm que desdobrar-se em vários empregos para garantir vida digna.
Pois bem, o próprio ministro presidente do STF, em sua justificativa de voto, argumentou que o exercício de muitas profissões não carece de diploma e citou, entre outras, a de chef de cuisine, maneira charmosa de denominar a função de cozinheiro. Sabem que gostei da idéia? E como possuo todos os requisitos para habilitar-me, acho que vou virar chef de cuisine... Adoro cozinhar e já aviso que piloto um fogão como poucas mulheres, além do que esta profissão está na moda. Meu nome também serve - Nivia Andres - parece simpático e se precisar, vou galicizá-lo, adotando, também, o meu segundo nome, Maria, escrevendo-o em francês, Marie, comme il faut. Ah! Um detalhe importante, como escrevo e falo francês fluentemente, vou adotar o sotaque e misturar algumas palavras do idioma de Napoleão, como o faz, très bien, o famoso Claude Troisgros, em que pese esteja radicado no Brasil há muitos anos... Já aviso que a minha preferida é a cozinha mediterrânea, sabidamente a mais saudável! Ah! Também entendo de vinhos e de decoração, embora não esteja nos meus planos, em princípio, o de abrir um restaurante. Mas não vou abrir mão de vestir um uniforme elegantíssimo, com a minha marca bordada, em letras góticas, maravilhosa! E desenhado e costurado por mim, porque também entendo de design e sei costurar com perfeição. E bordar, também...
Também não vai ser difícil abrir e gerenciar uma empresa, já que entendo bastante de gestão, mercê dos anos em que atuei, como assessora de comunicação, em uma entidade empresarial, na qual aproveitei para fazer muitos cursos específicos na área de administração e controle.
Para arrematar, vou deixar-lhes uma pequena prova, em primeira mão, de um dos pratos do menu que vou disponibilizar aos clientes. É uma receita de família, muito admirada por quem já provou - prática, simples e refinada: Um pacote de massa fresca, tipo talharim (500g); uma bandeja (250g) de cogumelos de Paris (frescos); duas cebolas médias, finamente picadas; dois dentes de alho, muito bem picados; duas colheres de sopa de azeite; duas caixas de creme de leite light (17% de gordura); 50g de manteiga sem sal; uma colher de chá rasa de orégano; uma colher de chá de salsa seca; 50ml de molho shoyu; pimenta calabresa a gosto; queijo parmesão ralado a gosto e sal a gosto, conforme o seu paladar. Prefira o sal marinho, que é mais saudável, em quantidade moderada, porque o shoyu já é salgado.
Modo de fazer: Em uma panela grande, coloque água (para cozinhar a massa), com um fio de óleo e sal a gosto. Para o molho: tire a pele dos cogumelos e corte-os em fatias bem finas, no sentido do comprimento; coloque o azeite na panela e misture com a manteiga; acrescente a cebola e o alho e cozinhe até que estejam transparentes, sem dourar. Acrescente a pimenta, o orégano, a salsa e os cogumelos; mexa para misturar com a cebola e o alho e deixe cozinhar por dez minutos, até que os cogumelos estejam macios e quase seque a água que produzem. Em seguida, acrescente o creme de leite, o shoyu e o queijo, incorporando-os bem. Cozinhe a massa conforme as instruções da embalagem e após, escorra e incorpore o molho. A porção é suficiente para cinco pessoas. Se quiser dobrar a quantidade de massa, aumente o molho, acrescentando um pouco de leite. Costumo servir este prato acompanhado de uma carne assada - prefiro um tatu recheado e uma boa salada de folhas - alface americana, rúcula e radicchio .
Brincadeiras a parte, nessa era pós-inutilidade do diploma, se é que posso sugerir algo àqueles que desejam seguir a carreira de jornalista, aconselho que sigam estudando muito, lendo muito, escrevendo muito e procurando especialização, cada vez mais. Saber, aliado a talento e criatividade abrem muitas portas e janelas, para qualquer profissional. Com diploma, ou não.
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008. Blog da jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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