


"Essas recordações são de um homem que, apesar de tudo, ainda acredita valer a pena lutar pela vida".
José Marqueiz
*
“Yo confeso que viví”.
Pablo Neruda
Para
Ilca, amor, coragem e perseverança.
Lívia Faé e Octávio Leite Vallejo, que tudo fizeram para a realização dos exames e do tratamento médico necessários.
Eva e Priscila, mãe e filha, pelas orações diárias.
Paulo Pereira e Severino Ferreira da Silva, o Jacaré, pelo apoio e pela força.
Meus irmãos Maria Madalena, Antonia, Sebastião e João Pedro, pela solidariedade.
Para a equipe médica do Hospital do Câncer, com agradecimento especial aos doutores José Ricardo Testa, Mauro Ikeda e Ulisses Nicolau – a quem devo a minha sobrevida.
PRIMEIRO CAPÍTULO
“Yo confeso que viví”.
Pablo Neruda
Para
Ilca, amor, coragem e perseverança.
Lívia Faé e Octávio Leite Vallejo, que tudo fizeram para a realização dos exames e do tratamento médico necessários.
Eva e Priscila, mãe e filha, pelas orações diárias.
Paulo Pereira e Severino Ferreira da Silva, o Jacaré, pelo apoio e pela força.
Meus irmãos Maria Madalena, Antonia, Sebastião e João Pedro, pela solidariedade.
Para a equipe médica do Hospital do Câncer, com agradecimento especial aos doutores José Ricardo Testa, Mauro Ikeda e Ulisses Nicolau – a quem devo a minha sobrevida.
PRIMEIRO CAPÍTULO

Nós podemos nos considerar sobreviventes, observou o amigo, que também tivera retirado um tumor, ao lado do intestino. Ele dizia assim baseado na experiência médica, segundo a qual uma pessoa pode ser considerada praticamente curada desse mal quando ultrapassa os cinco anos depois da operação. Após esse período raramente o tumor reaparece e se isso ocorre antes os especialistas denominam de recidiva, o que significa, de acordo com o Novo Dicionário do Aurélio, “reaparecimento de uma doença algum tempo depois de se haver convalescido de um primeiro acometimento”. Foi o que ocorreu comigo.

As primeiras imagens da cabeça e do pescoço revelavam a existência de necrose, provocada pela radioterapia. Exigiria uma cirurgia complexa, mas não demorada. Só que o médico avisou: quando abrisse atrás do ouvido para limpeza, aproveitaria para a retirada de material para uma nova biópsia. E foi essa biópsia a reveladora: o tumor, com quase 2,5 centímetros, avançava pela estrutura craniana e sua localização impedia nova cirurgia: surgira junto à veia carótida, artéria que liga o coração e o cérebro.

Nesse dia, encontrava-se em companhia de minha mulher. De São Paulo para Santo André, onde moramos, ela veio dirigindo, tendo ao lado um marido abatido e taciturno.


Realmente, desde criança revelara-me descrente de seres superiores, santos. Só em alguns momentos de extrema aflição é que olhava alguma imagem, que minha mulher coloca no quarto onde durmo, para suplicar alguma ajuda – mas, sem fé, nem esperança de ser atendido. Também jamais entrei numa igreja, um templo religioso de qualquer seita, para ajoelhar-me, penitenciar-me e rogar algum perdão, alguma dádiva.


Decidi, portanto, dar um testemunho dessa minha passagem pela dor, causada por um tumor no cérebro, que dificilmente poderá ser retirado por meio de uma cirurgia. A solução, insistem os médicos, está no tratamento quimioterápico, e, depois radioterápico, única forma de conter o avanço da doença. Em outras palavras, única forma de me proporcionar alguns anos a mais de vida.
Esse testemunho é, afinal, um pouco das lembranças do que foi minha vida – nunca deixei de amar, apesar de ser sempre mais amado, de ter recebido muito mais amor, amor que, sinceramente, não fiz por merecer.
Esse testemunho é, afinal, um pouco das lembranças do que foi minha vida – nunca deixei de amar, apesar de ser sempre mais amado, de ter recebido muito mais amor, amor que, sinceramente, não fiz por merecer.
SINTOMAS DA DOENÇA

Semanalmente participava de uma sessão com uma fonoaudióloga, para reaprender a mastigar e a engolir alimentos sólidos. O problema, no entanto, estava na falta da saliva, uma vez que a radioterapia anterior havia secado as glândulas salivares. Sentia, aos poucos, o retorno da saliva e, com ela, a perspectiva de voltar a tomar refeições como qualquer pessoa normal.

- Tome a injeção e volte daqui um mês. – sentenciou.
No prazo estipulado, regressei, com o problema auditivo agravado. Marcou novos exames e, quando lhe fui levar os resultados, a face esquerda começara a ficar paralisada e o olho esquerdo estático.

Esta médica, profissional bem mais responsável, ao analisar as imagens dos dois últimos exames, foi lacônica e taxativa:
- O melhor caminho é levar esses exames para o médico que o operou no Hospital do Câncer.
Quis saber se era grave a situação, e ela, manteve-se indiferente, me desejando apenas “Boa sorte”.


Esse exame não deixou dúvidas: houvera a recidiva e o tumor ressurgira em um local de alto risco cirúrgico. A solução foi por uma longa quimioterapia. Cada sessão duraria cinco dias, a cada 21 dias do mês, durante cinco meses. Não havia outra opção. Eu teria que vencer mais essa, se quisesse continuar vivendo...
-------------------------------------------------------------------------------------
Na próxima quarta-feira, o segundo capítulo de Memória Terminal, do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. (Edward de Souza / Nivia Andres / Arte: Cris Fonseca).
------------------------------------------------------------------------------------
Na próxima quarta-feira, o segundo capítulo de Memória Terminal, do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. (Edward de Souza / Nivia Andres / Arte: Cris Fonseca).
------------------------------------------------------------------------------------