J. MORGADO
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Ferroada de Arraia
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Final de agosto. Estava frio. Agasalhados, Eu, Pezão e Paulo aguardávamos o piloteiro preparar o barco. Ao longe, avistamos uma canoa se dirigindo para “nossa casa”. Reconhecemos o velho Justino que já nos havia visitado. Figura estranha e misteriosa esse pantaneiro; beirando os setenta anos, morava em alguma tapera na margem do rio. Barba e cabelos longos, escondidos sob um chapéu maltratado, seus braços raquíticos remavam com energia. Em conversa anterior eu tentara interrogá-lo sobre sua origem e ele, evasivamente fugia da resposta. Naquela época (início da década de 70), esses caboclos moradores nas margens dos rios do Pantanal eram totalmente desprendidos. “Casavam” (ou juntavam) e ai surgia uma numerosa família. Uma choça, um fogão de barro, jiraus, redes para dormir... Era tudo do que precisavam.
Pela manhã, o chefe da família saia com sua canoa, vara de pescar e rodando rio abaixo apanhava dois ou três pacus de bom tamanho. Um seria para a alimentação da família e o outro (os) seria para vender na vila ou cidade. Com o dinheiro comprava o querosene para iluminação, farinha, banha... E assim iam levando a vida modorramente.
Dias depois, o velho voltou. Agradeceu nossa ajuda e partiu para seu lar. O barco enterrado na lama, ali ficou.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail:
jgarcelan@uol.com.br *J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail:
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