

Em outras culturas, as despedidas não são feitas de lágrimas, mas de júbilo pela vida que foi passada sobre a terra, e pela nova existência agora em outro plano. Os espíritas acreditam na encarnação e reencarnação, o que significa que, a morte do corpo não representa a morte do espírito e, dessa forma, é possível voltar a viver em outro momento, com o mesmo espírito, mas em um corpo diferente. Essa crença se consiste na idéia de que se pode ter mais uma oportunidade para progredir, ética e moralmente. Até os cientistas, que só acreditam no que podem comprovar, tentam explicar que existe vida após a morte. Existem religiões porque existe a morte e além da morte o grande vazio e a grande interrogação sobre o que nos espera. Todos os credos tentam preencher esse vazio criando céus e infernos mais ou menos semelhantes onde gozaremos a vida eterna como recompensa de nossas boas ações ou padeceremos no fogo por nossos pecados. Não existisse esse medo nem essa interrogação, a gente iria levando a vida a cada dia esperando na próxima esquina a visita da dama de negro que a todos nos levará um dia.

Na longa lista desses "espertos", o primeiro lugar da fila é seguramente ocupado por políticos. Não todos, é claro, mas a grande maioria que avança com sede sobre o erário, sempre à procura de uma vantagem qualquer. São tão "eficientes" que fazem fortuna em quatro ou oito anos de mandato. Aprovam emendas ao orçamento da União e as intermediam, levando uma boa parte para as suas próprias contas bancárias. É injusto, porém, restringir a lista dos "vivos demais" apenas aos políticos. Nos mercados públicos, por exemplo, onde a classe média e a pobreza fazem compras, a esperteza não é menor. Rouba-se no peso, na qualidade dos produtos e até nos sacos de embalagem.
Malandragens à parte, não há como negar. Neste dia dos mortos sofremos muito. Tantos momentos agradáveis já se foram, tantas risadas gostosas se calaram. Ficamos meio tristes, meio bobos, meio tontos. Acho que vivemos apenas para lembrar, relembrar e, sobretudo, para reverenciar os que já partiram. Assim ficamos mais frágeis e acabamos sempre sendo enganados pelos vigaristas "vivos" que pululam por todos os cantos. Confesso a vocês. Se dependesse de mim, ficaria o dia inteiro calado. Aprendi desde pequeno com meus pais que o silêncio é a única linguagem que Deus entende. Nem mesmo este texto eu teria escrito.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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