
AONDE ANDAS, NOÉ?

Os últimos e trágicos acontecimentos envolvendo o meio ambiente e diretamente a humanidade como chuvas, nevascas e incêndios, tem locupletado o noticiário mundial. Nunca, em nenhuma época, o Brasil foi vítima de catástrofes naturais em escala cotidiana como nos últimos dois anos. Os entendidos, e os nem tanto, lançam suposições e palpites sobre as causas do chuvaréu que submerge as regiões Sul e Sudeste do país provocando deslizamentos de terra, enchentes, destruição e, principalmente, mortes.
As inundações que assolam o estado de Santa Catarina, a partir de 2008, e os recentes acontecimentos congêneres no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, antes nunca vistos, certamente indicam que "este país" já não está imune aos espasmos da natureza, muito pelo contrário.
As tragédias nesse sentido ceifam milhares de vidas (humanas, animais e vegetais), destroem propriedades, matam no sertão, na floresta e na cidade, democraticamente, sem distinguir ricos, pobres ou miseráveis.

Há poucos dias, o jornalista Juliano Morgado abordou aqui neste mesmo espaço o problema gerado pelos chamados farofeiros, que invadem as praias, infernizam a vida do morador litorâneo e deixam no rastro toneladas de lixo. Os comentários que se seguiram, no blog, demonstram a indignação dos amigos que prestigiam este espaço.
No entanto, os estragos cometidos pelos praianos de última hora são apenas grãos de areia no universo das lambanças que o ser humano impinge à Natureza nos quatro cantos do planeta.
Os
estragos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e as enchentes no Vale do Paraíba, em Atibaia, na Capital paulista e em toda Grande São Paulo, podem ser simples recados do que há por vir. Enquanto os danos ficam restritos à extinção das matas, dos animais e dos peixes, o homem está pouco se lixando, até porque ele conta com a conivência e ouvidos de mercador de algumas autoridades que fazem vistas grossas para construções irregulares de casas, casebres, mansões, hotéis, motéis e clubes de recreação e lazer em áreas aprazíveis, porém de alto risco. As tragédias, anunciadas, somente são notadas quando a água, literalmente, bate no traseiro ou no umbigo do ser humano que, mesmo assim, só lamenta caso ele ou um familiar participem da relação dos mutilados.

Estivesse por aqui, Noé certamente não encontraria meios nem motivação para construir imensa arca e tentar salvar algumas espécies, pois teria que enfrentar a burocracia e destinar propina a alguns fiscais, mesmo com sua intenção cristã de preservar espécies, como já fizera lá, atrás. De mãos atadas o bom homem não teria como poupar a humanidade do Apocalipse que se avizinha.
Caso alguém saiba da existência de um Noé, que faça a ele um apelo para que fique de plantão. Com boa dose de fé, sorte e perseverança, mesmo acreditando que essa espécie está em extinção, quem sabe ainda exista um perdido na mata ou na selva deste mundão. Tudo é possível...

Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
...............................................................................................................................................