sábado, 5 de setembro de 2009

AVACALHANDO COM O NOSSO VERNÁCULO

NIVIA ANDRES
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PALAVRÕES "CABELUDOS" DOS POLÍTICOS

Nestes tempos bicudos, onde imperam escândalos, falcatruas e grassa a malandragem em todos os setores da vida nacional, nada mais parece chocar as pessoas. Em pleno terceiro milênio, numa época em que deveríamos pautar nossa conduta pelos valores da ética e da justiça, privilegiando as relações humanas, públicas e privadas, conservando-as nos estritos limites da cordialidade e da temperança, temos assistido, boquiabertos, na seara política, um festival de grosserias, impropérios e impropriedades linguísticas que deixariam vexados e cor-de-tomate maduro os vigilantes oficiais luso-tupiniquins do idioma pátrio em que ora nos expressamos, mal ou bem.
Senão vejamos, os dignos representantes populares no parlamento federal, desde a época do famigerado mensalão (lembram daquela esmolinha básica, mensal, que alimentava as contas bancárias de alguns deputados, para que votassem com o governo e que Sua Excelência, o presidente, teima, até hoje, bradando, alto e bom som e de pés juntos, que não sabia de nada, nadinha, nem imaginava?) Pois é, naquele tempo, em suas incursões na tribuna, os parlamentares introduziram, informalmente, na gramática da língua portuguesa, uma nova categoria de pronomes – os pronomes de tratamento ríspido, ao desancarem seus colegas, com pérolas do tipo “Vossa Excelência é um notório vagabundo, vive na jogatina!” ou “Vossa Excelência não vale nem o chão que pisa” ou, ainda “Este não vai ser o primeiro crime de que Vossa Excelência é acusado, visto sua vasta folha de delinquências, incluindo estupro, aliciamento de menores e outras patifarias do gênero”. E por aí foi a extensa troca de amabilidades entre os deputados acusados de terem recebido a dadivosa contribuição mensal que, de tão gorda, necessitava do concurso de sacolas, mochilas, malas e de outros receptáculos menos ortodoxos, como cuecas, para ser transportada...
Aliás, uma pergunta que não cala: Como estará o curso do processo do mensalão? Será que, algum dia, seus mentores e beneficiados, denominados “quarenta ladrões”, serão devidamente julgados e defenestrados da vida pública? Temos observado que o caminho é longo e cheio de atalhos, os réus são poderosos e a Justiça tem sido conivente com a bandidagem que opera na política.
O tempo passou, os ânimos serenaram para os lados da Câmara e, recentemente, o vendaval dos desmandos políticos (e linguísticos) resolveu soprar na concha do Senado Federal, por conta de mais escândalos que perigam desmanchar o feudo criado por seu atual presidente, aquele que acumula no currículo um nada secreto título de imortal, mercê de incursões de qualidade duvidosa na seara literária, envolto em marimbondos de fogo. Na ocasião, dois eminentes ocupantes de cadeiras na Casa se digladiaram por conta da defesa dos desmandos do chefe. Incomodado com aparte, senador da oposição lascou: “Você não aponte esse dedo sujo para mim”, no que foi retrucado: “Dedo sujo é o do senhor, que paga jatinho com dinheiro do Senado”. A resposta veio no ato: “O dinheiro é meu, o jatinho é meu. Não é igual ao que você anda com seus empreiteiros. Coronel, cangaceiro de terceira categoria!”, devolveu o detrator. Fora dos microfones, segundo contaram alguns colegas, veio um indignado “Coronel de merda!” E a celeuma terminou com as partes exigindo, igualmente, um “Me respeite!” Consta que o diálogo chulo, ríspido e mal-educado foi retirado dos anais. Menos mal para os senadores que a História não registre tão indigente diálogo, próprio do linguajar dos subterrâneos, não de dois políticos com assento na mais alta casa da república, mesmo que seu chão esteja tão enlameado quanto o de um pardieiro pestilento. Tragédias linguísticas e morais à parte, se não esboçou, ao menos, um leve sorriso ao ler este texto, Vossa Senhoria é um (a) rematado(a) chato(a), sem o mínimo senso de humor...
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008.
Blog da Jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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