segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CONTOS DA FÉ E VIGARICES RELIGIOSAS

J. MORGADO
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Determinadas pessoas ditas religiosas, para atingirem seus objetivos escusos, não titubeiam em deturpar ou vilipendiar o que foi dito por Jesus e relatado por João, o evangelista, no cap. XVIII, v. 33, 36, 37, no Novo Testamento. Foi assim que escutei e vi um líder de uma facção religiosa dizer a um repórter, em uma entrevista na televisão, que ser rico era uma obrigação do ser humano, dizendo que Jesus era Rei e, portanto rico, tentando assim justificar sua imensa fortuna conquistada através da ingenuidade de seus seguidores.
O homem vem deturpando os ensinamentos de Jesus através dos tempos para conseguir atingir seus objetivos escusos. Buscam traduzir literalmente aquilo que interessa para confundir a cabeça dos ingênuos e com isso amealhar fortunas em proveito próprio.
Mas, seria ele totalmente culpado? A ingenuidade, aliada ao materialismo exacerbado das pessoas, mais a ignorância, facilitam os golpistas tipo vigaristas religiosos a aplicarem o golpe do dízimo bíblico.
Lembro-me da passagem bíblica onde Moisés ao retirar-se por longo tempo para receber os Dez Mandamentos, teve sua liderança contestada por “malandros da época”.
Cascateiros souberam dar adequadamente o que o povo estava querendo e com isso, enriquecer. Circo, pão e, provavelmente, licenciosidade. Construíram um bezerro de ouro e arrancou tudo o que podiam dos incautos nômades. O novo objeto de adoração, o bezerro de ouro, satisfazia a ânsia de desejos imediatos daquela população. Não escutavam a voz da razão. Apenas se divertiam e esqueceram o objetivo maior. A farra acabou, quando a “voz da justiça” se fez novamente presente, no caso, Moisés.
Quando residia em Batatais, tive a oportunidade de presenciar dois casos. Nove horas da noite, passeava com meu cão e quando passava defronte a um desses templos improvisados escutei a voz tonitruante do pregador ameaçando os poucos freqüentadores com as labaredas do inferno se não contribuíssem com o tal dízimo. E dizia mais: que os habitantes daquela cidade eram muquiranas. Foi ainda em Batatais, que presenciei o achaque puro e simples. Depois de acabar o tal de culto, os capangas ficavam em pontos estratégicos na saída e até nas esquinas, exigindo o pagamento do dízimo. O tom de voz era ameaçador! Sabiam exatamente quem não havia contribuído.
Em todos os tempos, sempre houve os aproveitadores da fé alheia. Palácios e feudos enormes foram feitos em nome da fé. Nada contra qualquer religião. Vigaristas travestidos de religiosos aplicando o “golpe do dízimo”. Ateus pregando o céu e mostrando um inferno que eles mesmos não acreditavam.
Em 1517 d.C. Martinho Lutero, um sacerdote da Igreja Católica, revoltou-se contra as tais de indulgências. As indulgências não passavam, na verdade de um “conto da fé”. O pecador pagava pelo perdão de seus pecados e o confessor o perdoava, recebendo sua paga.
Conta-se que alguns nobres, depois de pagarem “polpudos honorários”, mandavam seus sequazes esperarem o vigário na estrada e roubarem o dinheiro pago, levando-o de volta.
Quero afirmar e frisar que as religiões em si são benéficas a humanidade. Infelizmente, não são anjos que as dirigem, e sim homens. Homens que estão ou não sujeitos as tentações que o materialismo oferece. Vira e mexe uma imagem de santo qualquer derrama lágrimas ou sangue em alguma capela ou em uma casa. Milhares de fieis acorrem para o local, pedindo ou exigindo milagres. Mesmo com a fraude descoberta, pois se trata de mais um “conto da fé”, os ingênuos continuam a circular em torno do "milagroso santo". Não conseguem entender que o segredo para sair de seus problemas existenciais ou financeiros está em seu esforço pessoal e não no “quebra galho”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico: jgacelan@uol.com.br
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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

OS MELHORES CONTOS DO SÉCULO VINTE

Os contos apresentados em cinco capítulos neste blog foram publicados na década de 70, escolhidos pela polícia e pelos jornalistas da época como os mais criativos. Reunidos, é a primeira publicação do gênero na Internet. Neste quinto e último capítulo dessa série, você vai encontrar outros contos geniais utilizados no século passado.

CAPÍTULO FINAL

O CONTO DO MILIONÁRIO – O golpe aplicado por um conhecido vigarista no Rio de Janeiro foi considerado como de grande imaginação. Ele foi informado que um milionário, sempre presente nas colunas sociais dos grandes matutinos cariocas, estava prestes a se desquitar e ia viajar para o exterior. Como vinha seguindo a vítima há muito tempo, já havia lhe furtado um cheque e falsificado a assinatura. Aguardou por alguns dias e quando soube que o milionário havia viajado, prontamente telefonou ao procurador do banco - um conhecido advogado - que sabia que a vítima tinha depósito de milhões. Marcou um encontro e se apresentou como o milionário. Já sabia que o procurador conhecia o milionário apenas de nome. Foram até um grande restaurante no centro da cidade e almoçaram juntos. O "milionário" contou ao procurador o seu problema: " eu vou me desquitar e queria contratá-lo como advogado". Explicou que teria que solucionar alguns problemas no Rio de Janeiro e estava sem dinheiro. Solicitou ao advogado que retirasse um milhão de cruzeiros de sua conta no banco, ocasião em que lhe deu o cheque falsificado. Marcaram encontro mais tarde na porta de um hotel. Como o advogado era procurador, não teve nenhuma dificuldade em receber o dinheiro do banco, embora a quantia fosse elevada. Na porta do hotel combinado, encontrou o vigarista, a quem entregou o dinheiro. Conversaram amigavelmente por algum tempo e marcaram encontro para discutir o problema do desquite, assim que o "milionário" voltasse de viagem. Naturalmente que o vigarista não mais apareceu e o advogado, quando se apresentou ao verdadeiro milionário, encontrou enormes dificuldades para se explicar.

CONTO DAS JÓIAS - Uma mulher elegantemente vestida procura o consultório de conceituado psiquiatra e também psicanalista, localizado nos jardins, em São Paulo, e conta: "doutor, resido no Morumbi, meu marido é executivo de uma grande multinacional e anda esquisito de uns tempos pra cá". O médico diz: "qual o problema senhora, talvez possa ajudar". A mulher prossegue: "bem, ele está com uma mania de achar que alguém anda roubando as jóias lá de casa. Isso pega muito mal, já que nossos amigos estão nos evitando e não nos visitam mais. Meu marido sempre foi equilibrado, entende doutor?"
A elegante senhora marcou com o médico, depois de tudo explicado, uma consulta para o marido. Combinaram dia e horário: "quanto é a consulta do meu marido?" perguntou a mulher. "500 cruzeiros", disse o psicanalista. A madame fez um cheque e o entregou ao médico. Pediu a ele um cartão, mas antes o alertou para que não falasse de pronto com seu marido sobre jóias, desse um tempo até que pudesse entrar no assunto sem melindres. No dia marcado a mulher passou por uma dessas joalherias notáveis que existem nos Jardins, escolheu jóias caras, avaliadas em cem mil cruzeiros. Chegou ao gerente da loja, perguntou o nome dele (Alfredo) e foi dizendo: "sêo Alfredo o senhor deve conhecer o doutor Júlio Dantas, aí do prédio em frente."O gerente respondeu: "conheço de nome, é um psiquiatra e psicanalista conceituado". A senhora prosseguiu: "sou mulher dele, aqui está o cartão. Por favor, me acompanhe até a clínica que ele fará o pagamento das jóias ao senhor". Ambos atravessaram uma praça, entraram no prédio e subiram ao 10° andar. A mulher carregava o pacote com as jóias. Foram atendidos pelo médico e a madame se apressou: "olha, fiquem à vontade, vou ao banheiro e já volto". O médico disse ao Alfredo: "sente-se, por favor, vamos conversar um pouco". "O gerente da loja respondeu: "olha, doutor, não posso me demorar, apenas vim falar com o senhor sobre as jóias". O psiquiatra e psicanalista tentou despistar: "Tá certo, a gente fala nisso daqui a pouco", e foi enrolando o Alfredo que em determinado momento disse: "doutor Júlio, desculpe-me, mas estou aqui para receber o dinheiro das jóias que a sua mulher acabou de comprar na minha loja, que fica aqui perto". Surpreso, o médico respondeu: "minha mulher? Eu sou solteiro. A velhaca me disse que é sua esposa". Nessa altura a madame já havia tomado um ônibus ou táxi e desaparecido, enquanto médico e lojista discutiam.

CONTO DO PASTEL - Um homem muito bem vestido entra em uma pastelaria no centro de São Paulo, onde se concentra a melhor fatia do comércio, e dirigindo-se ao pasteleiro e proprietário do estabelecimento, geralmente japonês, inicia o seguinte diálogo:
- Bom dia, o senhor aceita uma encomenda de 400 pastéis de carne sem fritar para as 11h30?
- Sim senhor, mas ainda é cedo o senhor vai esperar?
- Não, ainda tenho que providenciar outras coisas para a festa, buscar o óleo para fritar os pastéis e avisar um amigo para me ajudar a levar a encomenda.
- Sim senhor, vai deixar pago? São CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros).
- Vou lhe adiantar dez cruzeiros e na hora que retirar lhe pago o saldo. Perceba que ainda se tratava de cruzeiros, dinheiro usado naquela época.
E dizendo isto retirou uma nota estalando de nova do bolso e entregou-a ao pasteleiro. Despediu-se e pedindo precisão quanto ao horário saiu da pastelaria em direção à rua próxima, desceu alguns metros, parou para acender um cigarro e ficou olhando a vitrine da loja de calçados com muita atenção, até o vendedor se apresentar:
- Bom dia, tem bom gosto senhor, estes sapatos de cromo alemão são a ultima novidade, recém chegados à loja.
- Estou com pressa, mas traga rápido, por favor, um par preto e dois marrons em tons diferentes.
Experimentou-os rapidamente, deu alguns passos pela loja e disse:
- Fico com os três pares, faça a conta, por favor.
- São cento e vinte cruzeiros, quer que embrulhe para presente?
- Não é necessário, virei buscá-los só por volta de 11h30.
- Ora, porque o senhor não leva já os sapatos, afinal ficaram muito bem.
- É que sou fornecedor de farinha de trigo e tenho que vir mais tarde cobrar o japonês da pastelaria que me deve quatrocentos cruzeiros, você o conhece?
- O Misao? Da pastelaria, virando a esquina, na avenida? Somos vizinhos a mais de vinte anos.
- Sim, o Misao! Já que são amigos venha comigo, para ganhar tempo.
Dizendo isso arrastou o lojista até a frente da pastelaria:
- Senhor Misao! Quanto já tem pra mim?
- Já tem uns cem, quer levar?
- Não, agora não. Conhece este moço aqui?
- Sim senhor. O Luiz é vizinho a mais de vinte anos e muito amigo.
- Muito bem, então ele vem dentro de uns 30 minutos e o senhor entrega 120 pra ele, certo?
- Sim senhor, pode deixar.
E voltou com o feliz vendedor para a loja onde pegou os três pares de sapatos, despediu-se e garantiu que voltaria em breve com a esposa e filhos para cobrar o japonês e pegar mais alguns pares de calçados para a família.
Imaginem a cena, quando um japonês de cara brava, com muitos pacotes de pastéis na mão, tentava entregá-los ao dono da loja de calçados e este gritava dizendo:
- Quero o dinheiro, quero minha parte em dinheiro.

CONTO DO DINHEIRO FALSO - Neste golpe a vítima escolhida tem que ter muito dinheiro. O vigarista aproxima-se e explica que tem um amigo que trabalha na Casa da Moeda. Diz que a máquina encrencou e as numerações das notas saíram repetidas. Na conversa o vigarista mostra à vítima algumas notas de mil cruzeiros, dizendo que seu amigo guardou centenas delas duplicadas e está disposto a negociá-las na base de três por duas, uma vez que por ser ele funcionário da Casa da Moeda, seria difícil passar as notas frias. Se o negócio interessar, o vigarista marca um encontro com a vítima, mas antes o recomenda a levar muito dinheiro. No dia e hora combinados encaminham-se para uma pequena casa, onde espalham o dinheiro sobre a mesa. A vítima examina as cédulas apresentadas pelos vigaristas e, ao se certificar que não tem defeitos, inicia o negócio. De repente um grito: "polícia!" Sai todo mundo correndo e o dinheiro some, levado pelos vigaristas, disfarçados de policiais. E a vítima fica impossibilitada de apresentar queixas na delegacia, uma vez que também queria ganhar dinheiro fácil.
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Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

CONTOS DO VIGÁRIO - GOLPE DE MESTRE

CAPÍTULO QUATRO
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Na maioria dos contos do vigário aplicados na década de 50, 60 e 70, o malandro aproveitava-se da ambição dos que se julgavam espertos e no fundo eram desonestos. Para convencer a vítima, o vigarista até gastava dinheiro. "O conto da guitarra" precisava de muito capital para ser aplicado. Um golpe de mestre, de muita audácia, cujo prêmio era ganhar dinheiro sem o mínimo esforço.
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O CONTO DA GUITARRA – O vigarista escolhe quase sempre um rico comerciante ou um fazendeiro e faz uma proposta. Explica que tem um amigo em São Paulo que faz notas de mil cruzeiros (o texto segue o original daquela época), mas que, depois de um certo tempo de atividades, tem encontrado dificuldades com a Polícia. Por causa disso, resolveu vender a máquina. Mostra algumas notas de mil cruzeiros para que sejam examinadas. Depois disto, propõe negócio. A vítima, depois de examinar atentamente o dinheiro "falso", conclui que é idêntico ao verdadeiro. Resolvem dar uma volta pela cidade, ocasião em que o vigarista troca com facilidade o dinheiro, fazendo algumas pequenas compras. Para terminar de uma vez com as poucas dúvidas que a vítima ainda tem, o vigarista dirige-se até a caixa de uma agência bancária, onde também troca o dinheiro. Depois disto vem a pergunta inevitável: "se a máquina imprime notas tão perfeitas, porque seu amigo quer vendê-la?" O vigarista conta que, com a perseguição da Polícia, ele anda bastante amedrontado, uma vez que já distribuiu milhares de notas falsas e não quer se arriscar a ser preso. Após as experiências e as explicações, o malandro diz que seu amigo está disposto a entregar a máquina por 500 mil cruzeiros (uma fortuna na época). Achando o preço muito alto, mas convencido, a vítima marca encontro em um lugar deserto com o proprietário da "guitarra". No dia e hora combinado, o dono da máquina chega com ela embrulhada e começam a discutir sobre a transação. Depois de desembrulhar a máquina – um rolo montado sobre uma caixa, movida por uma manivela – a vítima solicita uma demonstração. O vigarista introduz uma folha de papel branco do tamanho de uma cédula de mil cruzeiros, no lado esquerdo da máquina. Vira a manivela e sai uma nota novinha em folha. A demonstração é repetida diversas vezes, deixando a vítima entusiasmada. Não espera muito e entrega aos vigaristas o dinheiro combinado e corre para casa, carregando a caixa, satisfeito com o negócio realizado. Assim que chega, ansioso, enfia papéis brancos na máquina e começa a fabricação. Por algumas vezes consegue retirar notas de mil cruzeiros, mas depois a máquina para de "produzir", embora continue a consumir papéis.

O CONTO DO PACO – Embora a escola fundada por Antonio Teodoro não conseguisse formar muitos alunos na época, os vigaristas menores que atuavam junto as classes mais baixas deram asas à sua imaginação, criando contos simples, quase infantis, mas cuja eficácia era tanta que são usados até hoje. "O conto do paco", ou "cascata", necessita de muita conversa mole para enganar a vítima. Um caipira típico – roupa larga, lenço no pescoço, botina, cara de otário – aborda a vítima na rua. Pergunta sobre um determinado senhor, dizendo que veio do interior para entregar a ele um pacote, mas que perdeu o endereço. Nem bem acaba de falar, surge outro personagem em cena: um comparsa do vigarista que vinha passando por "acaso". Interessa-se pelo assunto, faz perguntas. O "caipira" repete a história, abre o pacote onde há um bolo de notas de 100 cruzeiros. O "passante", demonstrando surpresa, faz sinais para a vítima e dirige-se ao "caipira", dizendo que conhece muito bem a pessoa que ele procura, mas como mora longe, ele só poderá chegar lá à noite. O "caipira", muito preocupado, explica que não pode ficar muito tempo, uma vez que comprou passagem de volta para às seis da tarde. Então o "passante" – seu cúmplice – aponta para a vítima e diz que os dois poderiam entregar o pacote para ele. A vítima, vendo dinheiro tanto dinheiro fácil, geralmente concorda. O "caipira" reflete e prepara o segundo e decisivo golpe.
- Mas eu posso confiar nos senhores?
O "passante" se intromete e mostra que ele pode confiar.
- Amigo, eu tenho dinheiro, não vou furtar o senhor. E o rapaz aqui também tem, não é? Dê-me o seu dinheiro que eu enrolo nesse lenço, com o meu e o do companheiro. Dito isso, pega o dinheiro do "caipira", da vítima, o seu, enrola tudo num lenço. Rapidamente, sem que a vítima perceba, troca o lenço onde está o dinheiro por outro, previamente preparado. Entrega-o à vítima e afasta-se um pouco, para acabar de enganar o "caipira", dizendo: "espere ali na esquina que eu vou despachar o homem". Na esquina, a vítima, se é gananciosa, sai correndo, se não é, espera até cansar. Aí resolve abrir o lenço: somente papel velho.

O CONTO DO PAPAGAIO Certamente um dos mais conhecidos do Brasil. Existem duas versões para ele. Uma diz que no fim da guerra, em Belém do Pará, um malandro brasileiro vendeu a um soldado americano uma coruja como papagaio. Prefiro a segunda, até porque tem por trás o bom malandro carioca, acompanhe...
O Português vai à loja de animais de um carioca e fica abismado com um papagaio: "como esse seu bicho fala bem? Você não tem nenhum para me vender não?" O carioca, muito esperto, responde que sim, e pede para o português voltar no dia seguinte para buscar seu papagaio, avisando que iria custar bem caro. O português concorda com o preço, mesmo sendo um absurdo e promete voltar no outro dia para buscar sua ave. Logo que o português sai, o carioca pinta uma coruja de verde e fica esperando a volta do freguês. Assim que o português aparece, no outro dia, o carioca lhe entrega a coruja. E lhe dá a seguinte instrução: "você precisa conversar bastante com ela para que aprenda e comece a falar". Dias depois, o português volta até a loja e o carioca pergunta: " e então? O seu papagaio está falando muito?" O português responde: "olha, raios, falar, não fala, mas presta uma atenção!"
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Não perca nesta sexta-feira o capítulo final dessa série que fez enorme sucesso na década de 70. Entre os contos a ser apresentados, você vai conhecer um dos mais criativos daquela década: "O Conto do milionário". Um outro genial que acompanha esta última edição também será apresentado no blog: "O Conto das Jóias", além de outro engraçado e criativo que é "O Conto do Pastel" e "O Conto do Dinheiro Falso". Acompanhe esse quinto e último capítulo nesta sexta-feira.
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EDWARD DE SOUZA é jornalista, escritor e radialista
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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ATÉ NEUROSES APROVEITADAS NOS GOLPES

TERCEIRO CAPÍTULO

Depois que um vigarista conseguiu vender um bonde a um mineiro, e outro malandro o Viaduto do Chá a um caipira em São Paulo, esse tipo de golpe ficou desacreditado. Entretanto, na França, em Paris - abordamos o assunto ontem nos comentários - um vigarista vendeu a Torre Eiffel três vezes, num dos maiores contos do vigário que o mundo já conheceu. Na imaginação do vigarista, até as neuroses são aproveitadas, acompanhe...

O CONTO DO CLEPTOMANÍACO – Em uma das principais joalherias do Rio de Janeiro, um homem de olhar nervoso entra na casa de jóias e pede para ver os anéis. Um dos funcionários coloca vários em cima do balcão, na esperança de uma grande venda. O jovem examina e de repente pega um deles e sai correndo. Os funcionários da loja saem rapidamente em seu encalço, mas o jovem já se encontra seguro por um senhor de aspecto distinto, muito bem vestido. Explica, já de volta à loja, que o rapaz é seu irmão, mas sofre de cleptomania. Entrega o dinheiro do valor da jóia que seu "irmão" havia levado. Depois de tudo certo, o senhor distinto solicita desculpas. No dia seguinte, lá vem de novo o rapaz de olhar nervoso. Os funcionários já estão preparados, mas mesmo assim mostram as jóias para ele. Acontece a mesma correria do dia anterior e aparece o senhor distinto que paga novamente a jóia levada pelo "irmão". E assim vai acontecendo todos os dias, só que as jóias escolhidas são cada vez mais caras. O senhor distinto vai sempre pagando e o dono da joalheria fica cada vez mais satisfeito. Chega a aguardar ansioso a presença do rapaz de olhar nervoso. E ele aparece mais umas duas ou três vezes, mas os funcionários nem mais se preocupam em persegui-lo. Ao contrário, oferecem sempre os melhores e mais caros artigos. Em determinado dia, ele escolhe um colar caríssimo de brilhantes e sai correndo. Ninguém o persegue. Ficam olhando para a porta, na espera do senhor distinto que virá pagar o colar. Desta feita ele não aparece. O colar levado pelo rapaz nervoso valia cinquenta vezes mais que todas as jóias anteriores, que haviam sido pagas até aquele dia.

O CONTO DO ROLEX - Dois rapazes bem vestidos chegam a uma joalheria para comprarem um relógio Rolex, que seria dado ao patrão como presente de aniversário, oferecido pelos funcionários da empresa. Como os dois não chegavam a um acordo sobre o modelo que mais o agradaria, fazem o pagamento de um relógio e pedem ao dono da joalheria que um funcionário os acompanhasse, com os dois relógios, até a empresa, que ficava no prédio ao lado, onde o próprio patrão faria a escolha. Chegando ao bem montado escritório da empresa são atendidos pela secretária, que pede ao funcionário da joalheria que aguarde um instante enquanto os três entram na sala do patrão com os dois relógios. Só depois de um bom tempo esperando e percebendo que a secretária desapareceu é que o rapaz descobriu que a "sala do patrão" - que tinha outra porta de saída - estava vazia, e que aquele escritório estava sendo desocupado, pois a empresa, antes ali estabelecida, mudara-se para outro andar.

O CONTO DO PAU-DE-ARARA – O mais cruel dos contos é o do pau-de-arara. O vigarista usa a boa fé, a ignorância das vítimas e um caminhão para colocar seu plano em ação. Ele chega em qualquer cidade do Nordeste e espalha a notícia de que está indo para o Rio de Janeiro ou para São Paulo e pretende lotar o caminhão com pessoas que querem viajar. Afirma aos interessados que a viagem terá a duração de três dias, e ele cobrará barato. Sem muita demora arruma logo a freguesia, e parte. Três dias depois, quando chega em uma cidade movimentada, ele para e avisa aos passageiros que a viagem chegou ao fim. Alegre, o grupo salta, mas vai saber a verdade na primeira esquina: a cidade é Vitória da Conquista, Bahia e o Rio de Janeiro ou São Paulo está bem longe. O caminhão também.

O CONTO DO TROCO – Nas grandes metrópoles, o telefone também entra na história dos vigaristas. Quase todos os dias ele é aplicado. O malandro prefere sempre um edifício que tenha duas entradas. Disca os números de um supermercado das proximidades.
- Alô, aqui é do apartamento 365 da Avenida Alcântara, nº 340. Por favor, eu queria um desodorante e um sabonete. Existe um problema. Eu queria troco para 5 mil cruzeiros (dinheiro da década de 70). O entregador do supermercado chega instantes após no 340 da Avenida Alcântara. O vigarista o espera na porta. Pergunta se é do supermercado. Ao receber a afirmativa do entregador, solicita que ele lhe entregue a encomenda e o troco, pedindo que o espere por alguns minutos, enquanto sobe ao seu apartamento para buscar o dinheiro. O funcionário do supermercado espera por muito tempo na porta do edifício, mas nunca mais vai ver o vigarista, que já saiu pela outra entrada.
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Acompanhe nesta quinta-feira o quarto capítulo dessa série de "contos do vigário" e conheça outros golpes criativos aplicados no século passado.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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terça-feira, 25 de agosto de 2009

OS VIGARISTAS SE CONSIDERAM ATORES

SEGUNDO CAPÍTULO

O verdadeiro vigarista é aquele que usa a inteligência diretamente em contato com a vítima, segundo dizem os primitivos passadores do "conto do paco", "conto do milionário", "conto do violino" e outros mais. Eles se consideram atores, embora na maior parte dos casos mal pagos. A grande alegria dos vigaristas é ver suas façanhas contadas e admiradas pelos que eles chamam de otários. Os malandros dizem que conto bom é o que desperta a cobiça das vítimas, transformando-as também em vigaristas, assim, não podem recorrer à polícia. "O conto do violino", um dos mais antigos, foi um dos primeiros a explorar este aspecto.

CONTO DO VIOLINO – Em determinada época, um "caipira" hospedou-se em um luxuoso hotel de São Paulo trazendo um violino. Depois de permanecer alguns dias, pediu a conta. Malas prontas, despesas pagas, solicitou um favor ao proprietário do hotel. Disse que iria viajar para o interior, mas não poderia levar o violino. Explicou que o instrumento pertenceu ao seu avô e como sua bagagem era muita, tinha receio de perdê-lo no caminho. Pediu para que o dono do hotel o guardasse, dizendo que comentavam que valia muito dinheiro. O proprietário do hotel concordou. No dia seguinte um senhor elegante, que dizia ser instrutor de violino hospedou-se no hotel. Depois de alguns dias fez amizade com o dono do hotel, que lhe disse ter um violino guardado, de muito valor, conforme as palavras do "caipira", proprietário do instrumento. Sabendo que o senhor elegante era professor de violino, mostrou a ele o instrumento. O "professor" surpreendeu-se e exclamou: "mas é um Stradivarius! Vale milhões. Quero comprá-lo imediatamente. Ofereço 600 mil cruzeiros" (dinheiro da época da publicação dessa série na Revista Realidade, uma verdadeira fortuna). O dono do hotel diz ao "professor de violino" que não pode vender o instrumento musical porque não era seu. O "professor" pede então que ele converse com o dono e deixa um cartão onde consta um endereço e seu nome, dizendo que volta em cinco dias para concluir o negócio. Quando o "caipira" voltou para buscar o violino, o dono do hotel foi logo lhe oferecendo 100 mil cruzeiros pelo aparelho musical, dizendo que de uma hora para outra resolveu ensinar música ao seu filho. O "caipira", depois de pensar uns instantes, andando de um lado para o outro, recordava que o violino era a única lembrança que tinha de seu avô, mas como estava em dificuldades financeiras, iria aceitar a oferta desde que fosse a dinheiro. O dono do hotel concordou, pediu uns minutos enquanto providenciava a soma, pagou o "caipira" e recebeu o violino. "O "caipira" se despediu e foi embora, deixando o dono do hotel a esperar o "professor" o resto da vida, ou até descobrir que o violino não tinha nenhum valor.

GOLPE MILIONÁRIO – Um dos golpes mais famosos aplicados no Brasil e que até hoje é contado como verdadeira aula de malandragem, ocorreu em uma grande loja de São Paulo. Na manhã de um sábado, um homem elegante entrou em uma concessionária no centro da cidade e pediu para experimentar um "Mustang", o carro mais caro em exibição naquela loja. Saiu em companhia de um funcionário da concessionária, voltou, gostou do carro e acertou os detalhes para a compra, entregando um cheque de alto valor ao gerente da loja. Assim que o homem elegante saiu com o carro, raspou o veículo em um poste, bem em frente a loja. Juntou gente e o homem, diante da multidão e dos funcionários da loja que acorreram curiosos, ofereceu o carro pela metade do preço que havia pago, a quem quisesse comprar. Os funcionários imediatamente comunicaram o fato ao gerente. Verificando o que ocorria, o gerente rapidamente telefonou a um distrito policial. Tinha ele quase certeza de que se tratava de um vigarista e que seu cheque não tinha fundos. Solicitou que o homem ficasse preso até segunda-feira, uma vez que todos os bancos estavam fechados. O homem protestou, dizendo que só estava vendendo o carro por superstição. Afirmou aos policiais que o levavam para o distrito que seu cheque tinha fundos, que estava de viagem marcada para o exterior e não poderia esperar. Apresentou inclusive um telegrama de seu sócio, com carimbo de uma cidade do exterior, falando de um negócio de milhares de cruzeiros. Junto ao telegrama seguia uma passagem de avião. Prometeu que acionaria a empresa no valor do negócio perdido se fosse preso. Mas, nada adiantou. O homem foi conduzido para o xadrez, onde deveria aguardar a segunda-feira, dia que seria apresentado seu cheque. O gerente não tinha dúvidas. Aquilo era conversa mole e o cheque não tinha fundos ou era roubado. Na segunda-feira, quando os bancos abriram, o cheque foi apresentado: tinha fundos. O homem recebeu uma pequena fortuna de indenização.

CONTO ENGRAÇADO – Na década de 70 eram muitos os contos engraçados, alguns com criatividade, como esse que apresento. Um senhor entra numa elegante barbearia acompanhado por um garoto com uniforme escolar. Após cortar o cabelo, fazer a barba, manicure e engraxar os sapatos, o homem coloca o garoto na cadeira do barbeiro para também cortar o cabelo e avisa que vai tomar um café. Após terminar o corte e recomendar que sentasse para esperar a volta de seu pai, o barbeiro foi informado pelo garoto que nem conhecia aquele homem, ele apenas o havia parado na rua e perguntado se não queria cortar o cabelo de graça...

AMANHÃ NESTE BLOG -
Você vai conhecer o criativo "conto do cleptomaníaco, o cruel "conto do pau de arara" e o "conto da guitarra", entre outros. Nesta série você vai ficar sabendo que no Brasil, até uma coruja foi vendida como papagaio para um português. Não deixe de acompanhar, nesta quarta-feira, o terceiro capítulo da série "contos do vigário" que fez enorme sucesso na década de 70.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CONTOS DO VIGÁRIO - VELHOS E CRIATIVOS

A série que iniciamos hoje no blog escrevi nos anos 70 na revista "Realidade", uma das melhores publicações do Brasil naquela época. Depois, devido ao grande sucesso que fez em todo o País, foi reapresentada no Jornal Notícias Populares e anos depois no Diário do Grande ABC, arquivo levantado pelo amigo jornalista Ademir Medici, onde consta toda a série que assinei. Vale a pena a leitura para se saber como começou o conto do vigário no Brasil e conhecer golpes criativos, alguns maldosos, além de outros engraçados, como o "conto-do-violino", da "guitarra" e do "cleptomaníaco"...
VIGARISTAS ANTIGOS ERAM REFINADOS
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PRIMEIRO CAPÍTULO
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Antonio Teodoro, que chegou ao Brasil em 1814, vindo de Portugal, foi um dos primeiros batizar o "conto-do-vigário". A escola fundada por ele encontrou nos malandros que agiam junto às classes baixas, muita imaginação, criando contos simples, quase infantis, mas cuja eficácia era tanta que são usados até hoje em todo o Brasil. Os vigaristas fizeram muitos ditados, entre eles, um que diz assim: " enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé". Tem ainda outro ditado conhecido: "quando a esmola é grande o santo desconfia". Será verdade? Nem sempre. Por isso, não é dificil encontrar alguém em qualquer canto desse País que não tenha caído pelo menos uma vez em um "conto-do-vigário".
Sempre existiram vigaristas, ladrões e gente gananciosa, mas antigamente até eles eram muito, mas muito mais refinados. Existem dezenas de golpes sendo aplicados na praça ainda hoje e o número de vítimas aumenta a cada ano. Sempre vão surgindo golpes novos, enquanto os antigos retornam com nova roupagem, como os que estão sendo aplicados com a ajuda da tecnologia. Antigamente bastava uma boa conversa - o velho 171 – para ludibriar alguém. Atualmente os malandros usam celulares, computadores, internet, fax, anúncios classificados, etc... Convencem as pessoas a entregar o dinheiro, o cheque ou a senha do cartão magnético com lábia e criatividade. Contam histórias tão mirabolantes que, depois que vão embora, as vítimas chegam a sentir vergonha de prestar queixa à polícia.

O PRIMEIRO CONTO DO VIGÁRIO - Com gestos de grande cavalheiro e fala macia, o português Antonio Teodoro introduziu, em 1814, o "conto-do-vigário" no Brasil. Assim que chegou de Portugal, Teodoro conseguiu aos poucos a amizade das famílias tradicionais cariocas e dos comerciantes mais prósperos. Participando dos grandes acontecimentos sociais daquela época, foi contando a razão de sua vinda ao Brasil. Explicava a todos que era o único herdeiro de um tio muito rico, falecido em Portugal, havia pouco tempo. Por estar sendo pressionado pelos parentes interessados na fortuna, foi obrigado a deixar Lisboa, onde um procurador trataria de seus interesses. Em pouco tempo sua história se espalhou na alta roda e todos esperavam, mais dia, menos dia, que Antonio Teodoro recebesse baús e arcas carregados de moedas de ouro.
Contando sempre a mesma história, o português conseguiu se manter no Brasil quase um ano, quando começou a sentir as primeiras dificuldades financeiras. Demonstrando sua preocupação pela demora do procurador, segredou aos amigos importantes que tinha conseguido no Rio de Janeiro, suas dificuldades. Não demorou muito e começou a receber ajuda de todos. O moço de fala macia foi aceitando e vivendo como um milionário durante mais um ano, na promessa do tio vigário. Observando o que se passava, um major da polícia resolveu escrever para Portugal, solicitando informações sobre o português. A resposta não se fez demorar: "antigo malandro, muito conhecido na Rua do Ouro, aqui em Lisboa". Teodoro foi preso no mesmo dia, mas o "conto-do-vigário" tinha sido batizado.

O GOLPE MAIS APLICADO - Juntamente com a Loteria Federal, surgiu o conto do bilhete. Por incrível que possa parecer, ainda é o golpe mais aplicado no Brasil, apesar de ser antigo. Ainda é um caipira que aborda a vítima na rua: "doutor, onde posso descontar esse bilhete? Foi premiado e vim de uma fazenda onde trabalho apanhar esse dinheiro". A vítima vai responder, quando aparece, a poucos passos, um cúmplice do falso caipira, que então os convida para verem de quanto é o prêmio, aproveitando-se de uma falsa lista. O cúmplice vê o número, percorre a lista e devolve o bilhete, sorrindo e dizendo que está premiado. O "caipira" pergunta onde deverá recebê-lo e ouve a resposta que só poderá retirar o dinheiro no dia seguinte, pois está tudo fechado. O cúmplice vai embora e o "caipira" fica chorando as mágoas para o "doutor". Explica que tem que voltar à fazenda para levar remédios para os filhos e que tem medo de perder o emprego, mesmo tendo esse dinheiro para receber da loteria. Depois de muito implorar, diz que entrega o bilhete pela metade do preço e que, num dia qualquer volta para pegar o restante. A vítima oferece-lhe o que tem no bolso. E o "caipira", depois de muito pensar, resolve aceitar. No dia seguinte, a vítima tenta receber o dinheiro e vem a desilusão. A data do bilhete é falsa ou a lista do "cambista" foi alterada.
Na maioria das vezes o que faz um golpe desses dar certo é o fato de muita gente querer se dar bem com um "negócio da China." Ou é por ganância ou por ingenuidade. Alguns golpes são fraudes cometidas para garantir a execução de um crime em seguida. Nunca é demais lembrar que comprar bilhetes de loteria é uma das maneiras mais conhecidas de se lavar dinheiro. Exceto, claro, no caso do falecido deputado João Alves que ganhou mais de duzentas vezes por pura sorte, conforme acreditou a CPI dos Anões do Orçamento. Outro golpe antigo que continua sendo praticado no Brasil é o do dinheiro falso, aplicado na maioria das vezes em comerciantes.

AMANHÃ NESTE BLOG - Não deixe de acompanhar nesta terça-feira o segundo capítulo da série "Contos-do-vigário do passado e do presente". Você vai conhecer os grandes golpes praticados no Brasil, alguns inteligentes, outros engraçados, mas que sempre faziam vítimas. Muitas variações já se tornaram folclóricas e outras, adaptadas aos novos tempos, mostram que o repertório dos vigaristas se renova a cada dia.

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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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domingo, 23 de agosto de 2009

Os criativos e engraçados contos do vigário
A série premiada dos anos 70
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Acompanhem no blog desta segunda-feira a série de grande sucesso dos anos 70, que escrevi na revista "Realidade", a melhor publicação já editada no Brasil. Conheça a história do português Antonio Teodoro, que introduziu, em 1814, "O conto-do-vigário" no Brasil.
A série foi reprisada anos depois pelos jornais Notícias Populares e Diário do Grande ABC. Conheça os criativos e engraçados contos-do-vigário praticados naquela época. Nessa série contaremos os velhos golpes que ainda permanecem e lesam milhares de incautos pelo Brasil , entre eles o "conto do bilhete premiado" e o do dinheiro falso, além dos modernos, aplicados contra internautas, cada vez mais sofisticados. Certamente você irá se divertir com golpes inteligentes cometidos nos anos 70, entre eles o da "guitarra", do Cleptomaníaco" e do pastel... Os vigaristas da época fizeram muitos ditados, entre eles um que diz: "enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé".
O primeiro capítulo será publicado nesta segunda-feira no blog, logo no começo da madrugada, não deixem de ler e participar.
Edward de Souza

sábado, 22 de agosto de 2009

MARTE VAI FICAR MAIOR QUE A LUA?

A GRANDE MENTIRA QUE
CIRCULA NA INTERNET

Lembra daquele e-mail que sempre chega em agosto, sobre Marte ficar maior que a Lua? Todos os anos, uma notícia de alerta cósmico se espalha pela internet e informa que no dia 27 de agosto o Planeta Vermelho vai se aproximar tanto da Terra que seu tamanho será comparável ao da Lua Cheia. Será que isso é verdade e você ainda não se preparou para o fim dos tempos? Já desmenti isso em minha coluna no Jornal "O Comércio da Franca", ano retrasado e passado. Por isso, deixe o binóculo guardado e não espere ver, tão cedo, "duas Luas" no céu. Ao contrário do que prega o e-mail falso que circula na internet, Marte estará bem longe da Terra e não vai rivalizar com o satélite pela supremacia do brilho no céu. Preste bem atenção em sua caixa de mensagens. Se você ainda não recebeu esse e-mail, prepare-se. Cedo ou tarde ele acabará entrando na sua caixa postal, instruindo você a sair à rua no dia 27 de agosto e olhar para o céu. "Marte estará tão perto que seu tamanho será maior que Lua Cheia. Nunca o Planeta Vermelho esteve tão perto e tão gigantesco. Isso nunca aconteceu antes", diz o texto do e-mail. Antes de entrar em detalhes, é importante dizer que no dia 27 de agosto Marte nem estará no céu, dando o ar de sua graça somente a partir das 03h00 da madrugada e mesmo assim, timidamente, já que o planeta estará tão longe que não passará de um pontinho vermelho no firmamento. Esse é o sexto ano consecutivo que o e-mail se espalha e ao que tudo indica teve origem no ano de 2003, quando realmente a Terra e o Planeta Vermelho estiveram bastante próximos no dia 27 de agosto. Naquela ocasião, Marte esteve a apenas 56 milhões de quilômetros da Terra, a menor distância nos últimos 60 mil anos. Alguém então enviou uma mensagem eletrônica chamando a atenção para o fato e até hoje essa mensagem é disparada e reenviada nesta época do ano. É uma notícia falsa e requentada. Mesmo na aproximação de 2003, em nenhum momento o diâmetro aparente de Marte se igualou ao da Lua cheia. Naquele dia, o disco marciano de fato brilhava muito mais, já que ambos os planetas estavam em oposição, mas comparar o tamanho aparente de Marte com o diâmetro da Lua cheia foi sem dúvida um grande exagero. Mesmo brilhando como uma grande estrela, poucas pessoas perceberam que aquele ponto avermelhado era Marte em seu momento de maior aproximação da Terra. Na verdade, Marte, o planeta vermelho está agora se afastando da Terra. A mais recente grande aproximação entre os dois planetas ocorreu no dia 24 de dezembro de 2007 - 88 milhões de km. E a próxima está marcada para 27 de janeiro de 2010, quando a distância será de cerca de 100 milhões de km. Em agosto de 2003, a distância entre Marte e Terra chegou a 55,7 milhões de km, oferecendo uma oportunidade única de observação. Foi a maior aproximação em praticamente 60 mil anos - recorde que vai se manter até 28 de agosto de 2287.
O fenômeno não tem grande importância do ponto de vista da astronomia. Todo ano Marte se aproxima bastante. Em 2003, foi mais do que de costume. Mas é algo corriqueiro. Mesmo com essas distâncias, é impossível que os habitantes da Terra vejam duas Luas. Marte nunca chega a ter um brilho que rivalize com a Lua, garantem astrônomos. Geralmente, o Planeta Vermelho tem um brilho menor que a maior parte das estrelas no céu. Quando há grandes aproximações, essa luminosidade é equivalente, no máximo, à de grandes estrelas.
No entanto, se você gosta realmente de observar o céu, olhe para o alto no dia 27 de agosto. Aproximadamente às 21 horas a Lua crescente estará encobrindo a gigantesca estrela Antares, na constelação de Escorpião. O fenômeno é chamado de ocultação e terá duração aproximada de quatro horas. Cerca de uma hora depois, como em um passo de mágica, o gigante vermelho ressurgirá lentamente de trás da Lua, produzindo um espetáculo de encher os olhos. Antares se localiza a 600 anos-luz de distância. É 700 vezes maior que o Sol e seu diâmetro é 152 mil vezes maior que o disco Marciano. Com esses números, podemos afirmar com absoluta certeza que no dia 27 de agosto o show é de Antares e Marte vai ficar quietinho no seu canto!

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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

FILHOS:EDUCAÇÃO E RESPONSABILIDADE

Educar os filhos: uma obrigação dos pais ou do poder público? A humanidade precisa compreender definitivamente que a responsabilidade de educar nossos
filhos é de importância vital,
pois estamos educando a nós mesmos.

J. MORGADO
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O índice de violência em todo o Brasil ultrapassou as fronteiras das grandes metrópoles e como um formigueiro gigantesco se espalha pelas cidades médias e pequenas. E a exemplo desse inseto himenóptero, vai destruindo tudo por onde passa. O homem do campo sabe como controlar essa praga e com tecnologia aliada à sabedoria adquirida através dos antepassados vai avançando e produzindo alimentos cada vez em maior quantidade. Entretanto, esse mesmo homem não soube se livrar da violência que ele mesmo criou. Ao contrário, propaga-a quais as formigas, mesmo tendo o remédio para evitá-la. Recentemente, autoridades municipais aliadas ao poder judiciário, resolveram ditar normas para disciplinar o trânsito de menores durante a noite. Os resultados não se fizeram esperar. Os índices de violência baixaram consideravelmente. Mas, mesmo assim, há aqueles que não aceitam essas medidas considerando-as ilegais, mesmo tendo atingindo seus fins.
Essas mesmas pessoas também não apresentam nenhuma solução para o problema e quando o fazem, são com sugestões utópicas de difícil emprego. Este pequeno preâmbulo serve para exemplificar que o pobre homem sabe vencer os obstáculos que a vida lhes oferece. Entretanto não sabe como estancar ou evitar o mal que ele mesmo criou e que o cerca por todos os lados.
E o remédio para isso está à disposição de toda a humanidade. É de graça. Da mesma maneira que o agricultor prepara a terra para o cultivo, o operário prepara o material para a elaboração de um utilitário, o intelectual estuda para escrever livros ou compêndios, o homem tem a obrigação moral de preparar seus filhos para ser útil à sociedade.
“Quase sempre a mocidade sofre estranhável esquecimento. Estima criar rumos caprichosos, desdenhando sagradas experiências de quem precedeu no desdobramento das realizações terrestres, para voltar mais tarde, em desânimo, ao ponto de partida, quando o sofrimento ou a madureza dos anos lhe restauram a compreensão”. Esse parágrafo entre aspas é do livro “Vinha de Luz” em seu capítulo 136, denominado FILHOS, psicografado por Francisco Cândido Xavier e ditado por Emmanuel (edição FEB/1987).
Lendo essa lição e vendo o que acontece a minha volta e mesmo dentro de minha própria família, nos sentimos frustrados e o mea-culpa acaba por introduzir-se em nosso imo. Não soubemos cumprir com nossos deveres de pais. Se tivéssemos nos esforçado em tentar entender e acompanhar os ensinamentos de Jesus, provavelmente muitos desses jovens que estão perdidos nas drogas e na criminalidade em geral, ou ainda dentro de si mesmo, não estariam na situação em que estão.
Somos pais, somos filhos... Um girar constante diante do processo da reencarnação. Se soubermos nos comportar dentro das leis que regem o Universo e do Estatuto Moral de Boa Conduta, ou se quisermos amar nossos filhos e pais como a nós mesmos, certamente vamos compreender que estamos nos amando, pois o retorno a vida material para aprimoramento, se dá como um círculo vicioso, onde começamos como filhos e desencarnamos como pais.
Compenetrada desse fato, a humanidade compreenderá definitivamente que a responsabilidade de educar nossos rebentos é de importância vital, pois estamos educando a nós mesmos. O Poder Público poderá ajudar sem se ater a políticas partidárias e visando a coletividade num todo, fazer leis e aplicando-as com sabedoria sem nenhum despotismo.
Lendo a tradicional revista “Seleções”, Tomo XVIII, n. 107 – dezembro/1950 (não fique admirado, eu tenho esse número como muitos outros) na página 29, há um artigo muito interessante: “A ciência descobre o verdadeiro Amor”. A matéria é assinada por Howard Whitman (é só acessar a internet para ter mais informações).
O psiquiatra me parece ser essa a especialidade de Howard, nos surpreende com um pequeno trecho de sua dissertação sobre o assunto: “Não se trata, aqui, do amor tão comumente pintado em romances e filmes. Trata-se do amor que Jesus conhecia por inspiração divina – o mais simples e, ao mesmo tempo, o mais complexo atributo do homem. E também o mais incompreendido”.
O artigo se aprofunda nos resultados positivos na terapia do amor. E no final, nos dois últimos parágrafos, assim está escrito: “O Dr. G. Brock Chisholm, diretor geral da Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas, reconheceu que o futuro da humanidade depende do número de indivíduos evoluídos que pudermos produzir pessoas capazes de amar, capazes de abordar os problemas de nosso mundo mutável com um espírito de amor e não com espírito de ódio.
Sim, os sábios estão procurando aproximar-se de Jesus. Também Ele pensava no futuro do homem quando disse há dois mil anos: “UM NOVO MANDAMENTO VOS DOU: QUE VOS AMEI UNS AOS OUTROS”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

BRASIL, UM PAÍS DO FUTEBOL, SÓ DO FUTEBOL...
OSWALDO LAVRADO

O povo brasileiro é conhecido mundialmente por sua passionalidade e irreverência mesmo no trato com coisas sérias e até mesmo nas catástrofes. Porém em uma coisa ele não abre mão de exigir seriedade, discute, briga, sai às ruas, pede cabeças e demissões. No futebol. Se a coisa não vai bem no seu time no de coração ou na Seleção Brasileira, a casa cai. Aqui na terra tupiniquim, o dólar sobe e desce, a inflação vai e vem, o petróleo é nosso, mas depende da moeda norte-americana para taxar seu preço, os políticos deitam e rolam nas barbas do pobre eleitor, que fica irado com as trambicagens, mas vota no cara chamado de ladrão na primeira eleição.
De projeção, a história conta nos dedos da mão esquerda de Lula às vezes em que o povo se levantou para derrubar algum governante. Talvez a mais notória foi para despojar Fernando Collor do pedestal presidencial. Hoje o caçador de marajás trafega livre leve e solto pelo Senado, com direito a baba-ovo de senadores, deputados e, quem diria, do presidente viajante. Nesse campo político, o brasileiro é passivo e às vezes conivente. Mesmo sem participar da barganha ou maracutaias, contribui à impunidade do gatuno travestido de homem do povo.
Agora, o noticiário - rádio, televisão, jornais, revistas e net - dá conta que em Sergipe, por exemplo, o governador Marcelo Deda (PT), e seu vice Belivaldo Chagas, são acusados de abuso de poder público e econômico. No Rio Grande do Sul, o gaúcho se depara com a governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB) sendo acusada de envolvimento em esquema de desvio de R$ 44 milhões do Departamento Estadual de Trânsito. Mais acima, o presidente do Senado, que foi presidente da República deste País, rebola para safar-se de uma série de acusações envolvendo trambicagens praticadas por ele e sua família contra os cofres (o bolso do povo) públicos e o Senado. Como diz o presidente Lula, é uma bela pizzaria com um bom número de competentes pizzaiolos. Sarney se defende, não com provas a seu favor, mas atacando o Estadão e a Veja, e junto com Lula, amaldiçoa toda a Imprensa.
Por outro lado, na mídia e em nome de Deus, a rede Record e os braços da Igreja Universal travam batalha campal com a Globo. Ambas se acusam de fajutagem em vários sentidos, porém nem uma nem outra mostra algo que possa inocentá-las. As duas agem de acordo com a irreverência brasileira. "Se ela fez e não foi punida, por que não posso fazer?". Qual a diferença em se matar uma pessoa com um espeto, ou dez tiros de trabuco? O cara morreu, portanto o crime é o mesmo.
De 1964 para cá, o Brasil tomou conhecimento de pelo menos 240 escândalos envolvendo políticos, sendo 101 ações, nos anos 90, de fraudes, abuso de poder e malversação do dinheiro público. Poucos foram cassados, julgados e punidos. Mas, se o Corinthians ficar três jogos sem vencer, São Paulo ou Palmeiras perderem duas seguidas, Flamengo, Fluminense e Vasco não ganharem o Cariocão, o bicho pega. O povo torcedor sai ás ruas, enfrenta a policia, se preciso o exército, e exige providências. Querem a cabeça do cartola, do treinador ou do boleiro que não demonstrou "amor" com a sagrada camisa do time. No caso da Seleção Brasileira, cuja ira aflora apenas de quatro em quatro anos, o treinador é o alvo preferido, porém em menor escala.
O futebol é o único motivo que deixa o brasileiro furioso e revoltado a ponto de enfrentar camburões, cavalos, escudos e bombas. Até a traição da mulher, antes penalizada com a morte, foi deixada em patamar menos significativo.Que os políticos saqueiem, mintam e atropelem o decoro e a ética, que se engalfinhem as poderosas emissoras de TV em busca do nosso dinheiro, que a mulher durma com o leiteiro (ainda existem?) e que o presidente apóie publicamente alguns salafrários. No entanto, não "bulam, não roubem nem achincalhem o time de coração do povão. Ai o bicho pega. Vale lembrar que o presidente do Senado provavelmente irá desfilar em Brasília como herói, e que a popularidade de Lula segue em alta.
Não podemos esquecer. Em 2010 haverá eleições, mas também tem Copa do Mundo. Dai...
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista, trabalhou muitos anos no Diário do Grande ABC - rádio e jornal - e comandou a equipe de esportes da Rádio Diário por 10 anos. Recebeu a Medalha João Ramalho, concedida pela Câmara Municipal de São Bernardo, juntamente com a equipe de esportes da rádio, pela organização da Copa Infantil de Futebol do Grande ABC, que reuniu cerca de 1,7 mil garotos entre 7 e 12 anos. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PANTANAL: DOURADO FRITO E CERVEJA

J. MORGADO

Pela riqueza de sua fauna e recortada pelos afluentes do rio Paraguai, a planície pantaneira constitui-se no principal reduto para a prática da pesca esportiva e safáris fotográficos. Em meio a uma paisagem deslumbrante, toda a planície pantaneira é cortada por rios e banhada por lagoas sem fim. Aves das mais variadas espécies enriquecem com seu colorido as matas ciliares. Uma fauna riquíssima e bem diversificada habita uma região tão grande ou maior que o Estado de São Paulo. Durante muitos anos frequentei a região. Comecei pelo Rio Miranda a partir da cidade do mesmo nome. Anos depois, passava direto e ia até o ponto final da então Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, na cidade de Corumbá, considerada a “capital” do Pantanal. O Rio Paraguai, diferente da Amazônia, onde a paisagem muitas vezes chega a ser monótona em razão da espessa vegetação, mostra com toda sua pujança seus afluentes, flores, mamíferos, répteis e pássaros para serem vistos e fotografados.
Corumbá não é só pescarias; é história e comidas típicas das saborosas e tradicionais. O sarrabulho e a cabritada. O primeiro é uma comida típica de origem portuguesa feita com sangue, carne e miúdos de porco. Uma delícia! De 1865 a 1867, Corumbá, ficou de posse dos paraguaios. A Guerra do Paraguai criou esse episódio e outros mais e, em razão disso, até hoje pessoas sonham com tesouros escondidos nos velhos casarões existentes na parte baixa da cidade junto ao porto.
Alguém sonha com um fantasma. Um cara que viveu na época da invasão escondeu seus recursos, geralmente ouro, nas grossas paredes feitas com pedra, aparece e diz para encontrá-lo, do contrário ele não terá descanso. Alguns moradores antigos juram que é verdade! E é nesse porto que começamos nossa pescaria. Depois de viajarmos mais de 36 horas a partir de São Paulo (isso na década de 1950 a 1970). Nesse porto, alugávamos um barco com o respectivo piloteiro. No final dos anos 60, nosso costume era acampar em uma das margens do rio e ali ficar de 10 a 15 dias. Às vezes, encontrávamos uma casa abandonada de tropeiros ou fazendeiros. As cheias anuais “expulsavam” seus moradores. As barracas eram armadas no interior dessas casas, por causa dos mosquitos. O fogão ali estava disponível e a lenha era abundante.
Eu sempre procurava não me distanciar muito da cidade. Duas ou três horas de barco, quando muito. A razão principal era o congelamento dos peixes pescados. Depois de uma manhã de pescaria, o piloteiro se deslocava até a cidade e levava o pescado para a câmara frigorífica. Em pescarias onde o acampamento era mais distante, o recurso era a salga. Com sal grosso e facas bem afiadas, limpávamos e salgávamos os peixes deixando-os secar em varais. Nos dias de hoje, as pousadas e enormes barcos (hotéis flutuantes) com capacidade para muitos pescadores facilitam tudo. Os peixes são congelados e guardados até o final da pescaria.
Depois de providenciar todo o equipamento, combustível, alimento etc., eu e meus companheiros embarcávamos e subíamos o rio. O casario na margem esquerda (para quem desce) é interessante. Na pequena cidade de Ladário, o porto e o VI Distrito Naval. Uma sentinela avançada na fronteira. A partir daí, começávamos a pescaria de currico. Eu com minha carretilha e linha 0,50mm, colher de bom tamanho bem encastoado. Os outros dois com molinetes e linhas da mesma espessura. Um sentado na proa e outros a estibordo e a bombordo. As linhas eram soltas. 15 a 20 metros de fios esticados devido à velocidade do barco. A colher, imitando um peixe prateado, vez ou outra aparecia brilhando acima das águas pardas do rio. A ansiedade pela fisgada do primeiro dourado era comum a todos nós. Às vezes não era um dourado e sim uma “cachorra” (peixe-cachorro), com seu corpo alongado, prateado e longas presas. Esse peixe não oferece tanta emoção como o dourado. Luta pouco é tem muitas espinhas.
Manhã muito fria. Segunda quinzena de agosto. Os dourados ainda estavam dormindo (hihihihihihi) e o Pezão, um dos companheiros, primeira vez no Pantanal, já começava a reclamar. Dizia que o lugar era só fama, etc. Foi quando senti o tranco! E vi o dourado saltar! Gritei: " douraaaaaaado"! Uma exclamação de alegria toda vez que fisgava esse salmonídeo. Recolhido, continuamos a “curricar” até o local onde íamos acampar. Nenhum outro exemplar foi fisgado. Assim, enquanto ajeitávamos o pouso, o piloteiro, acendia o fogo e outro preparava o peixe.
Naquela imensidão tendo como fundo os gritos dos araquãs, o cantochão dos bugios e a beleza inigualável da natureza pincelada com o amarelo dos ipês em flor, companheiros de pescaria fartavam-se com postas de peixe frito e cervejas geladas. Uma delícia!
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

UM CASO DE SUICÍDIO OU HOMICÍDIO?

ACREDITE SE QUISER
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No jantar de premiação anual de ciências Forenses, em 1994, o perito médico-legista Dr. Don Harper Mills impressionou o público com as complicações legais de uma morte bizarra. Acompanhe essa história, entre muitas outras que este blog vai apresentar, na sessão "Acredite se quiser".
Em 23 de março de 1994, o médico legista examinou o corpo de Ronald Opus e concluiu que a causa da morte fora um tiro de espingarda na cabeça. O Sr. Opus pulara do alto de um prédio de 10 andares, pretendendo suicidar-se.
Ele deixou uma nota de suicídio confirmando sua intenção. Mas quando estava caindo, passando pelo nono andar, Opus foi atingido por um tiro de espingarda na cabeça, que o matou instantaneamente.
O que Opus não sabia era que uma rede de segurança havia sido instalada um pouco abaixo, na altura do oitavo andar, a fim de proteger alguns trabalhadores. Portanto, Ronald Opus não teria sido capaz de consumar seu suicídio como pretendia.
O Dr. Mills relata que "quando uma pessoa inicia um ato de suicídio e consegue se matar, sua morte é considerada suicídio, mesmo que o mecanismo final da morte não tenha sido o desejado".
Mas o fato de Opus ter sido morto em plena queda, no meio de um suicídio que não teria dado certo por causa da rede de segurança, transformou o caso em homicídio. O quarto do nono andar, de onde partiu o tiro assassino, era ocupado por um casal de velhos. Eles estavam discutindo em altos gritos e o marido ameaçava a esposa com uma espingarda. O homem estava tão furioso que, ao apertar o gatilho, errou completamente o alvo, que era a sua esposa, atravessando a janela e atingindo o corpo que caía.
Quando alguém tenta matar a vítima "A", mas acidentalmente mata a vítima "B", esse alguém é culpado pelo homicídio de "B". Quando acusados de assassinato, tanto o marido quanto a esposa foram enfáticos, ao afirmarem que a espingarda deveria estar descarregada. O velho disse que tinha o hábito de ameaçar sua esposa com a espingarda descarregada durante suas discussões. Ele jamais tivera a intenção de matá-la. Portanto, o assassinato do Sr. Opus parecia ter sido um acidente, ou seja, ambos achavam que a arma estava descarregada, portanto a culpa seria de quem carregara a arma.
A investigação descobriu uma testemunha que vira o filho do casal carregar a espingarda um mês antes. Foi descoberto que a senhora havia cortado a mesada do filho, e este, sabendo das brigas constantes de seus pais, carregara a espingarda na esperança de que seu pai matasse sua mãe. O caso passa a ser, portanto, do assassinato do Sr. Opus pelo filho do casal. As investigações descobriram que o filho do casal era, na verdade, Ronald Opus. Ele se encontrava frustrado por não ter até então conseguido matar sua mãe. Por isso, em 23 de março, ele se atirou do décimo andar do prédio onde morava, vindo a ser morto por um tiro de espingarda quando passava pela janela do nono andar. Ronald Opus havia efetivamente assassinado a si mesmo, por isso a polícia encerrou o caso como suicídio. Durma-se com um barulho desses e... ACREDITE SE QUISER! Em breve mais casos incríveis como esse serão contados aqui, nesse espaço. (Edward de Souza)

sábado, 15 de agosto de 2009

FUTEBOL E GREVE EM PERNAMBUCO
Lavrado aproveitou a paralisação dos vôos para
passear na Praia de Boa Viagem, em Recife
HISTÓRIAS DO RÁDIO ESPORTIVO
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OSWALDO LAVRADO
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Assistindo pela televisão o jogo entre Náutico e Corinthians pelo Campeonato Brasileiro deste ano, no Estádio dos Aflitos, em Recife, lembrei de uma das nossas viagens à capital de Pernambuco pela Rádio Diário do Grande ABC. O que me fez recordar foi a ruindade de corintianos e "nauticanos" na partida de quarta-feira. Um joguinho horroroso, mostrando porque o Náutico está na zona do rebaixamento do Brasileirão e o Corinthians despencando mais que balão em queda livre. Então, vamos a epopéia. Um sábado do começo da década de 90, eu e o Edward de Souza embarcamos num vôo Varig, em Guarulhos, para Recife com a incumbência de transmitir o jogo Náutico e Santos, pelo Brasileirão, no Estádio dos Aflitos. Pela informação que obtive com a empresa que nos vendeu as passagens, nosso vôo não teria escalas, seria direito São Paulo/Recife, com duração de aproximadamente duas horas. Foi confiando nessa informação que embarcamos no sábado, dia do jogo, no vôo das 8h para chegar na capital pernambucana por volta das 10h, pegar um hotel, um banho, o almoço e partir para o trabalho.
No entanto, um imprevisto, que deveria ser do nosso conhecimento, afinal dois jornalistas teriam por dever de profissão saber que as empresas aéreas esboçavam uma paralisação que até nome tinha. Ficou conhecida como greve branca. E realmente, nesse sábado, os empregados da aviação decidiram cruzar os braços veladamente.
Chegamos ao aeroporto de Cumbica por volta das 6h30 da manhã com tempo suficiente para tomar um bom café, ler os jornais do dia e confirmar nosso embarque. No balcão da Varig uma enorme fila, fora do normal pelo horário, indicava que alguma coisa não estaria nos eixos. E não estava. A atenciosa moça do balcão, voz baixa e aveludada, informava que todos os vôos estavam atrasados naquele sábado. O nosso, por exemplo, marcado para as 8h, deveria sair por volta das 12h. Motivo: a maldita greve branca. Não havia como discutir e nada a ser feito senão aguardar. Contrariada e preocupada não restou alternativa à dupla da Rádio Diário senão aboletar-se nos assentos do aeroporto e rezar para que uma benevolente tripulação se dispusesse a pilotar um Boeing com destino a Recife. As preces não foram ouvidas, afinal era sábado e os santos evocados, certamente, estariam pegando uma praia, quem sabe do nordeste brasileiro.
Saímos então às 12h direto para Recife (felizmente não houve escalas). Chegamos ao aeroporto de Guararapes as 13h50 e, de táxi com malas e cuias, rumamos direto para o Estádio dos Aflitos, onde às 16h jogariam Náutico e Santos. Teríamos que abrir a transmissão às 13h, mas isso só foi possível as 14,40h. O locutor de plantão da rádio, Luís Carlos Maia, fez a abertura do horário esportivo e encheu linguiça (termo usado em rádio para preencher tempo) até nossa chamada. Nas cabines, super apertadas, colocaram a equipe da Rádio Diário (eu e o Edward) e da Rádio A Tribuna de Santos (com o narrador Luís Roberto, hoje na TV Globo).
Nesse dia também estreava como novidade no futebol, apenas no Brasil, a logomarca da Coca-Cola, exatamente no meio do gramado. Um negócio estranho e que atrapalhava a vida do narrador, a noção do campo para os jogadores e complicava o trabalho do árbitro. Essa foi a única vez que o símbolo da poderosa Coca ficou em campo. A FIFA, dona do futebol mundial, mandou extinguir o procedimento, não sem antes dar um puxão de orelhas nos organizadores do campeonato, no caso a CBF. Mas, apesar da cabine apertada e do jogo ruim (1 a 0 para o Santos, gol de pênalti marcado pelo centroavante Paulinho McLaren) a transmissão ocorreu sem problemas, isso para nós da Diário e para o pessoal da Tribuna. Na saída do estádio, já escuro, o repórter de campo da Rádio Record de São Paulo, Raimundo Nonato, pernambucano e profundo conhecedor de Recife, nos ofereceu carona num fusquinha que implorava por aposentadoria. No caminho da praia da Boa Viagem, onde ficamos hospedados, Nonato nos contou o sufoco que passou no momento do gol do Santos. Por medida de economia, ( isso é feito até hoje pelas rádios), a Record mandou a Recife apenas o repórter. O narrador (Oswaldo Maciel) ficou em São Paulo transmitindo o jogo off-tube, ou seja, vendo a partida pela televisão. Segundo nos disse Raimundo Nonato, a imagem da TV (só a Globo transmitia) caiu e o repórter (no caso Nonato) sem saber o que ocorria, estranhando o locutor sair do Ar. Nonato ficou perdido. Dois segundos fora do Ar ( que chamamos de buraco) em rádio correspondem a uma eternidade, suficiente para custar o emprego do locutor e do repórter. Raimundo Nonato, visivelmente preocupado em perder a boca na Record, disse que a transmissão somente voltou com o pênalti batido e o jogo no final. Teve que improvisar e inventar cenas para completar a transmissão.
Enfim, o repórter da Record nos deixou no hotel na praia da Boa Viagem, onde então tomamos banho e fomos para a praça do mesmo nome, onde tem uma feirinha permanente e que se pode comprar desde um bode até uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem. Depois de percorrer a bendita feira e adquirir coisas que nunca soubemos exatamente sua utilidade, fomos a um restaurante na calçada que dividia a praça da praia. Uma festa. Um cavaleiro e dois amigos em volta de uma mesa com os respectivos cavalos. O Edward me olhava interrogativo: "que diabos é isso, cavalos aqui dentro do restaurante?". Mesmo assim ele se aproximou dos animais e flagrei uma foto sua acariciando um dos cavalos, postada neste blog, observem. Papo vai, cerveja vem, um cidadão, tipo 40 anos, solitário no restaurante, se aproxima e pergunta: " vocês são jornalistas de São Paulo?" Ele soube por meio de outros caras da Imprensa de Recife que estavam no recinto e tinham visto a gente no estádio. Tudo bem. O pernambucano entabulou um papo com o Edward, já que estava mais próximo. Pouco se entendia o que era falado ali, já que era uma noite quente e a casa estava lotada. Uma mistura de gente, fumaça de cigarro, cheiro de bebida, comida e cavalos e um burburinho dos diabos. Em determinado momento, o nosso visitante, um tanto alto pela bebida, mas cordato, simpático e demonstrando simpatia, disse ao Edward: " você como jornalista poderia fazer segunda-feira uma reportagem da "gralha". Sem entender direito, nosso francano respondeu: "gralha, o que é isso? pelo que sei gralha é uma ave que berra muito alto, mas não fala". A coisa ficou complicada, já que o novo companheiro de mesa não conseguia se explicar e muito menos a gente entender o que ele queria dizer. Ficamos sabendo depois que a "gralha" que o pernambucano se referia era nada menos que Agrale, uma fábrica de motos e máquinas agrícolas com fábrica no Recife. Lá pelas tantas o rapaz se retirou, não sem antes deixar seu cartão com o Edward e fazer absoluta questão que a gente fosse lhe visitar e conhecer sua família em sua residência na periferia de Recife. Um sujeito muito legal, diga-se. Fomos para o hotel, acordamos cedo e decidimos aproveitar a segunda-feira de sol e céu de brigadeiro na praia da Boa Viagem. Afinal os aviadores estavam em greve branca, ficaríamos aquele dia em Recife e como ninguém é de ferro...
Dever profissional cumprido, praia devidamente degustada, voltamos a São Paulo no dia seguinte, uma terça-feira, num vôo noturno liberado pelos grevistas, sem maiores problemas. É certo que o avião fez escala em Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mas nada preocupante. Claro, avisado previamente de nossa chegada, lá estava o nosso Lampião, com o golzinho da rádio a nossa espera no aeroporto de Guarulhos, com o sorriso de sempre e a pergunta adrede entabulada: "foram bem de viagem?". "sim Lampião, tudo bem, obrigado."
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*Oswaldo Lavrado - jornalista/radialista - trabalhou por muitos no Diário do Grande ABC, rádio e jornal. Comandou a equipe de esportes da Rádio Diário por 10 anos. Recebeu a Medalha João Ramalho, outorgada pela Câmara Municipal de São Bernardo, juntamente com a equipe de esportes da rádio pela organização da Copa Infantil de Futebol, que reuniu cerca de 1,7 mil garotos de 7 a 12 anos de idade. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
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