

“O rio invadiu as marginais”, dizem equivocadamente nossos coleguinhas da TV. Errado: foi a cidade que muito antes invadiu o rio. Essas marginais jamais poderiam existir no lugar onde estão. É um retrato da incompetência das nossas autoridades, de qualquer época, com a conivência, ou ignorância, dos engenheiros.
Até uma criança é capaz de entender o problema: todo rio precisa de um espaço, que pode ter diferentes nomes, mas é tudo a mesma coisa: “área de enchente”, “várzea”, “cota de inundação”, etc.

Então, quando o homem na sua burrice e ganância invade esse espaço que é do rio, pavimentando tudo, acabando com a drenagem natural, matando essa riqueza do solo, vai ter como resposta da natureza o que seguidamente vemos em São Paulo. Sem ter para onde ir, o rio vai buscar seu espaço a qualquer preço: invade as ruas, casas, empresas. O Ceasa, por exemplo, jamais poderia estar ali. E não me venham dizer, por favor, que num país do tamanho do Brasil espaço é problema.

Outro problema é a encosta dos morros. É uma insanidade total construir casas nas encostas do morros. Mesmo com a vegetação, o morro sofre mutações permanentes, aquilo não é algo tão sólido como parece. Tanto que na Serra do Mar, onde há túneis e pontes, é necessário um monitoramente de engenharia e geologia permanente, para acompanhar as mutações. Ora, queridos leitores do Blog do Edward de Souza, a ocupação ilegal das encostas, aumentando a instabilidade do morro e causando seu desmatamento, vai agravar e potencializar um fenômeno que também é parte da dinâmica da natureza. É evidente que as chuvas vão tornar aquele terreno mais instável do que naturalmente já é. E isso ocasiona os deslizamentos, soterrando casas e pessoas, uma tragédia lamentável e que poderia ser evitada, como no caso das enchentes, com uma única e sensata decisão: respeitar sempre a natureza!
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*Milton Saldanha, 64 anos, é jornalista e dono de notável memória, que adora manter sempre viva.
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