segunda-feira, 8 de junho de 2009

LEMBRANÇAS DAS MATINÊS DE DOMINGO

Nivia Andres
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No escurinho do cinema...

...Chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz... Qualquer semelhança com os versos de Rita Lee não é mera coincidência! O escurinho do cinema sempre despertou frisson nas pessoas, especialmente nos tempos idos, quando éramos bem jovens.
O gancho para essa viagem no tempo dos antigos cinemas surgiu quando fui assistir a um filme, em março, no novíssimo Barrashopping Sul, em Porto Alegre. Sabem por quê? Cinema de alta tecnologia é outra coisa – nem para comprar ingresso a gente entra em fila! Ao lado da bilheteria tem um caixa eletrônico – basta inserir o cartão do banco, adquirir o bilhete e escolher o lugar preferido. Poltrona hiper-megaconfortável, som perfeito, tela enorme, ambiente limpo e perfumado. O filme “Quem quer ser um milionário?” também foi bom. Saí do cinema com uma sensação de assepsia completa e daí recordei dos velhos cinemas de Santiago – o Neno e o Imperial (que agora só existem na nossa lembrança), palcos de grandes emoções e aventuras dominicais.
Pois bem, o Imperial era mais usadinho enquanto o Neno era recém-construído, mas isso não interessava. No domingo após o almoço, eu, minhas irmãs e amigas, caprichosamente vestidas, corríamos para o cinema, cheias de boas intenções e expectativas. Dependendo do filme, a fila era enorme – mais um atrativo, para sabermos se os “guris” também estariam lá. Cumprida a paciente espera pelo ingresso, a próxima etapa era o bar. Sem balinha ou pipoca não tinha graça...
O Teatro Cine Neno tinha 1.300 lugares, era um dos maiores do estado, na época, e passava os filmes da moda. Escolhido o lugar estratégico aonde íamos nos sentar, as poltronas passavam por vistoria prévia, para observar se não havia algum chiclete grudado. Acomodadas, iniciava a espera pelo sinal das três badaladas, que anunciaria o tão esperado escurinho... Luzes apagadas entrava o “Canal 100”, com as últimas notícias e o futebol, com aquela trilha inesquecível! Depois, os “trailers” dos próximos filmes em cartaz. Só aí começava a sessão.
Os westerns e os românticos eram os nossos gêneros preferidos. Giuliano Gemma, o valente mocinho italiano dos faroestes e Gianni Morandi, o jovem cantor italiano que fazia par com Gigliona Cinquetti provocavam suspiros na gurizada. Clint Eastwood já era herói. Quem não se lembra de “O bom, o mau e o feio”, em que ele atuava ao lado de Lee Van Cleef e Eli Wallach? E da dupla italiana (com nomes americanos) Terence Hill e Bud Spencer, dos westerns-spaghetti? O francês Alain Delon (um pão!) também era um dos preferidos das meninas. Musical? Só se fosse com o Elvis Presley! Comédia? Gargalhadas com as performances de Jerry Lewis! Nessa época choramos rios de lágrimas assistindo “Romeu e Julieta” e “Love Story”. Também não podemos esquecer os filmes do Roberto Carlos e do Beatles...
Quando a sessão era dupla, o primeiro filme era bom e o segundo, geralmente, uma porcaria. Daí, aproveitávamos pra brincar, incomodando Daniel, o lanterninha, que era o guardião do cinema e nos vigiava de perto. No corredor lateral, que servia de saída, entre uma sessão e outra, ele deixava estacionada a sua bicicleta – um flamante modelo vermelho, sua paixão. Nem é preciso dizer que adorávamos dar uma voltinha... Para a sua agonia! Muitas vezes ele trouxe os guris pela orelha, de volta ao salão do cinema. Muitas outras os colocou porta a fora, de modo a serenar o ambiente. Memoráveis também eram as batalhas de bolinhas de cipreste que travávamos com os colegas. Espetava mais do que doía. Mas o Daniel ficava louco, correndo naquela imensidão, com a lanterninha acesa, para identificar os transgressores. Acho que devia ter um preparo físico fantástico, de tanto correr atrás dos piás. Hoje, ele trabalha na prefeitura, cuida dos parques e jardins, e sempre batemos um papinho quando nos encontramos, lembrando aqueles bons tempos.
O Cine Imperial, atualmente, é uma grande loja de eletrodomésticos. Já o Cine Neno foi transformado em casa de eventos. Só abre quando há algum show ou formatura da Universidade. Porém, as aventuras das tardes de domingo no cinema são eternas, porque estão armazenadas na nossa lembrança.
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008.
Blog da jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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