A nota divulgada pela Uniban não traz mais detalhes do recuo, feito logo após a repercussão negativa da notícia de que a estudante não poderia mais continuar seus estudos na entidade de ensino superior. Segundo notificação anterior da Universidade, publicada em jornais de São Paulo no domingo (8), a decisão de expulsar Geisy foi tomada após uma sindicância interna, que atribuiu a culpa pelo tumulto às atitudes da estudante, que teria desfilado pelos corredores, tirado fotos e passeado pelas salas de aula com um vestido provocante.
Antes da Uniban recuar em sua decisão, o Ministério Público Federal em São Paulo divulgou que instaurou um inquérito civil público para apurar as circunstâncias da sindicância que resultou na expulsão de Geisy. Também a Polícia Civil abriu na tarde de ontem um inquérito para investigar as ofensas sofridas pela estudante do curso de turismo. O caso teve grande repercussão, inclusive internacional, recebendo destaque nos jornais "The New York Times" e "The Guardian".
Ainda na tarde de ontem, antes da notícia da desistência da Uniban em expulsar Geisy, o advogado da estudante, Nehemias Melo, convocou uma coletiva em que avisou que deveria ir à Justiça para que a cliente tivesse o direito de terminar o semestre letivo na Uniban. Na ocasião, o advogado afirmou que deveria ir ao Fórum de São Bernardo do Campo para entrar com uma medida cautelar para que Geisy possa retornar à faculdade. Ele também alegou que deveria pedir a retirada os vídeos postados na internet com as imagens do dia em que ela foi agredida. Segundo o advogado, um inquérito foi aberto na delegacia da Mulher em São Bernardo do Campo para apurar o caso. Geisy também participou da coletiva. Passou boa parte do tempo de cabeça baixa e chegou a se emocionar em alguns momentos. Ela respondeu a todas as perguntas feitas pelos jornalistas e disse que a única coisa que ela quer é terminar o ano letivo.
O Ministério da Educação (MEC), que também divulgou ontem um documento onde exigia que a universidade se manifestasse sobre a expulsão em dez dias, disse que não recebeu oficialmente nenhuma informação sobre o recuo da Uniban..

"Todo mundo tem culpa nessa história, inclusive a Geisy. Ela ficou desfilando e se exibindo e estava gostando do alvoroço até que tudo saiu do controle", conta Beatriz Carrera, aluna de nutrição da Uniban.
Maria Fernanda Marcelino, militante do grupo feminista, aproveitou o carro de som e denunciou a "mercantilização" do corpo das mulheres. Ao mesmo tempo, a universidade foi acusada de machista e autoritária. O clima foi tenso entre manifestantes e alunos da instituição.
Michele Alberdht, uma das alunas contrárias ao movimento, explicou o motivo pelo qual vaiou a manifestação. "Esse pessoal que veio protestar não sabe como era essa menina", diz, referindo-se a Geisy Arruda.
Angélica Fernandes, militante do Diretório Nacional do PT, relembrou o passado de São Bernardo do Campo para se queixar do presente. "Há 30 anos São Bernardo do Campo entrava pro noticiário nacional com a greve contra a ditadura. Agora nosso município volta mostrando que está nas trevas", declarou ao microfone, ainda sob as vaias dos alunos.
Quando o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Augusto Chagas, subiu ao carro de som para finalmente anunciar a decisão da Uniban de voltar atrás sobre a expulsão de Geisy, foi recebido com mais protestos. "Ele está pegando a Geisy", gritou um estudante. "É natural a polarização. Tem gente que não compreende o debate e acha normal a violência contra a mulher", afirmou o presidente da UNE.
