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Uma tarde ensolarada de domingo, trafegava pela Avenida Robert

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A mesma ladainha: "calma tio - dizia o rapaz que estava ao volante - só
queremos grana". O cara que estava comigo no banco traseiro pediu meu cartão do banco. Felizmente, não viu meus outros documentos, os "manos" odeiam jornalistas. Logo à frente de onde fui abordado, há uma rotatória chamada área verde, onde ficava uma dessas viaturas de policia comunitária e os caras sabiam disso: "vamos passar perto da viatura e se o senhor abrir a boca estará morto, fique quietinho ai e tudo irá bem", decretou o moreno de bigodes ralinhos que estava ao meu lado. Cruzamos a área verde sem problemas e descemos a Joaquim Nabuco, rua do pronto-socorro central, que normalmente tem viaturas da polícia, mas o motorista se apressou em me alertar de novo que poderia me matar ali, caso desse qualquer alarme. Seguimos em direção ao Centro de São Bernardo, onde ficam as agências bancárias da região central. Com pouco de coragem, ou burrice, arrisquei: "olha amigos (amigos?), acho que vocês pegaram o cara errado e estão perdendo tempo, além do risco da casa cair" - não dei tempo para apartes e prossegui: "a agência do meu banco fica exatamente na esquina da rua que eu moro (Marechal Deodoro com Rio Branco, ao lado da Praça da Matriz). Além de estar sem saldo no banco (não menti), sou muito conhecido no pedaço e sempre há na praça da igreja uma viatura. Se vocês pararem ali e os taxistas da praça me virem certamente irão acionar a polícia".
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Pela Marechal Deodoro fomos em frente, o piloto entrou na Avenida Faria
Lima, ao lado do corredor do trólebus, e quando chegamos na rotatória do Paço Municipal, encostou o carro em frente ao Conjunto Anchieta. Descemos todos e eu já me apressava em cair fora e largar o carro com os caras, mas eles saíram correndo, apressados, rumo a favela do DER, que fica na região do Paço. Sorte minha, porque minutos antes, o “mano” que dirigia meu Uno sugeriu rumar para o Rio Pequeno, na Represa Billings, onde resolveriam o que fazer comigo, pois temiam que, me liberando no Centro, eu poderia acionar a polícia. Ainda bem que desistiram da ideia e se mandaram a pé. Minhas pernas tremiam e, diabético que sou, achei que não sairia dali. Mas consegui. Como deixaram as chaves no contato, para minha sorte, liguei o carro e voltei para casa. Meu amigo (doente), que eu iria visitar, economizou algumas xícaras de café ou umas latas de cerveja.
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Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no ABC
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