sexta-feira, 4 de setembro de 2009

AINDA NÃO APRENDEMOS A PERDOAR

A DUREZA MATA OS BONS SENTIMENTOS
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J. MORGADO

“E Jesus Dizia: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” – Lucas – 23v.34. Essa frase proferida por Jesus e que consta apenas no Evangelho de Lucas, reflete bem e incontestavelmente os ensinamentos do enviado de Deus. Depois de passar todo o Código Divino aos encarregados de divulgá-lo e sofrendo com isso os martírios aplicados pelos algozes da época, que não aceitavam em dar a outra face e amar ao próximo como a si mesmo, desencarnou pregado no madeiro perdoando aqueles que julgavam ser seu inimigo e pedindo ao Pai que os perdoasse!
Deus nos criou espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento (LE, II – Capítulo 1, item 115), mas nos dotou de livre-arbítrio para que pudéssemos avançar em nossa evolução com nossos próprios méritos. Daí a justiça através das reencarnações, para que conseguíssemos aplainar do caminho percorrido os empecilhos que nós mesmos colocamos ao escolhermos a Porta Larga (Capítulo XVIII – Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos – A Porta Estreita, item 3 – Evangelho Segundo o Espiritismo).
Assistimos pela Televisão e lemos nos jornais e revistas fatos que estarrecem a maioria da população por não conseguirem entender como seres humanos podem chegar a cometer atos de natureza bárbara. Se nos dermos ao trabalho de pesquisarmos a história universal em todos os tempos, vamos verificar que isso acontece desde épocas imemoriais. Já tive a oportunidade de descrever através de meus artigos que o homem não consegue, ainda, se livrar do orgulho, do ciúme e todos os seus filhos diletos. Crimes mais bárbaros foram cometidos no passado, mas, vamos nos ater ao tempo em que Jesus aqui esteve nos transmitindo o Código Divino.
Quando do nascimento do Messias, Herodes, então rei da Judéia, entendeu mal os boatos de que nascera uma criança que assumiria seu reino. Não pensou duas vezes, mandou matar todos os meninos nascidos em Belém com até dois anos, daí a fuga de José e Maria para o Egito. Muitos outros fatos aconteceram em todos os tempos parecidos com esse. Nos dias de hoje as crianças são as piores vítimas das guerras. A fome, a miséria, as doenças ocasionadas pela incúria, egoísmo e indiferença dos homens são as principais causas do desencarne desses pequeninos todos os dias em nosso Planeta de Expiação e Provas. Os mais esclarecidos, no caso, supõe-se os Espíritas, entre outras doutrinas reencarnacionistas, entendem cada situação e vê em cada caso mostrado pela mídia um fato de ação e reação e lamentam que o perdão esteja totalmente ausente. Se nos dias de hoje ainda não aprendemos perdoar, imagine o leitor ao tempo de Jesus. O Código de Moisés – Olho por Olho, Dente por Dente. As Guerras de Conquista do Império Romano entre outros mais longínquos.
Cada vez que eu vejo o povo enfurecido em uma porta de delegacia com a polícia protegendo um criminoso da sanha ensandecida de uma população que se esquece que vivemos em um país cristão, lembro-me da passagem do Evangelho onde Jesus diz: “Não julgueis a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo tiverdes julgado os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles” (Mateus, capítulo VII, v. 1, 21) – Veja o Capítulo X, item 11 – 12 e 13, do Evangelho Segundo o Espiritismo, edição IDE/1984.
Deus nosso Pai, enviou seu filho Jesus com a finalidade de nos mostrar um caminho seguro para que, sem tropeços, pudéssemos evoluir rumo a esferas superiores e com isso nos tornarmos úteis na construção infinita do Universo.
O amor é um sentimento que nem mesmo os dicionaristas conseguem definir com precisão. No caso, em que abordamos o Criador e Jesus, seu Enviado, o amor é algo que transcende qualquer especulação. Deus tolera nossos erros e imperfeições cometidos a todo o instante; inspira-nos ao bem 24 horas por dia. Se houver alguma pessoa que duvide disso, faça um teste. Depois de cometer um deslize qualquer, uma injustiça com uma criança, com um idoso, com o esposo (a), uma ofensa, etc., consulte sua consciência e verá que o Grande Pai lá está não lhe acusando, mas aconselhando-o!
No Capítulo XI, item 12 do Evangelho Segundo o Espiritismo, há o pronunciamento do Espírito Pascal (Sens, 1862) assim escrito: “Se os homens se amassem mutuamente, a caridade seria melhor praticada; mas seria preciso, para isso, que vos esforçásseis em vos desembaraçar dessa couraça que cobre vossos corações a fim de serdes mais sensíveis para aqueles que sofrem. A dureza mata os bons sentimentos; o Cristo não se recusava; aquele que se dirigisse a ele, quem quer que fosse, não era repelido: a mulher adúltera, o criminoso, eram socorridos por ele; não temia jamais que a sua própria consideração viesse a sofrer com isso”.
As leis dos homens ai estão para serem observadas, pois enquanto encarnados devemos criar princípios que nos mantenham civilizados. Cada ser humano deve contribuir no aprimoramento para que isso aconteça. Ao desencarnarmos, responderemos perante nossa própria consciência os erros ou falhas cometidas. Nossa vida é preciosa para Deus e Ele não nos pune porque seu amor não tem limites. Ele nos dá oportunidade de voltarmos com nossos próprios pés e limpar o caminho percorrido sem que para isso precisemos regredir em nossa evolução espiritual. Sim, evolução espiritual, pois quanto mais sábios mais fáceis de entendermos o que fizemos ao nosso próximo. Isso se chama AMOR...
O item 9 do Capítulo XI do Evangelho Segundo o Espiritismo começa assim: “O amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último, possuís no fundo do coração a chama desse fogo sagrado. É um fato que haveis podido constatar muitas vezes; o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser, ou por um objeto qualquer, uma afeição viva e ardente, à prova de tudo que tendesse a diminuí-la, e atingindo, frequentemente, proporções sublimes”. A súplica de Jesus ao desencarnar, ainda ecoa neste mundo de expiação e provas. Nós é que ainda nos deixamos levar pelos nossos desejos primitivos e não a ouvimos. Quem sabe um dia, não muito distante, cada um de nós ouvirá aquele apelo de AMOR e dirá também: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
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