quinta-feira, 15 de abril de 2010

RÁDIO: PAIXÃO,

ROMANTISMO & REALIDADE (V)
No ano de 1952 foi lançada no Rio de Janeiro, para todo o Brasil, a revista que haveria de ocupar, em poucas semanas de circulação, o posto de mais vendida do país. “Manchete” seria a segunda revista em grau de importância no Brasil. Entrara no mercado para disputar com a associada “O Cruzeiro”, detentora do domínio entre revistas semanais.

Adolpho Bloch, empreendedor dinâmico de ampla visão, um dos mais próximos amigos de Juscelino Kubitschek de Oliveira, abraçou projeto ambicioso na mídia impressa, a cada semana, com uma revista inspirada na renomada francesa, a Paris Match. Sua clara linguagem se fundamentava no dorso superior de fotojornalismo, dotando-lhe de atração colorida e bela, com apoio em texto curto, objetivo e aclarador. Assim foi a revista que o velho Bloch fez editar de 1952 ao ano de 2000, quatro anos após sua morte, ocorrida em São Paulo, em novembro de 1995.

Sivam Castelo Neto, exigente e zeloso diretor de gravações de “jingles”, - anúncios gravados em acetatos – dirigia, no Largo da Carioca, seu studio especializado em cuidar do referido trabalho. Foi exatamente no studio do Sivam onde se reuniram as peças para desempenho da gravação do primeiro comercial amplamente divulgado no lançamento da Revista Manchete: Conjunto vocal feminino as “Três Marias”; compositor e cantor Ismael Neto, com seu conjunto “Os Cariocas”; Cid Moreira e Garcia Netto, ambos chegados ao Rio, ele de Taubaté e eu de São Paulo. Estávamos todos contratados para marcar em “jingles” a campanha da nova revista, com a seguinte mensagem:

- Carminha cantando: Eu leio Manchete! Eu leio Manchete...
- Três Marias: Nem que chooova canivete! Nem que choova canivete...
- Garcia Netto: Cinco pratas por uma revista que vale ouro!
- Cid Moreira: Manchete, a Revista que é um tesouro, nas bancas (...)
- Cariocas e Três Marias: Eu leio Manchete! Eu leio Manchete! Nem que chova canivete! Nem que chova canivete.

Devo falar por mim, no entanto, estou seguro de que todos os envolvidos naquele feliz lançamento viveram grandes alegrias pelo sucesso alcançado pela Revista Manchete, a que o senhor Adolpho Bloch emprestou dedicação e fidelidade.

Abrir um parágrafo para destacar um doce de criatura, além de prazer, renova esperanças e alimenta o espírito de justiça. Carmem Déia Santos Braga (E). A Carminha veio para o Rio bem menina, entrando no conjunto das Três Marias em 1950. Para substituir a cantora Regina Célia, Carmem Déia chegou ao conjunto para alteração de uma das muitas composições do trio fundado em 1940 e composto por Marília Batista, Bidú Reis e Salomé Cotélli. Trabalhou no período na Rádio Tupi e excursionou pelo Brasil com a orquestra de Ary Barroso. Ao deixar as Três Marias fez carreira solo, gravando inúmeras musicas de Nazareno de Brito, Ary Barroso, José Maria de Abreu, nos selos Mocambo e Polydor. A Carminha teve uma participação no filme de Luiz de Barros, “Era uma vez um vagabundo”.

Falar de Ismael Neto me obriga relembrar nossas tardes na Rua Prado Junior, onde vivíamos as tardes fazendo versos e cantando a vida, ele tomando invariavelmente Fernet. No mesmo canto, nas mesmas tardes, Dora Lopes, Dolores Duran, Macedo Neto, Lúcio Alves, Miltinho e até Manezinho Araújo em seu restaurante “Cabeça Chata”, curando ressaca com sopa de cabeça de peixe.

Também ao ir encerrando a presente série, não poderia deixar de prestar uma justa homenagem a dois cavalheiros da música sertaneja, Tonico e Tinoco. Figuras cunhadas na boa forja da moral, ética e cidadania, souberam mostrar seus valores não somente na feitura de música e sua interpretação. Representantes legítimos do sentimento caboclo, carregavam postura e alma de artistas. Recentemente, em especial de Roberto Carlos, lá estava Tinoco e seu risinho tímido, recebendo homenagem. Por alguns anos trabalhei com eles, gravando para uma rede brasileira de rádio o programa “Shell no Sertão”, onde interpretava um agrônomo aconselhando culturas e processos de produção. Para eles, eu era o “Dr. agrômo” na ironia do Tinoco, me envolvendo com a professora da fazenda, chegando juntos de charrete. A dupla gravou duas músicas minhas, tema de novela para a Rádio São Paulo.

Para os acadêmicos ou interessados que nos acompanham no blog, passo uma informação bastante próxima dos fatos ligados à rádiorreportagem e Emissora Continental do Rio de Janeiro. O trabalho de Flavia Lúcia Balzan Bespalhok representa bom documento para informações sobre o tema. Existem falhas, mas, ainda é o melhor que conheço. Meu nome não consta em sua pesquisa, embora eu tenha comigo carteira profissional assinada por Murilo Berardo, diretor da Emissora Continental e irmão do deputado Rubens Berardo, com admissão em 1952. A falha me parece tolerável, embora eu tenha trabalhado com todos os entrevistados, estes aposentados já com alguma idade, e muitos anos depois. Ausentei-me do Rio e certamente fui esquecido pelos colegas abaixo citados pela mestranda Flavia em agradecimento.

“Aos colaboradores entrevistados: Saulo Gomes, Ary Vizeu, Carlos Alberto Vizeu, Jorge Sampaio, Paulo César Ferreira, Paulo Caringi, Teixeira Heizer, Afonso Soares e Celso Garcia. Sem o ecoar de suas vozes esse passado não seria presente”.

Muitos outros companheiros da época não foram ouvidos, por não encontrados ou falecidos: Carlos Palut, Alba Regina, Manoel Jorge, Dalwan Lima, Hilton Araújo, Newton de Souza, Hermano Requião, Sergio Paiva, Waldir Amaral, Alziro Zarur, Fernando Salgado e outros.

O trabalho não faz referência a um incêndio de grandes proporções na favela do Esqueleto, ao lado do Maracanã, em um domingo de sol, enquanto Oduvaldo Cozzi cobria um Fla-Flu. Uma fuga na penitenciária da Rua Frei Caneca, também no domingo, em horário de futebol. Eu estava lá, como em outros tantos acontecimentos, relatados ou não.

Na noite de morte do Presidente Vargas, estivemos de plantão no Palácio do Catete, eu e Newton de Souza, durante toda a noite, prosseguindo no dia seguinte, na sofrida comoção do povo brasileiro durante o velório, em Salão da Casa Militar onde reinava o General Juarez Távora, segundo alguns, conspirador em favor da UDN. Era Ministro da Casa Civil o polêmico Lourival Fontes, que dirigira já em 1932, a propaganda do governo, o DIP.

A PRÁTICA DA REPORTAGEM RADIOFÔNICA NA
EMISSORA CONTINENTAL DO RIO DE JANEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru, para a obtenção do título de Mestre em Comunicação.

Ao finalizar, devo externar a todos minha gratidão pela presença frequente e apoio na abertura de franco diálogo, onde primou pela elegância o comportamento de cada um. Muito obrigado. Doravante vocês estarão de férias.

Ao Edward de Souza, minha amizade e apreço pela criação deste importante veículo onde a tribuna é sempre livre e democrática.

A Nivia e Cris, um carinhoso abraço pelo carinho e cuidado com que me distinguiram no trato tão zeloso de nosso Blog.

Abraço a todos.
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros (Garcia Netto), 81, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, recentemente lançada. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. A Série Relembranças II foi editada em capítulos semanais, às quintas-feiras - uma revisita do profissional de memória privilegiada à história do Rádio Brasileiro, que se confunde com a sua própria história.
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