Rotineiro e banalizado hoje em dia, o sequestro relâmpago é uma das modalidades de crime rentáveis aos marginais e traumáticas às vítimas. Esse tipo de delito acontece em número assustador todos os dias, principalmente nas grandes cidades. Tive o "prazer" de sofrer dois, em épocas diferentes e que serviram para lembrar que "o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas despenca duas vezes na mesma cabeça", com estragos consideráveis. O primeiro, em 1993, ocorreu em um sábado à noite, no portal de uma casa noturna, localizada na Estrada Velha do Mar, a beira da Represa Billings, no Riacho Grande, São Bernardo. Quatro rapazes, em idades calculadas entre 16 e 25 anos, todos armados, me abordaram e, com um deles ao volante do meu carro, me obrigaram, sem nenhuma gentileza (ao contrário) a passar para o banco traseiro e em alta velocidade deixaram a Estrada Velha e entraram na Rodovia Índio Tibiriçá, sentido São Bernardo/Mogi das Cruzes; uma via de pista única e com tráfego intenso dos dois lados.
.
O cara que dirigia, parecia ser menor, conduzia minha Brasília reluzente, incrementada e de dois carburadores como se estivesse nas pistas de Interlagos. Eu estava no meio dos outros dois no banco traseiro. Na frente, o "motorista" e mais outro ao lado. No agitado caminho, cruzando com carros, caminhões e ônibus, o rapaz que parecia comandar o trio, apenas me alertava: "calma tio, não vai acontecer nada ao senhor. Vamos dar uns lances (roubos) lá na frente. Se aparecer alguma barca (viatura policial) aí a coisa complica, já que não vamos nos entregar numa boa e pode sobrar para o tio". Aguenta coração. .
Sempre em alta velocidade rumaram para um local que, em virtude da escuridão e minha "paura", não reconheci, mas sabia onde estávamos e não era reconfortante. Lembrei, então, que o combustível de minha inseparável Brasília estava acabando, e iria abastecer assim que deixasse a casa noturna onde fui prestigiar a estreia de um amigo aqui de São Bernardo. Torci para acabar a gasolina, então os caras teriam que parar e me liberar, já que na Índio Tibiriçá existem apenas dois postos; um ficou para trás e o outro estava um pouco distante. Vale lembrar que a rodovia é conhecida aqui no ABC como Estrada da Morte (essa via, liga São Bernardo a Mogi das Cruzes, passando por Santo André, Mauá, Ribeirão Pires, Poá, Suzano e Mogi). Mas, o combustível não acabou. Deixamos a rodovia e entramos em uma estradinha de terra estreita.
.
Eram aproximadamente 23h. Apenas com a luz dos faróis da Brasília iluminando, paramos no que deduzi ser o fim do caminho, já que seria impossível prosseguir. Antes, o cara que parecia ser o chefe havia me prometido: "tio vamos fazer um trato, a gente deixa o senhor ir embora com o carro, o tio não chama os "home" (polícia), assim tudo acaba bem pra todos". Já fora do carro, um dos moleques sentenciou: ”que nada mano a gente já apagou uns caras metidos a besta e não vamos deixar esse ‘véio” nos caguetar aos tiras”. Gelei, nem poderia ser diferente, mas o chefinho" ordenou: "senhor, pode entrar no carro e cair fora".
.
Depressinha pulei para o banco do motorista, mas na hora de dar a partida, cadê as chaves? O pilantra que vinha dirigindo sumiu na escuridão carregando o chaveiro. "ei, como vou embora, se o rapaz levou a chave", arrisquei. O líderzinho então berrou: "mano" (em nenhum instante se trataram pelo nome), volta aqui com as chaves senão vai sobrar pra você, fiz um acordo com o tiozinho e vamos cumprir, não é tio? O "mano" me entregou as chaves e o chefinho ainda me desejou boa sorte (ironia). Não podendo manobrar (o espaço não permitia) fui saindo de ré, sem enxergar nada (uns 300 metros), e encontrei a rodovia. Entrei para o lado que me deu na cabeça e depois de rodar cerca de 200 metros percebi que estava no rumo de Ribeirão Pires. Era o que eu queria.
.
Então, minha querida e estimada Brasília se encarregou de mostrar que um amontoado de latas, embora conservada, não tem coração nem estima por ninguém. A gasolina acabou cerca de 50 metros de um posto de combustível com pouca iluminação, dando a entender que estava fechado. A pé, fui até lá. Deveria ser 23h30 (os "manos" levaram meu relógio de estimação e a grana que eu carregava). Entrei no posto onde um frentista veio me atender. Expliquei a situação e o rapaz mandou que fosse falar com o gerente, um gaúcho de quase dois metros, que me atendeu com cara de poucos amigos. Relatei o que ocorreu e pedi que liberasse alguns litros de gasolina pra chegar ao Centro de São Bernardo, onde eu residia. Falei que os "manos" levaram minha grana, mas deixaram meus documentos. Mostrei ao Paulão (esse era o nome do gerente, soube depois), minha identidade e minha credencial de jornalista/radialista. Quando viu os documentos, Paulão berrou: "o senhor é o Lavrado que trabalha na Rádio Diário com o Rolando Marques, Edward de Souza e o Jurandir Martins no esporte? - "sim, sim, eu mesmo", respondi. O gauchão deu ordem para o frentista encher o tanque. Queria acionar a polícia para pegar os "manos", mas não permiti. Ele então disse que era sócio do Santo André, do qual não perdia um jogo, ouvindo a Rádio Diário do Grande ABC.
.
Agradeci, liguei a traidora Brasília, e rumei para São Bernardo. Em casa, tomando meu banho, tremia e suava frio. Foi então que caiu minha ficha e me dei conta do perigo que havia passado, onde muitos, por menos, sucumbiram. Agradeci a Deus. Na manhã seguinte, domingo, com a equipe de esportes, viajei para Bragança Paulista, onde fomos transmitir um jogo do Santo André com o Bragantino. Durante a transmissão enviei, discretamente e sem detalhes, um abraço ao Paulão e na terça-feira fui ao seu posto pagar a gasolina e agradecer seu auxilio, este impagável. Na viagem contei a história ao Rolando, ao Ney Lima e ao motorista que conduzia a equipe. Nenhum deles disse nada, mas fiquei com a impressão que o silêncio dos três indicava que não estavam acreditando na minha odisseia. Deixei pra lá. Mais à frente, caso nosso amigo-irmão Edward de Souza autorize, conto como foi o segundo sequestro relâmpago, que durou pouco mais de dez minutos, porém não menos angustiante que o primeiro. ___________________________________________ Oswaldo Lavradoé jornalista/radialista radicado no ABC. ___________________________________________
Crônicas e artigos especiais de renomados jornalistas, alguns "Prêmio Esso de Jornalismo", sob o comando do jornalista, escritor e radialista Edward de Souza.
MOZART - Parte IV
-
- Pedro Luso de Carvalho
No texto sobre a vida e a obra de Mozart dissemos, no final da na terceira
postagem, que na rápida estada de Wolfgang e de seu...
Tempos de Paz
-
*Tempos de Paz*
Sandra Heloisa Guatelli
E eis que Jesus se aproxima da Terra.
Sua chegada é discreta, ocupando o corpinho de uma criança que, ao nascer...
Megaesôfago em filhotes, cadeira petescadas
-
Filhotes com megaesôfago
[image: magaesofago em filhotes]
Muito obrigada a empresa de vocês.
Não sei se sabem o quanto vocês ajudam famílias de pet es...
Vamos Cantar Juntos No Dia Mundial Do Rock
-
*It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It)*
If I could stick my pen in my heart
And spill it all over the stage
Would it satisfy ya, would it slide on by ...
-
Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande..."
É com este pedido de Adélia Prado, sublime escritora, que inicio o texto de
hoje. Às...
Sou puta
-
"Sou puta
Quando uso a boca vermelha
Meu salto agulha
E meu vestido preto.
Sou puta
Mordo no final do beijo
Não fico reprimindo desejo
E nem me escondo ...
|| Promoção || 5 Anos do Blog My Dear Library
-
O *My Dear Library* está em festa, e o *Livros Pura Diversão* não poderia
ficar de fora dessa. E para a festa ficar completa nada como uma super
promoçã...
PAIXÃO REVIVIDA
-
*As paisagens que moram em mimOs pincéis da saudade repintaramE dos meus
passos todas as pegadasEm poucos segundos refizeramO bom uso ...
2006 FIFA World Cup Groups
-
World Cup Groups 2014 Experienced
DUBAI (Reuters) - Tehran's streets had been loaded with young revelers for
the 2nd time in four days on Tuesday following...
Confissão do Rio Timor
-
os bichos se espelham em mim
eu me espelhava no céu
até quando veio a primeira chuva
minha imagem era intangível, distante e confortável
olhava as nuvens
e...
UMBRAL
-
Les invito a escuchar el poema en la voz de María Estela Muñoz (yaraby)
UMBRAL El vientre cobrizo de la Pacha Mama se embriagó de lunas y parió a
sus hijos...
-
A Itália é um dos países mais fantásticos que conheço e com mais história.
O blog chama-se História na Itália e não da Itália, porque pretendo que
seja um ...
Passo de dança
-
A caixa de fotografias que era guardada com cuidado no fundo do armário,
era a diversão da menina, que gostava de bisbilhotar as coisas da avó. Os
velhos t...
Arrogância
-
[image: 1]
Segundo dicionário da língua portuguesa. Significa: altivez, soberba,
intolerância, atrevimento.
O comportamento do ser humano é uma coisa ...
REDUÇÃO DO COLESTEROL CAUSA CÂNCER?
-
Um estudo feito por cientistas americanos relacionou a incidência de câncer
a reduções significativas do nível de colesterol, obtidas pelo consumo de
estat...
A HISTÓRIA DE UM PAÍS DOS SONHOS
-
Há muito tempo existia um super continente que ficou conhecido como Otária.
Por outro lado, existia o velho mundo, continente menor, porém constituído
por ...
-
*PORQUE AS MULHERES *
*ENLOUQUECEM OS HOMENS*
Mulher - Onde você vai?
Homem - Vou sair um pouco.
Mulher - Vai de carro?
Homem - Sim.
Mulher - Tem gasolin...
A EMOCIONANTE DESPEDIDA DO TREMA
-
Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode
nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos
aqüiféros...
ADEUS, MAMÃE
-
Um homem jovem estava fazendo compras no supermercado, quando notou que
uma velhinha o seguia por todos os lados. Se ele parava, ela parava
e ficava olhan...
Armazém de Aromas
-
Meu conto "Armazém de Aromas", vencedor do Mapa Cultural Paulista
2008/2009, foi publicado hoje no blog do querido amigo e jornalista Edward
de Souza. É um...