BOLINHA DE GUDE
Havia chovido torrencialmente. Um homem idoso encapotado e com o guarda-chuva servindo de bengala, à moda inglesa, caminhava lentamente por aquela rua encharcada. Seus pensamentos fervilhavam de lembranças nostálgicas. Vivia naquele bairro desde criança e as casas antigas com grandes quintais, deram lugares a grandes sobrados e edifícios de apartamentos. Uma linha do metrô passava exatamente onde outrora havia morado e brincado. Onde estará o Lando, o Buzina, o Vicente... Os amigos de outrora? Vez em quando tivera notícias de um, de outro... Soube que o Luizinho morrera de forma trágica e que o Pedro virara doutor, um médico de renome...
Aquela esquina... Hã, aquela esquina... Quantas travessuras. Muitos foram os baldes d’água que o dono do armazém jogara nos garotos barulhosos que ali defronte jogavam bolinha de gude.
O empório do senhor Felisberto era o único em um raio de muitas centenas de metros e as luzes iluminavam o palco ideal para as brincadeiras da época. Mão-na-mula, esconde-esconde, bafa, cirandinha – “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar uma volta, volta e meia vamos dar...” Todas essas vozes infantis com e mais os gritos da molecada jogando bolinhas. A forma preferida era a de percorrer quatro buracos, cada um com a distância de quatro palmos. O caminho deveria ser percorrido duas vezes. Quem conseguisse fazer o percurso em primeiro lugar ganhava a partida.
Bolinhas de gude... A mente do velho agora começou a viajar. Foi além da imaginação. Por analogia, começou a comparar as bolinhas de então com a vida dele e de seus amigos. Lembrou-se de uma “melosa”, sua preferida, toda colorida de branco e azul. Por onde andará? Lembrava-se de tê-la perdido para o Vicente, que por sua vez perdeu-a para outro garoto. Depois a perdeu de vista. Afinal, não foi assim que aconteceu? Cada uma daquelas bolinhas tomou um rumo. Cada um daqueles amigos seguiu um destino. Por onde andarão?
Certa ocasião, seu irmão, quatro anos mais novo, todo choroso chegou-se e disse que um garoto havia lhe rapado todas as suas bolinhas. Incontinenti, acompanhou o caçula e desafiou o tal para jogar. Triângulo foi à modalidade escolhida. Fazia-se o desenho de um triângulo na terra batida e ali a partir das pontas para dentro “casava-se” as bolinhas. O jogo consistia em “ticar” as esferas coloridas para fora daquele espaço.
Conseguira recuperar as bolinhas que o maninho havia perdido e “rapar” o adversário. Seu irmão saltitava contente. Seus olhos irradiavam alegria e admiração pelo mano mais velho.
Uma “bolinha” que já se foi!
Com lágrimas nos olhos, o velho continuou sua caminhada. Olhava atento o casario. Em meio às construções modernas, uma casa antiga aqui, outra acolá. Lembrava-se quem havia morado em cada uma delas. Dona Olívia, a benzedeira, uma portuguesa, fora pioneira naquele bairro. Atendia a todos que a procuravam, não importava a hora – dia e noite. Hã, naquela casa, meio assobradada com porão, outro casal de portugueses. A mulher, Dona Maria era a parteira do bairro. Poucas crianças naquela região não haviam passado pelas mãos hábeis daquela senhora. “Bolinhas de gude” que rolariam pelo mundo...
Continuando a caminhar, sentiu vontade de urinar. Buscou um local tranqüilo e longe de olhares curiosos. Enquanto satisfazia sua necessidade fisiológica começou a sorrir. Sorria por lembrar-se que naqueles tempos longínquos, naquele bairro poucas casas tinham sanitários ou banheiros em seu interior. As casinhas como eram chamadas ficavam no fundo do quintal. O urinol era a privada da noite. E isso aconteceu apenas ontem...
Ontem... Os meninos correndo pelas ruas, trocando figurinhas ou tampinhas de garrafas... Chilrando como filhotes de andorinhas a esvoaçar em seus primeiros vôos. Bolinhas de gude a jogar bolinhas de gude. Espalhando-se pelo mundo como as brilhantes esferas coloridas.
Onde andará aquela melosa?
.........................................................................................................
*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail jgarcelan@uol.com.br
........................................................................................................
Aquela esquina... Hã, aquela esquina... Quantas travessuras. Muitos foram os baldes d’água que o dono do armazém jogara nos garotos barulhosos que ali defronte jogavam bolinha de gude.
O empório do senhor Felisberto era o único em um raio de muitas centenas de metros e as luzes iluminavam o palco ideal para as brincadeiras da época. Mão-na-mula, esconde-esconde, bafa, cirandinha – “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar uma volta, volta e meia vamos dar...” Todas essas vozes infantis com e mais os gritos da molecada jogando bolinhas. A forma preferida era a de percorrer quatro buracos, cada um com a distância de quatro palmos. O caminho deveria ser percorrido duas vezes. Quem conseguisse fazer o percurso em primeiro lugar ganhava a partida.
Bolinhas de gude... A mente do velho agora começou a viajar. Foi além da imaginação. Por analogia, começou a comparar as bolinhas de então com a vida dele e de seus amigos. Lembrou-se de uma “melosa”, sua preferida, toda colorida de branco e azul. Por onde andará? Lembrava-se de tê-la perdido para o Vicente, que por sua vez perdeu-a para outro garoto. Depois a perdeu de vista. Afinal, não foi assim que aconteceu? Cada uma daquelas bolinhas tomou um rumo. Cada um daqueles amigos seguiu um destino. Por onde andarão?
Certa ocasião, seu irmão, quatro anos mais novo, todo choroso chegou-se e disse que um garoto havia lhe rapado todas as suas bolinhas. Incontinenti, acompanhou o caçula e desafiou o tal para jogar. Triângulo foi à modalidade escolhida. Fazia-se o desenho de um triângulo na terra batida e ali a partir das pontas para dentro “casava-se” as bolinhas. O jogo consistia em “ticar” as esferas coloridas para fora daquele espaço.
Conseguira recuperar as bolinhas que o maninho havia perdido e “rapar” o adversário. Seu irmão saltitava contente. Seus olhos irradiavam alegria e admiração pelo mano mais velho.
Uma “bolinha” que já se foi!
Com lágrimas nos olhos, o velho continuou sua caminhada. Olhava atento o casario. Em meio às construções modernas, uma casa antiga aqui, outra acolá. Lembrava-se quem havia morado em cada uma delas. Dona Olívia, a benzedeira, uma portuguesa, fora pioneira naquele bairro. Atendia a todos que a procuravam, não importava a hora – dia e noite. Hã, naquela casa, meio assobradada com porão, outro casal de portugueses. A mulher, Dona Maria era a parteira do bairro. Poucas crianças naquela região não haviam passado pelas mãos hábeis daquela senhora. “Bolinhas de gude” que rolariam pelo mundo...
Continuando a caminhar, sentiu vontade de urinar. Buscou um local tranqüilo e longe de olhares curiosos. Enquanto satisfazia sua necessidade fisiológica começou a sorrir. Sorria por lembrar-se que naqueles tempos longínquos, naquele bairro poucas casas tinham sanitários ou banheiros em seu interior. As casinhas como eram chamadas ficavam no fundo do quintal. O urinol era a privada da noite. E isso aconteceu apenas ontem...
Ontem... Os meninos correndo pelas ruas, trocando figurinhas ou tampinhas de garrafas... Chilrando como filhotes de andorinhas a esvoaçar em seus primeiros vôos. Bolinhas de gude a jogar bolinhas de gude. Espalhando-se pelo mundo como as brilhantes esferas coloridas.
Onde andará aquela melosa?
.........................................................................................................
*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail jgarcelan@uol.com.br
........................................................................................................
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, amigos e amigas!
ResponderExcluirO sábado tem que ser muito especial para receber este sensibilíssimo conto escrito por nosso mestre J.Morgado, que inspirou-se na delicadeza, na transparência, na cor e na magia de uma bolinha de gude, para transportar-nos novamente à infância, através das reminiscências de um velho cavalheiro, que revisita o lugar onde outrora viveu, tentando adivinhar o paradeiro de seus companheiros e amigos.
Bolinha vai, bolinha vem, e as lembranças também...
E a "melosa", que fim levou?
A "melosa", toda colorida de azul e branco, estará com cada um que ler esta preciosa pérola, saída da mente privilegiada de J. Morgado!
Bom final de semana a todos!
Muito grata pela agradável companhia durante mais esta semana.
A
Boa tarde Mestre J.Morgado.
ResponderExcluirMenino foi impossível não sensibilizar diante deste lindo conto.
Aquelas bolinhas de gude quando éramos crianças,as brincadeiras inocentes,aqueles casarões,AH como era doce e melosa a infância de outrora,tão diferente e mais saborosa que a infância de hoje.
Sabe, vejo que as crianças de hoje,não desfrutam da doce e inesquecível infância como aquela que nós tivemos,que ficou no passado,mas está viva em nossos pensamentos e em nossos corações.
Beijosssssssssssssss.
ANA CÉLIA DE FREITAS.
Meu caro J. Morgado
ResponderExcluirA arte de misturar ficção com realidade é tarefa revestida de nobreza para poucos, cuja dotação do Olimpo somente confere aos limpos e puros. Você exercita com maestria o dom que lhe foi concedido.
Sempre amparado pelo gosto ao tradicionalismo inglês, seu elegante esnobismo, seu charme, detenho em meu acervo duas bengalas das quais tenho orgulho profundo. Uma usada por meu avô pertencia a ancestrais mais antigos com vida estimada em mais de 150 anos. Feita em cana-de-bengala, muito leve e simples, porém, muito rara. Outra de entalhes de chifre, elegante e pesada, usei-as em momentos em que a vida exigiu. São relíquias que guardo e agora deverei usar não só por charme, mas, por necessidade de apoio, pois, logo serão usadas.
Seu conto revela uma sensibilidade que desperta sentimentos, quem sabe apagados no tempo por uma cortina de fumaça, no entanto, recuperados em suas palavras fazem reaver tesouros.
“Melosas”, quem não as teve? Ressuscitá-las, que prazer, que sensação você me trouxe? Quando faz referencia ao azul e branco, me lembro de Nelson Gonçalves registrando momentos de todos nós: Vestida de azul e branco/ trazendo um sorriso franco/num rostinho encantador/minha linda normalista/ rapidamente conquista/ meu coração sonhador.
Foram tantas as “melosas” em tantos momentos. Não me mate a saudade daquele corpo dentro do vestido de Jersey realçando movimento de carne cheirosa que cobicei faminto. Não me castigue a saudade daquele corpo escondido nas saias e blusas fartas permitindo visão do tornozelo ou, com muita sorte o joelho para atormentar meus sentidos.
J. Morgado, seu conto refaz a vida de feras dormidas, de paixões, de calores, de suores, corpos e beijos molhados.
Garci Netto
ET. O João Paulo fez referencia a caês artistas. Sendo ambos da região Diadema, São Bernado, não podem ter esquecido um grande amestrador de animais. Ali atrás dos estudios da Vera Cruz. Era meu amigo Martineli, a quem sempre visitei.Um abraço.
Boa noite Juliano !!!
ResponderExcluirMeu chapa só cheguei agora de São paulo, vou comer algo e dormir, pois domingo às 04:00 já vou estar de volta a rodovia...
Quanto tempo ainda demoraremos em aceitar que as maiores alegrias de nossas vidas estão nas coisas e momentos mais simples que tivemos???
Viagens, cruzeiros, hoteis tudo são maravilhas, mas do que realmente sentimos saudades é do feijão da mamãe, correr descalço pelas ruas de bermudinha, a maciez da gramas na sola dos pés, vento no rosto, chuva no corpo, nadar no rio, correr com os amigos, tomar um banho no mar....ah!
A vida é eterna, e nós, eternos aprendizes, até o ultimo minuto, até ultimo segundo, sempre aprendendo algo e reconhecendo que o melhor estava bem a frente dos olhos !
Boa noite, venha mais vezes para fazermos preces juntos e celebrarmos a vida que nos flue !!!!
Olá Garcia Netto
ResponderExcluirConheci o velho Martineli. Uma pessoa curiosa e que tentou (não sei se conseguiu) vender os figurinos e outros objetos da antiga Vera Cruz para a Prefeitura de São Bernardo do Campo para que se fizesse um museu.
Martineli era sempre objeto de reportagens nos jornais. Eu mesmo o entrevistei duas vezes.
Velhos tempos...
Um abraço
Paz. Muita Paz.
J. Morgado
Olá amigos e amigas e deste blog... Bom dia meu amigo-irmão J. Morgado!
ResponderExcluirNossa querida Nivia Andres me pegou de surpresa na tarde deste sábado, ao postar esse seu conto maravilhoso, cuja opinião eu não cheguei a lhe passar por e-mail, depois de ter lido e relido várias vezes. Julguei que o conto sairia neste domingo, por isso essa minha desatenção, até ao enviar a chamada, coisa que fiz agora para todos os nossos amigos e amigas do blog. Peço desculpas a todos vocês e principalmente ao Morgado, que tenho certeza, saberá entender.
Certa vez escrevi uma crônica para o Jornal "O Comércio da Franca" sobre os velhos e gostosos tempos de nossa infância, onde as bolinhas de gude ocupavam um papel principal. Quanta coisa fizemos nos tempos de criança e que esquecemos depois, como pular amarelinha, rodar pião, voltar pra casa bem devagar em dias de chuva chapinhando nas poças d'água, correr feito doido pelas calçadas, tocando campainhas e trepando em árvores. Como era gostoso roubar as jabuticabeiras dos vizinhos e comer os doces que meu pai não queria comprar "para não estragar os dentes". Roubava chuchu na horta do velho espanhol e ia trocá-los por doces na venda da esquina. O dono, um sírio, topava a troca porque não gostava do espanhol ranzinza.
Vibrava quando ganhava brinquedos novos. Além das bolinhas de gude, tema do J. Morgado, eu e a molecada também se divertia com tampinhas, soldadinhos de chumbo, caminhãozinho de madeira e jogava pião, como era gostoso! Adorava brincar de médico, "examinando" as meninas... Sonhava ser médico só para poder tocá-las à vontade... Tentei em Ribeirão Preto, desisti no primeiro ano. Ainda bem que não fui... Amava de paixão jogar futebol de botão. Meu tricolor ganhava todas. E os circos então... Encantava-me quando tinha circo. Adorava os trapezistas e os palhaços. Com 12 anos cheguei a me apaixonar por uma trapezista (até hoje ela não sabe disso) e todos os dias ia vê-la em ação no circo, com seus saltos graciosos de trapézio em trapézio. E quando surgiam as feras, sonhava com safáris na áfrica.
Essa criança não devemos deixar morrer jamais, devemos conservá-la dentro de nós e passar sua imagem para nossos filhos e netos, ensinando que não devem deixar o adulto que vai aparecer sufocar esse espírito alegre e meio rebelde que toda criança tem. Esse inconformismo com certas regras que os adultos impõem, bitolando a vida das crianças.
Se ela tentar fugir, devemos procurá-la. Se em determinada fase de nossa vida a perdermos de vista, devemos dela nos lembrar e ir buscá-la lá naquele poço onde a jogamos, e resgatá-la, porque a idosidade não deixa de ser uma volta ao passado. E podemos esquecer certas responsabilidades que nossa "adulticidade" nos trouxe.
Podemos esquecer um pouco certas "normas de conduta", e ser criança novamente. Sentir outra vez a alegria de viver, ainda que a vida nos tolha um pouco os movimentos físicos, mas nossa alma jamais deverá ser tolhida. Não devemos ter vergonha de ser feliz. De sorrir para um estranho. De sentir que aquela criança que não tinha certos preconceitos está viva e bem viva em nossa alma.
Parabéns, J. Morgado, ao ler seu conto pela primeira vez, chorei...
Um forte abraço a todos...
Edward de Souza
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia prezado J. Morgado!
ResponderExcluirCreio que você e o Edward resolveram nos levar às lágrimas, neste final de semana. Seu conto é uma volta ao passado gostoso de nossa infância, completado pelo comentário nostálgico do Edward de Souza, com sua maneira muito especial de contar sobre seus velhos tempos de criança. Devo agradecer muito a Deus ter na lembrança esse passado narrado pelos dois, brincando com bolinhas de gude, pião, esconde-esconde, garrafão, que acho era o mesmo mão na mula e os papagaios. No interior, até hoje não sei a razão desse nome, papagaios eram chamados de índios e faziam a festa da garotada. Até hoje a meninada ainda solta seus papagaios, alguns, infelizmente, deturpando a brincadeira passando cerol na linha, o que é um perigo e já causou a morte de muitas pessoas, principalmente motoqueiros.
Esse cerol que a meninada passa hoje na linha é para cortar a linha dos outros papagaios, ou índios, como queiram. Nos meus tempos de infância, fazíamos, geralmente com a ajuda de adultos, os papagaios com bico saliente para brigar contra os outros e tentar derrubá-los, nada que prejudicasse ou colocasse a vida de terceiros em jogo. Mas, os tempos são outros. Mesmo aqui no interior a molecada está presa em casa ou apartamentos e não existem mais terrenos ou ruas sem asfalto para se jogar as bolinhas de gude. O progresso passou como um rolo compressor sobre todas essas brincadeiras, deixando apenas saudade!
Abraços ao J. Morgado e Edward de Souza e meu muito obrigado pelas lindas lembranças. Bom domingo!
Eurípedes Sampaio - Jundiaí - SP.
Bom dia Senhor J. Morgado! Essa a pesquisa que fiz sobre bolinhas de gude, que apresento como contribuição ao seu belíssimo conto:
ResponderExcluirPelas descobertas arqueológicas e pelos registros escritos, o jogo praticado com bolinhas de gude é antiquíssimo. Especula-se que ele tenha nascido nas eras pós neolíticas. Deve ter surgido em vários grupos culturais que atingiram o estágio neolítico, atendendo a uma necessidade lúdica; Povos primitivos faziam as bolinhas com pedra, argila, madeira ou osso de carneiro;
Na Grécia as crianças também jogavam com castanhas e azeitonas e em Roma, com nozes e avelãs;
De acordo com Câmara Cascudo, o popular gude já era conhecido pelos gregos e romanos como o nome de esbothyn e que estes também conheciam as bolinhas de vidro, PILA VITREA; De origem desconhecida, tem-se a informação de que os faraós já praticavam o jogo (3 mil a.c.). A paixão era tanta, que diversas escavações encontraram bolinhas de gude nos túmulos dos soberanos egípcios; Na ilha de Creta foram encontradas bolinhas feitas com pedras polidas de jade e ágata, datadas de 1450 a.c.;
A presença do milenar jogo na Europa é confirmada num quadro de Pieter Brueghel (1525?-1569), intitulado "Jogos Infantis", onde aparece, ao que tudo indica, uma variedade do jogo das bolinhas praticada em três ou quatro buracos no chão, o popular jogo de búrica, búlica ou papão brasileiro.
No Brasil, é chamada de bola ou bolinha de gude por quase todo território. Gude era o nome dado às pedrinhas redondas e lisas retiradas dos leitos dos rios. Em alguns estados e regiões ela ganha nomes variados, como: Baleba - norte do Rio de Janeiro; Bola de búrica - Paraná; Búrica - região de Santa Catarina fronteiriça com o Paraná; Bolinha de vidro - população luso-açoriana do litoral catarinense; Chimbre ou ximbra - Alagoas; Pereca - Pará Biroca - Minas Gerais (Bulinha em Belo Horizonte); Bolita - Rio Grande do Sul. Não se tem registro de bolinhas com o índio nativo brasileiro. Elas chegaram com os europeus, na bagagem lúdica das crianças portuguesas.
Para todas as modalidades, duas formas de jogos se apresentam: "à brinca" (quando o jogador mesmo perdendo o jogo, não perde suas bolas) e "à vera" (quando ele perde).
Abraços,
Luiz Carlos Fontana - S. J. do Rio Preto - SP.
Olá Cristina
ResponderExcluirBom dia
Gude vem de “gode”, uma referência a pequenas pedras arredondadas. O termo é muito antigo e se reporta ao século XVI.
E vamos brincar de cirandinha, amarelinha...
Um abraço
Paz. Muita Paz.
J. Morgado
Olá Luiz Carlos Fontana
ResponderExcluirBom dia
Já havia colocado meu comentário quando vislumbrei sua excelente pesquisa.
Valeu!
Obrigado.
Paz. Muita Paz.
J. Morgado
Ôi J. Morgado!
ResponderExcluirRecebi a chamada desse seu conto agora pela manhã, enviada pelo Edward. Gosto muito de ler sobre esse tempo que viveram e que muito ouvi falar, escutando histórias dos meus avós e também de meu pai, que está em casa, ao meu lado e me disse que, além dessas bolinhas de gude ele também brincava com pipas. Segundo ele, esse o nome que os meninos do seu tempo davam aos chamados papagaios, que o Eurípedes abordou. Papai pediu que eu transmitisse ao Eurípedes que o apelido "índio", dado às pipas ou papagaios, foi criado no interior, onde tinha rinhas de galo. O galo índio, brigador, sempre abatia o adversário a bicadas, assim nasceu o apelido para as pipas. Viram? Um médico que fala com sabedoria sobre pipas... (rsssssssssss).
As meninas, J. Morgado, mesmo nesse tempo que você e o Edward em seu comentário retratam, sempre foram mais tímidas, acredito. Pouco ouvi vovó contar de brincadeiras de rua em que ela participava. Ela me dizia que naquele tempo meninas não se misturavam com meninos, os pais não deixavam de forma alguma. Dentro de casa, elas se divertiam com bonecas, brincando de casinha e por aí afora. Papai está rindo aqui do meu lado e pediu para eu dizer que no seu tempo de criança, meninas também eram proibidas de brincar de médicos (rssssssss).
Muito bom ler todas essas histórias do passado. Não sei se, quando velha, terei histórias pra contar, mas cada um em seu tempo e lembrança sempre existirá, faz parte do jogo da vida!
Beijos a todos, um bom domingo!
Liliana Diniz - FUABC - Santo André - SP.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia Senhor J. Morgado!
ResponderExcluirQue legal seu conto deste final de semana. Com pouco mais de 40 anos, também brinquei com bolinhas de gude na minha querida Marília. Com pipas e até com palitos de picolé, que ninguém citou. Verdade! A molecada chupava o picolé e guardava intacto os palitos. Depois, se reuniam e encostavam os palitos numa parede. Nessa brincadeira, ganhava quem derrubasse, guardando certa distância, os palitos, atirando outro contra eles. Muitas vezes não caiam todos, mas os que caiam pertenciam ao jogador da vez que os derrubou. Quanta criatividade tinha a molecada. Será que algum de vocês já brincou com os palitos de picolé dessa forma? E eram guardados com carinho pelo ganhador para exibi-los e jogar no outro dia.
A Cris, Senhor J. Morgado, perguntou se ainda existem bolinhas de gude. Existem sim, Cris e podem ser compradas até em livrarias. Na minha casa eu tenho um aquário, sem peixes e sem água, claro, que enchi dessas bolinhas de gude multicoloridas. Ficou muito bonito. Só não se vê, Cris, é a molecada brincando mais com elas. Hoje servem como enfeites.
Abraços, pessoal, bom domingo!
Tanaka - Osasco - SP.
Olá meu amigo-irmão Morgado, esse blog vez em quando pega fogo, e isso está acontecendo nesse domingo pela manhã. Quantos amigos e amigas reunidos falando sobre seu conto magnífico. E o meu querido amigo, Dr. Max, extraordinário médico ginecologista que atende, além de seu consultório, também no Albert Eisntein, em São Paulo, de folga em casa e ajudando a Lili, sua filha quase médica, nas respostas.
ResponderExcluirE você se superou, caro Max, ao nos ensinar qual a razão do nome índio, dado às pipas. Em Franca a molecada chama de índio o objeto voador preso a uma linha, mas ninguém sabe a origem do nome. E quem diria, vem do galo índio, tudo a ver. Mais uma que aprendi.
Para a Liliana, respondo que, nos meus tempos de infância, as meninas brincavam nas ruas com a molecada, sim. Nem todas, mas tinha umas "espirituadas" que participavam de muitas brincadeiras com a gente. Nada de bolinhas de gude, rodar pião ou empinar "índios" (pipas). Mas tinha outras que participavam. Abraços saudosos a você, Lili e ao papai Max, logo vou visitá-los.
Outro que levantou mais uma lebre foi o Tanaka. Olha, meu amigo, eu brinquei e muito com palitos de picolé. E era dessa forma que você relatou. Imaginem só, até palitos de picolé, que todos jogam fora nós guardávamos como troféus. E vamos recordando, até carrinhos de rolemã que a Cris tirou do baú. Nunca fui chegado nesses carrinhos, tinha medo. Valeu a pena esse conto do Morgado, reerguemos o "arco da velha".
Bom domingo a todos!
Edward de Souza
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirProfessor João, o sr. me mata de rir....
ResponderExcluirNem vou dizer quem sou, sob pena de me expulsarem daqui hoje...rsssss
Sou apenas uma leitora deste blog e do seu também.....
até..
Bom dia J. Morgado, um texto maravilhoso que eu não chamaria de conto, mas de crônica do passado. Quem viveu essa época, como muitos que participam desse blog, trazem outros depoimentos maravilhosos dos bons tempos vividos e quem, como eu, nasceu depois, pelo menos aprende um pouquinho com todos esses relatos gostosos, como o feito pelo Edward de Souza, lindo, por sinal. Até parece que os dois, J. Morgado e Edward combinaram. J. Morgado escrevendo esse texto maravilhoso, Edward completando.
ResponderExcluirUm bom domingo a todos, sempre vale a pena ler o que escrevem... Hoje, mais que nunca!
Bruna - Universidade Federal de Juiz de Fora/MG
Pois é Edward, os meninos brincavam com as meninas sim. De esconde-esconde, passa-anel, cineminha (sombras através de um lençol iluminado com uma vela), amarelinha... Além disso, as primeiras namoradas (os), as primeiras paixões...
ResponderExcluirPaz. Muita Paz.
J. Morgado
Caro Jornalista,
ResponderExcluirFiquei muito emocionada com esse conto que você escreveu com tanta sensibilidade, para mim foi uma volta ao passado, onde lembrei das brincadeiras citadas e dos coleguinhas que nunca mais tive notícias, mas que fizeram parte dos primeiros e mais doces anos da minha vida.
Parabéns
Jacira - SBC
Cheguei de viagem do Rio de Janeiro e de Juiz de Fora. Sexta e sábado pelas estradas. Correndo no tempoo como bolas de gude chão a fora.
ResponderExcluirSua melhor crônica, que li, sem dúvida, foi esta. Pela beleza poética, pela nostalgia, pelas imagens.
Interessante que não sei onde se passa a história mas é igual a minha também.
Minha rua, minhas lembranças de menino foram derrubadas para a Linha Amarela lá no Rio de Janeiro. Nesta história o autor perde suas imagens infantis para o Metrô.
Jogávamos bola de gude e o nome do jôgo que o autor descreve como jogo de percorrer buracos chamávamos de búlica.
Gostávamos de um chão sem calçamento quase liso bem batido, ideal para o jôgo de bolinhas de gude.
Jogávamos , os meninos com os adoslescentes, os rapazolas e nestes jogos, a parada era dita como que jôgo para homem, para macho. Nestes jogos punhamos dinheiro também no triângulo além das bolinhas. A idéia, como o autor disse, era retirar todas as bolas do triângulo e neste caso o dinheiro também. Cada bola retirada ou moeda ou papel moeda bem dobradinho ficava para o ganhador, porém, êste poderia perder tudo já ganho caso ficasse duro. Ficar duro era a bola de jogo ficar caida no impacto dentro do triângulo. Ora, imaginem quando um jogador esticava a mão além dos limites para acertar uma bolinha...Chamava-se ganso, isto era terminantemente proibido. Os adoslescentes quando acuados por nós, tomavam essa iniciativa de roubar o jogo. Bem, não preciso dizer quantas vezes cheguei em casa com o rosto amassado, arranhado...Era ali no terreiro que aprendíamos a nos defender da vida e crescer no mundo por nós mesmos.
A outra modalidade de jôgo de bolas de gude era o circulo, neste jôgo as bolinhas não caiam duras o que era menos estressante para uma criança.
Enfim, esses tempos passaram, os armazéns ou empórios, as quitandas e os armarinhos não existem mais e as bolas de gude hoje não são pràticamente mais vistas em nossas cidades com nossas crianças.
Parabéns pela beleza deste texto, J. Morgado! Como a Bruna, também não consigo chamar de conto esse delicioso passeio ao passado, onde muitas e muitas lembranças afloram em nossa mente. Falou-se de quase tudo aqui no blog, mas não é dificil, pra quem teve sua infância décadas atrás, lembrar-se sempre de mais brincadeiras que preenchiam nossos dias naqueles bons tempos. Tenho ainda guardado, com as cores do tempo, um álbum de figurinhas, dos muitos que colecionei. Esse consegui preenche-lo com os rosto dos jogadores da Seleção Brasileira de futebol campeã de 1958. Gilmar, Didi, Zagalo, Nilton Santos, Orlando, Belini, entre outras e as carimbadas, que eram raras e a molecada muitas vezes pagava caro para encontrá-las, do Pelé e Garrincha. E as figurinhas serviam também para a meninada brincar de bafo, quem foi desse tempo vai se lembrar. O que era o bafo? As figurinhas que tínhamos repetidas, levávamos para a rua. A molecada se encontrava e nos reuníamos para o jogo. As figurinhas eram colocadas de costas uma sobre a outra. Com a mão em concha, tentávamos virar as figurinhas, num toque só. Quem conseguisse, era dono delas. Uma vez eu coloquei uma repetida do Pelé e outro colega a repetida do Garrincha. A rua ferveu para ver quem ganhava. Perdi. Meu colega vendeu as carimbadas por um bom dinheiro e foi ao matinée vários domingos seguidos com o dinheiro. Belas recordações. Tudo isso graças ao seu texto, J. Morgado, que nos transportou ao passado! Obrigado!
ResponderExcluirUm bom final de domingo a vocês.
Laércio H. Pinto - São Paulo - SP.
O saudoso Carlos Imperial escreveu e Ronnie Von nos encantou há muitos e muitos anos com "A Praça". Tudo a ver com o texto que li de J. Morgado. Minha homenagem ao autor de tão belo conto. Eis a letra:
ResponderExcluirHoje eu acordei
Com saudades de você
Beijei aquela foto
Que você me ofertou
Sentei naquele banco
Da pracinha só porque
Foi lá que começou
O nosso amor...
Senti que os passarinhos
Todos me reconheceram
E eles entenderam
Toda minha solidão
Ficaram tão tristonhos
E até emudeceram
Aí então eu fiz esta canção...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...
Beijei aquela árvore
Tão linda onde eu
Com o meu canivete
Um coração eu desenhei
Escrevi no coração
Meu nome junto ao seu
Ser seu grande amor
Então jurei...
O guarda ainda é o mesmo
Que um dia me pegou
Roubando uma rosa amarela
Prá você
Ainda tem balanço
Tem gangorra meu amor
Crianças que não param
De correr...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...
Aquele bom velhinho
Pipoqueiro foi quem viu
Quando envergonhado
De namoro eu lhe falei
Ainda é o mesmo sorveteiro
Que assistiu
Ao primeiro beijo
Que eu lhe dei...
A gente vai crescendo
Vai crescendo
E o tempo passa
E nunca esquece a felicidade
Que encontrou
Sempre eu vou lembrar
Do nosso banco lá da praça
Foi lá que começou
O nosso amor...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...
Beijos a todos vocês!
Miriam R. Chaves - Poços de Caldas
Boa noite, J. Morgado!
ResponderExcluirEu estava lendo a letra postada pela Miriam, de Poços de Caldas e acabei cantando. Não tem como resistir essa letra de "A Praça". Essa música foi lançada em 1966, eu tinha 12 anos.
Falando sobre seu conto que trouxe à baila muitas e muitas recordações, é preciso contar também aqui, principalmente para essa juventude que participa do blog, que todas as artes que aprontávamos era severamente punida. É, porque a gente conta que roubava frutas do vizinho e outras traquinagens da época. Só que, quando nossos pais descobriam, a coisa ficava feia. Meu pai tinha uma varinha de marmelo que deixava marcas por muitos dias nas pernas. E como doia! Hoje, se um pai erguer a mão para dar um tapa no filho pode até ser preso. Por isso tudo mudou e meninos de 10 anos hoje batem até em professores. Quando pequeno e aprontava na sala de aula, a professora me colocava ajoelhado em grãos de milho. E valia o castigo. Se eu reclamasse para meus pais, apanhava mais ainda. Bons tempos de gostosas brincadeiras e de educação rígida, que ajudaram a formar homens íntegros e conscientes de suas responsabilidades.
Um abraço J. Morgado e meus cumprimentos por essa maravilha que acabei de ler.
Miguel Falamansa - Botucatu - SP.
Ô Sr Morgado, que domingo o Sr me deu! Maravilhosas lembranças. Lembro de uma história parecida com a do seu irmão; meu pai trabalhava a noite, e de vez em quando durante o dia, me pegava para passear; isso no ano de 1959. Na volta desse passeio, ele com seus 24 anos, parou numa esquina perto de casa, para eu poder olhar a garotada jogando bolinha de gude. Não sei como ele acabou entrando no jogo com a garotada. Eu só sei que também acabei levando para casa, uma daquelas latas de leite em pó Mococa enorme, cheia de bolinhas de gude multicoloridas. Pois é eu tinha apenas três anos de idade, imagine a felicidade que foi. Porque guardo na lembrança como se fosse hoje. Pois já se passaram 51 anos. Não consigo mais escrever. Muito obrigado Sr Morgado. Já faz muito tempo que eu precisava ter uma lembrança forte do que fui, para nunca mais esquecer quem sou. Muito obrigado mesmo.
ResponderExcluirUm brasileiro – Chapada dos Veadeiros – Alto Paraíso – GO.
Caros amigos,
ResponderExcluirO amigo J.Morgado me fez voltar no tempo e passar pela minha mente uma tela onde revi as brincadeiras de infância. E, claro não pode faltar as bolinhas de gude.
O paralelo que faz das bolinhas de gude e os amigos que não vê mais, é de uma sensibilidade notável.
Parabéns pela crônica.
Espero que continue firme, brindando-nos com sua "pena" sensível e certeira em nossos sentimentos.
Abraço Fraterno
Luiz Antônio de Queiroz
Franca-SP
Maintenant tout est devenu clair, le merci bien pour l'aide dans cette question. achat cialis cialis en ligne [url=http://cgi3.ebay.fr/ws/eBayISAPI.dll?ViewUserPage&userid=acheter-cialis&hc=1&key=acheter-cialis]acheter du cialis[/url]
ResponderExcluir