Edward de Souza
PARTE II
O INIMIGO NÚMERO UM DOS FOCAS
Os relatos sobre os velhos tempos das redações de jornais trouxeram a esse blog a visita de velhos e bons amigos jornalistas, todos com histórias engraçadas pra contar. Nesse final de semana recebi um e-mail de Oswaldo Lavrado, querido amigo e companheiro de muitas lutas em jornais e emissoras de rádio, comentando o primeiro artigo dessa série e recordando-se, saudoso, do velho João Colovatti, o inimigo número um dos focas que chegavam ao jornal. Colovatti "batizava" todos eles (as). Em sua narrativa, Lavrado volta aos anos 70 e recorda-se da antiga redação do Diário do Grande ABC, antes da construção de seu magnífico edifício. Era apenas uma casa e abrigava ali todos os extraordinários profissionais daquele tempo. Nos fundos, o laboratório fotográfico dominado pelo terrível João Colovatti, um dos melhores profissionais que tive oportunidade de conhecer. Lavrado, no começo dessa década era mais um dos focas - principiante no jornalismo – e foi também outra vítima de João Colovatti. Oswaldo Lavrado narra o acontecido, acompanhem. Hilariante!
Entediado nesta tarde de sábado de sol e chuva aqui em São Bernardo e na solidão que envolve um velho em seu apartamento, encontrei momentos de recordações ao ler em seu blog a história dos velhos e bons tempos do Diário, nos anos 70, e dos inesquecíveis João Colovatti e Zé Barbosa. O pássaro preto, personagem central da matéria, claro, tive o prazer de conhecer. Por ter convivido com os três (Edward, Colovatti e Barbosa) me transportei para o local dos fatos relatados e veio à mente a fisionomia debochada do João, com seu rosto "bolachudo", sua careca reluzente e seu olhar muitas vezes de menino. Também fui vítima do bonachão quando entrei no Diário, em 71. No começo nunca havia carro, motorista ou fotógrafo aos "focas", e eu era um deles. Nem a palavra do todo-poderoso José Louzeiro, então Secretário de Redação, servia de aval pra conseguir demover a turma da velha guarda, que julgava-se dona dos carros do jornal. Com o tempo, no meu caso, como foi no seu, todos se tornaram amigos, companheiros e muito colaboraram para o êxito de algumas de nossas matérias. Lembro-me de certo dia, acho que em 72, quando fui escalado pelo Josué, Editor de Esportes, para cobrir um jogo do Saad contra o Noroeste, em Bauru. O fotógrafo escalado foi o Claudio Polesi, que você conhece bem. Um 0 a 0 daqueles terríveis. Jogo ruim, sem nenhuma graça. Retornamos de Bauru a noite e como o Diário na época não circulava às segundas-feiras fui redigir a matéria para a edição de terça-feira. Tudo bem, não fosse o Colovatti, lá pela uma da tarde, invadir a redação (na casinha, lembra?) e perguntar em voz alta pra todo mundo ouvir: "Lavrado, quantas pessoas morreram lá no campo do Noroeste?". Sem tirar os olhos da "Olivetti" não dei muita bola para o João. Porém, o Daniel Lima, ao lado e com aquela cara de professor aloprado, não deixou barato: "o que foi que houve em Bauru, João?".
- Pô, vocês não sabem, caiu a arquibancada do estádio no final do jogo matando pelo menos 10 pessoas e deixando um punhado de feridos. Ouvi isso ontem a noite na resenha da Rádio Nacional (hoje Globo), disse Colovatti.
O Daniel me fuzilou com os olhos e palavras: "Lavrado, você esteve lá e não viu a tragédia?" Apavorado, peguei os jornais de São Paulo que estavam na redação e nenhuma notícia.
- Vai Lavrado, depressa, liga pras rádios e jornais de Bauru e veja o que aconteceu", determinou o Daniel, na ocasião, Editor Chefe. E assim fiz. O João Colovatti havia desaparecido. Saiu de fina depois de provocar o caos na redação. Fiquei a tarde toda tentando falar com alguém de Bauru. Naqueles tempos as ligações eram demoradas e difíceis. Pior. Quando conseguia falar em Bauru, ninguém sabia de tragédia no estádio do Noroeste. Alguns até riam quando ouviam a pergunta. Nenhuma informação sobre a tal queda de arquibancada. Mais tarde, descobriu-se. Tratava-se de mais uma das inúmeras peças pregadas pelo Colovatti nos jovens repórteres. Paguei o mico.
Tem mais histórias para ser contadas. Lembra-se daquele japonês que desapareceu nas matas da serra do mar, acho que em 71? Itiro Mutai, se não me engano. O Diário mandou pra lá o Renato Campos, a Sônia Nabarrete e o Colovati. O trio ficou três dias sem aparecer no jornal dizendo que estava "apurando" o caso. A serra do mar, você sabe, fica a meia hora de carro de Santo André e da redação do jornal. Até hoje não acharam o japonês, nem vivo nem morto. Os três, Renato, Sônia e João, nunca conseguiram explicar direito onde foram procurar o “japa”. As más línguas dizem que nas praias de Santos. Enfim, são histórias reais do tempo do velho e bom Diário. Hoje, apesar do corpo já estar definhando, a memória, felizmente, ainda arquiva os grandes momentos da vida.
Entediado nesta tarde de sábado de sol e chuva aqui em São Bernardo e na solidão que envolve um velho em seu apartamento, encontrei momentos de recordações ao ler em seu blog a história dos velhos e bons tempos do Diário, nos anos 70, e dos inesquecíveis João Colovatti e Zé Barbosa. O pássaro preto, personagem central da matéria, claro, tive o prazer de conhecer. Por ter convivido com os três (Edward, Colovatti e Barbosa) me transportei para o local dos fatos relatados e veio à mente a fisionomia debochada do João, com seu rosto "bolachudo", sua careca reluzente e seu olhar muitas vezes de menino. Também fui vítima do bonachão quando entrei no Diário, em 71. No começo nunca havia carro, motorista ou fotógrafo aos "focas", e eu era um deles. Nem a palavra do todo-poderoso José Louzeiro, então Secretário de Redação, servia de aval pra conseguir demover a turma da velha guarda, que julgava-se dona dos carros do jornal. Com o tempo, no meu caso, como foi no seu, todos se tornaram amigos, companheiros e muito colaboraram para o êxito de algumas de nossas matérias. Lembro-me de certo dia, acho que em 72, quando fui escalado pelo Josué, Editor de Esportes, para cobrir um jogo do Saad contra o Noroeste, em Bauru. O fotógrafo escalado foi o Claudio Polesi, que você conhece bem. Um 0 a 0 daqueles terríveis. Jogo ruim, sem nenhuma graça. Retornamos de Bauru a noite e como o Diário na época não circulava às segundas-feiras fui redigir a matéria para a edição de terça-feira. Tudo bem, não fosse o Colovatti, lá pela uma da tarde, invadir a redação (na casinha, lembra?) e perguntar em voz alta pra todo mundo ouvir: "Lavrado, quantas pessoas morreram lá no campo do Noroeste?". Sem tirar os olhos da "Olivetti" não dei muita bola para o João. Porém, o Daniel Lima, ao lado e com aquela cara de professor aloprado, não deixou barato: "o que foi que houve em Bauru, João?".
- Pô, vocês não sabem, caiu a arquibancada do estádio no final do jogo matando pelo menos 10 pessoas e deixando um punhado de feridos. Ouvi isso ontem a noite na resenha da Rádio Nacional (hoje Globo), disse Colovatti.
O Daniel me fuzilou com os olhos e palavras: "Lavrado, você esteve lá e não viu a tragédia?" Apavorado, peguei os jornais de São Paulo que estavam na redação e nenhuma notícia.
- Vai Lavrado, depressa, liga pras rádios e jornais de Bauru e veja o que aconteceu", determinou o Daniel, na ocasião, Editor Chefe. E assim fiz. O João Colovatti havia desaparecido. Saiu de fina depois de provocar o caos na redação. Fiquei a tarde toda tentando falar com alguém de Bauru. Naqueles tempos as ligações eram demoradas e difíceis. Pior. Quando conseguia falar em Bauru, ninguém sabia de tragédia no estádio do Noroeste. Alguns até riam quando ouviam a pergunta. Nenhuma informação sobre a tal queda de arquibancada. Mais tarde, descobriu-se. Tratava-se de mais uma das inúmeras peças pregadas pelo Colovatti nos jovens repórteres. Paguei o mico.
Tem mais histórias para ser contadas. Lembra-se daquele japonês que desapareceu nas matas da serra do mar, acho que em 71? Itiro Mutai, se não me engano. O Diário mandou pra lá o Renato Campos, a Sônia Nabarrete e o Colovati. O trio ficou três dias sem aparecer no jornal dizendo que estava "apurando" o caso. A serra do mar, você sabe, fica a meia hora de carro de Santo André e da redação do jornal. Até hoje não acharam o japonês, nem vivo nem morto. Os três, Renato, Sônia e João, nunca conseguiram explicar direito onde foram procurar o “japa”. As más línguas dizem que nas praias de Santos. Enfim, são histórias reais do tempo do velho e bom Diário. Hoje, apesar do corpo já estar definhando, a memória, felizmente, ainda arquiva os grandes momentos da vida.
Edward, você me mata de rir. Esse blog seu ficou ainda melhor com essas histórias de redações dos jornais de antigamente. Estou acionando todos os meus contatos para vir acompanhar esses relatos imperdíveis, simplesmente sensacionais. Coitado do seu amigo Lavrado, não? E esse Colovatti, ahh... como eu gostaria de tê-lo conhecido. Devia ser uma figura muita engraçada, não? Como aprontava... Isso dá um filme, acredite! A D O R E I !
ResponderExcluirBjos...
Roberta M. Calixto - Campinas - SP.
Malandro! Que loucura essa lembrança do Lavrado. Foi lá no baú, buscado o japonês desaparecido na Serra do Mar. Era mesmo o Itiro Mutai. Tem uma coisa, não fomos pra Santos não, nem em praias. O negócio foi o seguinte: o João Colovatti levou uma garrada da "boa idéia" na sua mochila, junto à aparelhagem fotográfica e foi tomando todinhas e mais algumas. Ficou vermelhinho igual a um tomate e sumiu na Serra. Pssamos, eu e a Soninha, junto com o COE, a buscá-lo e nos esquecemos do japonês. Encontramos o Colovatti três dias depois, dormindo debaixo de uma árvore. Dá pra acredita nisso? (hahahahahahahahahahahahahahaha)
ResponderExcluirO Colovatti era uma criança, adorava fazer gozação e tirar o sarro nos foquinhas. Morreu esquecido, passando seus dias como um ermitão, numa cabana de um local distante, de onde saia com uma carroça no final do mês para fazer compras numa cidadezinha próxima. Figuraça!
Abraços,
Renato - Santo André
O Lavrado contou um caso que mata a gente de rir, principalmente nós que conhecemos e convivemos com o Colovatti. E levantou poeira. Trouxe de volta o Josué, outra figurinha carimbada e folclórica, dos tempos do Diário do Grande ABC. O Josué, quando sai nas ruas ninguém acreditava que era jornalista. Baixinho, calças caidas e mestre na arte de tomar todinhas, como diz Renato Campos, vez em quando virava piruletas nas portas de botecos. Um verdadeiro salto mortal. Sempre caia de pé, mas deixava todo mundo com medo, prevendo uma séria fratura, caso errasse seus pulos. Uma delícia o blog, caríssimo Edward, parabéns e continue com suas "cascatas". Vai agradar a todos, velhos e novos jornalistas e também a quem gosta de velhas e boas histórias.
ResponderExcluirLuiz Antonio (Bola) - Santo André
Pois é Edward, o saudoso Colovatti. Que saudade. Era doido por uma “boca livre”. De vez em quando eu o levava para cobrir um torneio de pesca no litoral. Churrasco e chopp e tudo o mais que viesse.
ResponderExcluirSempre pronto a servir. Ensinou-me muito sobre a arte fotográfica. Gozador, irreverente e dono do terreiro onde reinava; o laboratório fotográfico.
Eu acho que do lugar onde ele se encontra, está gozando com a cara de todos nós e lá nos esperando!
Primeira vez que venho ao seu blog, prezado amigo jornalista. Quero parabenizá-lo pela iniciativa em trazer essas velhas e gostosas histórias de redações. Estou na profissão faz uns 5 anos, tenho muito a aprender, se bem que, hoje, tudo está mudado. esses casos que você relata dificilmente vão acontecer nessa época eletrônica. Tudo é muito mecânico, nas redações de hoje, nem mais se ouve diálogo, conversa. Gostaria de ter vivido esse tempo, onde o jornalismo era levado a sério, como o é hoje também, mas com muita brincadeira e animação. Parabéns mais uma vez. Volto para ver mais histórias.
ResponderExcluirAntonio Castro - Rio
Legal. Adoro casos verídicos assim.....
ResponderExcluirLaura - São Paulo
Aiiiii.... Meu Deus! Será que o Colovatti deixou substituto no Diário, Edward? Estava lendo essas duas histórias, uma sua e a outra do Lavrado e fiquei morrendo de medo. Estou no último ano de jornalismo aqui na Metodista, em São Bernardo e sempre tive um sonho de trabalhar lá, no Diário. Um amigo me prometeu que iria me apresentar a um conhecido jornalista de lá. Agora, morro de medo de correrem atrás de mim, como foquinha. Tremo só de pensar!!!
ResponderExcluirMas adorei essas histórinhas, conta mais, conta!
Eliana Monteiro - São Bernardo
Esta aqui é para o Renato Campos (vovô para os íntimos). Que fim levou o Cel. Fawcett (Itiro Mutai) doméstico?
ResponderExcluirEstou curioso.
Um abraço velho companheiro.
J. Morgado
Prezado Edward
ResponderExcluirÓtimas as duas matérias sobre jornalismo nos tempos em que os dinossauros habitavam a terra. Fiz uma viagem aos primórdios, uma beleza. Quando estiver inspirado e trabalhar com a memória posso mandar algumas pequenas curiosidades. Sobre o próprio João Colovatti, que servia cachorro quente e tinha curiosidade jornalística, frequentando a sucursal do jornal Última Hora.
Foi lá que aprendeu, com o Cunha, fotógrafo dos bons e que fazia a cobertura policial. Ele acompanhava e carregava as máquinas, uma delas, de minha propriedade, antiga, muito antiga. Eis o começo. Logo mando minha colaboração sobre esse assunto.
Guido Fidelis - São Paulo
Gostei e estou à espera de mais histórias de redações. É um divertimento ler. Estou imprimindo para mostrar às amigas, tá?
ResponderExcluirGabriela - Santos
Boa noite, meu amigo...
ResponderExcluirEssas histórias são demais, achei o máximo,você como sempre nos surpreende a cada dia, aproveitei e indiquei a leitura á várias pessoas.
Abraçosssssssssssss.
Ana Célia de Freitas. Franca/SP.
Madrugada e eu morrendo de rir dessas histórias narradas aqui em seu blog, Edward. Essa do Pássaro Preto e a do Lavrado foi de rachar o bico. Vá em frente com as histórias, agradam e muito.
ResponderExcluirRomualdo Carvalho - São Paulo